April 30, 2009

Correria

Este é o mal da vida moderna e maior motivo de stress, pelo menos para mim. Mas sou viciada em adrenalina. Não gosto de esportes radicais e nem preciso deles, pois parece que já nasci ligada na tomada de 1000 watts! Não consigo ficar parada, faço milhões de coisas ao mesmo tempo, tenho mil e um projetos paralelos, entre voluntários e pagos, e uma infinidade de coisas que me interessam, e muito!

A lenga-lenga é para dizer que apesar dos posts escassos e dos emails não respondidos, por aqui tudo bem. Os eventos de trabalho foram um mega-sucesso e a chefe quer aumentar minha equipe -- o que é bom e ruim, mas depois falo no assunto. O Todd já saiu do CTI e se recupera superbem na unidade do transplante de medula. graças a Deus. Meus pais continuam aqui mas já se vão na segunda e eu vou ficando tristinha...A visita deles foi ótima e realmente não tenho do que reclamar, mas a saudade é enorme. Tudo bem, se Deus quiser, em julho estou no Brasil.

Hoje tenho uma reunião em Washington e vou levar meus pais à tiracolo. Enquanto fico lá com o pessoal, eles curtem o Super Target, passeio favorito de brasileiro, que adora um supermercado! Depois passo aqui para dar uma atualizada melhor!

April 29, 2009

Motivo para Comemorar


A partir de hoje, quarta-feira (29), todas as mulheres com mais de 40 anos podem fazer o exame da mamografia gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Até agora, a rede pública de saúde tinha que assegurar a realização do exame para aquelas acima dos 50 anos.

Outra mudança prevista na lei é que as mulheres com diagnóstico de câncer de mama passam a ter direito a assistência integral no SUS, o que inclui prevenção, detecção, tratamento e controle da doença. Antes, a assistência só ia até a fase de detecção.

Para comemorar as mudanças, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) promove nesta quarta em Brasília, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Salvador uma série de ações para alertar o público feminino sobre a luta contra a doença. Ao longo do dia, serão entregues nessas cidades 23 mil rosas com um cartão informativo sobre a nova lei.

“Esse é um momento rico para quem está lutando tanto para receber esse olhar do governo. Nós mostramos que temos uma solução, que é conscientizar as mulheres que elas precisam se cuidar mais. Estamos chegando a um denominador comum, salvar mais vidas dessa doença mortal”, destacou a presidente da federação, Maira Caleffi, que participou de uma caminhada em Brasília, pela Esplanada dos Ministérios.

Segundo a Fenama, uma em cada três mulheres teve, tem ou terá algum tipo de câncer e uma em cada dez desenvolverá câncer de mama. Uma estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), indica que no Brasil morrem por ano 10 mil mulheres vítimas da doença.

“Esse tipo de atitude [a caminhada] é muito importante para reunir esforços e mostrar como estamos felizes com a nova lei. Já realizo o exame preventivo periodicamente e agora posso ficar tranqüila pois posso fazê-lo gratuitamente”, disse a aposentada Maria Oriente Leite.

No Rio, as manifestações ocorrem na Cinelândia, em São Paulo, na Avenida Paulista, e em Salvador, no Largo Campo Grande.

fonte:http://www.abril.com.br/noticias/brasil/entra-vigor-lei-assegura-mamografia-mulheres-mais-40-anos-sus-467138.shtml

April 28, 2009

Quando Imagens Dizem Mais que Mil Palavras...




As fotos do post de hoje foram tiradas na corrida/caminhada de domingo. Parece que Deus estava ao nosso lado, e a manhã da caminhada não poderia ter sido mais bela. Nenhuma nuvem no céu e uma brisa morna, quase quente, que me lembrava os dias de verão no Rio e fazia com que me sentisse em casa.

A alegria da Allison era impressionante e aparente, ela não conseguia parar de sorrir. A vitória era dela e disso ninguém tinha dúvida. Na quinta, ela tinha feito uma outra drenagem pleural e o médico, mais uma vez, tinha colocado em dúvida a determinação dela de percorrer os cinco kilômetros a pé. No domingo, ela era só energia.

Por causa do tempo ruim, pouco treinamos e a Allison não caminhava cinco kilômetros há tempos, então confesso que eu também fiquei na dúvida. Brincamos com ela dizendo que se preciso fosse, faríamos revezamento e que nossa meta era chegar em último lugar.

Já no final do percurso, ela confessou que sentia dor no peito, que seus pulmões pareciam que iam explodir, já que os tumores tem crescido ferozmente no corpo da minha amiga. Mas se a doença convardemente se apossa do corpo dela, a alma é mais livre do que nunca e se algué tinha alguma dúvida, a cara de felicidade dela no final ca caminhada era a prova mais concreta.

Finalizamos o percurso em pouco mais de uma hora, tempo melhor do que esperávamos, mas meu prêmio mesmo foi fazer parte do seleto grupo de 10 amigos que ela escolheu para caompanhá-la na caminhada.

Esta doença desgraçada me tirou muitas coisas, inclusive pessoas queridas, mas ao mesmo tempo me abriu as portas para conhecer pessoas absolutamente maravilhosas.

April 26, 2009

5K

Hoje é dia da minha caminhada contra o câncer. Este evento é muito importante para mim e para Allison, já que ela acha que dentro de pouco tempo não vai ter mais condições de caminhar tanto. Espero que ela consiga terminar a caminhada de hoje. Sei que vai significar muito para ela. De quaqluer jeito, eu e mais uns dez amigos dela vamos estar lá para incentivá-la. Nem que seja revezamento, a gente chega lá.

Queria aproveitar e agradecer a todos que me apoiaram também. Um dia escrevo um post mais longo sobre o assunto, mas uma das únicas coisas boas que encontramos durante momentos ruins é a solidariedade humana, que vem dos lugares menos imagináveis e improváveis. São as surpresas boas que enchem a vida de alegria!

Hoje o dia não poderia estar mais bonito -- perfeito para uma grande celebração!

April 24, 2009

Bye, bye Sister

Hoje a minha irmã e meu cunhado voltaram parra o Rio. Ela ficou aqui uma semana, ele um pouco menos, mas sinceramente estes dias voaram!!! Foi uma pena não ter podido passar mais tempo com eles, mas como economizo férias o máximo que posso para poder viajar, só consegui tirar a tarde de hoje de folga.

Com o passar dos anos, vou virando a maior manteiga derretida e foi difícil segurar as lágrimas ao me despedir dela. Sem muito motivo, já que se Deus quiser, vou ao Brasil para o nascimento da minha segunda sobrinha e para o primeiro aniversário da Kika, minha outra sobrinha e afilhada. Como a irmã da Kika (que ainda não tem nome!), nasce dois dias antes do aniversário dela, obviamente a comemoração de aniversário fica para o ano que vem. Mas eu já disse que vou legar uns enfeites para fazer a festinha dela na casa da minha irmã, só para a família mesmo.

Espero que a ligação das filhas da minha irmã seja como a nossa, forte e verdadeira, apesar das diferenças, que não sou poucas.

A Andressa foi feliz e cheia de compras, morrendo de saudade da filhota dela. Levou com ela também um pedacinho de mim. Saí de casa para acupuntura atrasada e meio chorosa. Mas o consolo é que ainda tenho meus pais por aqui por mais uma semana.

Nestas horas, a frase do Tom Jobim não me sai da cabeça. "Morar no exterior é bom mas é uma merda. Morar no Brasil é uma merda mas é bom."

Falou e disse, maestro!

April 23, 2009

Subidas e Descidas

Na sexta-feira, fui visitar o Todd com a Elizabeth e ele estava ótimo. Andando, já na casa de apoio, sorridente e feliz por ter saído do hospital depois de quase dois meses. Pediu para que sentássemos com ele no jardim e tivemos uma tarde agradabilíssima, jogando conversa fora. Saí de lá feliz e aliviada.

Qual foi a minha surpresa quando recebi um torpedo da Elizabeth que dizia "Todd está no CTI. Parece que é algo grave. A família já foi chamada." Fiquei arrasada! Ao que parece, naquela mesma sexta, horas depois, ele se sentiu mal e foi internado às pressas devido a um problema grave no pulmão. Os médicos já descartaram GVHD mas ainda aguardam resultados de mais exames.

Quando a Elizabeth me pediu para visitá-lo com ela no CTI, tremi, pois detesto CTI. É um lugar que me traz lembranças muito recentes e dolorosas, mas sei também que é onde o paciente mais precisa de apoio. Ao vê-lo lá, entubado e imóvel, também vi um pouco de mim e da minha avó, h'a poucos meses. Cena triste. Mas ao mesmo tempo pensei que se nós duas tínhamos conseguido sair de lá, o Todd também conseguiria.

Começamos a conversar e logo ele se mexeu, mostrando para nós que estava nos ouvindo. Contei a ele sobre a minha experiência naquele lugar, sobre as coisas que eu fazia ou pensava e sobre a minha saída. Pedi que ele ficasse calmo, já que nós entendíamos que ele estava alerta.

Ontem, ao voltar ao hospital, ele estava dormindo. Encontramos, na sala de espera, sua irmã e sua mãe. A irmã tinha vindo às pressas de Iowa e a mãe está com ele aqui desde outubro. Conversamos um pouco sobre hospitais, Baltimore e é claro, sobre o estado de saúde do Todd.

A irmã dele também nos mostrou uma foto dele antes da doença. Ele era simplesmente LINDO! Louro, de olhos azuis, forte, mais de 1,90m!!! Fora os olhos, agora mais tristes e escondidos atrás dos óculos, é até difícil imaginar... Mas aí me lembrei das palavras da Paula, quando me disse ter ficado irreconhecível na época do transplante e pensei comigo mesma "isto tamb'em vai passar".

Depois fomos até o box dele e ele acordou. Nos viu no corredor e pelo seu olhar, notei que havia nos reconhecido. A mãe entrou e me pediu para entrar também, afinal ali eu era a única que tinha experiência de CTI. Ele ainda estava entubado, mas por sinais entendemos que ele queria os óculos. Depois pediu papel e caneta. No início não tinha forças para segurá-la (vi que os braços dele estavam inchados de soro, talvez), mas depois escreveu mais forte. CAPS...ficamos sem entender... Ele ia ficando impaciente. Pergutamnos se ele queria um boné? (cap, em inglês). Ele fez que não. Escreveu "hockey". Então entendemos que ele queria saber o resultado do jogo da véspera, Capitals, ou Caps, é o nome do time de hockey de Washington. Não tivemos dúvida que a cabeça dele estava perfeita...agora só faltam os pulmões.

