January 31, 2009

Vai Dar Certo

"Vai dar tudo certo, pode ter certeza," esta é uma das frases que a gente mais escuta antes de uma cirurgia. Quanto mais séria a cirurgia, mais gente telefona para entoar o mantra. Todo mundo liga antes e diz praticamente a mesma coisa. O mais estranho de tudo é que a gente acredita. Por algum motivo louco, talvez até uma forma de defesa, aquelas palavras adquirem uma intensidade enorme e viram verdade absoluta. Fulano falou que vai dar certo é porque vai dar certo. Nestas horas a gente passa a achar que todo mundo é sensitivo.

Ninguém tem certeza de coisa nenhuma, mas vai falar o que quando o coitado (sim, coitado, pois ninguém em sã consciência vai querer entrar na faca para retirar um órgão ou cortá-lo em picadinhos. Cirurgia estética não conta e pele e gordura não são órgãos vitais!) não tem outra alternativa?

Lembro que nos dias que antecederam a cirurgia, todos os meus amigos e familiares me traziam mensagens de otimismo, muito embora hoje eu perceba que na verdade eles estavam tão perdidos, ou mais perdidos, do que eu. Eles não faziam ideia da complexidade do procedimento ou dos riscos que eu corria. Melhor assim. Hoje entendo que às vezes é melhor manter-se no escuro, quando a realidade é muito incerta ou desanimadora. Dizem por aqui que a ignorância é uma bênção. Longe de mim apregoar a negação ou a ignorância, mas às vezes muita informação pode doer demais.

Uma das coisas mais difíceis que tive que fazer em relação a doença foi traduzir a minha própria biópsia depois de voltar para os EUA. Fui encaminhada a Hopkins e os médicos de lá precisavam ler a minha biópsia, que estava em português, então lá fui eu traduzí-la. Aparentemente, nada demais, pois o que mais faço na vida (muitas vezes contrariada) é traduzir documentos, websites, artigos, ementas e tudo que vier pela frente. Então nem pensei duas vezes antes de colocar as mãos à obra. Traduzi um texto muito complexo e técnico em uma noite.

O que eu não tinha percebido até me entregar de coração ao projeto é que tinha acabado de burlar uma das regras que eu tinha criado para mim mesma e que os médicos sempre enfatizam com seus pacientes. "Não fazer nenhuma pesquisa na Internet. Não procurar saber detalhes mais científicos. Não ir atrás de estatísticas assombrosas. Não ceder à curiosidade mórbida." E lá estava eu, completamente absorvida, entre neoplasias, células, linfonodos, margens ou outras palavras que prefiro nem me lembrar.

Apavorante seria a palavra mais adequada para ilustrar a experiência. Foi só então que percebi que desta vez a tradutora também era a protagonista da história e aquilo não era bom, mas eu precisava levar o projeto até o final.

Quebrei a promessa e cedi à tentação de saber coisas que não precisava, mesmo que sem querer, mas terminei a tradução, que foi a mais difícil da minha vida por vários motivos:
* Os motivos práticos: é sempre mais difícil trazer o texto do português (minha língua mãe) para o inglês (por mais domínio que eu tenha da língua); além disso o texto médico, mais especificamente patologista, é muito complexo e o vocabulário é completamente diferente para um leigo.
* Os motivos emocionais: ninguém está preparado para esmiuçar sua própria biópsia e saber tantos detalhes sobre algo tão desconhecido e tão incontrolável como a doença. É útil ter informações necessárias para gerenciar seu tratamento e discutir suas opções, mas saber da estensão da neoplasia e do formato das células cancerígenas é perfeitamente dispensável.

Lição aprendida, informação é poder só quando ela pode ser usada a seu favor. Pode soar maquiavélico, mas é a mais pura verdade. E usando uma frase menos conhecida do mesmo pensador, fecho este post: "Onde há uma vontade forte, não pode haver grandes dificuldades."

E assim sigo em frente.

January 30, 2009

Ponto pra Mim!


Acreditem se quiser, mas acabei de colocar uma das minhas principais resoluções de ano novo em prática: me matriculei na yoga!!! Depois de um longo e tenebroso inverno (que aliás ainda está por aqui), resolvi fazer as pazes comigo mesma e embarcar na atividade dos sábios milenares.

Tudo bem, não é nenhuma atividade radical, não estou correndo maratonas, nem vou viver internada numa academia, mas quem me conhece sabe que yoga já está de bom tamanho. Meu estilo charmoso de correr se assemelha oa de uma pata e a minha afinidade com os aparelhos de musculação é tanta que tenho até medo de chegar perto dos monstros. Definitivamente, academia n ão é nem nunca foi a minha praia. No quesito saúde sou mais bicho-grilo.

Já fiz várias aulas de yoga em diferentes fazes da minha vida, mas nunca me comprometi com um regime sério ou um número maior de sessões. Sempre optei pelo sistama pay as you go. Como pouco ia, não pagava quase nada! Genial para o meu bolso, não tão bom para meu corpo sedentário. Mas como resolvi seguir à risca as recomendações da minha médica gente-boa, yoga estava no topo da lista, e fazendo uma busca na santa internet, descobri que uma das escolas de medicina holística e bem-estar mais conceituadas nos Estados Unidos fica a CINCO minutos da minha casa! Dá para acreditar?

Então sem mais desculpas, resolvi aparecer nas aulas abertas à comunidade. Segunda, Blake e eu fomos conferir uma aula de meditação depois do trabalho. Eu gostei muito. E confesso de morro de inveja destas professoras de yoga e meditação. Adoro o tom de voz sereno delas, a fala pausada e calma, que nada lembra meu modo frenético e caótico de falar. A desculpa é que tenho tantas idéias ao mesmo tempo que se demorar a soltá-las, esqueço. Se as idéias são um mínimo interessantes ou geniais, well, aí são outros quinhentos.

A sala estava lotada e a aula parece que vai ser um barato, mas eu realmente queria algo que movimentasse meu corpo, então resolvi experimentar a aula de yoga também. Desde o ano passado tenho procurado lucamente studios de yoga por aqui. Já visitei uns cinco e não gostei de nenhum, ou porque o pessoal é meio esquisito (aliás é o que mais tem por aqui!) ou porque é fora do meu caminho, ou porque o horário não bate ou por outro motivo qualquer.

Ontem estava determinada a ir conferir a aula no tal instituto, mas ent ão me toquei que tinha esquecido a minha roupa em casa... E a minha chefe que pode ser o terror (dependendo do humor dela) estava aqui ontem, então sair mais cedo estava fora de questão. Liguei para lá e expliquei o meu caso. A voz do outro lado da linha me disse que ia ter gente preparada e gente que ia com a roupa do corpo. Era o que eu precisava ouvir. Lá fui eu!

Pausa para um comentário: Normalmente o esquecimento da roupa em casa já teria sido o bastante para eu ter desistido da aula. Freud diria que na verdade já era eu me boicotando, pois sem roupa apropriada não haveria santo que me convencesse a entrar na sala. Sou muito certinha e sempre acho que está todo mundo olhando para mim. Detesto chamar atenção, principalmente por motivos idiotas, como fazer aula de yoga de calça social e sweater de lã.

Cheguei lá em cima da hora e a sala, que era enorme, estava abarrotada de gente prontinha para a aula. Todos vestidos apropriadamente sentadinhos nos seus yoga mats. Todos menos eu e mais duas gatas pingadas! Isto aí, fora eu, só havia duas gaiatas tapadas de roupa de trabalho. Mas quem está na chuva é para se molhar, então respirei fundo, entoei meu OM e segui em frente.

A professora era uma gracinha e o grupa parecia simpático. A aula foi bem bacana e apesar dos meus trajes, consegui me concentrar na maior parte do tempo e fazer as poses. (Viva o Wii!!!) No final, ela fez um amassagem ótima no pescoço de todo mundo e tirou umas dúvidas. Pela primeira vez em muito tempo não me senti uma estranha completamente deslocada – nem sei o motivo. Decidi que ia me matricular na hora e quando estava completando a minha ficha de inscrição, uma mulher jovem se aproxima e pergunta “Tem alguém se inscrevendo para as aulas que não tem yoga mat (colchão de yoga?)?” Num dos meus raros arroubos de cara-de-pau, respondi que sim. Ela na mesma hora me estendeu um lindo mat cor-de-rosa e disse “Fica para você!” Eu perguntei o preço e ela disse “É presente! E ele é ótimo, paguei uns 50 dólares por ele, mas já tenho muitos. Aproveite!”

Isto ela pode ter certeza! E como diria a minha mãe, talvez o gesto dela tenha sido um sinal... Talvez a minha atitude peculiar de fazer a tal aula mesmo sem estar vestida adequadamente seja um sinal... Sei lá! Só sei que saí de lá naquela noite gélida e escura feliz da vida por ter achado um cantinho onde tivesse me sentido à vontade. Adorei o lugar! Adorei a livraria, a biblioteca aberta ao público, a vibe das pessoas... E tudo isto, bem no meu quintal! Que sorte a minha!

January 29, 2009

Selinhos





Recebi este selinho do Prêmio Dardos por indicação da minha prendada amiga Aninha, a Martha Stewart brasileira da internet, e fiquei toda feliz. Como boa mienira que é, o blog dela é recheado de quitutes deliciosos que ela faz "from scratch", coisa que é rara aqui na gringolândia.

Esse prêmio visa "reconhecer os valores que cada blogueiro mostra a cada dia, seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. Em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras".

O premiado deve seguir as seguintes instruções:

- Exibir a imagem do selo em seu blog

- Linkar o blog pelo qual você recebeu a indicação

- Escolher outros 5 blogs a quem entregar o Selo Prêmio Dardos

- Avisar aos escolhidos

Então como sou uma menina obediente, trato logo de fazer a minha parte e indicar outros blogs bacanas que estão por aí.

And the Oscar goes to...

http://espelho-espelho.blogspot.com/ -- pelo modo irreverente como esta gauchinha trata suas aventuras no Reino Unido
http://brazilnut-nyc.blogspot.com/ -- pela inspiração e pelas receitas maravilhosas que esta paulista sempre me dá
http://agrandebatalha.blogspot.com/ -- pela coragem que esta paulistinha mostra ao narrar suas experiências ao tratar um câncer de mama
http://laboratoriocaseiro.blogspot.com/ -- outra gaúcha cientista que tem um blog de decoração que é um verdadeiro eye candy e funciona maravilhosamente como anti-depressivo.
http://www.anasampaio.com.br/ -- mineira-paulista que tem o dom da palavra e trata uma experiência difícil com uma leveza impressionante.

