Hoje recebi não um, mas dois emails que me emocionaram demais. Estou eu aqui, mais uma vez segurando as lágrimas na frente deste computador. Este blog tem sido uma bênção na minha vida, pois parece que as pessoas mais bacanas e mais sensíveis acabam passando por aqui e me deixando mensagens lindíssimas. Eu, que depois da doença me tornei a maior manteiga derretida do mundo, volta e meia vou às lágrimas com as mensagens de carinho que recebo. Choro mesmo. Choro muito. Choro copiosamente. Choro de alegria. Choro de tristeza. Choro nem sem o porquê.
Nestas horas é que me cai a ficha e realmente entendo o motivo pelo qual escrevo. Se no início meu único objetivo era colocar para fora todas as emoções que estavam em ebulição na minha cabeça, na esperança de evitar a loucura, hoje escrevo para me conectar com um mundo maravilhoso que está ali fora e que eu jamais pensei que existisse. Graças a este blog já fiz tantas amizades legais e até estreitei laços que já existiam no mundo real mas que ficaram muito mais sólidos no mundo virtual.
Esta energia é uma coisa absurda e é dela que me alimento. Um dos grandes desafios ao me mudar para cá foi justamente o isolamento dos subúrbios americanos, a falta deste contato mais íntimo com as pessoas, a falta de calor humano. Nunca pensei que pudesse sentir isso através de uma máquina. Esta tecnologia que às vezes é tão fria e impessoal, ao mesmo tempo nos desperta sentimentos tão humanos e nos faz sentir tão próximos uns dos outros, apesar das imensas distâncias. Passo grande parte do meu tempo de frente para esta máquina que me traz tanta coisa boa, tanta informação, tantos amigos e – é verdade! – até o marido!!!
Sempre adorei escrever e muita gente me dizia que eu levava jeito para a coisa. Acho que foi acreditando nestas pessoas e seguindo a minha paixão que muito cedo decidi ser jornalista. Pensei em ser escritora, mas a idéia de expor meus sentimentos me deixava meio desconfortável, então a idéia de ser jornalista era perfeita, pois como jornalista a gente escreve mas nunca se expõe, pois as matérias têm que ser acima de tudo imparciais. Parecia o ideal para mim.
Ledo engano. Um de muitos. Depois de alguns anos, vi que o jornalismo também não era a minha praia. Não gosto de sensacionalismo e o bom jornalismo tem cada vez menos importância hoje em dia. Então fui ajustando meus planos e passei a escrever corporativamente: relatórios, palestras, discursos, briefings, etc. Tornei-me uma ghostwriter, sumi completamente na minha escrita, nem nos créditos meu nome aparecia mais, mas eu continuava escrevendo e isso já me bastava.
Mas na minha vida de montanha-russa tudo muda rapidamente. Mudei de casa, mudei de país, mudei de vida, mudei de rumo. Se eu já não precisava escrever para viver no sentido figurativo da palavra, continuava precisando escrever para me manter viva, no sentido mais real da expressão. Foi através da minha escrita que consegui expurgar a dor imensa que me devorava por dentro. Foi através dos meus posts diários que consegui entender o que se passava na minha cabeça e no meu coração. Colocando tudo por escrito, documentado, para que as palavras e as sensações não ficassem perdidas no tempo.
A experiência que tenho vivido nos últimos anos é muito rica e muito real, mas com o passar do tempo, ela fica meio desbotada, menos nítida e esta foi uma das razões pelas quais quis escrever este blog: para que daqui a algum tempo, quando toda esta tormenta tiver passado, eu possa olhar para trás e perceber que tudo tem um fim e o sofrimento não é diferente. Mas também não quero me esquecer de nenhuma lição aprendida ao longo do caminho, pois cada um dos meus tombos se tornou aprendizado. Também não quero me esquecer das pessoas maravilhosas que cruzaram o meu caminho e do quanto me fizeram feliz.
Se no início meu desejo era que outros pacientes de câncer acompanhassem a minha história e pudessem perceber que mesmo depois de uma notícia terrível a vida continua e que vale muito a pena lutar por ela, hoje fico extremamente emocionada quando percebo que a minha história consegue tocar tantas outras pessoas que sequer tiveram contato com o câncer. Então percebo que consegui atingir meu maior objetivo que sempre foi não deixar a doença definir quem eu sou.
PS: Este blog é especial para Alana, Carol e Paula. Muito, muito, muito obrigada... vocês sabem bem o motivo.
2 comments:
Dani... Eu é que estou chorando agora... Estou arrepiada com a energia desse seu post. Você é linda!!! Tenho orgulho de ter me aproximado de você, mesmo que de tão longe...
Querida, estou sempre aqui, gosto de você mesmo sem nunca ter te visto e torço pela sua escrita, sempre. Beijo enorme, Fê - www.fernandafranca.com
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