Daqui a pouco vou ligar para mãe dele para saber como eles passaram à noite. Sei que deve ter sido mais uma noite difícil, mas a força e a esperança deles me comovem. Ontem mesmo a irmã disse que ele nunca havia reclamado. O máximo que ele disse foi "Puxa, este negócio não me dá descanso." E só.

Fico aqui na torcida para que depois deste susto, ele se recupere logo. Não quero isar a palavra descansar, pois nestas horas ela me assusta. Prefiro pedir para que ele se recupere.

April 22, 2009

Família

Quando compramos nossa casa, tínhamos algumas coisas em mente: eu queria um condomínio com piscina e perto de Washington e Baltimore, o Blake queria uma "single family home", o que quer dizer uma casa que não fosse geminada, que não dividisse parede com nenhum vizinho. Coisa de americano, eu sei! Queríamos também uma casa onde pudéssemos receber nossos amigos e familiares, obviamente mais meus do que dele.

E desde que nos mudamos temos usufruído bastante da casa. A Geovana chegou junto com as caixas da mudança, no fim de semana que entramos na casa. Depois disso, mês passado, foi a vez dos Linhares, a família do meu cunhado. E por último, finalmente, meus pais, minha irmã e meu cunhado. Também recebemos bastante gente na casa antiga, meu irmão e várias amigas. Meu negócio é gente e sempre fui assim. No meu caso, "mi casa és su casa" mesmo.

Ao contrário de muita gente, não me importo em receber ninguém e faço questão de que quando me visitam, as pessoas se sintam em casa, o que quer dizer que mudo muito pouco os meus hábitos. Abasteço a geladeira, entrego as chaves da casa, cupons de descontos em lojas locais, mapas e sugestões de lugares e pronto. Saio pra trabalhar e vejo os hóspedes quando chego à noite. Em Nova York, além disso, o kit boas-vindas incluía o mapa do metrô, mas transporte coletivo é coisa inexistente em suburbia USA, então o único pré-requisito para me visitar aqui é ser "móvel", ou seja estar disposto a alugar um carro. Para os padrões americanos, moramos muito perto de tudo, pois em meia-hora estamos em duas cidades grandes, em dez minutos no shopping e em muitas outras atrações locais. Na casa antiga, demorávamos pelo menos 30 minutos para chegar a qualquer lugar. Um horror!

Então esta semana tem sido ótima, já que a minha irmã e meu cunhado estão superacostumados a alugar carro quando viajam e já conhecem bem as coisas por aqui: tem os shoppings, as lojas, os restaurantes e os lugares favoritos, o que torna tudo mais fácil para mim. Levam os meus pais que aos poucos vão se acostumando a dirigir por aqui...cada dia vão a um shopping diferente!

Mas o legal de quando recebemos gente em casa é que o Blake percebe que não é só a minha família que é muambeira, mas TODOS OS BRASILEIROS! Sinceramente, acho que deve estar no nosso DNA! E o pessoal não compra só para si, já traz listinha da família, dos vizinhos e do povo do trabalho. E depois que descobriram a Amazon, a coisa só ficou mais profissional! Antes mesmo da chegada deles ou de qualquer viagem nossa ao Brasil, as caixas comçam a aparecer lá em casa. Todos os dias, de todos os tamanhos, dos mais diversos lugares, com os mais diversos produtos.

Ontem aconteceu uma coisa engraçada. Chegou um pacote no meu nome de um remetente desconhecido. Como sou viciada em Law & Order e CSI e vira e mexe aparece uma carta-bomba em um episódio, já fiquei ressabiada. O nome do cara era supercomum... alguma coisa Smith. Pesei logo, isto é pseudônimo! Como a carta vinha da Georgia, imaginei que pudesse ser o meu ex maluco, mas a letra era diferente. Passei um tempão apalpando o envelope e cheguei a conclusão que deveria ser um DVD ou coisa do tipo. Resolvi abrir, ainda com medo. Era um cartucho de jogo! Dentro a nota fiscal no nome de algum brasileiro que desconheço. Tempos depois, a minha irmã me explica que era a encomenda de um colega de trabalho dela! Pois é, se cobrasse para receber encomendas na minha casa, já teria ficado milionária! Desde que nos mudamos, há seis meses, já devo ter recebido umas 60 caixas!

April 21, 2009

Quando a Espera Vale a Pena

Ontem chegamos a Hopkins antes das onze da manhã e saímos de lá quase às seis da tarde. Mas longe de mim reclamar. Apesar do incrível medo que senti desta vez, saí de lá aliviada e feliz depois de obter os resultados que tanto aguardava.

Estas consultas e axames periódicos me trazem de volta lembraças amargas, são sempre encontros marcados com a minha vulnerabilidade, quando me vejo cara a cara com a minha própria mortalidade. Não deveria ser tão traumático assim, mas é.

Os dias que antecedem esta data são muito tensos para mim. Desta vez fiquei mais ansiosa, e o pior de tudo é que passei esta ansiedade para a minha família que está aqui me visitando. Eles aguentaram bem, mas deve ser horrível para os pais verem o sofrimento e a angústia de um filho. Meus pais já passaram por muitas comigo e é muito compreensível que também tenham ficado traumatizados. Espero que o tempo apague tanto as minhas cicatrizes quanto os traumas deles.

Ontem fui espetada cinco vezes nos dois braços. Para quem não sabe, sempre tive verdadeira fobia de agulhas, mas acabei me dando conta que não tenho mais este medo. Fui espetada na parte exterior do braço e nas mãos -- lugares supostamente bem mais sensíveis e dolorosos -- mas sinceramente nem diferença senti. As minhas veias são ruins: finas e "bailarinas", o que quer dizer que ao entrar em contato com a agulha, elas se movem. Nada demais, a menos que, como no meu caso, o dono destas veias tenha que ser submetido a vários exames de sangue periódicos. Mas dos males o menor. Se esperar sete horas num hospital onde só há desgraça e ser furada cinco vezes a cada três meses me dessem a garatia de viver saudável até meus 90 anos, eu ficaria felicíssima!

A espera de ontem também foi muito diferente e acho que a minha choradeira ano passado fez com que o meu médico reavaliasse o modus operandi do departamento. É óbvio que entendo que a rotina dos caras é uma loucura, mas esperar horas a fio trancada numa sala para saber se o tumor voltou ou não é pior que tortura. Me imagino a própria gladiadora dentro de uma arena no final da luta à espera da misericórdia do imperador. Polegar pra cima se eu merecer viver, polegar para baixo se for condenada à morte. Só que no meu caso, o imperador é o médico e o polegar é o resutlado da ressonância.

Ao chegar lá, fomos encaminhados para uma pequena salinha, de onde pudemos ver outros pacientes, em outras salinhas com semblantes tão preocupados quanto os nossos. Pela fresta da porta vemos os médicos, enfermeiros e residentes num entra e sai a passos apertados. Até que enfim chega a minha vez! Um dos residentes entra para fazer as honras da casa.

A primeira pergunta é como eu estou me sentindo. Olho para ele e digo sorrindo (de nervoso!): "Você tem a resposta." Ele sorri e responde "Se você quer saber dos exames, nada mudou desde a sua última consulta. Continua tudo bem com seu fígado e suas taxas continuam praticamente inalteradas."

Nesta hora, o Blake e eu respiramos aliviados pela primeira vez em semanas, nossos olhos cheios de lágrimas e o pensamento lá no futuro, nos planos para uma vida normal. Nossas orações e as orações de muitas pessoas especiais foram atendidas. Me sinto 200 kg mais leve, sinto que posso voar.

Faço algumas perguntas ao residente, muito simpático, e ele me diz que agora preciso esperar o médico para tarçarmos um acompnhamento a longo prazo. "Você não é o tipo de paciente que a gente quer ver a cada dois ou três anos. Queremos você pertinho de nós. Vamos ficar de olho em você," ele sorri. É claro que quando um médico diz que quer você por perto, ele não se refere ao seu bom astral ou a sua mera companhia, mas tudo bem, há de que se acostumar com isto.

Preciso entender que pra mim, vida normal não é aparecer no médico uma vez a cada cinco anos com tosse ou dor de cabeça. No meu caso, vida normal quer dizer consultas e exames periódicos e, se Deus quiser, mais nada. Pensando no que já ficou pra trás, este é um preço pequeno a ser pago.

April 20, 2009

Alívio

Acabo de chegar de Hopkins depois de um dia longo. Exausta, mas feliz, muito feliz! O fígado continua bem, obrigada e a saúde idem.

Obrigada pelas orações e pela torcida de vocês.

Amanhã conto mais detalhes.

April 17, 2009

Overrated

Já cansei de dizer aqui que não gosto do termo "sobrevivente". Não quero ser associada com ele. Não quero me sentir feito general condecorado depois de batalha. Só quero ter saúde e ponto.

Entendo que o trauma do paciente de câncer é semelhante, que a culpa por ter sobrevivido enquanto outros não tem a mesma sorte é a mesma, mas o que mais me incomoda é o termo sobrevida quando o que mais quero no mundo é ter uma vida normal!Mas enfim, tem coisas que não adianta a gente reclamar. Me chamam de "survivor", eu agradeço e sorrio. Fazer o que?

Quando eu já estava me adaptando ao termo e entendo as tais razões, sou pega de surpresa. Semana passada, resolvi experimentar um sistema de tratamento para a acne, minha inimiga mais antiga. O tal sistema faz um marketing absurdo na TV, pelo correio, online e até em kioskes de shopping. Me rendi. Pedi o meu e recebi pelo correio dias depois. Resolvi ler o tal livreto de informações que explica o passo-a-passo do tratamento e fala sobre como os produtos foram desenvolvidos pelas tais doutoras cujos nomes me escapam. Lá pelas tantas na biografia delas, o texto diz que além do currículo acadêmico invejável, as tais médicas eram "acne survivors"!!! Como é que é? Acne survivor? Sobrevivente de acne? O que esta expressão absurda quer dizer? Que as doutoras fulanas sobreviveram a uma espinha? Ou será que foi um cravinho? Mesmo se fossem mil espinhas!? Sobrevivente? Fala sério!