Gostaram? Agora que me toquei que a minha lista é COMPLETAMENTE dominada por paulistas, gaúchas e mineiras. Pois é, ninguém pode me acusar de bairrismo!

Como as meninas aí de cima sào muito do bem, sigo o exemplo da Aninha e ofereço a elas também o Selo Gentileza gera Gentileza.






Onde encontrar o código da imagem: downloads">http://www.gentileza.net/ > downloads.

Por um mundo melhor e mais interessante, sempre.

Vidente


O telefone toca logo cedo e saio correndo para atender. Uma voz conhecida, com um tom meio maroto solta logo "Dani, você é vidente!" Reconheço na hora: é a minha amiga Michelle, do Rio, com quem tenho falado várias vezes ao dia ultimamente, desde que ela foi pedida em casamento. (Surpresa!!!)

"Vidente, eu? Como assim?," pergunto, sem fazer idéia do que se trata.
"Estava aqui apagando umas mensagens antigas da minha caixa de entrada e depois de ler uma sua, não acreditei," ela explicou. Depois me mandou o email de uma linha que eu tinha mandado para ela ano passado. "Sonhei que voce ia casar em setembro!!! What's up with that?!!," dizia a mensagem.

Foi aí que me lembrei de história. Sonhei que ela tinha me ligado toda feliz para me dar a notícia que iria se casar em setembro. Tudo me parecia tão real! Ela, do outro lado da linha, não escondia uma pontinha de decepção. "Ainda não, Dani, ainda não rolou, mas eu continuo aqui esperando."

Assim como eu e a imensa maioria das mulheres independentes por aí, a Michelle sempre quis casar e nunca se esforçou para esconder isto de ninguém. Tem a ver com a personalidade dela, que já passou (se é que teve) a fase party-animal e tem a ver com a família também: pais casados há milênios, família nuclear e tradicional, etc. Tem também o lance da idade, pois quando a gente vai passando dos 30, o relógio biológico meio que dá um tilt e começa a bater pino. Fora tudo isto, ela já está num relacionamento sério há quase dois anos e na nossa idade isto já é tempo o suficiente. Resumindo: já estava mais do que na hora.

Apesar de tantas certezas, o fato é que até o meu sonho não havia nada de oficial, mas pouquíssimo tempo depois dele a vida mudou para ela. Em algumas semanas o então namorado conversou sério com o pai dela. Logo depois, viajaram os dois juntos para passar o Natal na Europa, na casa dos pais dele e dias depois ele colocou um lindo anel de brilhante do dedo dela!

Até aí nada demais. Quando ela voltou ao Rio, a ficha realmente caiu. Em poucos dias, começou a implementar o tão conhecido projeto casamento. Visitou igrejas, casas de festa, bateu muita perna, teve muitas dúvidas. Mas no final, como toda e qualquer noiva, acabou vítima do coração. Escolheu a igreja onde ela e o noivo entraram juntos pela primeira vez, marcou a data do enlace para o dia do aniversário de casamento dos pais e a recepção num lugar pelo qual se apaixonou assim que colocou os pés. Não tem jeito, nem a mais racional das mulheres consegue não perder a cabeça quando se trata de casamento. Mas é só o começo.

E depois de tudo fechado, casamento marcado para setembro de 2009, durante a faxina na caixa de entrada, ela encontra meu e-mail bombástico e quase cai par atrás. Não é que a minha profecia iria se realizar? Quem diria que um dia eu poderia prever o futuro? Bem, eu com a ajuda de Santo Antônio, é claro, mas isto é papo para um outro post. Aliás, o poder de Santo Antônio vai ser o tema da minha próxima coluna na Noivas Rio de Janeiro. Agora já tenho mais uma para servir de testemunha!

(ilustração de bennignus.com)

January 28, 2009

Snow Day

A neve que caiu ontem por aqui, hoje virou gelo, chuva congelada. As estradas estão um caos e a minha chefe me mandou um email às 5.30 da manhã me dizendo para ficar em casa. Nice! :)

A tal tempestade, ou winter blast, já estava sendo esperada, pois este tem sido um inverno bastante frio por aqui, mas por incrível que pareça nada de neve. Os dias mais frios foram os mais ensolarados também. Mas ontem a paisagem mudou radicalmente.




Doente?! Como contar no trabalho?

Continuando no tema -- o que fazer ao lidar com um histórico de saúde complicado -- achei interessante abordar o tema no trabalho. Sim, pois a primeira reação de qualquer um é "NÃO CONTE PARA NINGUÉM, EM HIPÓTESE ALGUMA, NEM SOB TORTURA." Mas será que isto é mesmo possível? Como apagar com episódio destes da vida assim, sem mais nem menos?

Quando tive que fazer a primeira cirurgia, a coisa desenrolou mais ou menos assim. Comecei a fazer uns exames de sangue para minha lipo ainda nos EUA, continuei a investigar no Brasil depois de um episódio de sangramento excessivo (ou terá sido uma hemorragia?) no dentista, até que cheguei a fazer um exame de sangue que constatou uma alteração enorme no meu perfil hepático. Corri para a hematologista, para o clínico geral, mas até aí não fazia idéia da gravidade do quadro. Finalmente a hematologista disse que estava me mandando para uma gastro e que a consulta era no dia seguinte. Fomos lá, ela pediu uma ultrassonogradia de abdomen e o resto da história todo mundo sabe.

Ela também me indicou um cirurgião-oncologista do INCA que deveria me operar. Para minha sorte (sempre ela!), meus pais tem vários amigos médicos e no lançamento do livro de um deles, que também é do INCA, meu pai encontrou outro amigo de muitos anos, que também era gastro, e este amigo foi incisivo ao dizer que no Rio só havia uma pessoa que poderia me operar, o Dr. Joaquim Ribeiro.

Ao mesmo tempo, uma outra amiga que era dentista da aeronáutica também se informava sobre meu caso com os médicos de lá. Foi até o chefe do hospital, que pediu para me ver imediatamente. Ele era cardiologista, mas entendeu que o meu caso era tão urgente que quis me ver na hora. "Este tumor é grave e pode estourar aa qualquer momento," disse ele, sem querer me alarmar, mas cme colocando a par da gravidade do meu quadro. Vou ligar para um médico e ver se ele te atende até amanhã. E ligou, na minha frente. E o Dr. Henrique Sergio, que não atendia às sextas, prontamente se colocou à minha disposição.

Enquanto isto, o Dr. Gastão, o amigo de anos dos meus pais, marcou consulta com o Dr. Joaquim, o cirurgião.

Claro que ficamos confusos com tantas informações, mas nestas horas tempo é fator crucial e na mesma sexta-feira encontramos o médico do INCA, o Dr. Henrique Sergio e o Dr. Joaquim. Depois ficamos sabendo que o Dr. Henrique era o clínico do Fundão que trabalhava com o Dr. Joaquim e o ciclo se fechou. Decidimos operar com a equipe da UFRJ.

Mas voltando ao trabalho, na quinta, véspera das consultas, pedi o dia ao meu chefe e amigo, que na hora me liberou sem problemas. Depois de ouvir as notícias na sexta, na segunda voltei ao trabalho e joguei a bomba "Oi Marco, preciso falar com você. Não poder vir trabalhar amanhã, nem depois e não sei quando volto." Expliquei a ele tudo que sabia e ele, chocado e extremamente compreensivo ao mesmo tempo, disse: "Não se preocupe, seu lugar vai ficar guardado, pois este emprego é seu. Vamos esperar o quanto for necessário. Vá tranqüila e até a volta," foi a resposta dele.

E para minha sorte, foi a postura da empresa, que me deu todo o apoio num momento tão difícil. Por incrível que pareça, casos de câncer não eram raros por lá. A diretora de RH, que tinha sobrevivido a um terrível câncer de mama, foi uma verdadeira mãe para mim, sensível e forte, sabia exatamente o que eu estava passando. "Já tivemos muitos casos aqui," ela me disse depois que voltei da cirurgia, "mas ninguém morre!" Ela continuou, "Faça tudo que tiver que fazer para se recuperar. O foco agora é em você, todo o resto pode esperar." E foi assim que a empresa me esperou por dois meses e meio e me acompanhou de perto no hospital, onde vários colegas de trabalho me visitavam todos os dias.

Eles foram extremamente compreensivos comigo, acomodando meus horários de consultas médicas e quimioterapia. O tipo específico que eu fiz, quimioembolização, requer menos sessões, mas o paciente fica internado mais ou menos 24 horas, então eu faltava ao trabalho no dia e no dia seguinte ia direto para lá, sem sintomas e sem drama, graças a Deus.

Mas se tudo corria bem, a minha vida aos poucos voltava ao normal e a minha inquietude voltava a aparecer. Queria alçar novos vôos, queria achar um emprego que me desafiasse mais. E foi assim olhando o jornal sem nehuma pretenção que vi uma anúncio para uma vaga no Consulado Britânico e resolvi me candidatar. Estranhamente, uma amigo viu a mesma vaga e me mandou um email cujo assunto dizia "este é a sua cara". E era mesmo, tanto era que eu decidi mandar meu CV.

Já havia passado um ano da cirurgia e para comemorar a data, decidi ir com uma amiga para um spa em Búzios. Ela também estava celebrando o primeiro aniversário das mastectomia, então fomos as duas juntas cuidar da nossa saúde. Para minha surpresa, ao checar as minhas mensagens no celular, vejo uma do Consulado. Ligo para eles e digo que infelizmente não vou poder comparecer a entrevista já que estou fora do Rio. Eles me oferecem outra data e eu aceito.

Bom, resumindo, acabei aceitando a oferta que resultou em três anos e meio no melhor emprego do mundo com os chefes mais legais do planeta e muitas viagens fascinantes. Meu amigo estava certo, o emprego era mesmo a minha cara! E eu havia me preparado para ele há tanto tempo, tendo estudado e vivido nos EUA, afiando meu inglês e meus conhecimentos de marketing... Enfim, casamento perfeito.

Óbvio que durante a entrevista não falei de desgraça, mas acho que deizei escapar que conhecia bastante do setor de saúde, infelizmente na condição de paciente... Eles não me perguntaram nada e nem eu elaborei meu raciocínio. Mas aos poucos revelei minha história, pois ia precisar da compreensão dos meus superiores para continuar meus exames trimestrais, que depois se tornaram semestrais. Eles entenderam perfeitamente e ponto final.

