March 11, 2008

Johns Hopkins

Hoje pela primeira vez botei os pés no Hospital Johns Hopkins, com uma mistura de curiosidade e medo. Tenho ouvido falar tanto que o lugar até já se tornou meio mítico para mim, pois é lá que os desenganados escontram algum alento. Reza a lenda que quando tudo parece estar perdido, ao sujeito só resta ir a Johns Hopkins e rezar para que eles possam ajudar, caso contrário, só com Ele lá em cima.

Fiquei feliz de finalmente ter feito algum progresso com a equipe do Dr. Choti, mas quis o destino, ou será Ele lá em cima, que eu acabasse sendo encaminhada para o Dr. Tim Pawlik. A enfermeira que é responsavel pela triagem dos pacientes me telefonou e marcamos que eu iria entregar meus exames lá esta semana.

Então hoje chegou o dia. Encontrei o Blake no trabalho e rumamos para lá. Depois de alguns minutos perdidos no centro de Baltimore, achamos o hospital. O Blake foi estacionar e eu subi sozinha.

Como já era de se esperar, o hospital é um mundo -- são várias asas dentro do mesmo prédio, mas para minha surpresa não me perdi. Fui direto ao sexto andar do prédio Halstead, onde a enfermeira-chefe da equipe da Unidade de Fígado trabalha.

Só que para chegar lá, atravessei a ala do hospital onde ficam os pacientes de fígado. Prendi a respiração e as lágrimas e procurei não olhar muito para dentro dos quartos, mas às vezes não resistia e dava uma espiada rapidinha enquanto rezava por cada um daqueles enfermos e por suas famílias. Em pensar que há apenas dois meses era eu quem estava num leito de hospital, pedindo a Deus pela minha vida.

Ao caminhar por aquele corredor, minha vontade era entrar em cada quarto e abraçar cada paciente e dizer para eles que eles vão ficar bem. Queria repetir as palavras do Lance Armstrong, "o sofrimento é passageiro, mas desistir é para sempre". Queria que eles soubessem que a minha luta continua, assim como a deles, e que tenho encontrado forças e ânimo que nem sabia que tinha. Queria que eles entendessem que apesar de tanto sofrimento, a cada dia que passa me considero mais feliz e abençoada. Queria que eles pudessem sair dali agora, mais sábios e agradecidos do que nunca, e que encontrassem paz dentro de si mesmos.

Mas não pude fazer nada disso. Fiz a minha oração breve e segui a passos apertados em busca da equipe do Dr. Pawlik. Muito embora parte de mim estivesse morrendo de medo de estar ali, outra parte de mim não pôde deixar de notar que o ambiente era muito calmo e as pessoas bastante simpáticas. Um bom sinal, pensei, acho que encontrei o lugar para fazer meu acompanhamento.

Apesar de não querer estar ali, não tinha como não reparar nos murais da unidade de fígado, cheios de mensagens, mapas do mundo, fotos. As fotos eram de pacientes que participaram dos Jogos do Transplantados, a olimpíada de quem vive com um órgão emprestado. Inacreditável. Este tipo de coisa me faz colocar meus problemas em perspectiva.

Enfim cheguei ao meu destino e entreguei todos os meus exames a Cheryl, enfermeira-chefe. Mostrei os ultrassons, exames de sangue, tomografias e até as Angio TCs. Ela adorou!!! Disse que os exames eram lindos (em cores e 3D). Tive que concordar, mas fiz um adendo: "Pena que são meus." Ela pediu desculpas, eu sorri e acabamos rindo as duas. Acho que ela nunca tinha visto nada do tipo. (Depois dizem que o Brasil é Terceiro Mundo!) Deixei também o espécimen e obviamente as biópsias traduzidas. Já não aguentava ter que olhar para o envelope ao lado da minha cômoda do quarto.

Minha tarefa está cumprida. Agora é só esperar a ligação deles. Vou ter que ir ao Hospital numa segunda-feira pela manhã fazer os novos exames para ser atendida pelo médico à tarde, já com tudo pronto. Mais uma vez vou ficar a espera do telefonema, mas desta vez algo me diz que eles vão ser rápidos para ligar...

2 comments:

Andréa said...

Estamos na torcida, Dani.

Anonymous said...

Show!!! Nossa como em 1 semana tem tanta notícia boa!!!