Pois é, se eu já tinha uma enorme dificuldade de aceitar minha condição de sobrevivente do câncer de fígado, imagine agora que virei sobrevivente da acne?! Sim, pois hoje mesmo tenho duas espinhas enormes e císticas que cismaram de enfeitar as minha bochecha! Será que preciso de ressonância magnética ou tomografia?

Cheguei à conclusão que para vender, vale qualquer coisa, até mesmo o uso de expressões ridículas para condições mais do que banais. Quer coisa mais overrated do que "acne survivor". Só mesmo rindo...

April 16, 2009

Noivas Rio de Janeiro


Como sei que as noivinhas entrevistadas estão numa expectativa só, este post é par aavisar que a edição de outono já saiu e deve estar nas bancas este fim de semana. Como colaboradora, já recebi a minha cópia, que a minha mãe, que checgou hoje a Washington, trouxe na mala de mão!

Sou mais que suspeita mas a revista está o máximo! O que eu mais gosto da Noivas é que ela é diferente da maioria das revistas concorrentes, no Brasil e nos EUA, porque a Lu Bittencourt (editora) além de gostar das matérias básicas, sempre oferece muitas matérias de serviços e de comportamento, o que é bem raro neste setor.

Volta e meia leio as revistas de noivas aqui e fico bem frustrada, pois na maioria das vezes é anúncio atrás de anúncio. Tudo bem que é anúncio que sustenta a revista -- sou jornalista e sei disto muito bem! -- mas convenhamos que ninguém compra revista por conta de anúncio de fornecedor. Se fosse assim, qualquer catálogo seria bestseller!

Além da minha coluna (que está bem engraçada!), nesta edição fiz duas matérias superbacanas que me deram a chance de conhecer meninas mais bacanas ainda, espalhadas mundo a fora.

A primeira foi sobre noivinhas que organizaram todo o casamento estando longe do Brasil. Coordenaram todas as tarefas com a juda da família, do Skype, do MSN e da Internet! As meninas contam com detalhes a fase dos preparativos. Aliás, este era o foco da matéria, mas como as histórias delas eram lindíssimas, eu e Lu não resisitimos, e resolvemos dividi-las com as leitoras, afinal quem não gosta de história com final feliz e cenários deslumbrantes -- Itália, Inglaterra, EUA, e é claro, o Brasil! As quatro noivinhas contam como conheceram seus príncipes e como acabaram decidindo fazer casamentos dignos de contos de fadas na Cidade Maravilhosa. Uma das noivinhas é a Dri, blogueira-mor, que já não aguentava mais de vontade de contar para o povo virtual que ela é, como ela mesmo se define, noiva de revista! As outras meninas, Nathalie, Simone, Ethel e Ana Paula também são uma graça e as fotos não me deixam mentir: todas elas foram noivas deslumbrantes. Conveersar com as meninas e escrever a matéria foi o máximo e um prazer enorme.

A outra matéria desta edição também ficou sensacional. Graças a uma precisoa dica da Andréa, sugeri uma pauta sobre casamentos vegetarianos. para minha surpresa, a Lu adorou a ideia e aceitou na hora. Achei duas noivas americanas, a Allison e a Jennifer, super do bem. As duas mega-saudáveis fizeram casamentos veganos, ou seja, não usaram NADA de origem animal na festa. Desde o bolo à cerveja, tudo orgânico e vegano. As duas falam como noivas e como chefs de culinária vegana, cheias de dicas e de experiência. A Jennifer ainda é nutricionista e o mais legal é que ela é de Maryland e cresceu a cinco minutos da minha casa! Ela prometeu que vai voltar aqui para fazer uns workshops de culinária vegana numa loja local. Já estou esperando.

Enfim, é nestas horas que a gente ama o trabalho da gente. Estou superfeliz com a revista e já pensando em pautas para próxima edição. Se vocês tiveram sugestões, me avisem. Quem sabe, assim como aconteceu com a Andréa, a pauta de vocês acaba virando matéria?!

Apelo por um Anjinho


Quem estiver no Rio, por favor, leia este post com bastante atenção e encaminhe para o maior número de pessoas que puder.

Recebi este email da minha irmã e eu queria divulgar aqui.

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Pessoal,

É um problema com um anjinho.
O nome dele é Yan. Tem apenas 8 meses de idade. Nasceu com insuficiência
renal e, no momento está num estado muito delicado, internado no CTI, no
Centro Pediátrico da Lagoa - seus rins estão deixando de funcionar. Ele
já fez algumas cirurgias, mas não tem dado muito resultado. Ontem começou
a fazer hemodiálise, pois ainda não pode fazer o transplante por ainda não
ter 10 kg.
Ele precisa de sangue AB +, para transfusão de plaquetas. Embora seja
este o tipo de "Receptor Universal", ele não deve receber outro tipo
diferente, para que não crie anticorpos que possam, no futuro, vir a comprometer o
sucesso do transplante, explicação que a equipe médica passou para a mãe dele, confirmada pela clínica onde
a doação deve ser feita - só para ter noção, disseram que cada 10
doadores geram quantidade suficiente para apenas 1 dia de vida do pequeno Yan.
Quem puder doar este tipo de sangue (AB +), ou conheça quem possa, por
favor, compareça à clínica HEMATOLOGISTAS ASSOCIADOS, que fica próxima à
Cobal do Humaitá, na Rua Conde de Irajá 183, em Botafogo - (Tel: 2537-7440).

Lá no local, deve dizer que a doação é para o YAN CONDE
GONÇALVES, que está internado no CENTRO PEDIÁTRICO DA LAGOA.
Horário : 2a. a 6a. --> 8:00 às 16:00.
sábado --> 8:00 às 11:00.



Doar sangue é salvar vidas. Eu sou a maior prova disto e só estou aqui por causa da bondade de mais de 40 amigos que me deram um pouqunho de si, mais precisamente 500ml de sangue que tornaram a minha cirurgia possível. Por favor, não esperem, realizem este ato de generosidade o mais rápido possível. Sem sangue, este pequeno anjinho vai partir.

Fiquem à vontade para postar esta informação em blogs e para distribuir para seus contatos.

Mais uma vez obrigada!

April 15, 2009

Mensagem para os Homens que Abandonaram as Meninas com Câncer...

Lendo o livro da Kayrol, que é o máximo, uma das frases que me chamou atenção foi de uma das meninas. Depois coloco a versão original aqui, mas a tradução livre ficaria assim: "Se eu tivesse que mandar um recado para todos os babacas que largaram suas namoradas porque elas estavam doentes, diria a eles 'fuck you, fuck you, fuck you!'" Pois é...tem expressões que dispensam tradução.

Se enfrentar uma doença desgraçada não fosse bastante, muitas vezes a gente ainda encontra mais pedras no caminho. C'ést la vie. É claro que toda história tem dois lados, de repente a relação já não ia bem, e com o baque da doença, dos tratamentos e do stress emocional, não teve jeito, foi mesmo pelos ares. Em situações extremas, parece que tudo "ou vai ou racha".

Também é bom lembrar que só porque o sujeito tem câncer não vai virar santo de um dia para outro. Se o cara ou a garota era babaca antes, não é por causa de um tumor que vai virar mártir. Tudo bem, uma doença destas muda muita gente (eu, por exemplo), mas tem gente que não muda e ainda tem os que mudam para pior. Então é difícil julgar.

Também tem o agravante do tratamento, que pode ser muito demorado e sacrificante. Nestas horas, tem gente que tem dificuldade em se expressar, se relacionar e acaba, conscientemente ou não, escolhendo ficar só. Pode ser uma questão de timing também... Enfim há zilhões de motivos que ficam entre a desculpa e a razão, mas a verdade é que enfrentar uma separação depois de descobrir que tem câncer é simplesmente horrível e aterrorizante.

Cada um enfrenta a doença e tudo que a cerca de modo diferente e uma pessoa pode viver situações completamente diferentes, dependendo das circunstâncias. No meu caso, tendo passado pela experiência duas vezes, a minha vivência não poderia ter sido mais diferente. Graças a Deus.

Em 2002, estava envolvida com um cara complicado. Não era mau, mas era muito complicado, o que tornava a relação problemática. Não havia brigas, mas eu sentia que a coisa não engatava e durante os primeiros meses chego a pensar que dei mais do que recebi, o que, na época, não via como problema, já que a minha vida transcorria muito normalmente.

Até que um dia isto tudo mudou e eu, que sempre fui acostumada a cuidar dos outros, precisei ser cuidada. E os problemas dos outros, com os quais sempre acabava me envolvendo, passaram a ser demais para mim. Eu, que só me doava, agora também requisitava, precisava. E isto desequilibrou completamente a relação. Entre cirurgias, internações e tratamentos, minha vida social desapareceu e é claro que isto afetou o relacionamento. Quem quer ficar em casa com a namorada doente durante meses?

Foi muito difícil para mim, depois de ter perdido 70% do fígado, a vesícula e a minha auto-confiança, perder também o namorado, mas não tive saída. Da primeira vez que sugeri o término, ele não aceitou, disse que ia mudar e eu acreditei. Duas semanas depois, nada havia mudado e novamente eu puxei o assunto, só que desta vez, para minha surpresa, a resposta foi: "Tudo bem, você tem razão. Melhor assim, continuaremos bons amigos."

Como assim melhor assim? Ele me pegou no meu blefe, mas já era tarde demais. Estava feito. Fígado e coração partidos ao mesmo tempo, bingo! Isto foi mais ou menos a uma hora da manhã. Voltei para casa e passei a noite em claro. Acordei exausta.

Poucas horas depois, sentada no consultório médico e pronta para receber boas notícias, levo outro balde de água fria. Olhando meus exames, os médicos tinham mudado de idéia, eu iria fazer quimioterapia e provavelmente partiriam para uma nova cirugia. Por alguns segundos, procuro a janela mais próxima, estamos no sexto andar, se eu me jogar será que morro de vez?! Mas é claro que a idéia absurda não dura mais que um instante. Tentando me refazer de susto, saio do consultório cambaleando, amparada pela minha mãe.

