March 31, 2010

Um Fio de Esperanca

Ontem coversando com o Mario, ele deixou muito clara a vontade de fazer tudo que for possivel e esgotar todos os recursos no que diz respeito ao seu tratamento. "Nao tenho a ilusao de cura, mas qualquer coisa que possa me dar mais um tempo de vida e o que mais quero no mundo. Faria o que fosse preciso," ele nos disse com lagrimas nos olhos.

Inicialmente, a oncologista que trata dele disse que iria entrar em contato com o MD Anderson, um dos maiores centros de pesquisa e tratamento de cancer no mundo, mas depois voltou atras se dizendo muito ocupada e oferecendo um numero de telefone para que a familia do paciente entrasse em contato.

Nao quero julgar ninguem, mas onde esta o coracao de uma mulher destas? Em primeiro lugar, o peso de uma indicacao medica nestes casos e incalculavel, e alem disto que leigo vai saber todos os detalhes do prontuario tao complicado do Mario? Ele e um dos pacientes mais bem informados que eu conheco, mas saber detalhes de todos os protocolos e medicamentos e tarefa herculea que jamais deveria ser imposta a alguem tao fragilizado ou a uma familia que ja sofre tanto. Onde fica o bom senso das pessoas numa hora destas?

O que mais doi e ja ter visto isto antes. Cada um dos pacientes que se tornaram meus amigos relata a mesma experiencia: a mudanca de comportamento da equipe medica, a ausencia, a confusao nos diagnosticos e por fim a desistencia, que e o que mais machuca. Para se preservar, alguns medicos acabam enterrando o paciente vivo.

Nenhum paciente acha que o medico e magico e possa lhe oferecer a salvacao, apesar de muitas vezes, por conta do desespero, a impressao passada e justamente esta. No final das contas, os pacientes querem mais que explicacoes, querem colo, querem carinho. Eles veem o medico como um elo com o mundo la fora.

"A equipe medica e nem mesmo a enfermagem vem mais aqui," Mario se queixava ontem, "acho que eles pensam que vou fazer alguma pergunta que eles nao podem responder, entao me evitam." Ele esta coberto de razao. O ser humano, por mais treinamento que receba, nao esta acostumado a lidar com questoes tao dificeis. A verdade e que nao conseguimos encarar a morte ou a perspectiva dela de perto, entao fugimos.

Nao nego que esta ideia ainda me afeta muito, mas o que mais me doi e justamente a agonia que o Mario atravessa agora, a sensacao de impossibilidade a suspeita de que pode haver outras alternativas as quais nao se tem acesso.

Quando a minha amiga Lilian se foi ano passado fiquei muito abalada, pela idade dela, pelas coisas que tinhamos em comum, por tudo que ela ainda queria e sonhava fazer. Uma coisa porem me serviu de consolo: tudo que podia ser feito para salvar a vida dela foi feito. Ela teve acesso aos melhores hospitais, aos mais modernos tratamentos e aos mais conceituados medicos. Infelizmente ela teve que partir mas a mim restou a certeza de que a hora dela tinha chegado, o que de certa forma me deu um pouco de paz.

Entao entendo perfeitamente a angustia do Mario quando busca alternativas e respostas e e ignorado pelos medicos. E claro que talvez o caso seja serio demais e os medicos nao tem o direito de enganar o paciente, mas ao mesmo tempo tambem nao tem direito de decidir que seu tempo por aqui esta esgotado.

Muita gente confunde esperanca com ignorancia e desinformacao, mas sao coisas completamente diferentes. O Mario sabe perfeitamente da gravidade do seu quadro mas esta determinado a lutar ate o ultimo segundo bravamente. Sendo assim, o minimo que qualquer um com um pingo de humanidade pode fazer e tentar satisfazer a sua vontade.

"So preciso de esperanca, de uma gota que seja," ele nos disse ontem. E se esta esperanca e estar pensando um pouco a frente na possibilidade -- ainda que tao remota quanto milagrosa -- de um teste clinico no MD Anderson -- que assim seja.

March 30, 2010

Hospital

Hoje, como tive que ir a Baltimore, resolvi passar a manha no hospital da Universidade e ver meus amigos.

A primeira surpresa foi encontrar a Dawn, que ja de alta ha tres semanas, estava la para fazer exame de sangue. Nunca vi familia tao positiva na minha vida... Ela, os pais e as irmas estao sempre sorrindo apesar das duzias de limoes que a vida lhes tem oferecido. Ela fez praticamente dois transplantes de medula e passou seis meses internada e o sobrinho de sete anos ja teve cancer duas vezes, entao ele e que vive dando conselhos a ela.