E o tempo foi passando e os exames foram ficando menos freqüentes e quando viraram anuais just in case...um novo tumor foi descoberto! Mais de cinco anos depois do primeiro. Ninguém merece uma coisa destas, muito menos eu, que nunca fumei, bebi ou fiz nada de errado.

A recidiva é triste, não só pela sensação de fracasso e de medo mas pela certeza da volta a um lugar terrível que todos querem esquecer. Não estou falando da dor física, que pode ser enorme e insuportável, mas da tortura mental e do trauma, que certamente acompanham aqueles que enfrentam esta situação.

No meu caso, acabei tendo que sair do meu emprego que era relativamente novo. Não foi fácil, depois de finalmente estabelecer alguma rotina aqui, tive que voltar a estca zero. Foi complicado sair, mas mais complicado ainda seria encontrar um novo lugar, depois de apenas três meses no emprego anterior. Nas entrevistas o que seria dito? O que seria perguntado? Como eu ia me sair desta mega-saia justa?

Mais uma vez, todo mundo dizia para não tocar no assunto, inclusive a minha ex-chefe, que dizia que iria me dar cobertura no que eu quisesse inventar: problemas pessoais, doença na família, etc...

Só há um grande problema: sou péssima mentirosa! Fico nervosa, me engasgo e no final acabo contando a verdade. Como entrevista já é um momento tenso, me decidi por não mentir. Obviamente não iria contar de cara o motivo, mas se surgisse a pergunta, tentaria ser o mais vaga possível, mas ainda assim contaria a verdade.

E assim foi e acabei indo trabalhar num departamento da Escola de Medicina da Universidade de Maryland que justamente educa a população de baixa-renda sobre programas de prevenção e tratamento ao câncer. E é lá que estou até hoje. E cada folheto que produzo, cada discurso que escrevo, cada press release que eu mando, tem um pouquinho de mim e da minha história, mesmo que isto não seja óbvio. Quando escrevo pedindo que a Assembléia de Maryland passe medidas urgentes que reformem este sistema de saúde tão injusto e caquético, vai um pouco de mim ali. Mesmo que as palavras saiam dos lábios de políticos ou acadêmicos, os meus sentimentos estão ali, e de certa forma isto me dá grande satisfação.

Quando conto a minha história a alguém que atravessa problemas semelhantes aos que já passei, a mensagem é de urgência e de esperança -- há solução, mas a doença não espera. Então de certa forma, acho que sou a pessoa certa no lugar certo na hora certa. Não sei quanto tempo vou estar lá (meu trabalho é um stress só por outros motivos), mas enquanto estiver quero ter a consciência tranqüila de que estou dando o melhor de mim.

Meu conselho àqueles que jovens ou nem tanto passam por situação semelhante é dizer a verdade sempre. Há coisas na vida que são imutáveis e marcas que vamos levar conosco para sempre. Não vale a pena se perguntar se isto é bom ou ruim. É o que é. Acho que por mais dolorosa que tenha sido a minha experiência, ela faz parte de mim e me faz ser quem eu sou. Não quero ser vista como a menina doentinha ou como heroína, só quero que me respeitem como sou. E não é pedir demais. A grande maioria dos mortais vai entender isto perfeitamente.

A doença ficou no passado, mas as lições vou levar comigo para sempre. E isto é bom, muito bom.

January 26, 2009

Romance e Doença

Outro assunto que surgiu durante o happy hour da semana passada foi como abordar seu histórico médico durante uma saída com um pretendente.

Sempre fui meio encucada com as coisas, mas juro que neste quesito tirei de letra. Para mim foi muito simples: o fato de eu ter tido um ou mais tumores não poderia ser mudado. A cicatriz está no meio do meu abdomen até hoje e vai ficar ali para sempre, então não havia motivo para esconder o óbvio. Era questão de tempo.

Logo depois da primeira cirurgia fiquei um ano sem beber NADA de álcool. Nunca fui chegada à birita e detesto cerveja, então não me incomodei muito. Mas se eu não me importei o mesmo não podia ser dito de algumas pessoas ao meu redor. Não os amigos que acompanharam tudo, mas os conhecidos ou amigos de amigos que me olhavam como se eu fosse um ET por pedir chá gelado num barzinho, ou Diet Coke (quando ainda havia Diet Coke e quando eu ainda tomava aquele veneno!) numa boate.

Uma vez um infeliz chegou a insinuar que eu tinha cirrose hepática (como se isto fosse motivo de graça) e me chamou de pinguça... Quando disse para ele o real motivo, o queixo do sujeito caiu e ele me olhou como se tivesse vendo um fantasma. "Câncer no fígado?! Mas ninguém sobrevive a câncer de fígado!" Pois é, muito desinformado o cara. Mas só assim ele calou a boca e acho que da próxima vez vai pensar antes de falar tanta besteira.

Mas voltando ao lado romântico da coisa, sempre abordei o meu histórico muito francamente, no esquema love me or leave me, numa de estabelecer a minha identidade logo de cara. Sempre fiz isto com meus amigos gays também. Sempre que começava a sair com um namorado novo, fazia questão de dar um jeito de apresentar meus amigos gays para ele. Queria ver a atitude do carinha, pois a minha era sempre, "estes caras são meus amigos e sempre serão e quem quiser ficar comigo vai ter que gostar deles também." Para minha sorte, todos os pretendentes adoravam meus amigos gays ou não, pois eles são realmente muito especiais. Sorte a minha, mas sempre deixei claro que os pretendentes eram passageiros; os amigos não.

Com a história da saúde também era a mesma coisa. A doença me ensinou muita coisa e a cicatriz faz parte de mim, quem quiser ficar do meu lado vai ter que entender isto, sempre foi meu mantra. Então na primeira oportunidade já ia logo abrindo o jogo, sem muito drama. "Foi isto que aconteceu, mas agora estou bem obrigada." Uma vez ouvi de um carinha "Nossa, ainda bem que estou mais maduro agora. Se fosse uns seis meses antes, já teria ouvido uma vozinha dizendo 'ela é mesmo uma gracinha, mas cai fora que esta é fria." Não sei se foi mesmo a tal da vozinha que acabou falando mais alto, mas no fim das contas o cara sumiu! Melhor para mim, que acabei encontrando minha alma gêmea tempos depois.

Mas é claro que com o Blake foi muito diferente, a começar pelas circunstâncias -- nos conhecemos online e entre os primeiros emails e a ida dele ao Brasil fiz a plástica reparadora na cicatriz da cirurgia. Então uns dias antes, disse a ele que iria dar uma sumida por um dia ou dois. Ele perguntou o motivo e eu disse que era cirurgia. Ele perguntou se era séria e eu disse "desta vez não, é meramente estética." E depois então tive que desfiar o rosário e explicar tudo.

Ele me fez várias perguntas mas não senti um tom condescendente ou distante, pelo contrário. Tempos depois ele me disse que o modo como eu tinha encarado tudo e a forma aberta como tinha contado a ele o tinham impressionado demais. (Mal sabia ele que ia viver aquilo tudo comigo mais uma vez...)

Então meu conselho para as meninas sempre foi um só: Sejam francas. Se o carinha é babaca é melhor saber de cara do que esperar que daqui a um tempo ele venha quebrar seu coração. Sim, já aconteceu comigo também...o meu namorado na época da primeira cirurgia foi saindo meio à francesa e um belo dia, quando eu disse que daquele jeito não ia dar certo, ele disse. "É verdade. Melhor a gente ficar por aqui."

E foi mesmo. Ter saído da minha vida num dos momentos mais difíceis que já enfrentei foi o melhor presente que ele poderia ter me dado. Como diz o ditado, antes só do que mal acompanhada!

Daniel

Este fim de semana tive a triste notícia de que o grande guerreiro Daniel Falcão partiu. O Daniel era primo de uma amiga minha e só nos falamos poucas vezes, mas que foram o suficiente para perceber que o Daniel era uma pessoal sensacional, de uma sabedoria e resiliência inacreditáveis.

Um cara que venceu a Leucemia Linfóide Aguda (LLA), fez transplante e depois infelizmente desenvolveu uma doença que só transplantado tem, a DECH - Doença Enxerto Contra Hospedeiro, que deixou várias seqüelas e fez a vida desde jovem faixa preta de karatê mais complicada. Mas ele nunca desistiu dela. Continuava trabalhando, praticando e ensinando karatê, lendo muito e nas horas vagas saltava de paraquedas e passeava de helicóptero. Nas palavras dele, "Tenho cicatrizes pelo corpo que ostento com orgulho, porque cada uma delas representa uma batalha vencida.
Parafraseando um surfista de ondas gigantes (não me lembro o nome): a melhor forma de sobreviver ao tombo é gostando de tomar caldo.Viva cada dia como se fosse o último." Os médico usavam o exemplo dele quando queriam falar de superação. Já entenderam porque.

Nos últimos meses a luta do Daniel ficou ainda mais árdua e ele passou a descrevê-la num blog, que infelizmente só descobri ontem, depois de saber que o Dani tinha falecido. Gosto de pensar que ele atendeu a um pedido meu, quando conversamos sobre a necessidade de pessoas mais jovens tocadas pela doença trocarem experiências.

A leucemia não foi a causa mortis do Daniel, mas deixou seqüelas enormes e abriu a porta para outras doenças que acabaram levando o meu amigo prematuramente. Até pela influência que o karatê teve na sua vida, o Daniel sempre foi resignado e disciplinado, paciente exemplar que manteve o otimismo e a dignidade até o final.

Tenho certeza que agora ele está num lugar melhor, onde não há mais sofrimento nem dor. A passagem dele por aqui foi curta, mas as lições deixadas foram muitas e valiosas.

Bom trabalho, samurai, vá com Deus.

January 25, 2009

Buenos Aires





Engana-se quem pensa que este post aqui vai falar sobre dicas de Buenos Aires. Eu amo a cidade e o povo, mas deixo as dicas para aqueles que tem mais paciência para o assunto.

O post de hoje é uma homenagem à Inês Gomide, nossa agente de viagem favorita, que fez com que eu tivesse a despedida de solteira mais divertida e estilosa do mundo. Afinal não é qualquer agente que consegue passagem e hospedagem para cinco peruas que decidem organizar uma despedida de solteira bem durante o carnaval, com mais ou menos duas semanas de antecedência -- isto é bem a nossa cara, a minha e a das minhas amigas-peruas nas fotos do post de hoje.