Ao chegar em casa, ligo para alguns amigos para desabafar. Tenho a triste idéia de ligar para o ex, que na véspera tinha jurado amizade eterna. Ele atende e eu explico o que está acontecendo... Ele faz uma pausa e calmamente responde "Puxa, Dani, isto é muito chato. Se precisar de mim, pode contar comigo. Mas não é porque você descobriu que continua doente que nós vamos reatar..."

Escuto atordoada. Tudo bem que no meu subconsciente eu poderia estar até usando o cancer card -- embora até hoje ache que só queria um ombro amigo -- mas a frieza(intencional ou não) das palavras dele doeu como choque de milhões de volts. Se até ali, estava sentindo pena de mim, a partir daquele momento, vi a verdadeira e velha Dani ressurgir das cinzas, tal como a fênix. "Que FDP!," pensei. Tratei de encurtar logo a conversa e seguir minha vida. Aquele idiota egoísta não merecia mais um minuto do meu tempo!

Por um tempo, continuamos nos falando, eu sempre uma lady. Até que os anos foram passando e percebi que realmente não tínhamos nada em comum. Interesses, ambições, valores e desejos diferentes demais....a vida se encarrega de afastar. Hoje não tenho notícias dele. Espero que esteja bem, afinal ele não é nada mau, so era o homem errado para mim, naquela hora e para sempre.

Por mais duro que tenha sido na época, foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido, pois (eu sei que é cliché!!!) se não fossem pelos panacas que cruzaram a minha vida, jamais teria encontrado o Blake!

A minha vida mudou radicalmente depois da cirurgia: novos amigos, novo trabalho, novos interesses, novos horizontes. Quando encontrei o Blake, o furacão já tinha passado, a doença já tinha ficado para trás. Ou assim eu pensava.

Mas eis que nove meses depois do nosso lindo casamento, ela volta a mostrar a cara. Se o tumor sempre tinha estado ali ou se era novo, jamais vou saber, mas o inegável é que havia de novo uma massa no meu fígado e a operação era inadiável. Lá fui eu entrar na faca de novo.

Só que desta vez foi muito diferente. Jamais tive dúvidas de que o Blake estaria ao meu lado durante a nova empreitada, mas não fazia idéia do tamanho da dedicação dele. Assim que recebemos a notícia, fizemos uma reunião em família. Meus pais foram enfáticos ao dizer para ele que entendiam que ele tinha uma vida e um emprego nos EUA e, como a minha temporada no Rio era indefinida, eles cuidariam de mim para que o o Blake pudesse voltar para casa. Sem pestanejar, ele respondeu. "Obrigada pela generosidade, mas eu não vou a lugar nenhum. Ela é minha esposa e eu só saio daqui com ela. Nós vamos voltar juntos."

Meus pais boquiabertos insistiram, explicando que temiam pelo emprego dele e o Blake mais firme dizia. "Eu dou um jeito nisso. Nem se preocupem. A minha prioridade é a Dani e só." E ali, ouvi palavras tão lindas como as que tinha ouvido no dia 24 de março de 2007, com a diferença de que naquele momento elas eram incrivelmente reais. "Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença."

Sinto muito por aqueles que enfrentam a doença sozinhos, pois um companheiro ao seu lado faz toda a diferença do mundo. O Blake foi um apoio não só para mim, me acompanhando a todas as consultas e exames, mas para os meus pais, já mais frágeis e cinco anos mais velhos. Desta vez, a minha irmã, que tinha sido companheira inseparável durante a primeira cirurgia, estava grávida de quatro meses, o que tornava a situação muito diferente.

Mas a cirurgia foi um sucesso, a recuperação muito boa e nossa relação resistiu a tudo e tornou-se muito mais sólida. Parece que somos casados há milênios... A cada dia pecebo a minha escolha acertada e agradeço a Deus por ter colocado um homem tão bom no meu caminho.

Então ao contrário do que a personagem do livro da Kayrol disse, a minha mensagem para todo/a babaca que larga a namorada/o namorado ou, ainda pior, a mulher/o marido, é "Thank you! Muito obrigada por sair da minha vida e abrir as portas para alguém muito melhor. Obrigada por me fazer ver o quão errada eu estava ao pensar que você era homem/mulher suficiente para estar ao meu lado. Obrigada por me fazer enxergar que eu mereço e posso ter alguém muito melhor. Thank you, thank you, thank you. E tenha uma vida maravilhosa, pois tenho certeza que a minha vai ser."

April 14, 2009

Mais Espera


Segunda-feira, dia 20 de abril, é dia de Hopkins e se disser que não estou com uma pontinha de medo, estarei mentindo. Sei que as estatísticas estão do meu lado, que quanto mais tempo passa, mais saudável fico, que quanto mais exames fizer, mais certeza terei de estar bem. Mas aquela pontinha de medo continua lá, me incomodando, atrapalhando meu sono e invadindo meus pensamentos.

Tenho fé, então deveria entregar meu destino nas mãos do Todo Poderoso e ter certeza que Ele vai cudar de mim. Faço isto tudo, mas aquele ponto de interrogação, aquela cena terrível na sala de exames continua a me assombrar. Fecho os olhos e me lembro daquele dia horrível. As lembranças estão ainda muito vivas.

Dizem que só o tempo. Só o tempo para fazê-las desbotar a cada consulta. Só o tempo para apagá-las da minha memória, pois dizem que o tempo cura tudo. Espero que sim, mas foi este mesmo tempo que me deu uma rasteira pouco mais de um ano atrás. Quando achei que já estava na hora de aposentar a ampulheta e seguir minha vida sem medos e sem fantasmas, recebi um tremendo golpe e tive que virar a ampulheta de novo e esperar pacientemente mais uma vez. Que trapaça!

Da primeira vez que vi Dr. Tim Pawlik e discutimos meu caso, ele me disse “Pois é, quando coisas assim acontecem a gente percebe que tem mesmo é que vigiar a vida toda. Tem a história dos tais cinco anos, mas são números aleatórios que no fundo não dizem nada. A verdade é que o acompanhamento é eterno.”

Eterno? Parece prisão perpétua! Mas ele tem razão. Não posso discutir. Se por um lado estes exames me dão a segurança de estar sendo monitorada periodicamente, o que me garante mais chances de cura, caso algo aconteça, por outro lado, este encontro com a minha vulnerabilidade a cada três meses é algo extremamente desgastante. Não consigo não pensar no tal dia; não consigo seguir a minha vida normalmente até o dia da consulta. A proximidade da data me dá calafrios.

Mas não há nada a fazer. Os dados estão lançados, então só me resta esperar. Tenho feito tudo que está ao meu alcance, mas é justo nestas horas que entendo bem que existe algo maior, algo mais poderoso e soberano. É justo nestas horas que a conversa com um outro médico há muitos anos me vem a cabeça.

Quando me viu revoltada num quarto de hospital, implorando para receber alta, o Dr. Ary serenamente se aproximou de mim e disse. “Não existe nada que você possa fazer agora, nem remédios, nem tratamentos, nem mais exames. Nem os médicos podem fazer nada. Se fosse por nós, faríamos a sua vontade e assinaríamos a sua alta neste instante. Também queremos ver você fora daqui e em casa, mas seria um ato irresponsável. Sei que a vida toda você se dedicou e deu duro para conseguir o que quis, e quase sempre conseguiu. Só que agora isto não depende de você. Se você tem fé, meu conselho é para que reze. Se não tem, então espere.”

As palavras dele ficaram comigo até hoje e rezei, pedi, implorei como nunca havia feito antes. Em poucos dias deixei aquele hospital e desde então toda vez que me vejo em situação parecida, elevo meu pensamento a Deus e peço. Peço parta que Ele me dê mais força, mais fé e mais coragem.

April 13, 2009

Doação de Órgãos

Pelo motivo mais egoísta do mundo, este tema me interessa demais. Espero não precisar de um transplante (tudo indica que meu fígado está ótimo, graças a Deus!), mas o assunto de doação de órgãos me comove demais.

Assisti a matéria do Fantástico e sinceramente espero que o Dráuzio Varela conseiga chamar atenção para um fato tão importante. Uma das frases do médico não consegue me sair da cabeça: "O paciente morre não por ter uma doença incurável, mas por não encontrar um órgão que poderia salvar sua vida." Como é que a gente aceita uma coisa destas quando há órgãos sendo jogados no lixo? Esta parte me dói demais.

Ainda tento aceitar a morte e luto muito para me conformar com ela. Normalmente digo a mim mesma que cada um tem a sua hora, que chega um momento em que todas as possibilidades se esgotam e só nos resta aceitar a partida. Mas e quando a medicina é capaz de salvar uma vida, mas a burocracia, a vaidade ou o egoísmo humano tornam-se impecilhos? Não consigo me conformar. Acho que por isto a história do Dr. Joaquim me incomoda tanto, pois me coloco na posição de centenas de transplantados, que dependem da caridade de terceiros e para os quais qualquer dia pode ser o último. E as supostas autoridades brasileiras tentam macular a reputação de encerrar prematuramente a carreira do pioneiro de transplantes de fígados no Estado do Rio de Janeiro! Dói demais. É cuel demais. Espero que a justiça xseja feita o quanto antes, pois não podemos ver mais pacientes inocentes pagando pela incompetência do Estado com a própria vida.

Por coincidência, conversando com o Todd na quinta, ele me contou mais detalhes sobre o transplante. Apesar de ter meio-irmãos, nenhum deles era doador compatível, mas por incrível que pareça, no banco de medula, os médicos encontraram três doadores perfeitos para ele. Isto mesmo, três! Coisa rara! Mas depois da primeira triagem, só um deles era viável. O primeiro candidato não conseguiu o OKJ dos médicos, talvez por problemas de saúde, o segundo disse que não estava pronto para fazer a doação (?!), mas felizmente o terceiro estava disponível e saudável. Todd disse não saber nada do seu doador, só que ele é branco. Ao que parece, depois de um ano, as identidades do doador e do receptor podem ser reveladas e eles podem passar a ter contato. Todd disse que quando chegar a hora vai pensar no assunto, até lá quer focar na própria saúde.