Hoje ela estava la com o pai, um simpatia, os dois com semblante muito sereno, fazendo planos de finalmente ter um feriado em familia. Ela vai para a casa dos pais na Virginia no fim da semana e a irma vem visita-los da Carolina do Sul.

Elizabeth e eu resolvemos esperar pelos resultados com ela, rezando e tentando distrai-la para fazer com que o tempo passasse mais rapido. Felizmente, em poucos minutos a enfermeira a chamou e logo ela voltou com um sorriso enorme: tudo otimo, nenhum sinal da doenca.

Respiramos todos aliviados e nos despedimos de Dawn e de seu pai que sairam mais aliviados ainda e prontos para merecidas ferias.

Depois resolvi dar uma passada para ver o Mario, um boliviano-americano que tem uma raca como nunca vi. Tipica historia de imigrante neste pais, bom filho, bom irmao, trabalhador, mas seu quadro e muito serio e a sinceridade dele desarma qualquer um. Ele e muito consciente mas ao mesmo tempo tem uma garra e uma esperanca enormes, que tenho certeza, o mantem vivo.

Apesar do quadro triste, ganhei o dia. Olhando para mim e para Elizabeth, ele disse: "Muito obrigada pela visita. Voces nao sabem o bem que me fazem cada vez que entram aqui, cada vez que vejo voces meu coracao fica cheio de alegria e me encho de esperanca." Segurei as lagrimas para nao desabar.

E incrivel como o paciente percebe quando as pessoas ao seu redor desistem dele. Lembro que o Todd dizia a mesma coisa, que os medicos pouco apareciam e quando apareciam pouco diziam. O Mario diz que desde que voltou do CTI muitas enfermeiras que entravam no quarto dele, agora nao o visitam mais. "Acho que elas tem medo nao ter o que me dizer," ele nos explicou...

E claro que eu sei que existe muita gente assim por ai e tambem entendo que cada um tem suas limitacoes, mas eu considero cada momento passado com pessoas como o Mario, como a Dawn e como o Todd, um tremendo privilegio, um aprendizado fora do normal.

E impossivel nao ser tocado la no fundo so de passar um minuto que seja ao lado de pessoas tao especiais. Quando tudo parece tao confuso e turbulento, sao pessoas assim que nos fazem encontrar de novo o nosso eixo.

March 29, 2010

A Primeira Multa A Gente Nunca Esquece

A verdade é que aqui em Maryland esta história de multa é uma indústria milionária, ainda mais agora que o Estado está procurando fechar os rombos do orçamento de qualquer maneira. Há câmeras por todos os lados e carros de polícia que saem Deus sabe de onde, então era milagre eu nunca ter recebido uma multa. Principalmente se for pensar que o Blake, que é um dos melhores e mais conscientes motoristas que conheço, recebeu umas quatro no último ano.

Então semana passada, enquanto dirigia pensando na grande ironia de nunca ter sido multada, cantarolando no carro num belo dia de sol, percebi, olhando pelo retrovisor que havia uma viatura policial atrás de mim! "Hum...," pensei, "engraçado, ele está com as luzes acesas mas não consigo escutar a sirene." Continuei meu caminho, mas ele não saía da minha cola. Olhando pelo mesmo retrovisor, sinalizei perguntando se ele queria que eu parasse. "Sim," foi a resposta. Ele balançou a cabeça.

Finalmente eu tinha sido pega em flagrante; certamente estava além do limite de velocidade... Era culpada e não tinha a menor dúvida disto. Melhor parar logo, ser simpática, assumir o erro e pronto. A multa era mais que merecida.

Parei no acostamento e o policial caminhou lentamente até meu carro.

"Bom dia," disse eu sem graça.
"Bom dia, senhora," ele respondeu e emendou "Posso lhe fazer uma pergunta?"
Eu, que já estava nervosa, disparei a seguinte pérola: "Vai me perguntar se sou legal aqui? Sim, tenho green card!" Assim que ouvi as palavras que saíam da minha boca, entendi o tamanho da gafe que tinha cometido.
O policia, com cara de quem não estava entendendo nada, respondeu: "Não, claro que não. A minha pergunta é 'Você estava prestando atenção?'
E eu, numa mistura de cara de pau e honestidade profunda, disse "Para falar a verdade, não!"
Ele sorriu e disse: "Deu pra perceber. Primeiro você passa por uma viatura policial a 80 milhas por horas numa via onde o limite é de 55 milhas. Depois, fico emparelhado com você e você nem me vê, até que decido seguir você por um bom tempo..."
Ele estava coberto de razão, o que eu poderia dizer?
"Realmente me distraí e não me dei conta de que o carro tinha adquirido mais velocidade na decida," repondi.
Quando ele me pediu a carteira e o documento do carro, gelei. A habilitação estava comigo na carteira, mas o documento do carro, que aqui é uma folhinha pequena e muito vagabundo, estava perdida em algum lugar no meu porta-luvas. E foi um tal de tirar escova de cabelo, hidratante, guardanapo, caneta, carregador de celular... Até que achei a tal folhinha e graças a Deus estava tudo em ordem, respirei aliviada.