A viagem foi 10, e acreditem se quiser, com tanta mulherada junta não houve um momento de stress sequer. Nem briga pelo secador, que era UM para todas as jubas. Só a precavida da Michelle se lembrou de levar o dela, mas felizmente a minha galera sabe bem viver em grupo e como dá para ver pelas fotos, ninguém saiu de cabelo molhado.

Mas voltado à Inês, há poucos dias soube que ela tinha partido, serena e em paz. Como disseram os filhos, viveu intensamente cada minuto da vida que lhe restava, fazendo o que gostava, trabalhando, sambando, amando os filhos e os amigos intensamente. A Inês tinha uma energia que dava para sentir até ao falar com ela no telefone. Por incrível que pareça, jamais a vi, mas nos falamos, trocamos emails e scraps no Orkut e apesar de saber que ela tinha estado doente, a notícia da sua partida me pegou de surpresa e me deixou triste.

Mas achei o texto que os filhos dela leram na missa de sétimo dia e depois enviaram a todos na lista de amigos dela tão bonito que resolvi compartilhar com vocês. A Tati e o Mariano (filhos da Inês) são de uma sabedoria e de uma serenidade imensas. Eles obviamente tem e para sempre terão saudades de uma mãe tao querida, mas também tem a certeza de que a passagem dela por aqui foi, como eles dizem, INESquecível.

Divido o texto lido na missa e umas fotos tiradas em fevereiro de 2007 em Buenos Aires, numa viagem que para sempre vou guardar no meu coração e que só foi possível graças à dedicação da Inês (que foi uma verdadeira mãe para gente) e à loucura das minhas amigas queridas!

Que saudade do povo do Rio...


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Mensagem dos filhos Tatiana e Mariano



Foi um choque, um susto, uma Dor esperada, mas nunca calculada. Certamente a maioria pensou “Mas ela estava tão bem!”. Sim, ela estava bem!

A mensagem que queremos passar aqui é a sua maior lição de vida, a maior de todas as suas brilhantes qualidades... a VONTADE DE VIVER. No samba ... alto astral contagiante, Na família ... a Super-Mãe e Coruja que sempre foi, No Turismo... a mulher mais cheirosa. Nossa mãe tem diversas faces e cores mas uma coisa é unânime entre todos que a conheciam: ESTAR COM A INÊS É SENTIR A ENERGIA... “DA VIDA”!

Quando pensamos na nossa Dor, na Saudade, que literalmente dói no peito, nos desesperamos... confessamos que é quase um momento de incompreensão... pois acreditávamos do fundo do coração que ela venceria esta guerra. Inicialmente veio o sentimento de fracasso... de decepção, 3 anos de luta ... fizemos de tudo.... o possível e O Impossível.... É como se faltasse a explicação do MOTIVO. Por que, Meu Deus, Por que?

E no instante seguinte a resposta veio e é ela que queremos compartilhar com vocês.
Por toda a sua magnitude na vida, a mamãe era uma mulher que não merecia sofrer.
O final desta doença, na gravidade e na agressividade que era o seu tipo específico, seria de muito sofrimento ... dor intensa e internação.

Mamãe é tão especial, que viveu até o último segundo de qualidade de vida... daqui para frente o quadro da doença começaria a se agravar, e o que lhe esperava ... certamente ela não merecia viver.

Uma mulher que faleceu de câncer, estando 5 dias antes na Rua da Pedras em Búzios comendo camarão, e 15 dias antes em Salvador sambando no show de sua Grande Amiga e Irmã.

E aí veio a compreensão. A mamãe viveu até o seu ÚLTIMO fôlego. Sim, a palavra é Fôlego. Não pensem que era fácil .... o esforço de andar já era grande, mas a sua vontade de viver, sua garra, sua fibra falavam mais alto.

No momento em que a bateria da qualidade de vida se acabou, Deus, acompanhado pela Nossa Senhora de Natividade, a levou, pois o que viria daqui para frente ela definitivamente não merecia viver.

A mensagem é essa... É FAZER VALER cada momento de nossas vidas... é dar valor PRA VIDA como ela é.... Problemas? O que pode ser um problema, depois dessa lição de vida que ela deu a nós e a todos que a amavam? “ Carrego o tumor, o peso da morte a qualquer hora, mas me dá um chopp e vamos pro Samba!”

No último minuto no enterrro nós nos prometemos um ao outro: AGORA É FAZER VALER E HONRAR CADA SEGUNDO DE NOSSAS VIDAS!
Essa é a sua maior lição!

Vamos honrar os ensinamentos desta mulher, que viveu os seus 3 anos de doença mais intensos de toda a sua vida!

Agora vamos apenas citar um trecho de suas consultas com um de seus médicos preferidos, o qual servirá de exemplo para muitos amigos:

Médico: “Maria Inês, não encare isto como um castigo e sim como uma OPORTUNIDADE. Muitas pessoas saem desta vida de repente, sem ter tido a oportunidade de encará-la com o valor e a intensidade que você está vivendo desde a descoberta dessa doença.”

E sua resposta foi:

“Você consegue descrever em palavras o que sinto... Eu jamais teria tido a oportunidade de ver o amor e dedicação dos meus filhos comigo se eu não tivesse esta doença... O carinho dos meus amigos e da minha família é a coisa mais linda que eu já vi, e parece que o valor disso só veio ser reconhecido de verdade depois da doença. Talvez, se eu pudesse voltar atrás, eu não sei se escolheria não passar por isso...”

E um grande complemento, também deste mesmo médico, um guru em sua vida:

“Antigamente, na medicina, o conceito de saúde era ausência de doença. Hoje, Saúde é igual a Saúde Mental. Você tem essa doença, é grave, é difícil, mas você vive com alegria, você sai, você samba, você viaja, você VIVE! Eu olho pra sua vida, e não consigo dizer que você não é uma pessoa saudável. Entretanto, há pessoas que não tem nem resfriado, mas vivem amarguradas, só vivem os problemas... ou simplesmente as pessoas que tem uma doença e que se entregam, que se recusam a se tratar... ISSO SIM são pessoas doentes. VOCÊ é uma das pessoas mais saudáveis que eu já conheci, e por acaso, possui um tumor.”


Agora gostaríamos que todos nos acompanhassem na oração de Nossa Senhora de Natividade, a qual ela era devota...

January 23, 2009

Sobre Anteontem à Noite

Ainda sobre as lições que aprendi com as meninas no Screw Cancer happy Hour.

* A Allison diz que não gosta do termo 'cancer survivor' ou 'sobrevivente do câncer'. Depois de três batalhas com a doença, ela prefere ser chamada de 'fighter', ou 'lutadora'. Concordo com ela, pois o termo é mais amplo e aplicável a outras áreas da vida da gente. Também prefiro pensar que não luto CONTRA algo, mas luto POR algo. Não luto contra o câncer ou contra a doença, luto PELA minha vida, PELA realização dos meus sonhos, PELOS meus objetivos. Sempre fui assim.

* A Amber, casada há dois anos, e com 32 de idade está meio ansiosa sobre a possibilidade de ter filhos. (I hear you, sister, I hear you.) Os médicos pediram para que ela espere cinco anos, mas ela acha que é tempo demais. Depois de ouvir a minha história disse: "Está vendo, está vendo. Você esperou os cinco anos e o danado voltou! Nesta vida não há garantias." Repeti o mantra que meu médico em Hopkins diz toda a vez que eu faço a mesma pergunta pela milhonésima vez: "Não existem garantias nesta vida, mas quanto mais tempo você esperar, em teoria, mais seguro vai ser. No seu caso, você está começando a entrar na idade que a gravidez pode não acontecer tão facilmente, então precisa encontrar um meio termo. O seu fígado está bom, não há nenhum sinal da doença, então quem sou eu para tentar impedi-la? Esta opção é sua e sendo assim vamos acompanhar você bem de pertinho hoje e sempre." Como a escolha é minha, já fiz minha opção, vou tentar. Prefiro acreditar no Dr. Joaquim e achar que o último tumor era resquício do primeiro e a história triste acaba aí. Agora, bola para frente.

* A Betthany disse que adorou o livro do Randy Pausch, mas ficou um pouco incomodada com o fatalismo dele que dizia coisas do tipo "Vou morrer e pronto. Está tudo bem." Ela acha que a gente tem que acreditar que quando se tem a vida toda pela frente, morrer não está OK. Se ele era sábio demais ou a Betthany é Pollyanna demais, quem sou eu para dizer, mas preciso admitir que morrer por enquanto não está nos meus planos. Eu também consigo ver milagres em todos os cantos -- mulheres que teoricamente jamais poderiam ter filhos e hoje tem uma prole; pacientes terminais que já vivem há 20 anos; gente que em hipótese alguma voltaria a andar e hoje caminha para lá e para cá. Acho que sou otimista e prefiro me manter assim.

* A Natalia disse que morria de raiva quando os médicos a tratavam como uma criança de cinco anos. "Não é porque estou doente que de repente emburreci!," ela reclamava, dizendo que a médica usava o mesmo tom do Barney ao falar com ela, clara e pausadamente. "Você vai ter que ir a um médico que cuida do sangue e depois vai conversar com um especialista," a primeira médica disse a Natália que respondeu: "Você quer dizer que saindo daqui eu preciso marcar consulta com um hematologista e com um oncologista? Ah bem!"

O engraçado do encontro é que pude ver um pouquinho de mim em cada uma delas, as mesmas queixas, as mesmas dúvidas e os mesmos medos, apesar das nossas vidas serem bem diferentes. De repente não me senti tão E.T. assim. Ir a um evento destes não é fácil, pois como disse uma colega de trabalho, nunca se sabe quem a gente vai ou não vai encontrar nos eventos futuros, mas a vida é assim.

