December 9, 2012

Boas Festas!!!



Só agora consigo um tempinho para pensar em Natal...

Olhem só a carinha do nosso cartão!

Photo Card
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December 5, 2012

Frase do dia...




I write to discover what I think. After all, the bars aren't open that early. 

Daniel J Boorstin

November 27, 2012

Dois - parte dois

Dez anos mais tarde, agora em 2002, fazia mais ou menos um ano que tinha voltado ao Brasil. Depois de uma longa temporada nos EUA, entre a Virginia e Nova York, e com dois diplomas americanos embaixo do braço e alguma experiência profissional no exterior, me sentia às vezes mais americana que brasileira. Mas a parte pior da adaptação estava passando, eu havia engrenado um MBA no Rio e o trabalho era legal.

Se por uma parte era ótimo estar em casa, ao lado da família, revendo os amigos, indo à praia toda semana, por outro lado era meio complicada a sensação de me sentir uma estranha dentro do meu próprio ninho. Mas sempre achei que levava um jeitinho, do também escorpiano Drummond, para ser gauche na vida, então não posso dizer que estava surpresa. Na esperança – ou seria desespero? – de me conhecer/entender melhor, comecei a fazer psicanálise. Duas vezes por semana passava pela experiência um tanto quanto sui generis de me deitar no divã de costas para a analista para falar de assuntos que muitas vezes me incomodavam. Mas nunca tive medo de enfrentar situações desconfortáveis e, no final, certamente saí ganhando. O que eu não sabia porém é que tudo que estava me acontecendo serviria para me preparar para o que ainda estava por vir.

Olhando para trás, tudo fica muito claro, mas quando se está ocupada vivendo o dia a dia, fica difícil imagimar como todas aquelas pecinhas vão se encaixando para fazer sentido lá no final. Quando saí de Nova York queria apenas me dar um prazo para decidir o que fazer: não me desfiz do meu apartamento no West Village, não fiz mudança e continuei trabalhando remotamente. (O motivo inicial da minha mudança foi justamente a troca de emprego e transferência do meu H1B,visto de trabalho nos EUA, para uma outra empresa, o que me obrigava a passar este período de transição fora do país.)

Tudo correu praticamente como planejado, mas no meio do caminho, em meados de 2001, surgiu meio que do nada e através de uma amiga próxima uma proposta de emprego muito bacana no Rio. Embora não soubesse que estava gravemente doente, algo me dizia que tinha chegado a hora de passar uma longa temporada em casa. Como toda decisão para mim é muito difícil, depois de pensar muito, e até pelo fato da proposta de trabalho ser tão diferente, resolvi sublocar meu apartamento em Manhattan e me dar um prazo de seis meses no Rio para cuidar da vida.

Os seis meses se passaram, as coisas foram entrando nos eixos e eu resolvi então aumentar o prazo para um ano. Tudo ia bem, fora uma anemia que me deixava meio fraca de vez em quando. Não fraca o suficiente para me fazer faltar ao trabalho ou deixar de sair no fim de semana, mas como já fazia mais de um ano que me via nesta condição, resolvi investigar. Mais uma vez, a minha curiosidade valeu a pena. Pensando bem, daquela vez, a minha curiosidade me salvou. Perdi a conta de quantos médicos me viram – pelo menos uns 10 no Brasil, além de outros tantos que já tinham me visto em Nova York – e nada de diagnóstico. Mas eu queria uma resposta.

Até que ouvi falar num médico ortomolecular que tinha uma dieta maravilhosa e resolvi me consultar. Desta vez, não para investigar a minha anemia, mas para perder uns três quilinhos que me incomodavam. Como já imaginava, o médico disse que não faria nada sem antes ver meus exames, então saí do consultório com uma lista enorme. Dias depois, o resultado. Não sou médica nem sou “metida à médica”. Não me automedico, não receito nem aspirina aos outros, mas não sou analfabeta. Ao abrir o envelope com os resultados dos exames de sangue, percebi que havia algo muito errado. Várias taxas mostravam diferenças estratosféricas entre os meus valores e os valores desejáveis. Na mesma hora liguei para o médico, que estava de férias em Miami.

Sem saber bem o que fazer, voltei a contatar a hematologista, que desta vez pareceu muito assustada quando me viu. Me encaminhou para uma gastro, que me indicou uma ultra que só poderia ser realizada por uma médica no Rio de Janeiro. Sorte a minha, esta médica era amiga da minha família. Na mesma hora, meus pais ligaram para ela e no dia seguinte, estava eu aguardando o meu destino, naquela sala de ultrassom, um ambiente até então estranho, mas que – mal sabia eu – se tornaria muito familiar para mim.

E o resto desta história vocês já sabem: tumor, cirurgia, CTI, hospital, casa, mais hospital, químio, trabalho, casa, mais químio, trabalho, casa...e a vida que segue. Mais o que fica é a transformação, é a oportunidade de poder ver o mundo sob um ângulo diferente, de sentir-me envolta por uma corrente do bem, por poder me conectar com algo muito maior do que eu mesma.

O ano de 2002 foi inegavelmente difícil para mim e para todos ao meu redor, mas são tantas lições aprendidas que me sinto extremamente grata e até mesmo privilegiada por ter passado por uma situação tão delicada com tão pouca idade. Aprendi muito e, melhor, tive e ainda tenho tempo para poder usufruir um pouco deste aprendizado.

Como diz uma amiga, que enfrentou um linfoma com uma serenidade absurda (coisa que eu seria incapaz de fazer), o grande desafio agora é conseguir manter vivo o efeito da pancada, aquela que dói lá no fundo e que deixa a gente meio tonta e cheia de questionamentos. Não quero a dor da doença, mas quero levar comigo para sempre o que aprendi com ela, a habilidade de enxergar o que realmente vale a pena. O único problema é que a rotina e também o tempo – ah este tempo – teimam em querer apagar as tais lembranças, e volta e meia tenho que escrever textos como este que me fazem reviver momentos importantes e me forçam a focar no que realmente interessa.

November 9, 2012

Dois -- parte um

Não me considero uma pessoa supersticiosa. Tenho algumas manias (quem não as tem?), tenho fé, mas acho que sou muito desligada para me apegar a rituais e a superstições. Mas outro dia, refletindo e pensando que este ano tem sido sem dúvida um ano de grandes desafios e dificuldades, me dei conta que em anos terminados em 2 a minha vida sofre uma grande reviravolta.

Obviamente, era nova demais para me dar conta do que aconteceu na minha vida nos idos de 1982...fora derrota do Brasil na Copa para a Itália... Mas dez anos depois, aconteceria algo que ia mudar a minha vida para sempre. 

Em 1992, consegui realizar meu sonho: recebi uma das 18 bolsas de estudo concedidas pelo governo americano a estudantes brasileiros de graduação. É difícil acreditar, mas este tinha sido meu objetivo de vida desde a minha primeira viagem para a Disney, aos 13 anos! Cabeça de adolescente é mesmo incrível.

Só que o meu sonho, logo no início, acabou tendo sabor de pesadelo. Na minha cabeça de adolescente deslumbrada, vida de bolsista na Virginia deveria ser bem parecida com a rotina dos personagens do Barrados no Baile, ou Beverly Hills 91210, um dos meus programas favoritos na época: todo mundo bonito, todo mundo dirigindo carrão, programação intensa, várias atividades e aventuras.

A realidade, no entanto, não poderia ser mais diferente já que meu novo lar era uma faculdade só para mulheres localizada numa região carinhosamente chamada de Bible Belt. E a minha nova cidade era conhecida nacionalmente por ser reduto de um certo Jerry Falwell, fundador de uma megachurch e da Liberty University. Para resumir esta história longa -- e como imagino que a maioria dos leitores jamais vai passar por Lynchburg, Virginia -- para quem achou que ia fazer parte do elenco de Barrados no Baile, acabei virando personagem de Footloose!  Sem Kevin Bacon, é claro.