Ele checou tudo e me devolveu os documentos, mais a multa, me dizendo que tinha reduzido a quantia depois de conferir meu histórico impecável...

Já mais calma, perguntei a ele o que deveria fazer. Ele, muito educado, disse que eu poderia pagar a multa na hora, mas me aconselharia a ir até o juiz com uma cópia da minha ficha mais do que limpa e explicar a verdade.

Por fim, me deu o último conselho "Dirija mais devagar!" e se despediu com um "Tenha um dia bom e calmo!"

Bom, depois desta, aprendi a minha lição. Agora é esperar a multa chegar pelo correio com a data para minha visita à corte. Fortes emoções à vista!

March 28, 2010

Liberdade

Ultimamente esta música não me sai da cabeça... O mais engraçado é que apesar de carioca não muito chegada a samba, mas este eu amo!

Procurando no YouTube, achei esta versão linda, uma interpretação através de imagens e desenhos feita por alunos da E.M. Tereza Pinheiro de Almeida de Angra dos Reis, para o V Sensibilizarte - mostra a anual dos trabalhos dos alunos de Angra, em 2008. O tema da mostra era cultura luso-brasileira e as turmas 6B, 6C, 6D, 7C, 7D e 8C de educação artística do professor Rafael Kuwer escolheram o sub-tema carnaval e o consagrado samba-enredo de 1989 do GRES Imperatriz Leopoldinense.

Lindo demais! Fiquei impressionada com a iniciativa e com a criatividade do professor e dos alunos.

Semana que Começa

A semana já deve começar emocionante para mim... Amanhã entrego a minha carta de alforria. Agora é para valer! Nem part-time, nem consultoria, nem coisa nenhuma. Liberdade ainda que tardia! Liberdade total. Cortando qualquer laço, qualquer ligação, qualquer contato... Ponto final.

Me sinto como se fizesse parte de um programa de proteção à testemunha. Só não vou trocar de nome, mas o resto é bem parecido. Não quero que saibam de mim, nem para onde vou, nem quais são meus planos, nem detalhe nenhum sobre a minha vida. Quero apagar o mais rápido possível qualquer dano causado à minha auto-estima e à minha saúde mental.

Quem sabe um dia uso o aprendizado (se é que pode-se chamar o desgoverno e o desatino de alguns de aprendizado!) para alguma coisa... Tipo aquele filme, "Como Perder um Homem em 10 dias"...tudo que a gente NÃO deve fazer quando o assunto é gestão.

Mas por enquanto, quero mais é encerrar este capítulo desastrado e só espero que desta vez tudo dê certo...

March 27, 2010

Mais Cape May




Mini Férias





Esta semana, para comemorar nosso aniversário de casamento, o Blake resolveu me surpreender com uma viagem-relâmpago. Pela primeira vez não deixei a minha curiosidade estragar a surpresa e me deixei levar...

Quando percebi estavamos numa balsa a caminho de Cape May, uma cidadezinha histórica de arquitetura vitoriana, na costa de New Jersey.

Ao contrário de todos os meus amigos que se dizem loucos de vontade de conhecer ou apaixonados pelo lugar, não me lembro de ter ouvido falar em Cape May. Morando em Nova York, a gente escuta muito sobre Cape Cod ou Newport, Rhode Island, e claro sobre os Hamptons, mas sinceramente Cape May nunca esteve no meu radar.

Então a surpresa foi ótima, pois o lugar é charmosíssimo, há restaurantes ótimos e o Bed & Breakfast (B&B) que ficamos era uma graça. Aqui nos EUA, os B&B's são uma espécie de pousada bem chique a acolhedora, com poucos quartos e atendimento superpersonalizado. Nossos Innkeepers, ou donos da pousada, Doug e Anna Marie, foram anfitriões perfetos. O legal também é que os hóspedes tomam café e chá da tarde juntos, então parecem todos uma grande família.

Passamos ótimos dias por lá, descansando e passeando...o problema é que já voltamos e a preguiça continua!

March 23, 2010

Provérbios

Adoro provérbios, ditados e tudo que tem a ver com sabedoria popular.

Ontem recebi três numa newsletter semanal que assino:

Para o puro todas as coisas são puras.

Confie em Alá, mas amarre seu camelo.

A arrogância dimunui a sabedoria.


É ou não é para parar e pensar?