Uma das grandes lições que todos aprendemos quando enfrentamos uma situação tão traumática tão cedo é que NADA, absolutamente NADA deve ser ignorado ou negligenciado. A gente não pode ser blasé mesmo, pois hoje estamos aqui e amanhã onde estaremos? Sei que pode ser cliché, mas é a mais pura verdade, nesta vida não há garantia de nada, nem para mim, nem para vocês. A única diferença é que quando se enfrenta uma doença desgraçada ainda jovem, isto fica muito evidente e a gente leva isto à flor da pele, pois não dá para voltar atrás e fingir que não aconteceu nada. Ao contrário da maioria das pessoas da minha idade, eu sei o que é ficar doente de verdade, eu sei o que é chance de sobrevida, quimioterapia, ressonância, contraste, tumor, etc. Sei também o quanto vale um minuto, uma hora, um dia inteiro num CTI em cima de uma cama. (Talvez por isto os quatro meses que a minha avó passou no hospital tenham me abalado tanto.) E por este mesmo motivo sei o quanto vale um dia na praia ou uma noite de bate-papo com os amigos. Às vezes eu até esqueço e me estresso por nada, mas no final do dia, procuro respirar fundo e encontrar meu eixo mais uma vez.

Dizem que depois da doença eu mudei bastante, fiquei mais alegre, mais aberta, mais otimista. Talvez esta doença terrível tenha sido uma bênção, pois me forçou a conhecer a mim mesma. Não existe nenhum documento que garanta a minha vida nos próximos 10, 20 ou 60 anos, mas o mesmo é válido para qualquer um de nós. Quanta gente que nunca se preocupou com doença e acaba morrendo por um motivo absurdo qualquer -- acidente de trânsito, ataque cardíaco ou até bala perdida... sei lá!O que tenho aprendido aos poucos é que não há nada que possa ser feito quanto a isto, então só nos resta viver a vida e tentar aproveitar cada minuto dela. Acho que quando mais jovem estava tão preocupada com planos para o futuro que sequer via o presente se descortinar à minha frente. Hoje, depois de tudo que passei, não posso mais me dar este luxo. Talvez seja este o segredo.

January 22, 2009

Melhor Notícia dos Últimos Meses

Em tempo...

A MINHA AVÓ RUTINHA ESTÁ EM CASA!!!!

Com tanta coisa acontecendo, deixei de postar aqui esta notícia muito importante e dividir uma alegria ENORME com vocês, que acompanharam de perto o meu sofrimento e aturaram meu choro desde setembro do ano passado, quando a minha avó teve complicações depois de um procedimento cardíaco.

Depois de mais de quatro meses de hospital, sendo três no CTI, ela ainda requer bastante cuidados como enfermagem 24 horas e inúmeras sessões de fisioterapia. Sabemos que a recuperação vai ser longa e às vezes árdua, mas temos certeza que o pior ficou para trás. Uma grade vitória para ela e para todos nós.

Se alguém duvida que milagres existem, precisa conhecer a minha avó! Depois de uma hemorragia no coração, uma embolia pulmonar, outro sangramento enorme no retopereitônio e uma bronco-aspiração, ela continua viva e mais lúcida do que nunca. Agora só falta voltar a andar.

Obrigada por cada oração, por cada pensamento positivo, por cada cometário deixado aqui e por cada email enviado. You guys rock!

Screw Cancer Happy Hour


Screw Cancer Happy Hour, que traduzido para o português quer dizer mais ou menos "Happy Hour do Dane-se o Câncer" é uma iniciativa do Ulman Cancer Fund for Young Adults para reunir adultos jovens que lutaram ou lutam contra a doença. É um conceito novo até mesmo por aqui, mas a idéia é fazer com que estas pessoas jovens, que na maioria dos casos se sentem isoladas, conheçam pessoas da mesma idade que tenham algo muito importante em comum com elas.

Conversando com a minha médica, ela me disse que talvez a American Cancer Society não fosse a organização ideal para mim, uma vez que a faixa etária por lá é de 60 anos para cima, sendo assim os tópicos de discussão e preocupações dos participantes não me diziam muita coisa. Felizmente eu não tenho osteoporose, minha pressão é baixa e estou longe de ter netos ou bisnetos -- nem mãe sou ainda!!! Então a idéia de conhecer gente jovem que já passou pelos perrengues que eu passei não é ficar se queixando da vida, mas debater temas como fertilidade, emprego, fundo de pensão, plano de saúde, que são muito mais pertinentes à minha faixa etária.

Recebi o convite para o Happy Hour mês passado, mas como estava de viagem marcada para o Brasil no dia seguinte, não pude ir. Resolvi conferir ontem.

Antes de chegar ao local, um bar de um hotel perto da minha casa, resolvi ir ao shopping, pois por conta de um processo judicial que acusa as grandes lojas de departamento de formação de cartel (que surpresa!!!), a maioria delas entrou em acordo e teve que distribuir não sei quantos itens para o público que comprou lá entre 1994 e 2003 ou coisa do tipo. Como não tem como saber quem comprou o que e quando, qualquer um que entrar na fila tem direito a escolher um produto da lista. Eu acabei levando um hidratante facial da Clinique e um serum da Estée Lauder. Nunca usei nenhum dos dois, mas de graça... Hoje experimentei o hidratante pois com a friaca que faz aqui, até a minha pele que é mais que oleosa fica ressecada. Screw cancer, now let's get some make-up!!!

Mas voltando ao happy hour. Infelizmente quando se trata de câncer, a gente tem mesmo é que procurar alguém careca na multidão. E foi assim que achei a Allison, a organizadora do evento que tem 37 anos e tem estágio 4 de câncer no útero e no ovário. Para quem não sabe, não existe estágio 5 da doença... Ela teve câncer de intestino aos 19, a doença voltou no ovário aos 26 e onze anos depois voltou em metástese. Segundo ela, não há mais tratamentos disponíveis, mas ninguém pode dizer a ela quanto tempo ela tem, então ela faz o melhor que pode, vivendo e trabalhando e tentando encontrar a felicidade nas pequenas coisas e nas coisas mais imediatas. Uma lição de vida. Ao lado dela estava a Sara, que graças a Deus não tem câncer, mas é amiga dela de muito tempo.

Do outro lado da Allison estava a Amber, uma menina simpática de cabelos ruivos, que no início tinha o marido ao lado, mas quando o coitado viu que seria o bendito fruto, saiu à francesa. Eles estão casados há dois anos, mas tiveram que adiar o casamento um mês antes da data marcada. Depois de um mal-estar, a Amber recebeu a notícia que teria apenas seis dias de vida. Leucemia aguda e rara. Bom, dois anos já se passaram, eles casaram, estão felizes e a Amber me pareceu ótima. Sem casos de câncer na família, ela, que tem 32 anos, ainda tem seus quatro avós, todos na casa nos 90!

Minutos mais tarde, chega Bethanny, uma menina bonitinha e tímida, de 26 anos. Em junho ela foi operada para a retirada de um angio-sarcoma (acho), um câncer raro que aparece nos vasos sangüíneos e tem uma taxa de sobrevida de 10% em cinco anos. Ela está satisfeita porque na cirurgia os médicos deixaram margens limpas, o que quer dizer que tiraram tudo com bastante segurança. O tumor começou no seio e de início pensava-se que era benigno, mas depois da biópsia, foi confirmada a urgência da cirurgia. Betthany ainda tem lindos cabelos louros. Optou por não fazer químio depois que os médicos disseram que o índice de recidivas era o mesmo entre pacientes que fizeram tratamento ou não. O índice de recidivas é de 90% -- vai viver com um barulho destes! Sei bem disso. Mas ela é zen e apesar de tão novinha está decidida a encarar tudo de frente.

A última a chegar foi a Natalia. Bem-humorada e engraçada ela conta ao grupo como tem sido os últimos meses -- ela descobriu ter um linfoma não-Hodkins folicular e duas semanas depois teve a notícia que sua mãe tinha câncer no pâncreas. Na véspera do seu aniversário de 40 anos os médicos quiseram colocar um catéter para a químio e ela subiu nas tamancas. "Vocês cortaram minhas axilas. Não satisfeitos, abriram meu pescoço para meses depois me dizerem o que todo mundo já sabia, agora querem colocar o cateter no dia do meu aniversário?! Nem pensar! Vou fazer a minha festa, dançar todas e venho aqui no dia seguinte para vocês enfiarem o tal negócio em mim. Passar bem," foi a resposta dela, que agora convive bem com o tal cateter. Então hoje, além de paciente, ela cuida de sua mãe, que está num hospice, ou centro de medicina paliativa. Lição aprendida por Natalia: viva um dia de cada vez. "Tenho sorte de ter tido a minha mãe em minha vida e estou decidida a aproveitar a presença dela e aprender com esta mulher fascinante o máximo que eu puder, enquanto eu puder," ela diz.

E por último neste círculo, que poderia ser chamado por muitos, uma roda de horrores, esta que vos fala: brasileira, casada há pouco, duas cirurgias de câncer de fígado, mas hoje saudável e feliz. "Fígado? Uau!", é o comentário das minhas novas amigas da mesa... "Sempre escutei falar que quando ele chegava no fígado era o fim," diz outra. "Pois é, eu também... Mas quando ele começa lá e é pego no início por médicos competentes, felizmente a história é outra. Amém!," respondi. A freak no meio das freaks!

Acreditem se quiser, mas a noite foi muito agradável. Falamos dos nossos tratamentos, dos perrengues que passamos, das enfermeiras desumanas, dos médicos, às vezes geniais, às vezes imbecis completos e das pessoas que nos cercam. Temos, sem dúvida, muito em comum. É raro poder conversar com mulheres da minha idade que entendam de maquiagem e tomografia computadorizada... O segredo é equilibrar o bate-papo, que vai do fúnebre ao engraçado em questões de segundo.

Quando cheguei em casa e contei ao Blake sobre o happy hour, ele olhou assustado e me perguntou: "Então foi bom ou ruim? Pois esta turma de hoje parece da pesada..." Eu ri e disse que tinha sido muito bom.

Coversar com as meninas me fez mais uma vez realizar o quanto sou feliz, o quanto sou sortuda. A doença que tive por mais terrível que tenha sido, teve tratamento. Tratamento que sempre esteve à minha disposição, pois a minha família sempre teve condições de pagar e sempre tive acesso a médicos que me viram como ser humano jovem e cheio de planos que sou, não como um paciente complicado que tem que se contentar com uma sobrevida qualquer. Pessoas que entendem que eu quero viver como todo mundo, que quero ter filhos e ficar velhinha para ver meus netos. Tenho junto a mim gente que me apoia na decisão de seguir em frente e ao menos tentar. Tenho sorte de ter uma família que sempre me deu todo o amor e me ofereceu suporte e carinho quando mais precisei. Sou muito sortuda por ter amigos que me apoiaram sempre e estiveram ao meu lado nos momentos bons e ruins. E tenho muita, muita, muita sorte de encontrado no meio de tanta confusão um verdadeiro anjo que Deus fez meu marido e que está sempre comigo a cada passo desta minha jornada.