Mas a informação mais importante que Todd me deu foi sobre o banco de medula óssea. "Tive muita sorte de achar três doadores compatíveis, mas sei que sou uma grande exceção. Isto me preocupa muito. Acho que eles deveriam fazer mais iniciativas de captação de medula óssea, principalmente entre as minorias. Meu médico disse que 70% dos doadores cadastrados são brancos. Imagine as chances de um negro ou hispânico ou asiático conseguir um doador a tempo!?"

As palavras dele ficaram comigo. "Imagine as chances de alguém mestiço conseguir um doador a tempo..." Então não importa a sua raça, seja você mulato, branco, negro, amarelo, roxo ou cor-de-rosa, cadastre-se! Seja doador de órgãos, de medula, do que quer que seja. Muito se fala do processo de doação, mas há muita gente que tem noções completamente erradas sobre ele. A página do INCA explica direitinho sobre o processo de doação de medula. Se você está nos EUA, este site tem ótimas explicações.

Não importa onde você esteja, tenho certeza que existe um programa de doação de medula e de órgãos sério. Com apenas um gesto você pode salvar uma vida. Pense nisso.

April 12, 2009

Acupuntura


Ontem foi a minha primeira consulta aqui. Este lugar que achei a uns 10 minutos de casa é sinceramente o segredo mais bem guardado de Howard County: uma faculdade de pós-graduação em artes curativas, ou medicina alternativa. Cada vez que vou lá, tenho uma supresa melhor do que a outra.

Acabei chegando atrasada pois dormi tarde na noite anterior e por causa do tempo horrível que fez aqui ontem, meu GPS se recusou a trabalhar e, como quase nunca vou de casa para lá, errei o caminho. Claro que vale lembra que meu senso de direção é INEXISTENTE, mais uma coisa herdada da minha mãe, que é completamente desorientada, assim como eu.

Ao chegar lá, felizmente fui avisada que eles também estavam atrasados. Ufa! Nada pior que chegar atrsada para uma consulta gratuita, né? Preencho a ficha rapidamente e depois de alguns minutos, sou levada a uma salinha, onde aguardo a acupunturista. Dentro de pouco tempo, entra uma mulher de longos cabelos ruivos, uns trinta e poucos anos e enormes olhos verdes. A voz dela é doce e ela parece que flutua. (Pode ser impressão minha, mas este pessoal de yoga e acupuntura me passa uma tranquilidade enorme).

Ela se apresenta e pede para que eu fale um pouco de mim. Faço um resumo nem tão breve assim dos meus últimos anos, e óbvio que o fígado vem a tona. Ela presta atenção e anota tudo. Ela me explica que o fígado é regido pelo fogo, de acordo com os princípios da medicina chinesa, e este órgão também tem efeitos na nossa personalidade, nos torna determinados e cheios de energia, quando em equilíbrio. Em desequilíbrio, pode nos tornar agressivos ou letárgicos. Ela me diz também que na medicina chinesa, podemos tirar a maior força de onde existe a maior fragilidade e que o tratamento vai focar no meu fígado e no meu equilíbrio, a fim de me manter saudável e livre de câncer.

Ela me pede para virar de bruços, me explica sobre as agulhas e eu digo a ela que já faço acupuntura há anos e não tenho medo de agulha (agora!). Tiro a blusa, me deito e ela coloca um monte de agulhinhas bem fininhas nas minhas costas. Depois disso, ela sai da sala e eu fico lá sozinha ouvindo um CD com o barulho das ondas (afinal estamos em Maryland!). Desta vez, não durmo, mas fico meio grogue.

Passado o tempo, ela volta, retira as agulhas e me diz que hoje vou me sentir meio cansada/relaxada e que devo evitar embates, já que meu corpo energético está aberto. No dia seguinte devo me sentir bem melhor, após uma noite muito bem dormida.

Dito e feito. Chego em casa e, ao contrário do que normalmente acontece, resolvo tirar uma soneca à tarde... Só saio à noite, já me sentindo melhor.

Dormi uma noite muito tranquila e hoje acordei mais disposta do que ultimamente. Tomara que o tratamento mesmo! Volto lá sábado que vem...

Agora, além da yoga, incluo acupuntura, chás medicinais e massagem na minha agenda. Se dentro de poucos meses eu não me tornar zen, acho que posso me considerar um caso perdido!

April 10, 2009

Histórias

Desde pequena, a minha mãe sempre me disse que a palavra tinha um poder enorme. "Quando você pensar que não há nada que possa oferecer para alguém, ofereça uma palavra de conforto, um ombro amigo," ela sempre me diz. Eu reclamo às vezes, pois sinto que em tantas ocasiões palavras se perdem ao vento. Gosto é de ação! Não gosto de blablablá e tenho horror a demagogia, então acho que palavras só valem a pena quando seguidas por ações coerentes.

Mas estes dias tenho pensado justamente nas palavras da minha mãe e até nas palavras de outras pessoas. Se tenho lá minha s dúvidas quanto ao poder das palavras, acredito piamente no efeito das histórias, estas sim, a meu ver, mudam vidas.

Semana passada ao ver o Todd, falei da Paula, amiga virtual e transplantada há 15 anos. Ao ouvir "15 anos", Todd abriu um enorme sorriso, pois no meio de tantas estatísiticas sombrias e frias e de tantas especulações, eu ali lhe dava um fato, lhe contava a história de alguém que passou pelo que ele está passando e está viva e feliz.

Naquele momento, ao lhe contar aquela história real, dei ao Todd também esperança, pois a certeza da existência de alguém que sabe exatamente o que ele passa, mostra que é possível vencer a batalha. "Quinze anos...," ele repetia para si mesmo. "Quinze anos é coisa para caramba!," ele me dizia e sorria. Um sorriso nos lábios de alguém que está deformado por conta de uma doença covarde tem um sabor e uma beleza ainda mais especiais.

A verdade era que tinha entrado naquele quarto para contar a ele a minha história de sucesso "Ei, olha pra mim! Hoje estou aqui maquiada e de salto alto, trabalhando full-time e feliz da vida, mas ano passado, estava numa cama de hospital, cheia de fios e furos como você..." Já tinha meu discurso todo engatilhado. Mas ao longo da nossa conversa, vi que a história que importava ali não era a minha, mas a dele. E a história que ia fazer a diferença não era a minha, mas a da Paula, que tinha muito mais para contar para o Todd naquele momento. Então imediatamente, aposentei a primeira pessoa e contei a história dela, na terceira pessoa, a pessoa certa para estar ali ao lado dele. Passei de protagonista a narradora, pois se fisicamente a Paula não poderia esta aqui em Baltimore, me esforcei o máximo para que a sua presença pudesse ser sentida naquele momento, através das minhas palavras.

O legal foi que depois de ver o post de semana passada, a Paula demonstrou a maior vontade de ajudar, de se conectar com o Todd, mesmo que à distância. Tratou logo de colocar sua história no papel, de falar sobre momentos bons e ruins e de abrir seu coração para alguém que ela jamais conheceu.

Traduzi a carta e levei para o Tood ontem, junto com o livro autografado da Kairol. Ao chegar, disse para ele que tinha comigo uma carta da minha amiga Paula, ao que ele completou na hora "aquela que fez o transplante há quinze anos!" Já haviam se passado vários dias mas a história da Paula continuava viva na memória dele! Estendi a mão e dei a carta para ele, fui avisando que tinha fotos dela. Ele, curioso, olhou para a carta e para a foto dela e disse meio sem graça "Saudável e bonita!" Agora ele tinha além da história, uma evidência de que a Paula de fato existia e uma foto, um rosto, coisas que tornam tudo muito mais real.

E ali eu entendi que se a doença não tem preferência por sexo, raça, cor ou religião, também a solidariedade e os laços que podem unir pessoas que aparentemente tem muito pouco em comum, não conhecem fronteiras. Ali, naquele quarto de hospital, a pessoa que mais entenderia o Todd, não era um médico, uma enfermeira ou mesmo uma assistente social. Também não era eu, uma ex-paciente, mas sim uma empresária paulista de 39 anos que ele jamais viu, mas que deu a ele algo que só um transplantado de medula pode oferecer, a esperança e no caso da Paula, a certeza, de que há vida depois de um duro golpe como estes e que ela continua mais interessante do que nunca.

Desde que comecei a escrever o blog, tantas destas histórias chegaram até mim. Histórias de jovens valentes que viviam vidas absolutamente normais ao se depararem com circunstâncias completamente anormais. Uns, como a Paula, ainda estão aqui, outros infelizmente partiram, mas deixaram também seus legados e suas histórias, não menos belas apesar de tristes, mas que também merecem ser contadas.

Estou pensando em abrir o blog para estas pessoas que continuam a viver vidas produtivas, interessantes e NORMAIS e amigos e/ou familiares daqueles que já não estão mais entre nós. Acho que muita gente vai gostar de conhecer, ao menos virtualmente, tantas pessoas especiais. Aos que preferirem, posso omitir ou mudar o nome para proteger a privacidade. Então fiquem à vontade para dividir suas histórias. Já tenho duas que dariam roteiro de Hollywood e vou perguntar as "personagens principais" se elas me deixam postar aqui...

Sendo assim, aguardemos todos as cenas dos próximos capítulos!

Rapidinha

Meu presente de Páscoa chegou mais cedo. Ontem, quando fui visitar o Todd, a mãe dele estava toda sorridente e louca para nos dar a notícia: Ele sai do hospital hoje!

Ainda não vai para casa e sim para um alojamento para pacientes em tratamento, já que terá que voltar para consultas três vezes por semana no próximo mês, mas já é um ótimo começo! Daqui a pouco, depois da visita do médico esta manhã, ele deve estar recebendo alta. O legal é que a casa de apoio fica aqui pertinho da faculdade também, então vou poder continuar a visitá-lo.

Andava meio angustiada estes dias, mas esta notícia me encheu de alegria. Depois volto aqui para contar os detalhes, mas queria dividir com vocês e pedir para que continuem torcendo e rezando por ele.

April 9, 2009

Atitude é Tudo


Domingo fui à uma tarde de autógrafos muito legal. A Allison me chamou para o lançamento do livro de uma amiga virtual dela em Washington. Topei na hora, programinha a minha cara...