Acrecente-se a isto tudo o fato da maioridade americana ser de 21 anos -- eu tinha 18 quando vim para cá -- o que tornava a possibilidade de alguma vida social praticamente inviável. Beber nunca foi meu forte -- detesto cerveja -- mas sempre gostei de sair e de dançar e estava cansada de fazer isto no Rio. Na Virginia, tudo era muito diferente do que eu havia imaginado -- nenhum glamour, pouca diversão e uma galera que não tinha nada a ver comigo. Além disto, eu era a primeira aluna brasileira a por os pés na universidade, que estava tentando diversificar o corpo discente, e como tal era uma ave raríssima. Claro que quando me viram pela primeira vez, as recrutadoras ficaram admiradas com o "tom claro da minha pele," mas aí já era tarde demais...a bolsa já era minha! Me disseram que esperavam alguém mais bronzeado e de cabelo ondulado -- e acabaram comigo. Incrível pensar que nunca tinham visto a minha foto, mas é bom levar em consideração que isto tudo aconteceu praticamente numa época pré-Internet.

E apesar da decepção daqueles que achavam que eu ia "dar um pouquinho de cor" à faculdade, comecei a sentir que se as diferenças verdadeiras tinham pouco a ver com o tom da minha pele ou a textura dos meus cabelos. Foi durante a minha temporada em Lynchburg que descobri acidentalmente que para a grande maioria eu não era considerada branca. A minha surpresa foi tanta e a minha indagação tão incessante que me pediram para escrever um artigo para o jornal da faculdade. Assunto: raça e etnia na America! Imaginem...desde quando sou autoridade nisso?! E do alto da sabediria dos meus 18 ou 19 anos...Mas o que nem me passava pela cabeça era que esta questão me acompanharia durante 20 anos, e hoje a minha perspectiva é bem diferente do que era em 1992 -- isto é assunto para outro post!

Com tantas coisas acontecendo de forma tão diferente do que havia imaginado, o início da minha temporada na faculdade foi tão acidentado a ponto de ter que pedir uma audiência com a decana. Na reunião, diplomática como sempre, chamei todo mundo de embusteiro e pedi o cancelamento da minha matrícula e a volta imediata ao meu país de origem. Já estava praticamente de malas prontas para voltar para a UFRJ quando a decana me pediu que esperasse um mês antes de tomar uma decisão. Como que num passe de mágica, neste mês conheci a minha orientadora, um pessoa fantástica, que me desafiou de uma forma tão brilhante quanto sutil...e acabei ficando por lá e me formando. E -- para minha sorte -- nunca mais fui a mesma.

October 22, 2012

O dia que eu deveria ter morrido…










22 de outubro de 2002 – uma terça-feira normal para todo mundo, mas não para mim. Ainda me lembro de ter acordado relativamente cedo, tomado café e logo depois ter partido rumo ao hospital, onde não fazia ideia do que me esperava.  Menos de uma semana antes, tinha recebido o diagnóstico de que um tumor gigante no meu fígado teria que ser retirado às pressas. Segundo o médico, se por algum motivo o tumor que já tomava boa parte do meu fígado rompesse, eu morreria imediatamente de hemorragia.

Eu, que nunca tinha sequer dado entrada num hospital, estava chocada demais para ficar assustada. A única coisa que sabia é que a tal cirurgia me deixaria com uma cicatriz enorme que atravessaria meu abdomen. Sabia também que precisaria de transfusão de sangue pelo porte da intervenção, mas para dizer a verdade, não fazia ideia do risco que corria. Uns chamam de autopreservação, outros de mecanismo de defesa. O que quer que tenha sido, encarei o dia mais importante da minha vida, como um dia normal.


Já no hospital, recebo a visita da representante do banco de sangue. Ela queria me ver antes da cirurgia e me dizer que eu era uma pessoa muito querida, pois em pouquíssimos dias tinha conseguido uma doação de sangue record. Ao contrário do que ela pensava, este mérito nunca foi meu, mas de tantas pessoas que cruzaram o meu caminho naquele dia. Muitos doadores eram amigos muito próximos e familiares, mas outros tantos eram amigos de amigos e amigos de amigos de amigos, que sequer me conheciam. Em pensar que a eles devo a minha vida...a esta enorme corrente do bem.  Devo minha a minha vida a muita gente – médicos, enfermeiros, amigos, familiares, e até a estranhos que decidiram que naquele dia iam me salvar.

E 11 horas, três choques hipovolêmicos  e 10 litros de sangue depois, eu lutava pela vida num leito de CTI. Pouco me lembro das primeiras e cruciais 72 horas. Me lembro do anestesiologista que acariciava meu cabelo e me dizia que eu tinha dado muito trabalho durante a cirurgia. Me lembro dos enfermeiros que se alternavam espremendo chumos de gase molhada nos meus lábios, me lembro do escuro, do barulho dos aparelhos e da sensação de solidão que me acompanhou pelos cinco dias que fiquei por lá.

Não me saem da memória também três “enfermeiros” que guardavam meu sono à noite: uma mulher ruiva de cabelos ondulados, um homem branco calvo e um homem negro alto. Minha grande surpresa foi descobrir que ninguém com estas características fazia parte da equipe de enfermagem do CTI do Copa D’Or...  Como existem coisas  que ninguém consegue explicar, decidi que aqueles três eram meus anjos da guarda. Aliás, depois da doença aprendi que existem muitas coisas sem explicação...e aos poucos, vou aprendendo a conviver com elas.

Olho para trás e vejo os últimos 10 anos como um período de aprendizado intensivo. Suo eternamente grata por ter vivido coisas que no meu caso poderiam facilmente nunca ter acontecido: conheci pessoas fascinantes, lugares novos, vivi experiências marcantes – encontrei a minha cara-metade, juntos lutamos e conseguimos enfim trazer ao mundo nosso filho, Joaquim, que por muito pouco poderia não estar aqui. E ao olhar para ele esta manhã, foi difícil conter as lágrimas quando me dei conta que o resto da minha vida havia começado extamente naquele dia de outrubro de 2002. Durante os últimso dez anos, aprendi bastante, ganhei muito e também perdi – uma das pessoas mais importantes para mim.

A experiência da doença me deixou muitos ensinamentos. Depois de tudo que passei, gostaria de dizer que me tornei uma pessoa mais calma, mais iluminada e melhor. Mas estaria mentindo. Continuo sendo eu...um pouco mais humilde, muito mais sensível e 100% humana.

September 10, 2012

Invejosa eu?

Não me considero uma pessoa invejosa. Fico muito feliz quando gente querida compra carro novo, ganha uma promoção no trabalho ou consegue realizar um sonho que acalenta há tempos. Mas hoje vou fazer uma confissão: tem uma coisa que me causa uma inveja absurda! Morro de inveja de gente prática, pragmática e decida! Gente que tem foco e objetivo e não olha para o lado até atingi-los.

Não que eu não tenha foco. Pelo contrário, tenho e muito. Também tenho ambição, quero crescer, melhorar, subir, etc. Mas por outro lado sou muito apegada a tudo e a todos. Tenho uma personalidade interessante e paradoxal: ao mesmo tempo que me canso da rotina, detesto mudanças radicais. me apego a coisas e pessoas com muita facilidade e a ideia de ficar longe delas me machuca demais. Eu sei, é coisa de maluco e me causa uma dor tamanha.

Sempre fui assim -- invento desafios e depois faço das tripas coração para concretizá-los. Desde pequena sabia que queria estudar fora -- não me pergunte o motivo -- eu só sabia que queria ser universitária num campus americano. Nada no Brasil me despertava grande interesse, eu queria a verdadeira "college experience." E tinha que ser na graduação, não podia ser pós porque aí perderia a graça. Consegui o que eu queria, mas o preço foi ficar longe da minha família durante a duração do curso. E foi barra, com 18 anos e bem filhinha de mamãe/papai, a saudade apertou bastante e várias vezes pensei em desistir e sair correndo pro colonho da mamãe. Mas sobrevivi e consegui terminar o curso superbem --  foi uma tremenda experiência. E lá se vão nada menos do que 20 anos!

