November 30, 2010

Ritmo de Fim de Festa...ou de Começo!?

Não estou nem acreditando que s coisas aqui no trabalho têm se desenrolado tão bem. Meus projetos vão chegando ao final, dentro dos prazos estipulados, sem grandes estresses. Que alívio!

Mas se eu estou tranquila e aliviada o mesmo não pode ser dito sobre os coitados ao meu redor. No trabalho, se me atraso um pouquinho, todo mundo entra em pânico. Se desço e demoro mais pra voltar, já tem gente me ligando pra saber se preciso de ajuda. A cadeira de rodas continua aqui no escritório. Meus pais aqui não me deixam mais dirigir sozinha pra lugar nenhum e o Blake quer saber detalhes de cada espirro que eu dou. Ele torce para que o Joaquim chegue amanhã – dia do aniversário dele – mas estou achando difícil. Acho que ele vai esperar o fim de semana...

Claro que nada pode preparar a gente para uma coisa destas, mas dentro do possível, já fizemos tudo que podíamos. Já revisei a minha mala e a do Joaquim 50 mil vezes, já fiz todos os checklists que pude encontrar, mas tenho certeza que vamos esquecer alguma coisa importante. C’ést la vie.. O bom é que o hospital é relativamente perto de casa e contanto que a neve não chegue para atrapalhar tudo – acho que este ano ela não vem muito cedo – dá para circular tranquilamente.

A barriga já baixou, a minha cara está bem redondinha, então acho que dentro de no máximo 10 dias vamos conhecer o novo membro da família Duran Baron...

Vou tentar deixar o pessoal aqui informado, pelo menos pelo Facebook.

November 28, 2010

Notícias

Apesar da loucura que tem sido os últimos dias -- o que só tende a piorar -- vou procurar atualizar o blog diariamente nesta reta final.

Fomos à médica na sexta e está tudo ótimo comigo e com o Joaquim. Para quem tem um histórico de saúde "rico e diversificado" ter uma gravidez sem nenhum susto só pode ser bênção divina. Até a minha pressão -- que sempre foi bem baixa mas que normalmente muda no fim da gravidez -- continua ridícula. Graças a Deus. É verdade que dei uma "explodida" nas últimas semanas no que diz respeito a peso, mas na última consulta, tinha perdido um quilo. (Outro milagre divino!)

O Joaquim, que concorre ao título de bebê mais dançante do mundo, pois não para quieto, parece que mexe tudo, menos a cabeça, o que é o mais importante nesta hora! Sendo assim, está na posição perfeita para sua estreia. Já disse aqui várias vezes que estou preparada para parto normal ou cesárea, mas saber que não vai ser cesárea de cara é uma alívio.

As malas -- minha, do Joaquim e do Blake -- estão todas prontas. A cadeirinha do carro está devidamente instalada e inspecionada pela polícia -- sim, aqui o negócio é sério!

Meus pais já estão aqui e aos poucos vão se adaptando -- como podem! -- ao frio que fez fazendo e só tende a piorar.

Ao que tudo indica, minha irmã vai conseguir vir, depois do nascimento do Joaquim, para para uma passagem meteórica, mas o importante é que ela vai conhecê-lo.

Bom, acho que é só. Como tudo tem progredido superbem e meu corpo já apresenta sinais de parto iminente, tudo leva a crer que o Joaquim não vá passar muito da data prevista, 6 de dezembro. Se ele passar, provavelmente serei induzida até o dia 11. Em todo caso, meu instinto materno acha que não vou precisar... E se precisar, também vou estar pronta.

November 25, 2010

Ação de Graças



Hoje é dia de comilança e, segundo muitos, é o maior feriado nos Estados Unidos, uma vez que celebra este país enquanto nação, deixando para trás diferenças culturais ou religiosas.

O que os americanos chamam de Primeiro Thanksgiving foi celebrado para agradecer a Deus pela ajuda dada aos peregrinos da Colônia de Plymouth que sobreviveram seu primeiro inverno rigoroso na Nova Inglaterra. A primeira celebração durou três dias e alimentou não só os 53 peregrinos, mas 90 índios americanos e até hoje celebra a unificação dos povos do país.