Chegando lá, a casa era muito fofa -- tenho uma queda enorme por imóveis antigos e históricos -- e os donos Lisa e Attila eram a simpatia em pessoa. A Lisa é amiga da faculdade da autira do livro, Kairol, e decidiu fazer uma festa para divulgar o projeto e obviamente vender uns livrinhos. (A Allison e eu saímos com umas seis cópias!)

O que eu acho bacana do povo americano é esta atitude "grassroots" mesmo, coisa espontânea e de raiz. O povo aqui não fica esperando o outro fazer nada, eles arregaçam as mangas e partem pro trabalho. E isto me inspira demais...gosto muito desta força do anglo-saxão, deste espírito comunitário.

O livro da Kairol surgiu da própria experiência dela -- morando em San Francisco, aos 27 anos, a bailarina e coreógrafa descobrui um câncer na tiróide. Em vez de chorar à espera da morte, resolveu pegar a estrada. Conseguiu uma grana com a Secretaria de Cultura de Chicago (país de primeiro mundo é outra coisa!) e passou mais de três anos rodando os EUA de costa a costa entrevistando jovens que passavam pela mesma situação. Em busca de personagens, fez um flyer eletrônico e pediu para que os amigos e familiares distribuíssem em suas comunidades, repassassem para sua lista de emails e colassem nos supermercados e qualquer outro lugar onde pudessem despertar a curiosidade das pessoas.

Deu certo e ao todo foram mais de 20 entrevistas em todos os cantos dos EUA. Jovens adultos que aceitaram passar uma hora ou um pouco mais com ela para abrir seus corações. Ainda estou lendo o livro, mas as histórias são todas bonitas. Em comum, além da emoção, existe o fato de que TODOS os personagens demoraram muito até conseguirem um diagnóstico certo, o que obviamente afetou o tratamento, pois em vez de descobrir o tumor em estágio inicila, quando a doença é de mais fácil tratamento, muitas vezes, quando chega o diagnóstico, a doença se encontra em estágio avançado e as chances de sobrevivência caem bastante. E estas história se repete. Aconteceu comigo e com todo mundo que conheço, no Brasil e nos EUA.

Mas não quero falar de doença agora. Quero falar de atitude. E apesar da doença e dos tratamentos, Kairol continuou firme no projeto do livro. Bateu com a cara na porta várias vezes e ouviu milhões de outras vezes que "câncer não vende livro!" Mas para a sorte de todos nós, ela estava determinada, até que conseguiu um agente e logo depois uma editora. O livro ficou pronto em poucos meses e ela tornou-se mais uma militante. Aproveitou a temporada em Washington para visitar senadores e deputados e pedir mais dinheiro para pesquisa e tratamento de câncer em pacientes jovens. E continua sua jornada, divulgando o livro, que é superinteressante, e lutando pela causa, que é mais importante.

Mas o mais engraçado é que conversando com a Kairol, ela me disse que o livro não exisitiria se não fosse pelo site Craigslist, que par aquem não sabe é uma espécie de "Balcão" (lembram do jornal???) virtual que lista classificados de tudo -- compra, venda, trabalho voluntário, trabalho freela, casa pra alugar, house swap e até prostitutas (obviamente). Mas foi através deste site que Kairol conheceu alguns de seus personagens, voluntários que transcreveram as centenas de horas de entrevistas e até o próprio marido!!! (E eu que me achava original por ter conhecido o meu no match.com!) Quer mais viral ou grassroots do que isto? Impossível!

April 8, 2009

O Desafio de Ser Normal

O maior desafio de quem recebe uma grande pancada é voltar a ser “normal”. Sei que há inúmeras definições para a palavra e muitos, como Caetano Veloso, são categóricos ao dizer que “de perto ninguém é normal.” Concordo com ele até certo ponto, mas para simplificar as coisas, acredito que ser normal é acordar todo dia e enfrentar todo o tipo de situação que vier pela frente. Ser normal é ter problemas e alegrias, é ter relacionamentos, amigos e família e ter dias bons e dias ruins. Ser normal é ser diferente de tudo, ser normal é ser a gente mesmo.

É por estas e outras que o termo “sobrevivente” não me cai muito bem. Quando penso na palavra, me lembro do filme “Sobreviventes dos Andes”, imagino sobreviventes de um naufrágio ou de um acidente terrível. Imagino também que os tais sobreviventes vão ter que lidar com o trauma para o resto da vida, o que possivelmente os impossibilitará de um dia poderem voltar a ser normais. E é exatamente o que eu quero para mim. Deixo a sobrevida para os desesperados e para as estatísticas médicas sombrias. Prefiro me agarrar a minha vida, que mesmo imperfeita, é a única que me pretence e é só minha, por isto vou para sempre chamá-la de vida.

Não vou mentir e dizer que às vezes não me bate um medo de não poder estar aqui para completar muitas coisas que me dispus a fazer. Principalmente nas semans que antecedem os exames de controle este medo se torna mais real, pois entendo perfeitamente que a minha vida pode mudar num piscar de olhos. De repente o verdadeiro trauma é este, é simplesmente não poder ser mais a jovem arrogante que acreditava ser imbatível, é carregar o peso da mortalidade e se confrontar com ela a cada três meses. Não deveria ser assim, afinal a morte é a única certeza que temos, mas a proximidade dela incomoda demais. Não quero que ela seja minha companheira de jornada. Prefiro a distância. E quando ela vier, espero que seja uma visita rápida e inesperada.

Confesso que sou egoísta e peço, e imploro a Deus, que me dê a oportunidade e o tempo suficiente para concretizar meus sonhos. Não sonho mais em acertar a mega-sena (até porque nem jogo!) ou em virar celebridade (esta bobagem ficou na adolescência!). Sonho em ter filhos e poder acordar saudável para levá-los à escola todos os dias. Sonho em ver o meu marido ajudando-os a fazer o trabalho de casa e meus pais brincando com eles, aqui e no Brasil. Sonho também e peço a Deus que eles tenham a oportunidade de conhecer meus avós, que foram verdadeiros pais para mim e meus irmãos. Sonho com um mundo mais justo e tento fazer a minha parte. Sonho ainda em poder ajudar os que mais precisam, aqueles que não tem voz, ou dinheiro, ou saúde.

A doença pode ter me tirado muita coisa, mas deixou a minha habilidade de sonhar intacta e sendo assim, acho que continuo sendo uma pessoa normal, que cai, levanta, chora e esperneia, mas continua levantando todos os dias pronta para novas alegrias e novos desafios. Pronta para levar uma vida muitas vezes ordinária e ao mesmo tempo feliz, mas acima de tudo, completamente normal.

April 7, 2009

Fitoterapia e terapias alternativas -- o que você acha?

Acabei esquecendo de perguntar a vocês... Alguém aqui é adepto a fitoterapia, acupuntura, medicina ortomolecular, etc?

Queria saber as opiniões de vocês... Que motivos levaram vocês a procurarem este tipo de tratamento? Vocês usam para complementar ou como uma alternativa ao tratamento halopático?

Vamos lá, matem a minha curiosidade, opinem!

Fitoterapia

Sempre tive muita curiosidade a respeito do que chamamos "medicina alternativa', que na verdade é um termo equivocado, pois parte do princípio que esta cinduto seria uma alternativa à medicina alopata. Pelo menos aqui nos EUA, chamamos de "medicina complementar"ou "medicina integrada". O que mais se vê por aqui são médicos treinados na halopatia que ao longo de suas carreiras passa a explorar caminhos diferentes, e influências das medicinas chinesa e indiana e também aproveitando do conhecimento indígena.

Desde pequena, minha veia natureba era óbvia: sempre gostei de soja e de suquinhos naturais e em vez de comer hamburger e chachorro quenta na faculdade, preferia o trailler natural onde comia pão integral e salada. (O que não quer dizer que eu não goste de uma porcaria. Normalmente doces são o meu fraco!) Mas a verdade é que desde que a históia com meu fígado começou, passei a ter medo de tudo e qualquer coisa que possa fazer mal para ele. Cortei um monte de coisa da minha vida, que vão desde tylenol/aspirina e qualquer remédio até carne e amendoim.

Há pouco tempo, descobri que a minha professora de yoga, que eu AMO, também era especializada em medicina fitoterápica. (E não é caô não, ela tem mestrado e tudo!) Resolvi então marcar uma consulta, sem saber bem o que esperar, mas fui logo dizendo a ela que tinha muito medo do meu fígado, etc. etc.

Este domingo enfim tive a minha consulta e que surpresa! Achei que ela fosse me receitar um monte de poções mágicas, mas aconsulta foi uma mistura de terapia e nutrição. Amei! Ela se baseia bastante nos conceitos da medicina ayurveda, que vê o ser humano como a soma entre a alma e a matéria.

Durante aquela hora e meia, não só aprendi sobre como certos alimentos podem influenciar meu humor e minha saúde, mas me vi dizendo coisas que nunca tinha dito antes...Uma enorme surpresa para mim, que jamais posso ser acusada de ao menos não tentar me conhecer melhor.

Saí de lá com uma listinha de compras e outra lista de objetivos para implementar. Mas acima de tudo, saí de lá feliz por estar fazendo alguma coisa por mim e, não vou mentir, um pouquinho orgulhosa por ter tido coragem de embarcar numa jornada que às vezes pode ser assustadora e desconhecida, mas que tem me levado a lugares que jamais pensei em conhecer, a maioria deles dentro de mim.

April 6, 2009

Conversa Franca

"As pessoas tem medo de falar comigo. Olham para mim e não sabem o que dizer", queixa-se Allison. "Dizem que estou ótima, que estou aceitando a minha sentença bem demais," ela continua.

"Melhor assim," respondo. "Só você sabe como está se sentindo. Não sinta-se obrigada a assumir um papel só porque é isto que os outros esperam de você."

"Ele agora chegou ao meu cérebro," Allison solta esta bomba no meio da conversa numa tarde ensolarada e quente, na cozinha de uma casa linda em Washington. "Nem os médicos esperavam por isto. Não sabemos mais o que fazer. O pior desta espera é que ninguém sabe qual será o próximo passo da doença."