Recentemente coisa parecida aconteceu. (E percebi que pouco havia mudado!) Andava meio instisfeita com meu trabalho,com os rumos da empresa e com a minha posição. Comecei a pensar em novos desafios, comecei a arrumar ao CV, mas sem grandes planos ou ambições. Então do nada, uma headhunter me liga com um CV de 2007 me perguntando se eu teria interesse numa vaga. Resolvi ir em frente mais para me preparar para uma futura oportunidade do que por vontade de conseguir o emprego propriamente dito.

Só que as coisas foram progredindo tão rapidamente que em pouco tempo me vi às voltas com uma excelente oferta. Qualquer ser humano normal estaria exultante. Menos eu, que passei as semanas seguintes aos prantos e sem dormir direito. Quem diria que meu desejo poderia ter se materializado tão rapidamente? Comecei a colocar condições, que foram totalmente atendidas, então acabei aceitando o convite, que é uma proposta muito legal.

Ao saber da minha iminente saída, o presidente da empresa ficou chocado, o que tornou as coisas muito mais complicadas para mim. Me pediu para ficar e conversou comigo por quase duas horas, dizendo que as coisas aqui iam mudar e que eu teria excelentes oportunidades. Quase entrei em parafusos. Em vez de aliviada por estar deixando um trabalho que já não me satisfazia completamente e estar partindo para uma oportunidade que, ao que tudo indica, vai me dar muito mais liberdade, fiquei arrasada. Chorava copiosamente cada vez que um colega de trabalho vinha conversar comigo. No meu atual emprego, fiz tantos amigos, conheci lugares bacanas, tanta gente legal...mas me sentia presa e sem esperança de movimento num futuro próximo.

A novela durou aproximadamente três semanas, mas este fim de semana resolvi que minha decisão seria final. Já empenhei minha palavra e a oportunidade me parece realmente boa, ainda que não tenha o apelo de salvar vidas na África ou na América Latina.

Vou ouvir um conselho de uma amiga muito bem sucedida e prática. Vou lá tentar, mas deixo as portas abertas aqui e mantenho o contato... É bom saber que posso voltar um dia.

August 31, 2012

Onde foi parar a minha voz?

Escrever nunca foi difícil para mim. não sei explicar bem, mas é algo muito instintivo, é quase como respirar ou beber água, então o blog sempre foi um depositário de ideias que povoam a minha cabeça e ao mesmo tempo uma espécie de terapia virtual. Ultimamente, entretanto, tenho tido muita dificuldade de vir aqui.

Nos últimos três meses, não parei de escrever. Nem poderia, escrevo para viver. Então durante este tempo, escrevi capítulo de livro, discurso, colunas em jornais, manuais, coleção de perfis, ensaios e relatórios. Dei voz a muita gente e vida a muitos projetos, mas não conseguia achar a minha voz.

Me escondi atrás de personagens: fui pequena empresária na Libéria, catadora de lixo na Índia, prefeita mirim na Palestina e CEO nos Estados Unidos. Fui todo mundo, menos eu. Sempre que procurava falar um pouco de mim, me deparava com um vazio enorme, a imensa lacuna da perda de alguém muito especial. Uma sensação estranha e difícil de explicar. A gente se sente completamente oca, sem alma, sem chão, sem assunto, sem vontade. Totalmente vulnerável.

Sempre escrevi para colocar minhas ideias e minha vida em ordem, para me situar no meio do caos, para achar meu rumo. No momento ainda ando meio perdida, mas aos poucos vou procurar a vir mais aqui...devagarzinho espero logo reencontrar a minha voz, que ultimamentetem andado presa na garganta.

August 13, 2012

Família




Depois de três meses de um inverno rigoroso na minha alma, aos poucos quero voltar ao blog, pois surpreendentemente é um dos maiores canais de comunicação que tenho com tantos amigos nesta vida corrida.

As fotos acima são do último aniversário da Chiara e da Giovanna, há um mês, quando corajosamente Joaquim e eu fomos ao Brasil pelo primeira vez sem o Blake. Entre ataques e choradeiras, sobrevivemos todos! Nossa temporada no Rio foi ótima e pudemos realmente aproveitar a família e a hospitalidade carioca...

May 19, 2012

Quem perde avó fica um pouco órfão...

Sempre me perguntei como alguém pode seguir adiante depois de uma grande perda. Como é que a gente acorda de manhã, se veste e vai trabalhar depois de perder alguém que amamos assustadoramente? Será que alguém pode mesmo ser feliz depois que perde uma das pessoas que mais amou na vida? Como se faz para sorrir de novo? Para achar alegria?

Acho que nunca quis pensar muito que um dia eu teria que descobrir estas respostas sozinha, e mais, nunca quis imaginar que este dia estaria tão próximo. Não que eu tenha as respostas, longe disto, mas agora atravesso um período escuro e solitário, vivencio uma enorme lacuna que engole a minha alma. É muito mais intenso e profundo que qualquer um possa imaginar.

Como acontece com as experiências mais marcantes na vida, não existe maneira de se preparar para a morte de alguém que amamos. Nem a ordem natural das coisas, nem o sofrimento do ente amado, nem o cumprimento de sua missão na Terra...nada parece fazer sentido e justificar como de uma hora para outra ficamos sem alguém que significou tanto na nossa vida.

O que mais me doi é imaginar que alguém que tinha uma dimensão absurda e ocupava um lugar tão importante na minha vida não vai passar de uma foto num porta-retrato para o meu filho, que obviamente não se lembrará da Bisa que tanto o amou. Amou-o tanto que horas antes de nos deixar me perguntava: "Como está o nosso Joaquim?" E isto machuca. Ele não vai poder vivenciar a sua doçura, seu afeto, sua dedicação, sua sabedoria, seu amor, como eu tive a sorte de fazer.

Agora me pergunto como fazer para que em algum momento, quando tiver entendimento suficiente, ele entenda a importância que a minha avó teve na minha vida. É difícil de explicar, em primeiro lugar porque o nome "avó" é pouco para ela. Como há pouco me disse minha irmã, ela foi mãe, de verdade. E não desmerecendo a minha mãe, muito pelo contrário, as duas se complementavam de uma forma perfeita no papel mais importante que pode haver na vida de uma criança, ou, no nosso caso, de três. 

E por isto hoje nós choramos muito e vamos chorar durante muito tempo, pois não perdemos uma avó, que só nos via nas férias ou no fim de semana. Perdemos uma mãe, que foi presença constante durante toda a nossa vida. E mesmo no meu caso, que passei grande parte do tempo longe, ainda assim, os laços com ela nunca enfraqueceram: cartas, telefonemas, skype, visitas, sempre a senti muito perto de mim.

E enfrentando esta enorme perda, me dou conta de que no meu caso, ao perder a minha avozinha me tornei um pouco órfã...Só quem teve a sorte de morar com sua avó ou crescer assim tão perto dela pode entender o que eu digo ou ter alguma ideia da dimensão da minha dor.

May 17, 2012

Adeus, Vovó


Bubinha querida,

Me custa acreditar que você não está mais aqui comigo. Que daqui a pouco, quando acordar, não vou poder ligar e pedir para ouvir a sua voz. Eu sei, os últimos meses foram difíceis e a cruz ficou pesada demais. Entendo que você esta melhor agora, descansando ao lado de Deus e dos anjos, onde é seu lugar. Mas para mim, a dor ainda é grande demais. Sou egoísta, queria você entre nós eternamente.

Você sempre foi  minha inspiração, minha referência, meu dicionário e meu norte. Sempre com um conselho carinhoso, ou uma palavra afetuosa na hora certa. É tão difícil imaginar que não vou ter mais seu colinho, Vovó. A dor é tao enorme que me deixa inerte, tão profunda que lateja no meu peito, tão real e ao mesmo tempo tão distante.