Acho que ainda estou tocada com a cerimônia de anteontem, e obviamente com a proximidade da chegada do Joaquim e a visita dos meus pais, este feriado tem me feito refletir sobre as tantas coisas que devo agradecer. Eu agradeço a Deus, pois sinto a mão dEle ao meu lado por todo o tempo, mas mesmo para quem não acredita, acgradecer e refletir em tudo de positivo que nos cerca faz bem. Então em convido cada um dos meus amigos que passar por aqui hoje a tirar dois minutinhos do seu dia atribulado para entrar em comunhão com Deus, com o Universo, ou com a natureza e parar para pensar também nas conquistas e nas bênçãos alcançadas este ano.

Um bom Dia de Ação de Graças não só para os queestão aqui nos States celebrando, mas para todos vocês em todas as partes do mundo, que hoje também estarão nas minhas orações.

Do not get tired of doing what is good.
Don't get discouraged and give up,
For we will reap a harvest of blessing at the appropriate time.

- Galatians 6:9

November 24, 2010

US Citizen


Pois é, chegou mais rápido e foi bem mais fácil do que eu esperava. Ontem, depois de responder seis questões sobre história americana, ler uma frase e escrever a resposta, me tornei uma das mais novas cidadãs americanas. Sentimento estranho, confesso.

Mesmo para quem fez a opção por razões práticas, de modo muito simples e sem ter que abrir mão de nada, ainda assim, na hora dá um nozinho na garganta. O bacana é que em Baltimore, a cerimônia de naturalização e o teste e entrevista são feitos no mesmo dia, então a gente já sai dali com tudo pronto. Agora com o documento em mãos já posso dar entrada no meu passaporte.

Ao chegarmos lá, tivemos que esperar mais de uma hora para a entrevista, que foi feita junto com o teste. O pessoal do trabalho e o Blake certamente estão aliviados de não ter que me ver decorando todas as 100 perguntas e respostas do teste. Sim, porque passar todo mundo passa, então no mínimo eu tinha que acertar as 10 perguntas.

Só que no final não foram 10, mas só seis, porque como só exigem 60% de aproveitamente, quem acerta as seis primeiras fica isento das outras quatro. (Tempo é dinheiro por aqui!) E depois disso, tive que ler uma frase, que a oficial de imigração leu pra mim e depois caiu na gargalhada! Então tive que ler outra. "What's the largest state?" E escrever a reposta para a pergunta que ela tinha lido, mas que eu deveria ler. "Why do people want to become citizens?" Resposta: "People want to vote." Se é verdade ou não, não sei, mas como era prova de ditado não deu nem pra contestar...

Mas é claro que a cínica em mim tinha vários outros motivos para pensar que o povo queria a cidadania:
a) para poder ser funcionário público federal e ganhar um bom salário para não fazer muita coisa (mentalidade tupiniquim, eu sei, mas aqui vai-se pelo mesmo caminho!)
b) para recolher seguro-desemprego
c) para ter direito a welfare
Mas vamos ser otimistas e pensar que o povo quer mesmo é votar e participar de uma das maiores democracias do mundo!

Como minha entrevista acabou lá pras 12.30 fomos almoçar no Porto de Baltimore para esperar a cerimônia, marcada para às 3 pm. Chegamos um pouco mais cedo e tivemos que esperar numa sala com todo mundo.

"Estou me sentindo na sala de espera de uma rodoviária," diz o Blake.
"Imagina que isto aqui é Ellis Island do século XXI," respondi. O pior é que ele tinha mesmo razão, eu só nãosabia dizer se tinha mais cara de Greyhound Station (quem já pegou ônibus aqui sabe do que estou falando), ou de Rodoviária Novo Rio mesmo...

Tivemos que assistir ao filminho e a mensagem de boas-vindas do Barak. O mais legal são as frases ditas pelos novos cidadãos. Não sei bem o motivo, muitos deles eram de Honduras, então parecia que eu entendia exatamente o que eles sentiam, quando diziam-se gratos pela oportunidade. Por mais distante que isto esteja da minha realidade, consigo entender quando tem gente que realmente sai sem nada em busca do sonho americano. Gente que nem dinheiro para pagar coyote tem, que vem com 40 dólares no bolso e espera por um milagre. Muitos encontram desilusão, mas outros tantos conseguem enfim chegar aqui e depois de muitos anos vivendo como sub-espécie, enfim ganham direito a estar no país que escolheram viver. Finalmente podem chamar de pátria.