Conversar com elas foi uma catarse, mas o melhor da noite foi chegar em casa e não estar sozinha, um luxo que nem todo mundo pode ter. O pessoal está combinando uma saída a noite para que a gente realmente possa rir um pouco. Alguém sugeriu um bingo drag. Pareceu uma boa idéia...

January 21, 2009

Michelle Obama


Para terminar o assunto da posse não poderia deixar de falar da nova primeira-dama americana, Michella Obama.

Muito se fala em Barack e na sua oratória, mas eu adoro os discursos da Michelle. Acho que além de articulada, ela fala no nível do povão mesmo e fala bem. Se o Obama às vezes é chamado de prolixo e pomposo, os dicursos da Michelle são sempre muito reais. Se no início muitos achavam que o atual presidente não era negro o bastante, o pedigrée de South Side of Chicago de sua esposa não deixa dúvidas. Michelle, advogada também formada em Harvard, cresceu num apartamento pequeno no sul da cidade de Chicago, numa área nada nobre, ao lado de seu irmão, de sua mãe dona-de-casa e de seu pai funcionário de uma empresa de luz ou gás. Experiência de vida e histórias de lutas tipicamente proletárias não lhe faltam.

E isto é o que eu mais admiro nela: ela é de verdade. Não sou como a maioria da mídia americana que coloca o casal num pedestal, acho os dois muito bacanas, mas às vezes vejo coisas que não gosto, como o vestido amarelo (ou verde-aipo, segundo as minhas amigas aqui) da posse. Também detestei aquele Narciso Rodriguez que ela usou na noite da vitória (me lembrou uma hemorragia, parecia que alguém tinha esfaqueado a primeira-dama). Mas o vestido que ela usou ontem nos bailes arrasou. Nota mil para ela!

Sempre falei que se eu fosse uma celebridade não ia ficar usando estas etiquetas famosas que todo mundo usa, estes estilistas já estabelecidos. A coisa assim fica fácil demais, fica sem graça. Eu iria procurar gente nova, que faz coisa diferente, que tem idéias belíssimas e pouco nome no mercado. E foi exatamente isto que Michelle fez: ousou ao escolher Jason Wu, um designer de 26 anos nascido em Taiwan que se formou há poucos anos na Parsons. Arrasou. Adorei o vestido, a cor e o jeito que ficou no corpo dela... Tudo bem que quando a modelo tem mais de 1,80m (quase) qualquer coisa cai bem, mas mesmo assim, ponto para ela.

January 20, 2009

E a América Volta a Ser "Cool"...














"Starting today, we must pick ourselves up, dust ourselves off, and begin again the work of remaking America."
Barack Hussein Obama



Não canso de dizer para o Blake que a posse de Obama marca um novo tempo para este país. Depois de oito anos de Bush e anti-americanismo explícito no mundo todo, de repente os Estados Unidos voltaram a ser cool. Obama tem status de pop star e atitude de um estadista. Se ele vai conseguir atender as expectativas do mundo inteiro, isto vamos ver com o tempo, mas que sua subida ao poder já é um bom começo, isto é indiscutível. É inegável a mudança de atitude que se vê não só nos americanos mas no mundo inteiro.

Quando fui ao Brasil no fim do ano não se falava em outra coisa... Cheguei a ver adesivos de Obama nos carros no Rio! E pela primeira vez em muito tempo, notei um ar de admiração quando as pessoas falavam nos EUA. Antes parecia que ser americano era sinônimo de ser chato, prepotente e ignorante. Várias vezes ouvia o pessoal dizer, "O Blake é americano mas é muito gente boa", como se ser americano inviabilizasse qualquer possibilidade de alguém ser 'gente boa', o que é muito injusto, pois o que mais existe é americano gente boa, assim como tem brasileiro gente boa, japonês gente boa e iraquiano gente boa.

Obama diz que vai usar seu nome do meio "Hussein" num eforço de dar uma repaginada mais que necessária nos Estados Unidos, numa tentativa de incluir suas raízes africanas e mostrar que todos, independente de raça, credo ou ideologia, são bem-vindos aqui.

Este tom inclusivo e conciliatório do presidente é muito legal e neste momento é o que este país precisa. Agora é torcer para que ele consiga implementar pelo menos alguma das mudanças prometidas.

A história já está escrita e só nos resta ver como o enredo se desenrola, mas que o Obama é o melhor garoto-propaganda que os Estados Unidos poderiam ter, isto é inegável. Como dizer por aqui, Obama é bi-partidário e pós-racial. Vive la Différence!

Preparem-se

Tem pouca gente aqui no escritório, mas o clima é de emoção total. Daqui a pouco vamos para a sala de conferência ver o discurso do Obama.

Incrível, até eu que nem sou americana, nem negra, nem democrata, nem coisa nenhuma estou emocionada. Já sei que vai ter choradeira daqui a pouco... Vou sair correndo agora para pegar meu almoço.

Uma coisa eu tenho que admitir: AMO os discursos do Michelle e do Barak Obama -- os caras falam bem demais!

January 19, 2009

I Have a Dream

Hoje é feriado em homenagem a Martin Luther King Jr. Nada mais justo que ouvir um dos discursos mais lindos de todos os tempos neste dia tão especial, na véspera da posse de Barak Obama.

Obama não é profeta nem avatar, é político de Chicago, mas tem carisma e apesar da pouca experiência reúne qualidades que o fazem a pessoa perfeito para assumir o comando deste país neste momento.

Um dia a minha chefe me disse que tinha muita esperança no novo presidente pois ele vinha para tentar fechar as feridas abertas e expostas há tanto tempo neste país. Já não era sem tempo...



Que o dia de amanhã marque um novo começo para os Estados Unidos.

January 18, 2009

HGTV



Desde que decidimos colocar a casa antiga a venda, começamos a assistir um canal de TV aqui chamado HGTV, ou Home & Garden TV, em português, TV Casa & Jardim. Já me disseram que no Brasil alguns programas deste canal passam na NET, mas como tudo neste país é exagerado, o canal e os programas de decoração ficam 24 horas no ar. Resultado: estou completamente viciada. Logo eu, nada doméstica, que nunca fui chegada à decoração, casa, cozinha, acabei AMANDO este canal.

Sou meio estranha. Nunca tinha pensado em casamento, mas quando decidi casar, quis fazer tudo como manda o figurino, vivi o período dos preparativos intensamento e o resto vocês já sabem -- acabei colunista e repórter de uma revista de noivas!

Será que estou caminhando para isto? Ontem, finalmente compramos a nossa mesa de jantar, que deve chegar em um mês... De início queria muito uma mesa com tampo de vidro, mas como queremos uma mesa com 8 a 10 lugares, achamos melhor optar por madeira e acabamos comprando um modelo mais clássico com cadeiras de shantung que vão dar um ar mais chique e contemporâneo. Com o lustre novo e os quadros que ficam prontos semana que vem, nossa sala de jantar deve estar completa no fim de fevereiro! Mal posso esperar...

A sala de estar/family room está bem adiantada, mas como temos um espaço bem diferente do que estou acostumada, às vezes bate um medo danado, mas aos poucos a tente vai arrumando tudo. O mais engraçado é que para quem nunca morou em casa, as dimensões ficam meio confusas... Pé direito de seis metros?! Onde já se viu uma coisa destas? Janelas por todos os cantos e superaltas... Diferente de tudo que já vi... Imagina ter que decorar uma casa onde espaço não é problema?! Uma viagem... E tentar dar um ar contemporâneo e leve a uma casa nova mas neo-clássica, como a esmagadora maioria de imóveis nesta parte dos EUA?

Mas este fim de semana acabei descobrir um recurso maravilhoso... O site da HGTV tem uma área chamada "rate my space", onde você pode colocar fotos da sua casa e pedir sugestões para os outros membros da comunidade. Coloquei estas fotos da nossa sala, que ainda não está pronta, e recebi várias dicas legais. Amei!

Estou ainda mais viciada, só agora nos programas e no site da HGTV. Tremendo achado...

January 16, 2009

-11C, sensação térmica de -20C mas Baltimore está fervendo...

Dá para acreditar numa coisa destas? Acho que depois que a temperatura cai deste jeito não faz muito diferença não...menos onze ou menos vinte, é congelante do mesmo jeito.

Barack Obama deve passar por Baltimore amanhã, a caminho de Washington, como fazem todos os presidentes-eleitos seguindo o exemplo de Lincoln, que saiu de trem da Filadélfia para Washington antes da posse. O pessoal aqui da universidade está animadíssimo e umas 150 mil pessoas são esperadas na War Memorial Plaza, que segundo a polícia só comporta 30 mil pessoas. Nem precisa dizer que vai ser o caos! Mas é uma alternativam, por incrível que pareça, menos estressante para o pessoal de Maryland que quer ver Obama de perto.

A lua de mel deste país com Barak Obama é inegável. Até website com a agenda da semana tem. Sting, Bruce Springsteen, Beyoncée e U2 já confirmaram presença. Nunca se viu uma posse tão comentada. Obama tem status de rock star, não de político. A posse vai ser um segundo Woodstock. Daqui a quarenta anos vai ter um monte de gente dizendo que enfrentou temperatura glaciais, que acampou no National Mall para ser parte da história. Juro que se a posse fosse em junho eu até tentaria convencer o Blake de ir ou até iria sozinha, já que adoro acontecimentos deste tipo, mas sair de casa às quatro da matina, com tudo preto e num frio de cão não dá para mim não.

Tudo indica que vou estar mesmo aqui, na labuta, ao contrário de 90% dos meus colegas de trabalham que vão tirar folga na terça. Nós, os proletários que vêm trabalhar, vamos tentar ver pelo menos o discurso na TV. Vai ser legal, pois pelo menos duas amigas minhas vão estar aqui e sempre gosto de ouvir o que elas têm a dizer sobre o assunto. Uma tem seus 50 e poucos anos e cresceu numa América segregada, a outra é filha de panamenhos e faz parte da primeira geração nos EUA, cresceu em Nova York e freqüentou excelentes escolas, aliando inteligência à oportunidade criada pela política de quotas, da qual é crítica. Gosto de conversar com elas, lúcidas e esclarecidas, mas ao mesmo tempo otimistas e esperançosas.