Não acredito em morte e em fim. Acredito no amor e na fé de que aqueles que amamos estarão sempre conosco, mesmo quando não podemos vê-los ou ouvi-los mais. Sei exatamente onde você está, Vovó: bem aqui, do lado esquerdo do meu peito, de onde jamais sairá. Você está também em cada bom livro que eu ler, em cada filme de suspense que prender minha atenção, ou em cada sorriso do nosso pequeno Joaquim, que vai ouvir falar muito da Bisa que ele teve a felicidade de conhecer.  

Pois é Vovó, Deus mais uma vez me atendeu, quando implorei a Ele que deixasse que você conhecesse meu filho. Que felicidade inigualável tive ao colocar o Joaquim nos seus braços. Prometo, Vovó, que vou contar cada história que você nos contava quando crianças e que vou contar a ele as histórias da nossa família para que ele saiba de onde veio e quem eram as pessoas maravilhosas que vieram antes dele.

Hoje é um dia muito triste para mim, Vovó, mas longe de mim me revoltar com a sua partida. Você lutou o quanto pôde e a cada momento que viveu deixou sua marca em tantas pessoas que te amam, em forma de lembranças, de ensinamentos e de amor. Você desempenhou com perfeição o papel de avó e de mãe ao mesmo tempo. Ter você em nossas vidas foi uma enorme bênção e seus ensinamentos seguirão com cada um de nós até nossos últimos dias, eu prometo.

Obrigada por tudo, Vovó. Descanse em paz, você merece. Te amo para sempre.

Sua neta,

Dani






May 11, 2012

Time Magazine e as Mães da Libéria

Por aqui não se fala em outra coisa que não seja a capa da revista Time. Na foto uma mãe oferece o peito a seu filho, de três anos, que está de pé numa cadeirinha. Os dois olham para a câmera. Como aqui nos EUA, tudo é levado ao extremo, tem gente achando o máximo e outros achando o cúmulo do absurdo, uma indecência. Pouca gente, como eu, ficou indiferente.

Aliás, eu que sou sempre tão inflamada, me surpreendo com a minha reação a muitas coisas que envolvem a maternidade de um modo geral -- sou indiferente. Contanto que não haja maus tratos, cada um faça o que achar melhor ao criar seus filhos. Mas pelo amor de Deus, pense mil vezes antes de criticar os outros ou, pior, se tornar militante fanática. Acho este tipo de mãe um porre! Só elas sabem de tudo, só elas fazem tudo, têm complexo de mártir. Ficam desleixadas porque não tem tempo para si mesmas já que sua vida se resume aos filhos. Na cabeça delas, mãe que usa baton é fútil e egoísta.

Quando engravidei e logo depois que tive o Joaquim, passei muito tempo pesquisando coisas na internet. Também passei a frequentar grupos de mães locais, só que aos poucos fui me sentindo uma verdadeira estranha no ninho. Ao contrário da maioria das mães que queriam largar tudo e choravam só de pensar em deixar seu bebê na creche, eu contava os dias para voltar ao trabalho. Não que quisesse abandonar meu filho aos cuidados de terceiros, mas queria respirar, trocar ideias com outros adultos. Ao contrário das outras mães, que queriam ficar quietinhas no ninho, eu continuava querendo dar o melhor de mim no trabalho e galgar a próxima promoção. Sempre fui assim, preciso de estímulo externo. Dizem que sou extrovertida, acho que deve ser verdade. Também sou ambiciosa, mas no bom sentido. E ao contrário do que muita gente me disse, a maternidade não tirou isto de mim.

Longe de mim condenar as mesmas mães que preferiram ficar em casa com seus filhos. Acho um trabalho nobre, mas em nenhum momento acho que elas sejam melhores do que eu ou do que mulheres que optaram por não exercer a maternidade. Não ser mãe não desqualifica mulher nenhuma, muito pelo contrário, se for uma opção consciente, merece muito respeito, afinal o mundo está cheio de filhos de chocadeira! Sempre pensei assim e não mudei de opinião depois do nascimento do meu filho.

Durante a minha recente viagem a Libéria não pude deixar de reparar a atitude completamente diferente das mulheres africanas quanto à maternidade. Embora com muito menos condições do que as mães dos afluentes subúrbios americanos, as mulheres da Libéria equilibram muito bem seus negócios e a maternidade. Muitas têm os filhos consigo e outras contam com familiares ou empregados para cuidar deles. Ao contrário de muitas mães aqui, não reivindicam medalhas de honra ao mérito e não se auto-intitulam mártires ou seres superiores. Fazem o que suas ancestrais faziam séculos e séculos atrás.

Na Libéria, um país arrasado por uma guerra civil de 14 anos e onde a maioria das mulheres trabalha loucamente para manter a família, ninguém precisa bater no peito para dizer que é mãe. Para as mulheres da Libéria, a maternidade é linda (todas têm MUITOS filhos e ainda adotam MAIS!), mas não deixa de ser uma coisa absolutamente normal.

 Acho que tem muita gente precisando aprender com elas.



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Fotos de Sumaya Agha

May 9, 2012

I Be Liberia

Tem vezes que fotos dizem mais que mil palavras e no caso da minha viagem a Libéria, um dos países mais pobres do mundo, esta é a verdade absoluta. Como nunca tinha ido à África, não tinha a menor ideia do que esperar.E mesmo de acordo com amigos que conhecem o continente de cabo a rabo, não há muito o que dizer sobre a Libéria, uma país destruído por 14 anos de guerra civil e sem a menor infraestrutura disponível --não há eletricidade (só por gerador), não há sinais de trânsito ou hospitais em funcionamento. Fui com um certo medo do desconhecido e voltei encantada com a resiliência do ser humano e com capacidade das pessoas de colocar em prática seus sonhos, mesmo em circunstâncias extremamente desfavoráveis. Conheci lugares que jamais sonhara em visitar e pessoas que nunca teria a chance de encontrar e que me transformaram profundamente. Ao olhar nos olhos de uma jovem empresária de 30 anos quando ela diz que sua família perdeu tudo na guerra mas ela nunca pensou em abandonar seu país e nem deixou de sonhar em ter seu próprio negócio, entendo perfeitamente o significado da palavra sobrevivente. Incrível perceber que a expressão dela é bem parecida com a minha, quando me perguntam como reagi à minha doença. É estranho perceber o quanto temos em comum: eu uma mulher de classe média brasileira, educada nos EUA e ela, hoje uma empresária de sucesso num país paupérrimo como a Libéria. a verdade é que nós duas recebemos um punhado de cartas ruins em um determinado ponto de nossas vidas. Mas invés de desistir, não abandonamos o jogo, talvez até por acharmos que não tínhamos outra escolha. Seguimos em frente e estamos aqui para contar e viver nossas histórias. Me enche de felicidade saber hoje que o meu trabalho é contar as histórias destas pessoas fascinantes. A certeza que fica é que viver vale muito a pena, não tem doença ou guerra que mude isto.

April 4, 2012

Joaquim, Elmo e o Marketing



Este fim de semana fomos ao supermercado e o Joaquim estava impossível. Dizem os especialistas que as crianças começam com os tais "tantrums" aos dois anos (acho que no Brasil a gente chama de manha mesmo!), mas pelo jeito meu filho é prodígio, pois seus ataques começaram bem cedo, aos 15 meses!

Depois que começou a andar, ninguém segura mais o Joaquim, que aliás só quer saber de correr. De vez em quando, se joga no chão de propósito e morre de rir. Uma coisa que notei no Joaquim literlmente desde o momento que ele nasceu, foi o fato de ele ter sempre que olhar para fora, enxergar o mundo que está em volta dele. Desde a hora do parto, passando pela amamentação e pelos vários cangurus ou baby carriers que eu comprei, o Joaquim nunca gostou de ficar virado para dentro. O que muitos bebês entendem como aconchego, o Joaquim deve ver como confinamento.