Olhei ao meu redor e me dei conta que este país aceita todo mundo mesmo... Tinha gente de todo o canto do planeta, de todas as idades, etnias, religiões, e classes sociais. Todos bem representados. Como diz a minha sogra, "Em 30 anos seremos todos morenos." Depois de ontem, acho que ela está mesmo certa. Seremos bem misturados -- morenos, marrons, negros, amarelos e até branquinhos...

November 23, 2010

Y así pasan los días

Hoje tem a tal prova da cidadania. Todo mundo diz que é fácil, mas pra quem lida com a imigração americana há quase 20 anos -- e todos os vistos possíveis e imagináveis que uma pessoa pode ter -- dá um alívio muito grande saber que esta pode -- e se Deus quiser vai -- ser a minha última interação com eles.

É incrível como facilitam a vida de quem casa com cidadão americano. Tudo bem que sou muito a favor da família, mas acho errado que um Zé Mané qualquer -- vide o pseudo-errorista da Times Square -- possa ter a cidadania americana em quatro anos só por ter casado (sabe-se lá que de fato ou não) com cidadão/cidadã americano/a e um profissional altamente gabaritado que paga seus impostos em dia e contribui para a sociedade fique a mercê de quotas por um simples green card. Tenho amigos que esperaram mais de dez anos e passaram altos perrengues para ter a residência e ainda têm que esperar mais ainda pela tal cidadania. Não acho justo, nem para eles nem para o país, que acolhe párias a torto e a direito e não tem como acolher intelectuais ou profissionais bem preparados.

Mas como não estou aqui para consertar o mundo, vou fazer o que me cabe para defender o meu e tratar de passar logo neste teste para não ter que me preocupar em mandar papel e pagar mais taxa para permanecer aqui. O Blake é que vai ter que se virar registrando o Joaquim tanto aqui nos States quanto nos Consulados/Embaixadas do Brasil e da Espanha, mas acho que não vai ser nenhum bicho de sete cabeças.

Amanhã chegam meus pais e quinta é Thanksgiving, então, como já está praticamente tudo pronto e eu completei 38 semanas ontem, o Joaquim sabe que a partir deste fim de semana, sua chegada está mais que liberada...

Até o carrinho está montado, mas aí já é assunto para outro post!

November 17, 2010

Mais vídeos educativos

Como acho que não vai dar tempo de fazer a aula de amamentação, peguei na biblioteca o vídeo que tinham me recomendado.

Como várias pessoas próximas tiveram muita dificuldade nesta fase queria estar mais ou menos preparada para a situação – ao mesmo tempo que estou 100% consciente de que na hora muda tudo!

Uma coisa que me intriga sobre estes vídeos é que eles escolhem pessoas estranhíssimas como personagens. Não quero julgar ninguém, mas ao assistir um vídeo educativo seria no mínimo interessante poder ver alguém, digamos assim, que se pareça com a gente, que esteja na média. Sou muito acostumada com esta turma alternativa até porque apesar de bem mainstream, sempre fui ligada em medicina alternativa, terapias holísticas e etc., mas assitir vídeos e mais vídeos onde os personagens principais parecem saídos de hospícios é dose!

A pergunta que não me sai da cabeça é “Se o objetivo do documentário é desmitificar a amamentação ou o parto normal, por que diabos escolhem os freaks para ilustrar o assunto?” Não tem ninguém na média, só povo hipongo que parece que perdeu o caminho de volta de Woodstock. O triste é que é difícil enxergar credibilidade numa coisa assim...

Bom, talvez seja este um novo nicho: usar presonagens relativamente normais, que trabalhem e tenham vidas bem medianas, como estrelas dos novos vídeos educativos para gestantes... Querem que a gente encare estas coisas como algo normal, mas tudo que se vê por aí – tanto nos vídeos educativos quanto nos reality shows (Kate Plus Eight, Octomom, the Duggars & cia.) é um verdadeiro circo.

November 16, 2010

Reta final

Cadeirinha de bebê devidamente instalada no carro do Blake, roupinhas lavadas, malas prontas e praticamente tudo preparado. Só faltam as mamadeiras e a lata de leite em pó just in case.

Sábado conhecemos as doulas de Johns Hopkins e elas parecem ótimas. Acho que vai ser legal ter alguém mais experiente e menos envolvido dando apoio moral na hora h. Não me importo em ter muitas visitas antes e depois, mas durante o nascimento, só quero minha mãe e o Blake. O único problema é que a minha mãe não sabe se vai aguentar e o Blake fica supertenso nestas horas. Está todo mundo achando engraçado o fato de eu estar supercalma e o Blake uma pilha. Vamos ver como vai ficar no final...