March 22, 2010

US Census


O Censo 2010 chega aos lares americanos fazendo muito barulho, com campanhas milionárias na TV, na internet, nos jornais e revistas de todo o país. Filmes em rede nacional, páginas nas redes de relacionamento, parece que o governo abriu mesmo os cofres para financiar tal campanha.

É claro que também recebeu muitas críticas e quem entende (ou diz entender) de marketing diz que o retorno de tanto investimento pesado tem sido, digamos assim, pífio!

Mas eu adoro pesquisa. Sou curiosa por natureza e não me importo em divulgar dados ao meu respeito se puder conferir o resultado do trabalho depois. Foi assim que durante anos fui dona de uma caixa do IBOPE em casa. Ninguém entendia a minha fascinação com aquilo, só mesmo o meu amigo Horácio que ao dar de cara com a caixinha, entendeu exatamente o "poder" que aquilo me dava e quase caiu duro de emoção. Com mais ou menos 400 caixas espalhadas pelo Rio, a minha TV ligada em tal canal fazia bastante diferença!

É claro que esta egotrip doida também me fazia mais consciente e de certa forma às vezes ditava meus hábitos. Claro que nunca assisti o programa da Gimenez, mas depois que a tal caixinha foi parar lá em casa, nem aquela paradinha básica quando estava zapeando eu dava...

Então quando chegou o formulário do censo aqui, fiquei toda animada. Aliás, acho que fui a única... Abri o envelope e as instruções me pareceram superfáceis, então comecei logo a preencher. Até que cheguei a pergunta número 8: "A pessoa número 1 é de origem hispânica, latina ou espanhola?" Como se diz por aqui, esta é a pergunta que vale um milhão: brasileiros pertencem ou não a esta categoria?

Claro que eu poderia ter simplificado as coisas e, com base na minha descendência espanhola, ter marcado sim, mas preferi saber se o brasileiro de um modo geral se encaixa no grupo ou não.

Continuei lendo o formulário. As opções eram:

() Não, sem origem hispânica, latina ou espanhola
() Sim, origem mexicana, mexicana-americana, chicana
() Sim, porto-riquenha
() Sim, cubana
() Sim, outra origem hispânica, latina ou espanhola (origem em letra de forma, por exemplo, argentina, colombiana, dominicana, nicaraguense, salvadorenha, espanhola, etc.) _____________________________________


E os brasileiros, onde ficavam? Como sou brasileira e não desisto nunca, resolvi ligar para o número gratuito oferecido no formulário. Depois de escutar um monte de blablablá, finalmente um ser humano apareceu na linha.

Expliquei a ela o motivo da minha angústia e ela me respondeu lendo o formulário de volta para mim. Quando, delicadamente, expliquei que a minha dúvida não era de leitura mas de interpretação, me identifiquei como brasileira, ela leu a definição de termo latino para o Governo Americano, que diz mais ou menos assim "Latino ou Hispânico é aquele que tem origem espanhola ou dos países das Américas do Sul e Central." "Então você é hispânica," ela me diz.

"Sou da América do Sul, mas minha primeira língua não é espanhol," respondo.

"Mas vocês tem origens espanholas," ela retruca.

"Não, minha senhora", respondo educadamente, "a colonização brasileira foi feita pelos portugueses."

Ao que ela já sem a menor paciência me diz: "Bom, então neste caso fica a seu critério tomar a decisão que lhe parecer correta. Até logo!"

Pois é, esta dúvida que carrego comigo desde 1993 (e foi tema da minha coluna no jornal da minha faculdade na Virginia!), persiste até hoje e nem o Censo 2010 é capaz de responder.

Depois de pensar um pouco, pensei no meu passaporte espanhol, na minha habilidade de falar o idioma, da cultura ser semelhante, e na ideia de que num futuro, quem sabe, meus filhos poderem se beneficiar de certa forma deste "status", e marquei sim.

Pois então agora é oficial, para o Censo Americano sou Latina!

March 20, 2010

Rebelde sem causa?

"Tenho muita dificuldade em seguir regras, principalmente se elas forem ridículas e não fizerem o menor sentido." A frase não é minha, mas bem que poderia ser. Quem disse foi minha hair stylist, que depois de seis anos num dos salões chiques de Baltimore, resolveu fazer as malas e rumar para um salão micro onde pudesse ser ela mesma.

Gente, parece até epidemia por aqui. Será que está na água? Ou será que é efeito dominó, como a minha amiga Maria diz, "the abused abuse." Não sei exatamente qual é o motivo, mas todo mundo aqui reclama disto.

Só sei que desde que decidi tomar as rédeas da minha vida, o que significa ter pedido demissão, voltei a ser eu mesma, ou melhor, voltei a ver o melhor de mim com certa frequência. Que alívio...mesmo que isto significa conta bancária mais magra. O preço da minha alforria!