Mas voltando ao supermercado, obviamente ele detestou ficar sentado na cadeirinha do carrinho, afinal na cadeirinha o bebê vai olhando para mãe e não para o caminho a ser seguido. Em questão de segundos, ele deu um jeito de se virar e praticamente quase pulou do carrinho. No final das contas, um de nós empurrava o carrinho e o outro corria atrás do Joaquim.

Foi então que ele parou de repente em frente a uma prateleiro e começou a gritar "EMO, EMO". No início não entendemos bem, mas depois, olhamos para baixo e vimos que nosso pequeno apontava para uma lata de espaguete (acho) que tinha, advinhem, o Elmo, personagem da Sesame Street (ou Vila Sésamos, como o programa era chamado no Brasil), estampado no rótulo.

Ficamos passados, por dois motivos. Primeiro, o Joaquim ter reconhecido e falado o nome do personagem num ambiente totalmente estranho a ele. E depois pela jogada de mestre do marketing do supermercado, que colocou a tal lata numa das prateleiras inferiores, onde adultos raramente prestariam atenção, mas localizada perfeitamente ao nível dos olhos de uma criança pequena, público-alvo do programa. É o não é genial? Tentando capturar mentes antes mesmo que as crianças possam completar uma frase. Americano não dá ponto sem nó e o pior é que todo mundo copia...

March 27, 2012

Idioma

Semana retrasada, fui convidada a falar para estudantes de uma escola aqui em Maryland. O convite inicial foi feito a minha COO, que por conta da agenda apertada, sugeriu que eu fosse em seu lugar. O assunto? A importância de falar uma língua estrangeira. O tópico aparentemente inofensivo, mas um tanto desinteressante para um monte de adolescentes, também me levou a uma certa crise existencial. Na semana que me preparava para a tal palestra, passou uma barca aqui na empresa, o que me deixou bastante chateada.

Encontrar inspiração quando não se está bem consigo mesma é um desafio e tanto, mas como convite já estava aceito, não tive outra alternativa. A professora de espanhol e seus alunos de três turmas diferentes me aguardavam. Não gosto de falar para muita gente. Odeio PowerPoint. Detesto ficar escreva de slides. Não suporto me sentir amarrada a um discurso ensaiado. Não consigo memorizar palestras. Fico nervosa e me sinto engessada. Sou viciada em adrenalina. Stress é meu combustível.

Já sabia que não ia preparar nada muito detalhado, mas queria ter ao menos uma ideia geral do que dizer para os adolescentes. E foi então que, a pedido da professora, comecei a separar umas fotos dos programas que temos nos mais de 20 países onde trabalhamos. E mexendo nas minhas coisas, descobri também algumas fotos bem turísticas. Foi aí que surigiu o conceito principal da coversa: quando viaja, você pode se contentar só com a superfície ou pode querer aprofundar a sua experiência. Você pode se contentar só com as fotos de cartão postal, ou preferir bater um papo com as pessoas daquele lugar e tentar imaginar como seria um dia na vida deles.

Não há nada de errado com nenhuma das opções, mas como sou bisbilhoteira e ganho a vida contando histórias, para mim não há cartão postal no mundo que seja mais importante que uma conversa com alguém que viva naquele país. Praia bonita, paisagem perfeita, tem em todo lugar, o que faz um país deiferente do outro é o ser humano e como ele transforma sua realidade. E isto a gente só pode descobrir se fala a língua dele. Como disse Nelson Mandela, If you talk to a man in a language he understands, that goes to his head. If you talk to him in his language, that goes to his heart.

A palestra deveria durar meia hora, mas a conversa acabou durando quase uma hora e meia. Os alunos tinham muitas perguntas e muitas experiências para trocar, apesar da pouca idade. E no final, saí de lá pensando que apesar do meu cinismo inicial, a minha vida teria sido completamente diferente se não falasse outro idioma. Aliás, a vida que tenho hoje simplesmente não seria possível. Desde o meu primeiro emprego, guia da Amsterdam Sauer, até obviamente meu emprego atual, todas as oportunidades que tive, desde os 15 anos, chegaram a mim por causa da fluência num idioma estrangeiro. Isto sem falar nas pessoas que conheci, nos amigos que fiz e no homem com quem me casei. Então talvez o esforço de aprender um idioma não se traduza em cifrões ou em milhões na minha conta bancária, mas representa uma imensa satisfação pessoal, e mais do que isto, me permite viver fazendo o que gosto e ainda por cima sendo paga por isto.
E assim aquilo que começou com o outro em mente, acabou sendo uma viagem para dentro de mim mesma. A palestra seria uma atividade educacional para estudantes de middle school em Maryland, mas quem aprendeu uma grande lição fui eu.

March 15, 2012

Finalmente Caminhando



Custou bastante, mas o Joaquim finalmente está andando para todo lado. Anda com passos largos e firmes, quase não cai (também praticou bastante!), mas os braços, ah os braços fazem a gente morrer de rir. Outro dia quando o deixei na creche, a professora foi logo falando, "Olha que lindo! Ele está andando igual ao Frankenstein!" Olhei com mais cuidado, e não é que ela estava certa? os bracinhos dobrados para cima e as mãozinhas esticadas...o próprio Frankestein! Mas o Frankenstein mais fofo do mundo!

O Joaquim andou bem tarde, assim como eu. Além de ser expert para engatinhar -- desafio qualquer um a apostar uma corrida com ele, o pequeno ganha no ato -- percebemos que ele também é bastante cauteloso. Até mesmo ao subir e descer as escadas de casa -- que ele faz desde uns nove meses -- ele estuda todos os movimentos meticulosamente e só assim avança. Aprendeu a subir e descer sozinho, depois de muita prática e -- queira Deus que continue assim -- sem nenhum tombo.

Ele engatinhou relativamente cedo, aos sete meses, e acho que justamente por isto, nãotinha muito interesse em caminhar. A gente o colocava de pé, ele dava um passinho tímido e logo se jogava de joelhos. Depois até andava segurando nos móveis, mas assim que decidia que queria ir a algum lugar, percebia que de joelhos chegaria bem mais rápido.

Agora sinto que estamos numa nova fase, o pessoal aqui chama de "Walking Waka", que é o apelido dele na creche. Gavetas, armários, máquinas de lavar pratos e roupas que se cuidem...

O vídeo é de quase um mês atrás, agora ele nem aceita mais que a gente dê a mão...

March 5, 2012

Mitância na Maternidade

Ontem tive um sonho meio estranho. Não me lembro bem dos detalhes, mas tinha a ver com maternidade e com caretice, ao mesmo tempo. Acho que eu me queixava de não fazer parte das listas VIPs ou de não ser mais convidada para eventos bacanas pelo fato de ser mãe. Paranóia, eu sei.

Será que mudei tanto assim depois que meu filho nasceu? Será que deixei de ser contectada e bem relacionada para virar matrona? Sempre tive dificuldade de me encaixar em papéis específicos ou rótulos. Sempre tive interesses diversos demais, opiniões conflitantes demais e vontades demais para poder ser só uma coisa, para explorar um só caminho. Com a maternidade não poderia ter sido diferente. Sim, este é o papel mais importante que desempenho, mas certamente não o único, e é por isto que às vezes me sinto meio peixe fora d’água aqui.

Parece que a palavra mãe acabou se tornando sinônimo de militante. Coisas que minha avó e minha mãe encararam normalmente ao longo dos anos, aqui viram motivos de discussão acalorada. Outro dia, um grupo inflamado no Facebook reclamava e exigia que o Facebook se retratasse por não deixar que usuários colocassem fotos mais explícitas de bebês sendo amamentados. Tudo bem, amamentação está longe de ser pornográfia, mas me pergunto por que alguém tem tanta necessidade de colocar fotos desta natureza na internet?! Salvo o caso de fotos ilustrativas e educacionais, que ensinem a mulher a amamentar melhor seu filho, obviamente. Fotos de mães amamentando seus filhos são lindas, mas também são extremamente íntimas. E cá entre nós, duvido muito que seus 500 amigos do Facebook – que incluem o chefe, o pessoal da academia e os vizinhos – realmente tenham grande interesse por este tipo de foto. Coisa mais estranha.