Acho que muitas decisões já foram tomadas e as outras vão ficar a cargo de Deus e dos médicos.

November 14, 2010

Customer Service Made in USA


Para ninguem dizer que so reclamo das coisas do lado de cima do equador, hoje queria elogiar um dos maiores tesouros destes pais: a politica de retorno da maioria das lojas, que e facil e agil.

Claro que o meu marido e a excecao da excecao e nao entende lhufas destas coisas por aqui. Alguem conhece americano que nao gosta de usar cartao de credito e nao e nem um pouco consumista? Apresento-lhes Blake Baron.

Bom, mas voltando ao assunto do post, o fato e que compramos uma baba eletronica, ou baby monitor, muito legal para o quartinho do Joaquim. Obviamente, pesquisamos muito ate nos decidirmos pelo modelo e depois pesquisamos mais ainda para encontrar o melhor preco. Alias, pesquisar e com a gente mesmo!

No final das contas, quinta-feira, econtramos o modelo que queriamos por um bom preco no Kohls online. Achei uns coupons e conseguimos quase $80 de desconto, entre preco final e frete. Maravilha! So que ontem a noite, recebi um catalogo pelo correio e um coupon que me dava alem de 30% de desconto, frete gratis e mais Kohls cash para gastar semana que vem, ou seja, uma economia de mais de $150, ou seja, no final das contas saindo quase pela metade do preco original.

Nem pensei duas vezes: decidi que ia a loja devolver o produto e comprar a mesma coisa usando o novo desconto recebido pelo correio. O Blake adorou a ideia, mas ficou meio confuso quando soube do meu plano mirabolante.

"Mas o que voce vai dizer ao vendedor? Que motivo voce vai alegar para retornar a mercadoria?," ele me perguntou curioso.

"Nenhum! E aqui nos States a gente precisa justicar alguma coisa?! Americano compra primeiro e decide se vai ficar com a mercadoria depois! E mania nacional," fui logo explicando.

Ele riu e apesar de nao dizer nada, entendeu que eu tinha toda razao. E tanto tinha que a fila do SAC estava ENORME! E como estamos nos United States of America, onde gravida nao tem direito a NADA, la ficamos nos -- eu, o Blake e a minha MEGA barriga de nove meses -- mofando em pe.

Ate que chegou a nossa vez e, para minha sorte, a atendente era uma simpatia. Tanto era, que eu decidi arriscar para ver se ela podia me ajudar. Em vez de retornar o produto para depois efetuar a compra online e esperar dias pela entrega, resolvi abrir o jogo.

"Gostei do produto sim, mas consigo comprar com voces mesmo por um preco bem melhor," respondi.

O Blake me olhou mortificado! Desta vez eu certamente tinha extrapolado os limites da cara de pau. Eu e minha lingua!

Mas foi entao que veio a grande surpresa para ele e a resposta esperada por mim.

"Entao voce quer levar este mesmo produto?" a atendente me perguntou.

"Exatamente, mas pelo preco mais baixo e com direito ao rebate," respondi.

"Nenhum problema," ela disse. E escaneou a mercadoria, depois fez o estorno e repassou meu cartao. Em menos de cinco minutos saimos de la com a mesma baba eletronica embaixo do braco e uns $150 a mais no bolso.

O Blake era um sorriso so. Eu idem... Com $150 a gente pode comrpar muita fralda!!!

E viva a politica de retorno made in USA!!!

November 11, 2010

Jonas Sisters



Lembro que desde pequena, quando assitia filmes, achava estranho quando as famílias americanas se reuniam e comiam depois de um funeral. Acho que para a maioria dos brasileiros enterro não combina muito com comida ou com coversas superficiais. Talvez pelo drama inerente a nós latinos, enterro é uma ocasião triste que a gente quer que acabe logo, quanto mais rápido melhor.

Aqui nos EUA, com a exceção dos judeus que enterram seus mortos muito rápido como nós brasileiros, a maioria das famílias leva ao menos uma semana para organizar o enterro dos entes queridos. Foi assim com a minha amiga Dawn, que faleceu no dia dois, mas cuja cerimônia fúnebre só acontenceu ontem.