Ao que parece, a próxima semana vai ser movimentada por aqui. E que venham novos tempos.

January 15, 2009

Saudade do calor...



Com os quatro graus negativos que faz hoje aqui em Baltimore, a saudade de casa aumenta. Coloquei esta foto aqui tirada no verão passado em Porto Rico só para fixá-la melhor na minha mente... E o tal poder do pensamento, a tal técnica de guideed imagery que a minha médica me recomendou. Então o negócio é imaginar um dia de sol e calor, com um ventinho bom desarrumando meus cabelos... Ai, ai...

Embora a minha mãe diga que "este sol que anda fazendo agora por aqui não faz bem para você, minha filha", acho que esta friaca também não. Meus lábios já estão arrebentados e não há lip balm que ajude. Também detesto me vestir feito cebola -- em camadas -- tira casaco, bota casaco, cachecol, gorro... Meu cabelo fica um lixo, cheio de nós! Ceroulas (gente, isto ainda existe em português?!) eu me recuso!!! Também perdi minhas luvas, todos os três pares que eu tinha! E da última vez que usei meu gorrinho, a avó do Blake disse que eu estava bonitinha, parecendo uma menina de quatro anos!!! Era o incentivo que me faltava... Socorro, me tirem deste frio!

Ainda tenho umas coisas a fazer em casa -- não terminamos nossas compras -- e outras resoluções do Ano Novo para colocar em prática, apesar da preguiça que quase sempre acompanha as temperaturas glaciais...

Mas 2009 vai ser o ano da retomada, então, xô preguiça, xô!

January 14, 2009

Frrrrrrrrrrrrrrrio!

As temperaturas por estas bandas daqui estão caindo vertiginosamente -- que horror! Ainda estou procurando meu gorro e minhas luvas, que estão perdidos desde o inverno passado. Eu detesto luva, mas quando a temperatura é, digamos assim, glacial, não tem muito jeito. Vou sair vestida de pinguin amanhã! Ai, ai, ai!!!

De boa notícia só o preço da gasolina. Hoje enchi o tanque por menos de US$20!!! Parece mentira que no inverno passado, estava gastando mais de US$50!!!

Aliás, não posso me queixar, as notícias de Hopkins foram ótimas e a minha avó está tão bem que quando liguei hoje, me pediu pra ligar mais tarde porque estava vendo A Favorita!!! Me deu uma baita saudade de casa e uma vontade de assinar a Globo Internacional. Ai que horror!!!

January 13, 2009

Listinha do Bem

Para quem ainda está entrando no esquema,"ano novo, vida nova", aqui vai uma listinha para um ano mais tranquilo, que cá entre nós, todo mundo bem que merece.

São várias sugestões, tiradas deste site aqui, umas de bem fácil implementação... Vou tentar algumas, só não posso ficar estressada por não conseguir alcançar tudo ao mesmo tempo.

Para um 2009 mais zen, vamos tentar...

Get up 15 minutes earlier.
Prepare for the morning the night before.
Avoid tight fitting clothes.
Avoid relying on chemical aids.
Set appointments ahead.
Don't rely on your memory…write it down.
Practice preventive maintenance.
Make duplicate keys.
Say "NO" more often.
Set priorities in your life.
Avoid negative people.
Use time wisely.
Simplify meal times.
Always make copies of important papers.
Anticipate your needs.
Repair anything that doesn't work properly.
Ask for help with the jobs you dislike.
Break large tasks into bite-size portions.
Look at problems as a challenge.
Look for the silver lining.
Say something nice to someone.
Teach a kid to fly a kite.
Walk in the rain.
Schedule playtime into every day.
Take a bubble bath.
Believe in yourself.
Stop saying negative things to yourself.
Visualize yourself winning.
Develop your sense of humor.
Have goals for yourself.
Dance a jig.
Say hello to a stranger.
Ask a friend for a hug.
Look up at the stars.
Practice breathing slowly.
Learn to whistle a tune.
Read a poem.
Listen to a symphony.
Watch a ballet.
Read a story curled up in bed.
Do a brand new thing.
Stop a bad habit.
Buy yourself flowers.
Take time to smell the flowers.
Find support from others.
Ask someone to be your "Vent Partner."
Do it today.
Work at being cheerful and optimistic.
Put safety first.
Do everything in moderation.
Be aware of the decisions you make.
Pay attention to your appearance.
Strive for excellence NOT perfection.
Stretch your limits a little each day.
Look at a work of art.
Hum a jingle.
Maintain your weight.
Plant a tree.
Feed the birds.
Practice grace under pressure.
Stand up and stretch.
Always have a plan "B."
Learn a new doodle.
Memorize a joke.
Be responsible for your feelings.
Learn to meet your own needs.
Become a better listener.
Know your limitations and let others know them too.
Tell someone to have a good day in Pig Latin.
Throw a paper airplane.
Exercise every day.
Learn the words to a new song.
Get to work early.
Clean out one closet.
Play patty cake with a toddler.
Go on a picnic.
Take a different route to work.
Leave work early (with permission).
Watch a movie and eat popcorn.
Write a note to a far away friend.
Go to a ball game and scream.
Cook a meal and eat it by candlelight.
Recognize the importance of unconditional love.
Remember that stress is an attitude.
Keep a journal.
Practice a monster smile.
Remember you always have options.
Develop a support network of people, places and things.
Quit trying to "fix" other people.
Get enough sleep.
Talk less and listen more.
Freely praise other people.
Relax, watch a sunset.
Take one day at a time…you have the rest of your life to live.

Não se fala em outra coisa

O papo aqui nos arredores de Washington e Baltimore é um só: a posse de Barak Obama. Se a euforia tomou mesmo conta do país, acho que em poucos lugares a coisa é mais visível do que aqui no meu escritório, afinal a maioria esmagadora de funcionários aqui é negra.

Estes dias parece até que estou no Brasil -- tudo bem, vamos deixar as temperatura congelantes de lado -- mas o povo não para de falar no feriadão da semana que vem. Quer coisa mais brasileira? Na segunda-feira é feriado de Martin Luther King Jr., ponto facultativo em muitos lugares, mas aqui para nós é feriado e ponto. Na terça, 20 de janeiro, vai acontecer o fato mais esperado do milênio -- a posse! Só que este dia não é feriado, mas quem vai querer perder o grande dia?! Nem que seja em casa, todo mundo vai querer ver o discurso e a roupa da Michelle -- tomara que ela se reabilite, pois o vestido vermelho-hemorragia do dia da vitória foi dose.

Andei fazendo uma pesquisa informal por aqui e ao que parece ninguém está pensando em dar as caras por aqui. Tem gente que vai desafiar o frio e a multidão para estar no Mall; tem gente que vai assistir numa destas mega-igrejas aqui...só não tem gente animada para vir trabalhar e acompanhar tudo via internet. Será que vai sobrar para mim?

Juro que se fosse no verão, eu até me meteria no meio do povão, pois vai ser um marco histórico, mas sinceramente, com as temperaturas abaixo de zero é muito perrengue para esta que vos fala.

Vou dar um jeito de assistir tudinho com certeza, mas certamente num lugar confortável e onde haja calefação... A sala do telão lá de casa sounds like a winner!

January 12, 2009

Eu Sou Normal!!!



Gostaram do meu visual? Avental fashion, né? Mas sarcasmo à parte, o dia de hoje foi um sonho, foi tudo que eu esperava, foi a resposta de Deus a minhas preces...

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Tem marca-passo? Implante de metal em alguma parte do corpo? Já fez transplante? Tem prótese? Stents recentes? Já teve objetos de metal retirados da face? Tem grampos em alguma parte do corpo? Diabetes? Não, não, não e não!!!

Fazia tempo que não via uma ficha tão fácil de preencher. Fazia tempo que não via um formulário que não me obrigasse a desfiar meu rosário ou a contar a saga que tem sido a minha nos últimos seis anos. Fazia muito tempo que não me sentia tão NORMAL!

Pois é, enfermeira, fora umas duas cirurgiazinhas bobas de fígado, nunca tive nada de absurdo. Ótimo, foi a reposta dela. Ótimo, comemorei eu. Nunca pensei que fosse gostar tanto de ser que nem todo mundo, de não ter história para contar, de ser completamente ordinária.

Acho que a minha fama de chorona já se espalhou por Baltimore e o tratamento que tenho recebido ultimamente em Hopkins se aproxima cada vez mais de VIP. Hoje, fiz meus exames de sangue e agora troquei a tomo por ressonância magnética por causa da radiação. A ressonância é mais demorada e você fica de corpo inteiro no tubo por uns 40 minutos, mas graças a Deus, não sou claustrofóbica, então tiro de letra... Fico lá meditando, rezando e pedindo a Ele lá em cima para livrar a minha barra. E tem funcionado. Respira, prende, solta. Mais uma vez, respira, prende, solta devagar...e aquele fundo musical que parece techno de quinta categoria, mas tudo bem quando acaba bem.

Num dia tenso e conrrido como estes, a hora mais chata é a de puncionar a veia, mas até isto, hoje foi dez. Das duas vezes, os enfermeiros acertatam de primeira. Isso é que luxo! Duas espetadas em vez de cinco! Maravilha. O local ainda está um pouco dolorido, mas acho que pelo menos desta vez meus braços não vão lembrar os da Amy Winehouse. Amém!

Minha consulta estava marcada para uma e meia da tarde, mas como os exames acabaram cedo, resolvi ir antes para a sala de espera. Chegando lá, eles me colocaram logo numa das saletas e uma residente veio prontamente falar comigo. “Dr. Pawlik já vem mas me pediu para ir conversando com você. Seus exames estão ótimos – sangue e imagem. Saúde perfeita,” ela concluiu. Que alívio! O Blake e eu suspiramos aliviadíssimos e não conseguíamos conter nossa felicidade... Aliás era como se o tal suspiro estivesse engasgado na nossa garganta há um ano. E estava.

Minutos depois entra o Dr. Pawlik, sorridente como sempre, dizendo que tínhamos muitos motivos para estar felizes. De novo, falamos sobre a possibilidade de gravidez e ele disse o de sempre. “Certeza não existe nesta vida e esta decisão é só sua. Você tem que tentar colocar numa balança a sua vontade de ser mãe e a possibilidade, embora pequena, deste negócio voltar. Com o passar do tempo, mais seguro será, mas não podemos dar 100% de garantia de nada. Como já conversamos, você será monitorada para o resto da vida e pronto. Tudo me leva a crer que você está curada, mas a gente vai te acompanhar de pertinho e sempre,” ele explicou.