Nunca imaginei que eu fosse rebelde, muito pelo contrário, sempre seguir regras e condutas, até agora. Aliás, continuo respeitando as normas impostas, desde que elas façam sentido. O que me recuso a fazer é dar asas aos devaneios de gente tonta. Pronto, falei!

Mudando de assunto, o dia está lindo aqui e me sinto ótima. Corro o perigo de me acostumar com temperaturas em torno dos 20C...

March 18, 2010

Manuais de Gestao


Confesso que tenho uma certa aversao a manuais de a livros de auto-ajuda. Acho um blablabla danado e na maioria das vezes com pouquissimo conteudo.

Desde cheguei aqui tenho ouvudo cada perola que me da vontade de chorar... Me soam como se tivessem sido tiradas de um manual barato de gestao das Organizacoes Tabajaras. Ou este povo esta muito equivocado, atrasado ou eu nao nasci mesmo para viver no mundo corporativo.

As tres que tenho ouvido mais ultimamente sao de lascar, entao compartilho com voces:

* Nunca admita um erro. Esta eu nao engulo mesmo! E ja ouvi diversas vezes desde que cheguei aqui. "Nao importa o que acontecer, diga que nao sabe do que se trata e negue ate o final." Sinceramente, nao nasci para isto, pois a energia gasta em mentir pode ser muito bem utilizada ao assumir responsabilidade e resolver a questao. Acho que tal "regra" deve ter saido dos livros de Maquiavel, e na atual conjuntura me parece nao ultrapassada. Alem do mais, vai contra tudo que meus pais me ensinaram desde cedo. "Se for inocente e estiver certa, va ate o final. Se tiver cometido um erro, desculpe-se e ofereca-se para consertar o que estiver errado," meus pais sempre me disseram.

Ao meu ver, lideranca tem que ser decente, tem que ser responsavel, tem que saber os limites, e acima de tudo tem que enxergar os erros, admitir culpa, sim, e oferecer uma solucao para o tal problema. Mas nao e isto que teimam em ensinar na Escola dos Sem Escrupulos.

* Nunca peca desculpas, nao importa o motivo. Esta caminha lado a lado com o topico anterior e sinceramente me da ansia de vomito. Desde quando ser arrogante e estrategia de lideranca?! Ja ouvi gente dizer que mesmo lidando com clientes "nos nunca estamos errados e por isto jamais pedimos desculpas." Ainda bem que nunca vou ser cliente deste povo... Vou alem, para mim pedir desculpas nao vale muita coisa, a menos que seja um pedido sincero acompanhado de uma solucao para o problema. Como dizem por ai, "palavras o vento leva..."

* Nunca diga que nao sabe, pois isto demonstra fraqueza. Pois pra mim, nada demonstra mais fraqueza e inseguranca do que uma atitude sabe-tudo. E obvio que na maioria das vezes fica na cara que o tal fulaninho nao sabe lhufas do que esta falando, e quem tem a mais vaga ideia morre de vontade de rir na cara dele, afinal de contas, nada mais patetico do que um sem nocao querendo enganar os outros. No meu mundo, quem nao sabe tem que admitir que nao sabe e perguntar para quem sabe ou procurar se informar. Simples assim. Ninguem pode saber tudo o tempo todo. Melhor admitir e preservar a confianca dos outros do que se passar por idiota na frente de todo mundo. Por incrivel que pareca, isto acontece muito mais do que se imagina.

E e claro que ha outras, muitas outras... E voces? Qual foi a maxima mais ridicula que voces ja escutaram no mundo corporativo?

March 17, 2010

O Futuro E Agora

Sou viciada em livros, revistas, jornais e tudo que veicule informacao. Achei este video fantastico e ate fiquei com vontade de comprar o Ipad, o que me surpreende um pouco, ja que sou viciada no cheiro de livros e revistas, aquele cheiro de tinta no papel que para mim e um dos cheiros mais deliciosos que existem.

Quando o Kindle foi lancado isto sequer chegou a me passar pela cabeca, pois gosto de segurar o livro, folhea-lo lentamente, le-lo de tras para frente, marcar com orelhas, fazer anotacoes, usar caneta fluorescente. Eu sei, sou das antigas!

Mas este video da Wired sobre as enormes possibilidades para a midia me deixou simplesmente de queixo caido.

March 16, 2010

Escolhas Demais


Se tem uma coisa que me incomoda demais nos Estados Unidos e o excesso de tudo. Se esta liberdade de escolha e abundancia de opcoes sao a essencia do American Way of Life, nasci mesmo para ser subdesenvolvida. Nao que eu nao preze a liberdade, direito inalienavel e levado muito a serio neste pais, mas confesso que escolhas demais me deixam frustrada.