Por um segundo, tudo parece parar...nem o burburinho das pessoas na festa de autógrafos, nem as lambidas de Cesar, o labrador dos donos da casa, nem o cheiro delicioso de quiche...tudo parece sumir de repente. Levo um choque.

Respiro fundo e digo para mim mesma "Pense rápido, pense rápido, mas não diga besteira. Olho a minha amiga nos olhos e digo para ela "O importante é que nos dias que te restam você está fazendo tudo aquilo que tem vontade. Você está vivendo a sua vida do seu jeito e só isto já é uma grande vitória."

Ela me olha com um sorriso agradecido e responde: "Você tem razão, estou fazendo todos os dias contarem. Semana que vem vou realizar meu sonho de conhecer Montana, um lugar lindo, cheio de natureza. Quer mais limonada? Vou pegar mais um vinho pra mim," Allison muda logo de assunto, como se tivesse falado a coisa mais simples do mundo, e segue em direção a mesa.

Ela devia estar se sentindo sufocada com o peso da notícia recebido dias antes. Não há protocolo ou manual de boas maneiras sobre como dar notícias ruins ao amigos, ainda mais quando se trata da sua própria morte iminente.

Suspiro e mais uma vez peço a Deus que torne a jornada da minha amiga um pouco menos penosa. Peço a Ele que já que a cura milagrosa não chega que Allison possa ter serenidade e um pouco de felicidade no pouco tempo que lhe resta.

April 5, 2009

Hoje

Hoje me disseram que a vida é um ciclo e que a passagem de alguém é sempre uma dádiva, pois marca um novo início em um novo lugar. Me disseram também que há coisas que a gente não precisa entender, mas tem que aceitar.

Hoje me disseram que há coisas que eu não posso mudar e que não é justo que eu coloque sobre meus ombros esta responsabilidade. Existem coisas que são maiores que eu e que a minha vontade de ajudar. Tenho que entender que às vezes é necessário enxergar meus limites e escolher minhas batalhas.

Hoje me disseram que eu preciso aprender a resguardar meu coração e saber quando é hora de fechá-lo um pouco. Tenho mania de deixá-lo escancarado o tempo todo. Tenho o hábito de deixá-lo à mostra e exposto. Isto é belo, mas não é bom. Existem momentos quando devemos nos recolher e eu preciso aprender a fazer isto também.

Hoje me disseram que amar o meu semelhante é deixar que a vida dele siga seu curso, independemente da minha vontade de interceder, do meu ímpeto de ajudar e mudar as regras do jogo. Independente do meu desejo de muitas vezes enganar o destino. Há hora de chegar e há hora de partir e devo ser sábia o suficiente para aceitar.

Hoje me disseram que o que importa é o agora, é viver este momento presente que jamais se repetirá. Hoje me disseram que o amanhã pode e deve ficar para amanhã.

E hoje, só hoje, eu entendi.

April 4, 2009

Vergonha

Para mim não existe mais cruel do que a injustiça social e quando ela descamba para o lado da saúde, me revolto ainda mais.

Ano passado, falei aqui da Lilian Maria, uma jovem de 23 anos que conseguiu ser uma das últimas transplantadas pelo Dr. Joaquim. Depois de muito batalhar na justiça, conseguiu o transplante na raça.

Pouco depois do transplante e depois da prisão injusta do Dr. Joaquim, ela mais uma vez não se intimidou: liderou uma passeata a favor do médico na Ilha do Fundão. Menina de fibra esta, pensei.

E achei que a história de Lilian tivesse enfim tido um final feliz: de fígado novo, a menina teria a vida toda pela frente, cheia de saúde.

Como sou idiota eu! Hoje, ao ler o blog dos amigos do Dr. Joaquim, leio a notícia de que depois do transplante, Lilian já passou por mais duas cirurgias: uma para a retirada do útero e outra para retirar um tumor da coluna. Agora, depois de mais de oito meses de luta, enfim conseguiu fazer uma cintilografia no Hospital do Fundão, um o exame que detecta possíveis novos tumores. Mas a luta dela continua: agora ela precisa de radioterapia, e o Fundão suspendeu o tratamento.

E agora o que vão dizer para a Lilian?! Que ela tem que esperar se tempo é um luxo que ela não pode se dar? Como se diz para uma moça de 23 anos que já sofreu tanto em tão pouco tempo que não há nada a fazer a não ser esperar? Quer dizer que ela não merece tratamento porque não pode pagar?

Cadê os governantes que na época de eleição enchem os pulmões para dizer que "saúde é direito de todos"? Direito de quem, cara-pálida? Direito de quem paga plano de saúde? Pois ao que parece os impostos que o cidadão comum paga não dão direito para que o mesmo possa usifruir do que em teoria é seu.

Cadê o Ministério Público para lutar pelos direitos da Lilian? Onde estão os advogados do povo para fazer com que esta jovem tão batalhadora receba o tratamento que pode salvar sua vida? Não estamos falando de procedimentos eletivos, estamos falando de vida ou morte!

Esta menina já teve que lutar muito para conseguir um fígado. Teve que esperar oito meses por uma cintilografia, agora precisa de radioterapia e o serviço está suspenso no Fundão. Como ela fará este tratamento?

Que tipo de sociedade trata seu semelhante de uma forma tão cruel e irresponsável? Que autoridades são estas que viram as costas para seus cidadãos? Que país é esse?

Que Deus esteja com a Lilia durante estes dias tão difíceis. Vou procurar me informar e saber como posso ajudar...eu não posso permitir que alguém tão jovem e tão determinado venha a sucumbir a esta doença desgraçada por falta de tratamento. Não porque o tratamento não exista, mas porque o mesmo lhe foi negado. Isto é cruel e triste demais.

April 3, 2009

Todd

Ontem fiz a minha primeira visita como voluntária. Realizei um desejo que tinha desde 2002, logo depois da primeira cirurgia. Na época, quase que imediatamente senti uma vontade enorme, quase um impulso, de dividir a minha história com outras pessoas que estivessem passando por situação semelhante. Só que os médicos acharam mais prudente esperar, pois talvez eu não tivesse emocionalmente pronta para lidar com algo tão dramático.

Aceitei o conselho e esperei. Na minha cabeça, passados os cinco de espera, eu iria virar voluntária do INCA ou de qualquer outro hospital do câncer e contar par atodo mundo a minha história de ex-paciente curada. Mas a vida nem sempre toma os rumos que a gente espera e eu acabei me mudando para os EUA e ficando doente de novo. Só que desta vez, estava determinada a não respeitar prazo nenhum. E foi por isto que me envolvi com a American Cancer Society e com o Ulman Fund, que tem sido um lugar ótimo para mim, onde tenho conhecido pessoas fascinantes que lidam ou tiveram que lidar com problemas semelhantes aos meus.

Acabei descobrindo que eles tem um programa bem aqui no hospital e a Elizabeth, assistente social responsável por ele é um amor. Ontem tive a chance de conhecê-la melhor. É incrível como um almoço onde só se fala em doença pode ser tão prazeroso. Não me chamem de masoquista, mas a doença é só o "icebreaker" que serve para começar a conversa que passa por todos os temas -- trabalho, marido, amor, filhos, amigos e tudo mais que se possa imaginar. Ontem, durante o almoço, também conheci a Sharon, que é professora da Faculdade de Enfermagem e mãe de um sobrevivente de linfoma não-Hodgkins de vinte e poucos anos. As duas tem um astral maravilhoso!

Depois do almoço, a Elizabeth me pediu par avisitar o Todd, um jovem de 28 anos que ficou doente há dois, quando morava na Alemanha servindo na Força Aérea Americana. Na época, o tratamento surtiu efeito, mas no final do ano passado, ele teve uma recidiva. E eu sei muito bem como uma recidiva dói -- no corpo e na alma.

Respirei fundo, e junto com elas, peguei o elevador para o nono andar, onde Todd se recupera depois do transplante de células-tronco realizado em dezembro, se não me engano. Caminhamos por longos corredores que mais pareciam labirintos e enfim chegamos ao quarto dele, em frente à enfermagem. Por causa da baixa imunidade dele, desinfetamos as mãos e vestimos batas e máscaras descartáveis.

O quadro é triste. Todd está sozinho no quarto olhando para o nada. Sentado numa cadeira, ele me parece alto e forte, mas sua fisionomia é de cansaço e os sintomas de GVHD (graft-versus host disease) ou DECH (doença do enxerto contra o hospedeiro) são visíveis na pele. Faz mais de três meses que ele não sai do hospital e passa a maior parte do tempo no quarto sozinho.

A mãe veio de Des Moines, Iowa, onde a família mora, para cuidar do filho e não tem ninguém para dividir esta responsabilidade. Ontem à tarde ela havia saído para fazer umas compras para ele. Todd não tem família próxima e a mãe é a única pessoa que ele tem aqui. Ela está hospedada numa casa de apoio aos familiares de doentes de câncer, a poucos metros do hospital. Teve que abrir mão da própria vida para ficar aqui com o filho, que não tem previsão de alta.

Ao nos ver na porta, ele esboça um sorriso tímido. Não pode ver que sorrimos de volta para ele por causa da máscara. Espero que ele perceba pelo nosso olhar. Elizabeth faz as apresentações e começamos a conversar. Ele demonstra interesse em saber de mim, em saber que eu também tive recidiva e que estou vivendo uma vida normal. Digo a ele que ele também em breve vai voltar a sua vida de antes, é só uma questão de tempo.

O quarto é obviamente bem estéril e fora uns santinhos na parede, não há nada que revele personalidade. Pelos santinhos, penso que ele é católico, mas não falamos em religião. Todd diz que apesar de tudo é grato, pois o transplante de células tronco ao qual ele foi submetido tem surtido efeito. Ele me pergunta se a minha habilidade física voltou ao normal desde a cirurgia. E aí eu pergunto "Que habilidade física? Ela nunca existiu, nem antes nem depois da cirurgia. Sou preguiçosa e tenho que admitir!" Nós dois rimos juntos.

Elizabeth havia me dito que no início, Todd seria bastante reservado, mas não é isto que vejo. Sinto nele uma curiosidade e uma receptividade enormes. Também não noto reservas. Todd me fala sobre o Iowa, sobre a experiência na aeronáutica, onde ele é macânico de aviões, sobre a família e até sobre o povo de Maryland, que é estranho pacas! (Ainda bem que não sou só eu que acho!) Diz também que sempre teve vontade de conhecer o Brasil e eu respondo que ele deve realizar este sonho assim que ficar bom.