Longe de mim criticar quem amamenta! Quer amamentar seu filho até os 10 anos, maravilha. Eu amamentei o meu enquanto pude. Mas por que de repente um ato tão simples e íntimo agora passa a ser parte das manchetes dos jornais? Entendo que querer fazer o melhor par ao seu filho é o dever de toda mãe, mas querer receber medalha de honra ao mérito por fazer o que mulheres fazem desde que o mundo é mundo é um pouco demais.

Esta história de sou mãe-leoa, escutem meu rugido, já deu o que tinha que dar... Só sei que tanto ativismo e tanta militância me dão arrepios. Passo longe destas mães profissionais. Tenho medo de abrir a boca em parquinhos onde elas trocam receitas de como fazer lenços umedecidos em casa ou metem o pau nas mães que usam mamadeira.

Quando decidi que queria ser mãe não estava em busca de um novo rótulo para me definir, uma nova causa para abraçar, ou uma nova identidade para assumir. Queria apenas trazer um serzinho especial para este planeta e procurar dar a ele o melhor de mim. Só isso.

March 1, 2012

Tudo bem...

A semana foi tão puxada que nem tive tempo de vir aqui e agradecer as orações e os pensamentos positivos de todo mundo.

Minha consulta em Hopkins foi perfeita e melhor do que eu esperava. O médico estava tão otimista que chegou a aventar possibilidade de espaçar mais as consultas semestrais. Eu, de cara, protestei! Acho que devo ser a única paciente que faz ressonância magnética com contraste sem reclamar, mas como gato escaldado tem medo de água fria, pedi para continuar indo lá na mesma frequência. Ele aceitou e disse que de repente ano que vem, a gente espaça... Por mim, não!

De qualquer jeit, respiro bem mais aliviada e agora já posso continuar a planejar férias, projetos no trabalho e mil e uma atividades sem aquele medo inrustido. Este mesmo medo, que é meu companheiro de viagem incoveniente, ao mesmo tempo me faz dar valor as pequenas coisas da vida, a contar cada uma das bêçãos recebidas.

E depois de mais uma vitória, só posso dizer, graças a Deus!

February 17, 2012

Ufa!

"Acho que a gente já pode dizer quase com certeza que vai parar no primeiro filho, né?" Esta foi a pergunta/afirmativa do Blake ontem de manhã quando nos arrumávamos para o trabalho. Só para resumir a longa história, hoje estamos os três tomando antibiótico -- três tipos diferentes -- e todos os três fomos ao médico -- em três dias diferentes com três doenças diferentes.

O Blake ficou imprestável por conta de uma gripe horrível. O Joaquim pegou uma virose que se evoluiu para otite e eu, uma infecção renal. Melhor impossível, né?

Valentine's Day lá em casa foi pior do que enterro...três zumbis rabujentos com vontade de desaparecer.

Mas passou e graças a Deus estamos todos melhores. Quanto a pensar em outro filho? Sinceramente quando pai e mãe trabalham longe de casa, o dia inteiro e não tem ajuda, a coisa fica muito difícil, praticamente impossível. Eu que não gosto da ideia de filho único, estou começando a rever meus conceitos.

February 15, 2012

Memory Lane



Hoje por acaso, procurando uma foto nas minhas contas online, encontrei esta. Sensação engraçada... como se tivesse achado dinheiro novo em calça velha, surpresa boa, que me fez dar uma viajada pela Memory Lane, como o povo diz aqui.

Impressionante como a vida mudou nos últimos sete – uau, sete?! – anos. Continuei olhando os álbuns virtuais cuja existência tinha se apagado da minha memória. Saboreando uma a uma as fotos e as lembranças de tantas pessoas incríveis que cruzaram meu caminho. Tantos momentos bacanas. Mas o mais legal de tudo foi ver muitas rostos constantes em várias fotos, em vários eventos. Gente que me acompanha há tanto tempo. Amigos que fiz em diversas etapas de minha vida, que aparecem por um tempo, depois dão uma sumida para mais tarde voltar a aparecer. Outros que desde que surgiram, estão sempre por perto, em cada ocasião marcante estão ali – no hospital, no casamento, no batizado ou em casa só para bater um papo!

É delicioso rir dos cortes e das cores de cabelo da mulherada ao longo dos anos, da flutuação de peso de todo mundo, do semblante de cada um em situações diferentes. Fico pensando nos casais que se formaram e nos casais que se desfizeram...histórias que continuam se desenrolando, filhos que apareceram. É um verdadeiro privilégio ser parte da vida de tantas pessoas queridas por tanto tempo. É um presente ter tanta história para contar e para dividir com elas. Saudade de tanta gente que por motivos diversos acabou espalhada mundo a fora.

Mas o melhor de tudo é saber que apesar do tempo e apesar da distância, estas pessoas ainda são parte muito presente da minha vida. As meninas da foto, por exemplo, estão – digamos assim – um pouco mais maduras e responsáveis. Suspeito que por conta das novas responsabilidades assumidas, provavelmente um pouquinho mais estressadas, mas extremamente felizes. E é isto que conta.

Quando a gente encontra alguém, a gente nunca sabe de cara a importância que aquela pessoa vai ter na nossa vida, então perceber que o laço ainda está presente e forte depois de tantos anos e apesar da distância me dá uma alegria enorme. E viva o Skype!

February 13, 2012

Dúvidas e Milagres

Esta semana coversei com duas amigas grávidas que vivem situações bem parecidas: por apresentarem gestação de alto risco vão ter que ficar em casa e acamadas até o nascimento dos seus bebês. As duas tiveram dificuldades enormes para engravidar – sofreram e demoraram muito tempo até conseguirem. Uma está muito aflita e angustiada – projetos no trabalho, afazeres domésticos, medo que a condição se agrave ainda mais e um sentimento de isolamento grande. E a agonia de ficar na mesma posição por longos meses, rezando que o bebê fiquei quietinho até lá, sem ter a menor garantia de nada.

A outra amiga, mais no começo da gravidez, ainda pode trabalhar de casa, mas nada de caminhadas, no shopping ou na praia, exercícios físicos ou arrumações. Ela está ciente também que dentro de algumas semanas fará repouso absoluto. Mas a tranquilidade com a qual ela encara esta situação difícil é simplesmente comovente.
Em vez de medo, ela tem certeza. “Se Deus me deu esse presente, que foi engravidar, tenho certeza que será completo e conseguirei levar a gravidez até o fim,” ela afirma, com uma serenidade impressionante. Em vez de sofrer de angústia, ela transborda de felicidade. Quantoà possibilidade de repouso absolute em algum tempo, ela nem hesita: “Faço tudo para ser mãe. O tempo passa tão rápido, daqui a pouco estarei com o meu bebê nos braços.” Palavras dela.

Numa semana que eu mesma enfrentava algumas inquietudes, conversar com ela foi tudo que precisava. É incrível como algumas pessoas têm o dom de inspirar outras.
Ontem fui ao hospital às pressas por conta de uma infecção nos rins, quando a médica me perguntou sobre condições pré-existentes e cirurgias passadas e dei minha respostas pronta. Esperei pelo aolhar de espanto dela. Em vez disto, ela me olhou nos olhos e disse “Você sabe que este médico salvou sua vida, né? Alguns anos atrás esta cirurgia sequer existia. Estes caras fazem milagre.” Sorri e disse a ela: “Sei sim. Foi por isto que deu o nome dele ao meu filho.” Ela respondeu também sorrindo: “Filho? Depois de tudo isto você teve um filho? Não falei que estes caras faziam milagre?!” Peguei a receita do antibiótico e a esta altura nem dor mais sentia.