Senti que tinha que ir. Não só por ela, que era de fato uma pessoa iluminada, mas por toda a sua família, pois me tornei muito próxima de seus pais e suas irmãs. A Dawn tinha uma irmã mais velha e outra mais nova, as duas maravilhosas como ela; deve ser genético, herdado dos pais.

Lembro que a empatia foi imediata, pois conheci Judy, sua mãe, antes de sequer ver a Dawn, que estava dormindo do quarto. Aos poucos fui conhecendo seu pai, suas irmãs e seus amigos. O que mais me impressionava era a unidade e a harmonia daquela família. E a fé, por pior que fossem as notícias, ninguém demonstrava desespero ou revolta. Jamais.

Acho que me vi um pouco na relação que a Dawn tinha com suas irmãs, que apesar de morarem em outros estados (a mais velha no Alabama e a mais nova na California), jamais saíram de perto da irmã doente. E apesar das circunstâncias tão difíceis estavam sempre felizes por simplesmente estarem juntas. Uma das enfermeiras resumiu bem quando disse que a cada vez que entrava no quarto de Dawn se sentia como convidada de honra numa festa do pijama. “Sente nesta cadeira aqui que reclina; a sua é muito dura. Quer chocolate? Coca-cola? Pega um bolo que a mamãe trouxe pra gente! E aí, como vai o trabalho?” A preocupação delas era sempre com a convidada! E a gente se sentia em casa imediatamente.

Ontem, ao olhar as fotos delas, desde bebês até os dias de hoje, foi difícil segurar as lágrimas, pois as Jonas Sisters nunca mais serão três...estarão para sempre desfalcadas, pelo menos por aqui. E isto dói. É complicado imaginar que a Dawn não está mais presente, pois apesar da gravidade da doença, ela nunca parecia frágil, nem física nem emocionalmente, embora ao mesmo tempo demonstrasse que estava pronta para cumprir sua missão, mesmo que significasse partir.

Na última vez que nos vimos, quatro dias antes dela falacer, eu tinha acabado de fazer a minha utra e ela e sua mãe foram as primeiras pessoas a ver as imagens. Ficaram genuinamente emocionadas e felizes... E eu ali pensando de onde tiravam este sentimento, diante de tamanho sofrimento que havia se abatido sobre elas. Não sei explicar como, mas a alegria delas por mim era real, impressionantemente real,e eu me sentia muito bem de estar ali, entre amigas.

Como disse o padre na homilia, as missas fúnebres são para os vivos, não para os mortos, pois nos dão uma oportunidade de refletir, de pensar, de fechar um ciclo. Acho bacana o modo como o americano encara a “celebração da vida de alguém que nos deixou,” no caso da Dawn, cedo demais, aos 36 anos. Ao chegar a igreja, muitas fotos dela e da família, um laptop com clipes e momentos felizes vividos por eles. Parecia que ela estava mesmo ali.

Durante a missa, minha echarpe virou lenço e a cada informação nova, eu ficava mais emocionada. Os pais de Dawn optaram por cremar a filha e guardar suas cinzas em casa para que sejam enterradas com quem partir primeiro, Judy ou Clyde. A razão deles? “Jamais deixamos nossa filha sozinha em vida e não vamos abandoná-la na morte.” É de cortar o coração ou o que? Verdade seja dita, ao contrário da maioria dos doentes, Dawn nunca passou um minuto sozinha...e sempre foi muito grata por isto. Ao mesmo tempo, era muito fácil ficar ao lado dela, sempre positiva e feliz.

As palavras finais do padre me emocionaram demais, e como boa brasileira, só pensava em sair correndo para o carro para chorar sozinha, mas fiquei para dar um abraço nos pais e nas irmãs dela. Para minha surpresa, foram eles que me consolaram, dizendo que a Dawn tinha passado mal rezando o terço ao lado do pai e que depois disso tinha perdido a consciência.

“Sou grata por ela ter tido uma morte rápida e, espero, indolor,” me disse DeeDee, a caçula, que descobriu-se há pouco grávida de seu primeiro filho. A data provável do parto? Duas semanas depois do aniversário de Dawn, mas de acordo com a tradição da família, todos os bebês nascem com duas semanas de atraso. “Esta história de ciclo da vida me pregou uma peça desta vez,” me confessou a minha amiga, “mas tenho certeza que tudo vai fazer sentido no final.” Eu também, DeeDee, eu também.