Para mim esta afirmação é o bastante para me deixar feliz. Foi o mais normal que me senti nos últimos treze meses e o mais feliz também. Saí daquele hospital como se tivesse ganhado a minha vida de volta, como se tivessem me devolvido o direito de sonhar e ser feliz. E não pude deixar de pensar em Jó e na minha avó, que me contou a história bíblica e que hoje felizmente foi a primeira pessoa para quem liguei e que alegria foi poder escutar a voz dela do outro lado do telefone.

Se em setembro a felicidade das boas-novas foi ofuscada pela dor enorme de ter a minha avó num estado de saúde muito delicado, hoje posso dizer que a felicidade foi completa. Saber que estou saudável, ultrapassar o marco de um ano, poder compartilhar a notícia com a minha família e ouvir a satisfação na voz da minha avozinha...Nada disso tem preço.

A minha mãe tem mesmo razão quando diz que sou uma menina de sorte...

January 9, 2009

Decoração - A Saga



Agora resolvi aceitar a minha condição de Desperate Housewife mesmo. Vim no avião vendo o seriado e tomei um choque ao me dar conta que meu condomínio – assim como zilhões de outros em Suburbia, USA – é idêntico a Whiskeria Lane. Well, acho que a vizinhança é que vai ser diferente, se é que ela existe de verdade, pois desde que me mudei só vi um carinha de uns trinta e poucos anos que parou para se apresentar e uma outra vizinha que apareceu lá em casa no Halloween. O resto para mim continua sendo fantasma. Diz a lenda, ou melhor, o Blake, que do noso lado tem uma família chinesa e que o pai toma cerveja, um tanto estranho, pois chinês não bebe por estas bandas não. Eu, como pouco saio a pé por conta do frio, ainda não tive a sorte(?) de conhecer ninguém. Ainda de acordo com o Blake, o vizinho do outro lado é um cara meio antipático que faz questão de passar por ele e fingir que não o vê. Pela aparência física e atitude um tanto quanto esquisita acabou levando o apelido de Al Qaeda – sorry, mas não dava para perder a piada.

Mas voltando às Desperate Housewifes, com a graça de Deus deixei de ser housewife há tempos, já que pelo menos por enquanto ganho a vida aqui nesta universidade que às vezes me parece um manicômio, mas nas atual conjuntura, quem tem um emprego já tem que dar graças a Deus. Depois de chegar do Brasil, com várias telas modernas, resolvi investir na decoração da casa, que continua quase vazia. Eu jurava que já teria a mesa de jantar este mês, mas houve um problema na entrega e ficamos a ver navios. Com o acontecido fiquei meio de pé atrás com a minha velha amiga internet e resolvi que ia comprar a mesa numa loja de verdade. A idéia era comprar uma mesa contemporânea de madeira com um tampo de vidro, mas acabei descobrindo que o tal modelo dos meus sonhos é bem difícil de achar do tamanho do que eu quero, pois sim, quero uma mesa de OITO a DEZ lugares já que espaço aqui é o que não me falta. Acho que vamos ter que ficar com uma mesa de madeira mesmo, que por si só já é mais tradicional, e o ar de modernidade vai ficar com umas cadeiras bem clean, como o modelo da foto, que não era a mesa dos meus sonhos, mas não deixa de ser bonita e funcional. Com um tapete bacana e as minhas duas telas quadradonas compradas no Rio, acho que vamos fechar o ambiente. Também vi um lustre show e acho que até vou me arriscar a comprar pela internet, já que conheço bem a loja.

Para quem sempre morou em apertamento no Rio (e em Nova York), decorar uma casa bem grande e tipicamente americana nos suburbs é uma mudança radical, mas aos poucos a gente chega lá. Tenho que confessar que todas as vezes que via a mocinha descendo a escada nos filmes, morria de inveja e jurava para mim mesma que um dia seria eu quem iria descer deslumbrante as escadas de uma casa daquelas. Pois é, be careful what you wish for... Não só desço as tais escadas como volta e meia limpo e varro degrau por degrau!

Mas voltando ao assunto, outra dificuldade é encontrar móveis e objetos de decoração de estilo contemporâneo, pois esta parte dos EUA é muito conservadora em tudo... O meu grande problema é que até gosto de antiguidade, desde que os objetos sejam antigos de verdade e não pseudo-antigos ou velharia caquética que no Brasil estaria no lixo há tempos, que é o que a gente mais vê por aqui. Móvel estilo Chippendale feito de compensado?! Fala sério! Muito fake. Mobília kitsch dos anos 60 em péssimo estado também não entra na minha casa, pois pra mim não passa de quinquilharia. Tenha dó!

O povo aqui diz que gosta do tal Renaissance Style, mas quando pergunto exatamento do que se trata ninguém sabe me explicar direito. A meu ver, este “estilo” são móveis enormes e esteticamente pesados, cores escuras e formas arredondadas, tudo meio over. Resumindo: tudo o que eu NÃO gosto. Mas como gosto é igual a xxxxx, e cada um tem o seu, só me resta mesmo garimpar para ver o que encontro de moderno e claro por estas bandas aqui. Pois como dizia o poeta, “vai ser gauche na vida...” Quem mandou querer ser diferente?

Este fim de semana a busca continua e a missão é achar cortinas e um lugar para emoldurar as cinco telas made in Brazil que vieram na nossa mala e agora estão espalhadas por todos os cantos da casa, esperando ocupar seus lugares definitivos...

January 8, 2009

Voltei!

Estou tão animada que esqueci de dizer que estou de volta ao batente e a Maryland. Nem o frio, nem os furlows ou férias coletivas anunciadas pela universidade me deixaram triste... Agora pelo menos quando acordo para ir trabalhar já é dia! Sinal de que a primavera se aproxima.

Sempre disse que meu problema aqui não é o frio, mas a falta de luz e os dias curtos que caracterizam o inverno e principalmente os meses de novembro e dezembro. Bom, o frio continua, a neve deve dar as caras mais dia menos dia, mas a certeza é que os dias ficam mais longos daqui para frente, e isto para mim já basta.

O Ano da Retomada

O título da minha coluna mais recente para a Noivas Rio de Janeiro foi “2009, o Ano da Audácia”. Como sugerem o nome da revista e o título da matéria, falei sobre as tendências em casamentos que vamos ver no ano que se inicia. Idéias interessantes e diferentes, alugumas inovações e muita criatividade. Pelo menos no ramo de casamentos, 2009 vai ser um ano bem bacana.

Pois já decidi que 2009 também vai ser um ano mais leve para mim. O ano passado foi difícil, apesar de algumas grandes vitórias – a minha segunda cirurgia de fígado e toda a história da minha avó, que tenho certeza ter escapado da morte algumas vezes por milagre. Sofri muito, talvez como jamais tenha sofrido na vida, mas hoje digo que mandei todas as minhas angústias embora junto com as ondas que tocaram meus pés no dia 31 de dezembro, na Praia de Copacabana.

Não sei se 2009 vai ser o ano da audácia para mim, mas sinceramente acredito que será o ano da retomada. Se em 2008 vi todas as minhas certezas irem por água abaixo e tive que colocar um freio em tantos planos e ambições, em 2009 tudo indica que finalmente vou poder colocar em prática projetos extremamente importantes que por um motivo mais ou menos importante acabaram ficando em banho-maria.

Segunda-feira, dia 12, de manhã cedo, volto a Hopkins e se Deus quiser, corro logo aqui para postar boas notícias. Mal posso esperar para poder dar a notícia por telefone à minha avó, que agora já pode falar! (Lembro que da última vez, me doeu muito pensar que ela não podia dividir esta alegria comigo, já que lutava contra um embolia no CTI, no Rio.) Obviamente estou ansiosa e tenho certeza que até segunda vou estar um pouquinho nervosa -- afinal, levante a mão quem gosta de agulha, contraste e tubo claustrofóbico de ressonância magnética -- mas tenho sentido uma vibração muito boa e estou animada para voltar a ser eu mesma e poder sonhar de novo.

2008 foi um ano muito importante para mim, um ano que me marcou demais, mas acabou e eu sobrevivi. Acredito ter passado por um processo longo e conturbado que começou com a descoberta da suposta recidiva no final de dezembro de 2007 e culminou com a perda de jovens muito queridos e especiais; passando por tantos exames, consultas e medos. Eu, que achava que por ter vivido tantas coisas ruins estaria imune a todos os males, acabei descobrindo e sentindo na pele que nesta vida simplesmente não existem certezas. Foi um baque, mas aos poucos tento aprender a lição e enxergar as coisas por um lado mais positivo.

Se em 2008 dediquei meus dias e meus posts a tentar explicar como se sente alguém que despenca do topo do mundo e cai de cara no chão, em 2009 meus posts vão contar a história de alguém que depois de se espatifar e quebrar a cara, decide voltar a subir devagarinho, degrau por degrau, por saber que a vista do alto é sempre mais bonita.

E que venha 2009, o ano da retomada!

January 5, 2009

Feliz Ano Novo

Enquanto me preparo para arrumar as malas e voltar aos EUA amanhã, vários pensamentos me invadem a cabeça.

Se o Natal e o Ano Novo não foram exatamento como havia imaginado, não posso me queixar de nada. Mesmo sem ter a minha avó de volta em casa, fico feliz de ver o progresso dela e tudo me leva a crer que em breve ela vai estar de novo com a família. Pena que não vou estar por perto, mas isto é mero detalhe: o dia que ela sair definitivamente do hospital vai ser o dia mais feliz da minha vida e não há distância que vá diminuir a minha felicidade.

Daqui a uma semana, dia 12 de janeiro, vou a Hopkins mais uma vez e a próxima consulta, se Deus quiser, vai ser o início de um novo tempo para mim. As consultas agora devem acontecer duas vezes por ano, em vez de a cada três meses. As tomografias serão substituídas por ressonâncias magnéticas. Isto vai marcar um novo cliclo para mim e para a minha família.

Acho que fecho um ciclo, dolorido mas muito importante, e estou pronta para alçar novos vôos. Já falei aqui da doença e da recaída, agora quero falar de vitória e de vida normal... Quero falar da minha casa, doa quadros que comprei e das cortinas que estou procurando. Quero voltar a ser uma menina normal.

Que 2009 todos os nossos sonhos se realizem e que todos possamos ser absolutamente NORMAIS.