E assim, as zilhões de dúvidas e os tantos medos que teimavam em me assombrar nas últimas semanas vão se dissipando. Se tanta gente ao meu redor acredita em milagres, como eu que vivi tantos deles posso duvidar?

February 8, 2012

Expectativa

As semanas que antecedem meus exames semestrais são sempre caregadas de tensão, expectativa, ou em bom português, medo. Confesso que durante a maior parte do ano pouco penso no assunto, mas com a proximidade dos tais exames e das tantas horas que passo em Johns Hopkins, uma sensação desconfortável passa a tomar conta dos meus dias, e das minhas noites.

Mas não foi sempre assim. Durante os primeiros cinco anos depois da primeira cirurgia, este medo não exisita. Inocência? Arrogância talvez... O fato é que nem me passava pela cabeça que algo pudesse dar errado. Por algum motivo, achava que já tinha deixado tudo de ruim para trás, que todos os meus "pecados" estavam pagos. Encarava os exames como algo quase banal, como uma visita ao dentista ou até um hora na manicure: não é das coisas mais agradáveis, mas não causa grandes incômodos.

Marcava a ultrassonografia de manhã cedo e logo ia para o trabalho. Coisa de rotina. Com o passar dos anos, a ideia de que algo pudesse voltar a me afetar me parecia cada vez mais remota. Lembro que em dezembro de 2007, cinco anos após a primeira cirurgia, estava de férias no Rio e tinha marcado um almoço com antigas amigas de trabalho depois do exame. Estava superanimada, afinal já haviam se passado cinco anos e eu estava saudável e feliz. Blake perguntou se eu queria que ele fosse comigo e eu disse que não precisava. Meu pai estava indo para o trabalho e ia me dar uma carona até o hospital. Sorte minha, meu pai resolveu ficar. Estranho falar de sorte ao me referir a um dia em que ela parecia ter me abandonado de vez.

Recidiva. Não existe palavra mais temida na vida de um paciente/sobrevivente ou simplesmente alguém que já tenha visto o câncer de perto, cara a cara. É uma palavra feia que me causa imediatamente um terrível gosto amargo na boca. É pura injustiça. E é por isto mesmo que dizem o câncer é uma doença traiçoeira, quando você pensa que já se viu livre dele, lá vem ele e te puxa pela perna de novo. E te leva ao chão, à lona. Sem dó nem piedade.

Então estaria mentindo se dissesse que esta possibilidade não me causa medo. Procuro me acalmar e convencer a mim mesma de que com o passar do tempo, as minhas chances são cada vez melhores. As estatísticas estão ao meu lado, me garantem os médicos. Com o passar dos anos, a ideia de cura fica cada vez mais sólida, é verdade. Mas o fantasma daquela manhã ensolarada de verão, onde tudo parecia tão absurdamente normal, ainda me assombra. Espero que um dia estas lembranças ruins fiquem para trás e vou me esforçar para que isto aconteça em breve. Enquanto isto, vou tentando viver um dia de cada vez.

February 6, 2012

Reality Check

Volta e meio reclamo do Joaquim não dormir direito. Nesta última semana, ele melhorou bastante e dormiu várias noites sem interrrupção, o que NUNCA havia acontecido. Ontem, quando ele acordou chorando bastante, o Blake foi ao quarto dele saber o que estava acontecendo.

Fez tudo que podia -- ticou cada um dos itens da nossa listinha da madruga:

* trocar a fralda
* ver se o pijama está molhado -- se estiver, trocar
* colocá-lo de volta na cama, oferecer água
* mexer no cabelo dele
* em última instância, oferecer mamadeira

Mas de nada adiantou, ele continuava chorando. Foi aí, que ainda cansada, me levantei, e tirei o Joaquim, que agora chorava mais forte, do berço. Coloquei-o no meu colo e comecei a dar voltas no quarto, cantando cantigas de ninar. O chorinho foi ficando cada vez mais fraco, até que ele parou. Então pensei no privilégio que era estar ali sozinha com meu filho, nos meu braços, e me senti muito feliz por poder estar junto a ele e poder enfim acalmá-lo.

Uma hora se passou e o coloquei de volta no berço. Ele ainda me olhava um pouquinho assustado. Seus olhos entreabertos queriam ter certeza que eu ainda estava por perto. Acariciei seus cabelos mais uma vez e finalmente ofereci a mamadeira. Ele aceitou na hora. Seus olhinhos começaram a se fechar, finalmente o cansaço venceu e ele dormiu.

Ainda fiquei no quarto uns minutos para me certificar de que o Joaquim estava enfim dormindo tranquilamente. Não sei se é porque em três semanas volto a Hopkins para meus exames semestrais, mas o que era para ser um sacrifício, ontem me trouxe um enorme prazer, apesar do casanço, apesar da hora.

Nada como a certeza de que a vida é efêmera para fazer com que vivamos com intensidade cada minuto -- mesmo que às duas da manhã.

February 2, 2012

Facebook e o Povo que Gosta de Contar Vantagem...

Ainda no meu tópico, tédio virtual, vi este texto e achei bastante interessante. Adoro a teoria do "one-up" simplesmente porque todo mundo tem um conhecido que se enquadra nesta categoria. Você comprou um carro novo? Ele também, só que o dele é maior e mais caro. Você apresentou um projeto bacana no trabalho? Ele também, só que o dele era bem mais complicado do que o seu... Seu filho tirou nota boa? O dele é o melhor aluno da escola! E por aí vai.

Não que isto só aconteça no mundo virtual, mas toma uma dimensão maior. O mundo real também apresenta muitas situações assim. Exemplo perfeito: meu pai me ligou ontem para me dizer que as coisas nos outlet malls aqui dos arredores de DC são muito caras -- e não são! Um vizinho disse que tinha ido a um outlet em algum outro lugar e tinha comprado uma camisa Lacoste por US$20! Até pode ser, a rebarba da rebarba, porque eu já entrei em outlet da Lacoste em vários cantos do mundo -- da Argentina até o Reino Unido -- e uma coisa me chamou atenção, os preço não varia tanto assim e Lacoste normalmente é uma marca das mais caras... Não estou dizendo que não possa ser verdade -- vai que o cara deu sorte -- mas o fato do cara só ter encontrado preços ridículos me deixa suspeita.

Aliás, mudando um pouco de assunto, durante nossas férias no Rio fiquei assustada com os assuntos predominantes nas conversas que ouvi na praia, na piscina e até em restaurantes. Ganha um doce quem advinhar o que anda ocupando as cabeças da classe média carioca atualmente: dicas de compras no EUA (inclusive com referências a Black Friday e a vários outlet malls por todo o país) e a inabilidade de se encontrar uma boa empregada/babá/faxineira. É, já não se fazem mais novelas como antigamente...

January 31, 2012

Walking Waka



O preguiçso do Joaquim já sobe e desce três lances de escada, engatinha pra frente e para trás (Michael Jackson?!), mas não se desgruda do andador para dar dois passinhos...

Como o nome dele aqui é pronunciado "Wakin", obviamente já o apelidaram de WakaWaka, ou Walking Waka!

January 18, 2012

Tédio Virtual

Outro dia uma amiga escreveu o seguinte no Facebook: “Será que as pessoas viajam para aproveitar ou para poder dizer para os outros no Facebook?” E obviamente recebeu várias respostas... Mas fiquei pensando, então me perguntei se o mesmo não vale para quase tudo hoje em dia. Parece que as coisas não acontencem a menos que estejam devidamente documentadas e postadas no Facebook, onde vários amigos (ou seriam simples conhecidos?) podem “curtir” ou debater sobre tal restaurante, cidade, e até mesmo programa de TV. Na era de smartphones com câmeras de foto e vídeo, parece que a humanidade carece desta “validação virtual”.