Quer exemplo perfeito? Ir a supermercado aqui me deixa tonta! Parece que todo turista adora ir a visitar estes templos do consumo, pois a gente ve coisas que nem imagina, em todas as categorias. Pasta de dente para clarear os dentes, para fortalecer o esmalte, para dentes sensiveis, para gengivas problematicas, sei la...eu so preciso de alguma coisa que combata as caries e deixe o halito bom. So isto. Mas ai e que esta o problema, a gente acaba sem conseguir encontrar o basico do basico. E no meu caso, saio de maos abanando e muito revoltada.

Mas americano ama supermercado e quanto maior, melhor. O povo aqui recebe o tal de Wegman's com o entusiasmo de quem ve uma celebridade. [Parece que vai abrir um perto da minha casa. Precisa ver a animacao do pessoal!] De fato o hipermercado e tao imenso que a gente se perde facilmente. Dentro tem padaria gourmet, uma secao de frutos do mar imensa, outra de comidas internacionais e ate restaurante/buffet com uma infinidade de opcoes. O pessoal vai la como se estivesse indo a um museu e faz compras e mais compras -- os carrinhos sao enormes! Da ultima vez que estive la, estava procurando um desodorante, bem normalzinho que vende em qualquer lugar... Em vez disto, sai com suco de maracuja Maguary, leite condensado e um monte de coisas que sequer tinha pensado em comprar. Depois de chegar ao caixa, me dei conta que a unica coisa que queria realmente comprar tinha ficado fora da lista, entao pensei que teria que percorrer todos aqueles corredores de novo e desanimei. Melhor passar na farmacia no caminho de casa.

Quando digo aqui que nao gosto de tal Wegman's, todo mundo me olha como se fosse louca ou tivesse dito alguma heresia. "Como pode nao gostar de um lugar que tem tudo?" Mas meu problema e justo este: tem coisa demais! Tanta fartura acaba me desconcentrando, me confundindo. Saio de la com dor de cabeca e atordoada. Nao e a toa que faz mais de um ano que nao piso no tal mercado...

Mas hoje felizmente descobri que nao estou sozinha neste barco e que ha pesquisas que comprovam que nao sou louca. A pesquisadora Sheena S. Iyengar, cujo trabalho foi citado em Blink, livro de Malcom Gladwell, acaba de lancar um livro proprio, The Art of Choosing, ou a Arte de Escolher, onde explica direitinho os efeitos e causas desta overdose de escolhas na sociedade moderna.

Ao que parece, gracas ao trabalho dela, hoje ja nao ha mais quase debate quando se diz que opcoes demais podem fazer com as pessoas escolham menos e tornem-se menos satisfeitas com as escolhas feitas. A pesquisa agora estuda os efeitos da tal overdose e procura determinar se atraves de treinamento podemos nos tornar melhores em tal tarefa.

Achei o tema superinteressante e ja vou adicionar o titulo a minha lista de must reads para 2010.

March 14, 2010

De Boas Intenções...

Sexta fui conversar com o diretor de uma das organizações que participo como voluntária. Foi um papo legal e no final ele me perguntou se eu toparia trabalhar com os pacientes de câncer jovens de um hospital em Washington, no início como voluntária, mas depois dirigindo o programa lá como staff.

Achei a ideia bacana, mas fui muito sincera com ele, disse que não me achava preparada. Ele demonstrou supresa...e foi logo dizendo que me achava a pessoa perfeita para o cargo por tudo que já havia feito na organização.

Então expliquei para ele que vistar os pacientes e ficar com eles no hospital é a parte mais fácil para mim. Fácil não seria exatamente a palavra, mas acho que é a parte que entendo melhor, afinal guardadas as devidas diferenças, passei por coisa parecida, então entendo os medos, as frustrações e a solidão que o paciente enfrenta. Por outro lado, não me acho preparada para enfrentar a parte prática da coisa, ou seja, conversar com o paciente sobre seus direitos, que aqui nos EUA são complicadíssimos, variam de estado para estado e de empresa para empresa. Para dizer a verdade, nem sei muito bem os meus, e vou descobrindo à maneira que vou precisando.

Expliquei para ele que me sentiria muito mal ao dar uma informação equivocada ou até mesmo incompleta para alguém que não tem nenhum tempo a perder e que precisa de tudo a tempo e a hora, pois um pequeno detalhe para uns pode ser a diferença entre a vida e a morte destes pacientes. Falei do caso do Mário, que está preso num imbroglio entre os governo federal e o governo estadual e cujo tempo aqui se torna mais escasso a cada dia. Eu entendo este senso de urgência, então sou muito alerta às necessidades. Acho que só um ombro amigo nestas horas não basta, o que o paciente precisa é de muito profissionalismo, muita competência, aliada à compaixão, é claro.