Falo então do meu blog e de como escrever me ajuda a lidar com meus medos e inseguranças. Conto a ele sobre as pessoas fascinantes que conheci no último ano. Cito uma em particular, a Paula, que caiu de paraquedas aqui no blog, e que depois de realizar um transplante há 15 anos tem uma vida normal. Todd sorri de orelha a orelha. "Quinze anos depois ela está bem e saudável?! Nossa! Isto é bom pra caramba!"

Ali entendo o motivo da minha visita e naquele momento penso que cumpri a minha missão, mais do que uma ex-paciente, sou uma contadora de histórias, não histórias de contos de fadas, mas histórias reais que venho colecionando desde que comecei a escrever meu blog. Histórias lindas e emocionantes, de gente de verdade, gente que um dia acreditou em milagre e derrotou as estatísticas, gente que provou que apesar dos pesares, viver é possível. Gente cujas histórias de vida devem deixar a Branca de Neve e a Cinderella morrendo de inveja, pois estas pessoas mágicas, como a Paula e tantas outras por aí, vivem uma vida de verdade, não estão presas às páginas de um livro ou à imaginação de poucos. Torço para que em breve o Todd seja mais um personagem de uma história real e feliz, pois jeito de galã ele já tem...

April 2, 2009

Daqui a pouco...

Daqui a pouco vou almoçar com a Elizabeth, uma outra menina superlegal que conheci no Ulman Fund. Até aí, nada demais. Well, mais ou menos, pois estou animada de sair para almoçar com alguém, pois parece que o povo aqui gosta mesmo é de comer sozinho na mesa, com a cara enfiada no computador. Vai saber! Nestas horas me dá uma saudade de casa...e dos meus colegas de trabalho...

Mas voltando ao almoço, o legal é que a Elizabeth é responsável por uma iniciativa muito bacana bem aqui no Cancer Center do Hospital da Universidade de Maryland. Ela dirige o "Patient Navigation Program," que traduzindo fica algo como "Programa de Navegação de Paciente." Soa estranho, mas nada mais é do que um trabalho de apoio, no caso dela aos jovens, portadores de câncer que estão internados aqui no Cancer Center. Num país onde o sistema de saúde é tão injusto, esta ajuda a navegar este sistema tão louco é mais que necessária.

Hoje vou conhecer mais sobre o trabalho dela, que ela diz ser uma mistura de terapia e advocacia, pois ela escuta os pacientes, os educa e os ajuda a batalhar por seus direitos. Sempre tive curiosidade para saber mais sobre o programa e fiquei superfeliz com o convite dela. Ontem ela me perguntou se eu toparia vistar alguns pacientes com ela, pois para eles, presos a um leito de hospital, receber visita é sempre um presente (como eu bem sei!), ainda mais quando se trata de alguém que passou por situação parecida e hoje encontra-se saudável.

Aceitei o convite na mesma hora. Agora aguenta coração!

April 1, 2009

Dr. Joaquim Ribeiro - A Saga Continua

Muitos aqui vão lembrar da história do Dr. Joaquim Ribeiro, o médico que salvou a minha vida duas vezes e que vítima de perseguição política, em julho do ano passado saiu da própria casa algemado, fato que foi parar na primeira página dos jornais, já que por “coincidência” a imprensa inteira aguardava do lado de fora da casa dele. O engraçado é que ele mora numa rua residencial num bairro bem tranquilo do Rio. O que a imprensa fazia lá no meio do dia ninguém sabe explicar, a menos é claro, que alguém acredite que alguém da Polícia Federal possa ter vazado a informação para os repórteres. Mas peraí, isto é no mínimo anti-ético, ou não? Não bastava prender um homem de bem, médico conceituado, tinham que invadir a sua casa e humilhá-lo publicamente na primeira página dos jornais.

Passados mais de sseis meses, a luta do Dr. Joaquim para provar sua inocência e exercer sua profissão continua, mas seus inimigos são incasáveis e perversos demais. O que estas pessoas esquecem é que ao tentar destruir a reputação do Dr. Joaquim, algo que jamais vão conseguir, levam com eles vidas humanas. Será que eles conseguem dormir tranquilos? Como podem deixar que a inveja e a vaidade os tornem tão cegos e cruéis?

Não sei ao certo quantos pacientes foram perdidos durante esta perseguição infeliz, mas nunca vou esquecer uma das vítimas, que me era muito querida. O nome dela era Thalita, tinha 28 anos e terminava o mestrado na Uni-Rio. Era inteligente, determinada, gostava de viajar e tinha milhões de amigos. No começo do ano passado, reclamando de dores fortes no abdomen, foi ao hospital. Não foi a primeira vez, mas até então os médicos achavam que o mal estar poderia estar relacionado ao stress. Até que finalmente durante uma tomografia, descobriram uma massa enorme no fígado dela. Sim, era um hepatocarcinoma. De lá, ela foi encaminhada ao INCA onde foi tratada durante alguns meses.

Quando a minha amiga Cris me contou a história, eu que não sou médica, me perguntei imediatamente por que ela ainda não havia sido operada. A Cris nos colocou em contato e passamos a nos falar por telefone e email. Eu insistia para que a Thalita visse o Dr. Joaquim o mais rápido possível. Ela dizia que confiava no médico dela e que não tinha plano de saúde. Eu garantia a ela que o Dr. Joaquim não lhe cobraria a consulta, pois conheço muito bem o meu médico.

Os meses foram passando e a operação nunca acontecia. A Thalita foi ficando ansiosa. Até que em julho, durante a minha visita ao Rio, ela me ligou e me pediu para ver meu médico. Liguei para o Dr. Joaquim na mesma hora e marcamos a consulta para o dia seguinte.

Naquela manhã ensolarada de julho vi a minha amiga Thalita pela primeira e pela última vez. A consulta foi difícil, pois a doença já estava em estágio bem avançado e a aparência dela denunciava a gravidade da situação. Durante a consulta, o médico explicou que ela não teria outra alternativa que não fosse a cirurgia. Disse a ela que haveria riscos durante o procedimento, mas foi bem claro ao dizer que sem a cirurgia ela não teria chance alguma.

Quando a Thalita disse que não tinha plano de saúde, o Dr. Joaquim na mesma hora disse “Não tem problema. Eu dou um jeito. Provavelmente por questões políticas não vou conseguir operar você no Fundão, mas vou ver outro lugar. Pode ficar tranquila; ligo para você nos próximos dias.”

Uns dias se passaram e o Dr. Joaquim finalmente conseguiu um hospital e uma equipe para operar a Thalita de graça. Estava tudo encaminhado e a cirurgia aconteceria dentro de pouquíssimo tempo. O que ninguém poderia imaginar é que um ou dos dias antes da data marcada, o Dr. Joaquim fosse sair algemado de casa e que fosse ficar preso durante algumas semanas, semanas que a Thalita não tinha!

Aquela cena me abalou demais. Me revolta até hoje. Sinto profundamente pelo Dr. Joaquim e por sua família. Uma enorme injustiça com um homem que construiu uma reputação invejável (e invejada por muitos!) a custa de muito sacrifício e dedicação. Mas lá no fundo, o que mais me preocupou foi a situação da Thalita. Dali para frente, passei a temer pelo pior.

Eu e a minha família conhecemos bem o Dr. Joaquim e jamais tivemos dúvida do caráter e da competência dele. (Até hoje agradeço a Deus por ter encontrado o tumor seis meses antes de toda esta confusão.) Como a Thalita não podia esperar, foi encaminhada a outro hospital no Rio, onde infelizmente a equipe médica não tem nem a ética nem a competência do Dr. Joaquim. Em vez de realizarem a cirurgia o quanto antes – pois ela seria a única esperança da Thalita – ficaram mais preocupados em caluniar o Dr. Joaquim do que cuidar da paciente. Num português claro, colocaram uma moça de 28 anos com um tumor enorme em banho maria, adiando por uns meses a morte dela. Prometeram que iam ajudá-la, que o caso dela era de transplante, mas nada fizeram. E mais meses se passaram...

No final de setembro, trocamos a última mensagem por email e ela disse que os médicos teriam uma definição até o dia 15 de outubro. Outubro veio mas a definição não... A Thalita me mandou um recado no Orkut já demonstrando cansaço e temendo pelo pior.

Dois meses, depois meu telefone tocou. Era a Cristina. Ela estava emocionada e foi logo dizendo “Infelizmente não deu, Dani. A Thalita se foi. Ela foi tranquila e conformada. A família dela também está serena. Cumpriu sua missão aqui. Agora o sofrimento acabou.” Fiquei em silência por uns segundos. Era a confirmação do meu pior pressentimento. Sabia que o caso era grave, mas no fundo esperava por algum milagre que não aconteceu.

Eu sei que o sofrimento acabou e que a Thalita está agora junto ao Pai. Ela nunca teve dúvida disto, o que me conforta. Eu sei que todos temos a nossa hora, que a vontade de Deus prevalece sempre, mas fica uma pontinha de dúvida lá no fundo que incomoda e que volta e meia me pergunta “Será que se ela tivesse a mesma chance que eu tive de ser operada pelo Dr. Joaquim, esta história teria um final diferente?”

Jamais terei a resposta, mas o único alento que tenho é de que fiz o possível para ajudá-la e isto me deixa mais tranquila. Mas e quanto àqueles monstros, que por inveja insistem em perseguir o Dr. Joaquim e impedir que ele salve outros pacientes? Como eles conseguem dormir à noite? Como eles conseguem ter paz sabendo o tanto de sangue que tem em suas mãos? Ao meu ver são assassinos, que foram no mínimo cúmplices na morte de uma jovem brilhante de 28 anos que faz uma falta absurda. E tenho quase certeza que a Thalita não foi um caso único.

A morte da Thalita me abalou demais. Eu me via muito nela. Tínhamos a mesma idade quando adoecemos, filhas mais velhas, mesmo número de irmãos, mesmas idades, até o nome do pai dela é o mesmo do meu. A grande diferença também foi a maior crueldade: eu tive uma chance; a Thalita não.