Claro que eu mesma me incluo neste time de aficcionados, fora algumas raras ocasiões quando até eu – que tenho pouquíssima necessidade de privacidade – deixo de postar ou escrever alguma coisa porque simplesmente acho exposição demais. É que na era de blogs, Facebook, Twitter e tantas outras coisas, todo mundo virou expert em tudo, ou pelo menos se auto-intitula e se vê como tal. E volta e meia um post inocente dá um pontapé numa discussão ridícula que começou a troco de nada. Gente que nunca se viu se agride e se ofende por causa de uma besteira qualquer. Acho uma chatice esta patrulha desnecessária, este concurso de quem sabe mais, de quem conhece mais que parece nunca acabar.

Não sou retrógrada ao ponto de não ver o aspecto positivo da revolução que vivemos. Amo as mídias sociais pois é graças a elas que apesar da distância e do tempo consigo manter amizades e me sinto mais próximas daqueles que amo. Ao ver fotos de gente querida me imagino bem pertinho deles, como se eu também estivesse presente em ocasiões tão bacanas. Também gosto de ver as notícias em tempo real...afinal de contas uma vez jornalista, sempre jornalista!

E é por isto que apesar de muitas vezes pensar em focar menos na vida virtual – onde todos são felizes, bonitos, inteligentes e bem sucedidos e conseguem fazer milhões de coisas com perfeição e ao mesmo tempo – não consigo deletar nenhuma das minhas contas. Tenho medo de cortar os laços verdadeiros, mesmo que eles passem por um (às vezes) enfadonho enredado virtual.

January 17, 2012

2011: O Ano que Descobri que Queria Ser Mais que Mãe

Nunca fui daquelas meninas que brincavam de boneca. Sempre preferi os livros. Também não fui daquelas jovens que sonhavam em casar vestida de noiva num castelo. Acho que sempre suspeitei que o tal Príncipe Encantado poderia se perder no meio do caminho. E tampouco fui daquelas mulheres loucas para ser mãe, dispostas a tudo, até uma produção independente. Sempre vi a maternidade como consequência e não como um fim. Construir uma família na minha cabeça sempre veio antes de me tornar mãe. Talvez por ter tantos obstáculos, gosto de tentar planejar algumas coisas na minha vida, filhos certamente.

O fato é que apesar da inicial falta de interesse, tive um casamento mais que tradicional, com direito a vestido de noiva e igreja barroca, como nos filmes de princesas. E depois de alguns anos de convivência, a menina que nunca se interessou muito por bonecas, achou que já havia chegado a hora de pensar na chegada de um bebê de verdade. E assim começaram nossas tentativas que duraram um bom tempo e vieram carregadas de expectativas e de decepções ao longo do caminho.

Mas como é o lema da minha vida, Deus me ajuda a alcançar cada objetivo, mas quase sempre com alguma dose de sangue, suor e lágrimas. Obviamente com meu bebê não seria diferente. Depois de todos os exames e nenhum diagnóstico, partimos para a fertilização in vitro. (Por conta do meu histórico de saúde, preferi ir direto ao método mais invasivo mas o que prometia melhores resultados também.) E ao contrário do que acontece com a grande maioria dos casais, conseguimos engravidar na primeira tentativa.

Eu, que já tinha me preparado para ser uma grávida de altíssimo risco, nem acreditei quando os médicos trataram de me tirar do tal grupo rapidinho. Tive uma gravidez perfeita. Fora os enjoos no primeiro trimestre, acho que nunca me senti tão bem disposta na vida. E assim foi, até a chegada do Joaquim, em dezembro de 2010, quando uma verdadeira avalanche tomou conta de nossas vidas.

Não importa sua idade, não importa quantos livros você leu, quantas grávidas você entrevistou, quantos vídeos assistiu, a verdade é que NADA nem ninguém pode preparar uma mulher para o que está por vir. Quando a minha mãe insistia em dizer “filho muda tudo!” eu sinceramente não tinha noção da dimensão da coisa. Aquela história de que a sua vida nunca mais será a mesma é...a mais pura verdade!

Obviamente eu sabia das restrições quanto a minha liberdade. Claro, agora tenho um serzinho que é 100% dependente de mim, mas convenhamos que já aproveitei bastante a minha vida. Também achei que fosse tirar as tais noites em claro de letra, afinal nunca dormi muito, nem nunca precisei de muitas horas de sono. Na minha cabeça (ôca, diga-se de passagem), o bebê iria acordar, mamar em 30 minutos, arrotar em 10 e depois voltar a dormir sem nenhum protesto. Pode até ser assim, mas na casa dos outros! O meu bebê não dormia NUNCA, estava sempre esfomeado, era um horror para mamar, e berrava 24 HORAS POR DIA. O Joaquim era o temido “bebê com refluxo.” Só quem já teve um sabe do que estou falando...

Todo mundo me dizia que as coisas aos poucos iam melhorando... Aos quatro meses ele vai dormir direto, insistia a minha sogra. Só que agora, aos 13 meses, ela ainda acorda à noite. Com cinco meses ele vai parar de vomitar...Ele só parou com mais de oito. E por aí vai... E eu, na doce ilusão de que tudo ia melhorar, que um dia a minha vida ia ser menos caótica. Quanta idiotice!

O que demorei mais de um ano para perceber é que não é o Joaquim que vai melhorar. Quem vai mudar – e está mudando – sou eu! Mudam as minhas expectativas, muda a minha forma de ver o mundo, muda o meu dia a dia. A maternidade, aprendi, é um processo sem fim. E este processo é ao mesmo tempo prazeroso e dolorido, como toda mudança.

Sempre soube que a maternidade seria uma das várias dimensões da minha personalidade. Ao contrário de muitas mulheres, nunca achei que um filho fosse me completar como mulher ou como ser humano. Nunca entreti a ideia de abandonar a minha carreira para ser mãe em tempo integral. Não condeno que faz tal escolha, mas não me vejo nesta posição. E se todo mundo diz que não há trabalho mais árduo do que o de mãe, na minha opinião, o trabalho fica ainda mais difícil quando esta mãe é esposa e profissional que ainda tem alguma ambição quanto a sua carreira.

Aqui no mundo corporativo americano, existe algo que se chama “mommy track”, um lugar entre o limbo e a porta de saída que abriga mulheres alijadas profissionalmente que nunca irão saber o que significa uma promoção ou um bônus por mérito. Um lugar de onde eu definitivamente quero distância! Acho que quem está na chuva é para se molhar. Se tenho que sair de casa, cumprir metas e horários e rebolar para manter a qualidade do meu trabalho, quero ter direito às mesmas oportunidades e aos mesmos benefícios. O “mommy track” definitivamente não é para mim.

Engana-se também quem acha que coloco a carreira acima da família. Ano passado, por exemplo, não fiz nenhuma viagem a trabalho. A única possibilidade era em novembro, quando o Joaquim estava prestes a completar um ano, e mesmo assim, preferi adiar. Às vezes me sinto esgotada, mas não consigo pensar na minha vida sem meu trabalho. Da mesma forma, hoje não me vejo sem o Joaquim, então a única saída é conciliar. E conciliar é abrir mão de horas de sono, horas de prazer e aceitar que o dolce far niente é coisa de um passado longínquo.

Sempre soube que queria mais do que ser mãe, mas confesso que durante a gravidez muitas vezes me perguntei se mudaria de ideia. Muita gente me dizia que eu não iria aguentar deixar o Joaquim e voltar ao trabalho. Não só consegui, como na maioria das vezes deixá-lo brincando na creche, aprendendo coisas novas, me traz muita satisfação. Assim como me enche de alegria ver o rostinho dele se iluminar quando vou buscá-lo na saída.

Ser mãe é muito bom, mas depois de um ano de muito trabalho e pouquíssima diversão, sinto que aos poucos vou resgatando a minha identidade e voltando – ainda que lentamente – a ser eu mesma. Não a mesma pessoa que existia até 2010, mas uma pessoa nova e multidimensional, que agora além de filha, esposa, amiga, profissional, é também mãe.