Ele não vê as coisas assim, acho que no fundo pensa que basta ter bom coração. Eles acham que fazendo maratonas e eventos estão lutando contra o câncer. Eu por outro lado entendo que só se pode lutar contra esta terrível doença em duas frentes: estando ao lado do paciente quando ele atravessa tantos problemas e tentando ajudá-lo a navegar o mar da burocracia ao mesmo tempo que oferencedo apoio emocional, ou fazendo pesquisa, se trancando em laboratório e correndo contra o tempo em busca de uma cura. Falando francamente, o resto para mim é balela!

Talvez um dia possa mudar de opinião ou até mesmo me empenhar para refocar minha carreira, com mais treinamento e estudo, é claro. Mas quando vejo um monte de gente vivendo esta fantasia narcisista, me lembro daquele velho ditado "De boas intenções o inferno está cheio." Nestas horas conta mesmo é competência e compaixão, de verdade.

March 11, 2010

Saúde Urgente

Quanto mais tempo passa, menos me conformo com algumas coisas aqui. A questão do sistema de saúde então quase me mata de raiva. É a tal coisa do individual e do coletivo. A maioria das pessoas com quem converso -- fora do trabalho -- é contra o plano do Obama. O argumento é sempre o mesmo "A gente nunca sabe como ele vai mudar as coisas. Provavelmente vai aumentar o preço do meu plano para poder subsidiar a opção pública." Ou no caso dos idosos "Vai tirar dinheiro do Medicare para pagar plano para os mais novos." As palavras mudam, mas o argumento é o mesmo "Para mim está bem assim, então que se dane o outro!"

Talvez se minha vida tivesse tomado um rumo diferente, aliás o rumo planejado, eu pudesse me incluir no grupo "Não se mexe em time que está ganhando" ou "Tira a mão do meu bolso," mas felizmente ou infelizmente os desvios me levaram a um caminho diferente, uma trilha que me impede de ignorar o outro, ainda mais quando o outro está doente, quando o outro está necessitado.

Há algum tempo falei num post do plano de saúde que me rejeitou por causa da meu histórico médico. Para minha sorte, sou casada e tenho plano de saúde do meu trabalho antigo que pude manter a um preço decente, então minha história tem final feliz, por pura sorte.

Não tem final feliz porque eu trabalhei duro, porque eu estudei, porque cumpri com minhas obrigações, paguei meus impostos e sempre fiz tudo que era esperado de mim. A minha história tem final feliz não por mérito, mas pela mais absoluta sorte. E isto está completamente errado.

Hoje conheci o Mario, um boliviano que é cidadão americano e é das pessoas mais eloquentes e carismáticas que já vi. Ele está internado no hospital da Universidade de Maryland, onde eu trabalhei, e por coincidência, acabei indo visitá-lo. Ele tem leucemia e acaba de ter um recidiva, além disso ainda não encontrou doador compatível. (Os médicos duvidam que isto aconteça.) Então está participando de um teste clínico fase 1, sua única esperança.

É claro que a história é tocante, mas o mais triste não é ver uma pessoa doente é ver que além da doença ele tem que se preocupar com tantas outras coisas, pois o Estado de Maryland decidiu que se ele está pedindo ajuda para custear seu tratamento não pode se qualificar para licença-saúde. Não me façam perguntas porque eu também não entendo, mas é claro, me revolto.

Mario trabalhou na mesma empresa por 14 anos, sempre teve plano de saúde, previdência privada, etc. Só que ano passado a empresa faliu e ele foi gerenciar um restaurante, empresa familiar que não oferece benefícios e quando mais precisou, não teve ajuda. Contribuiu a vida toda e agora seus benefícios são negados.

É revoltante e ao mesmo tempo corta o coração ver um homem jovem e orgulhoso dizer "Nunca pedi ajuda de ninguém para nada. Nunca pedi auxílio-desemprego, food stamps, Medicaid e agora impedido de trabalhar os caras dizem que só podem me dar 350 dólares por mês. Quem vive com isto? Pago $1500 por mês na minha casa."

Aqui não tem Defensoria Pública,Procuradoria ou coisa do tipo, a única opção é encontrar um advogado que trabalhe pro bono e ajude o Mario a navegar este mar de ignorância e injustiça... O tempo não está a nosso favor, mas nunca desisti de acreditar em milagres.

Cada vez tenho mais certeza de que não é só o sistema de saúde que está errado aqui...

March 10, 2010

Livre

Ontem foi meu último dia no trabalho. Eles me pediram para ficar part-time, o que quer dizer ir ao escritório uma vez por semana e trabalhar de casa outro dia. Acho que desta forma vou conseguir gerenciar o stress que tinha tomado conta da minha vida desde outubro.

Além de perder mais de duas horas por dia no trânsito, o stress diário estava realmente mexendo comigo, e logo eu que sempre me achei dura na queda. Agora entendo bem quando as americanas resolvem parar de trabalhar depois de ter filhos, ou quando alguém de 40 anos decide dar uma guinada na vida, mudar de carreira e voltar a estudar. Consigo até enxergar o motivo de tantos incidentes/tiroteios/mortes em local de trabalho. Do dia para noite tudo ficou muito claro para mim.

Falando francamente, o trabalho para muita gente neste país é completamente opressor. Muito se fala da China, mas as coisas para muita gente nos EUA não são tão diferentes assim. No país do Tio Sam, não existe lei que garanta licença por motivo de doença, alguns empregadores oferecem, outros não. Licença maternidade? No papel, dizem que a gente pode ficar seis semanas em casa se tiver parto normal e oito se tiver cesariana, mas tem muita gente que não consegue tirar isto. Existe também um tal de Family and Medical Leave Act de 1993 (FMLA) que permite que um emprega possa gozar três meses de licança não remunerada, mas mais uma vez, isto vai depender do empregador. Não há lei federal que o obrigue a nada. Aliás, a maioria das pessoas sequer sabe que tal lei existe.

Sendo brasileira, a gente sempre acha que o Estado impõe leis loucas que oneram demais os empregadores, o que consequentemente contribui para o desemprego no país. Não sou economista, não sou especialista, não sou coisa nenhuma, mas quando digo aqui que todas as minhas amigas no Brasil tem auxílio-creche ou auxílio-escola para os filhos, ninguém acredita. Licença-maternidade de quatro meses...seis para funcionárias federais...os gringos acham que estou brincando...férias de 30 dias corridos? Só pode ser piada. Aqui, se ficar doente perde o emprego e junto com ele o plano de saúde, a licença-médica e todo o resto. É cada um por sim, mesmo. A coisa só fica um pouco mais humana quando se trabalha para o governo ou para uma meia dúzias destas empresas que são ilhas de excelência...

Nunca tive a menor simpatia pelo comunismo, que me parece totalmente anacrônico na atual conjuntura, mas entrar nesta engrenagem louca que é o que se vê por aqui, me parece suicídio. É claro que há exceções. Para nossa sorte o Blake é uma delas -- trabalho superlegal, gerência mais que compreensiva, excelentes benefícios, etc. Mas são poucos, muito poucos que podem se incluir neste seleto grupo. O resto do pessoal rala muito em condições muitas vezes inacreditáveis.

É por isto que por enquanto estou decidida a só aceitar voltar ao trabalho full-time se um emprego bacana aparecer. Se demorar um pouco, obviamente vou ficar mais ansiosa, mas resolvi priorizar a minha saúde e a minha felicidade, ao menos por enquanto.

March 6, 2010

Falando para o Board

Semana passada o Brock, diretor do Ulman Cancer Fund for Young Adults, perguntou se eu teria uns 10 minutos para dar um breve depoimento para o board e o staff dele. Como estaria por aqui e tenho uma relação bem legal com a organização, aceitei prontamente o convite.

Ao contrário da grande maioria das pessoas, não preparo o que vou falar. Detesto ler notas e tenho medo de esquecer alguma frase memorizada e tropeçar no meio do caminho. Além disto, ele tinha me pedido para contar a minha história e falar um pouco do meu envolvimento com a organização. Acho que até meus amigos já sabem a minha história de cor!

O mais engraçado é que apesar da profissão que escolhi e de sempre ter falado em público, sempre morri de medo deste tipo de coisa. Nunca tive nenhum problema de falar para grupos pequenos, numa roda de amigos, mas bastava me colocar de pé e de frente para estranhos ue a coisa mudava de figura. Mesmo sem nunca ter negado um convite, já passei várias noites em claro só de pensar em palestras ou apresentações. Mas de repente, pouco mais de um ano atrás, notei que o tal medo tinha desaparecido... Do dia para noite! De uma forma superestranha, como a maioria das coisas que me acontece nesta vida.

Mas voltando à apresentação para o board, acho que foi bem bacana. Consegui condensar quase oito anos em poucos minutos e ainda sobrou tempo para falar um pouquinho do trabalho voluntário que faço para organização e é lógico que não poderia perder a chance de fazer pressão para que eles investissem mais no trabalho junto aos pacientes nos hospitais, principalmente no Centro de Câncer da Universidade de Maryland.

Não sei dizer se meu depoimento vai ter algum efeito surpreendente, mas sempre que falo o que penso, acho que pelo menos já comecei a fazer a minha parte.

Vamos ver no que dá...