É difícil explicar como há pessoas que nos tocam tão profundamente ainda que num tempo tão breve. Com a Dawn foi assim, não só com ela, mas como toda sua família. Como todo ser humano egoísta, me vi um pouco ali, na situação deles. E apesar de tantas diferenças, vi que o laço de amor que une algumas famílias americanas, brasileiras ou japonesas é o mesmo e tem a mesma intensidade.

A Dawn partiu cedo demais, mas enquanto esteve por aqui teve realmente uma existência singular e iluminada. Quando já achava que ela era especial demais, me contaram seu último desejo: Dawn quer que a casa onde ela morava sozinha seja doada para um de seus melhores amigos. Na verdade, ela era muito amiga de um casal que teve uma filha, mas recentemente se separou. Como a grana é curta, o pai alugou um apartamento no mesmo condomínio para ficar mais perto da filha pequena e poder vê-la todos os dias. Detalhe: eles moram no mesmo condomínio que a Dawn morava e ela pediu para que a casa fosse doada a eles, para que o pai pudesse ter uma vida mais confortável ao lado da filha...

Digam se uma pessoa destas não é um anjo que esteve de passagem na Terra? Sofrendo horrores, durante 14 meses, depois de três transplantes de medula sem sucesso, além de deixar os pais numa situação financeira muito confortável, se sensibilizou com os problemas familiares de um casal de amigos.

O mundo é hoje um lugar mais triste. O céu certamente está em festa.

November 9, 2010

Forma de Bola


Cada dia fica mais difícil achar uma roupa – seja pra trabalhar, ir ao supermercado ou o que seja. Acho que vou ter que me conformar e usar os mesmos vestidos e leggings nas próximas quatro ou cinco semanas. Sim, pois me recuso a comprar qualquer coisa de gestante nesta altura do campeonato!

Não estou reclamando da vida, muito pelo contrário, só fazendo uma constatação. A gravidez tem sido tranquila, até a azia que estava me chateando um pouco resolveu dar uma trégua, graças a Deus não inchei nada, minha pressão não subiu, nem a glicose e o ganho de peso tem ficado dentro do esperado. Para uma “mãe em idade avançada,” dei muita sorte. Aliás não me conformo muito com a minha idade cronológica, me sinto e me acho muito mais nova... Por outro lado, a minha octagenária avó sempre me disse isto, então devo estar ficando velha mesmo!

Mas voltando ao tema do post, nada pode ficar bem ou chique numa pessoa cuja barriga mede 36 cm!!! Comprei uma túnica foférrima três semanas atrás para usar no chá de bebê com uma legging – Deus abençoe quem inventou as leggings e mais ainda quem decretou a volta delas este ano!!! Quem disse que consegui?! A tal túnica que estava larguinha em meados de outubro, está apertada e estamos falando do início de novembro!

Acho que tenho que me conformar mesmo...já avisei pra galera do trabalho, que está longe de ser a “fashion police” pra pegar leve até o mês que vem. Acho que vou empacotar o resto do meu armário! Dá agonia olhar tanta roupa sem nenhuma serventia...

Bem que já tinham me dito que as modelos nos catálogos de roupas de gestante ou não estavam grávidas ou estavam no máximo no quinto mês. Faz muito sentido!

November 7, 2010

Mais fotos do Chá...Tudo Azul!





Chá de Bebê







Acima algumas fotos do chá de bebê de ontem. Quem aparece sempre aqui deve estar se perguntando se o chá já não foi outro dia... A resposta é que o chá de ontem foi o terceiro da série. As normas de etiqueta americanas são um pouquinho diferentes do que a gente está acostumada no Brasil. Se aqui é considerado faux pas alguém organizar o próprio chá, seja ele de panela ou de bebê, por outro lado não há limites de quantas festas alguém pode receber. Para minha surpresa, no meu caso serão quatro! Tribos diferentes, agendas ocupadas e muita felicidade!

O primeiro chá de bebê foi organizado pela família do Blake, na casa da minha sogra, e foi bem bacana. O segundo foi supresa para o Blake, já que foi todo organizado pelos colegas de trabalho dele. O terceiro foi planejado por uma amiga minha e reuniu praticamente minhas vizinhas e colegas de trabalho -- uma vez que já tive vários empregos desde que cheguei aqui. E esta semana, as minhas amigas de trabalho que não puderam vir aqui ontem vão organizar alguma coisa. Não sei muito bem o que vai ser, mas estou contente, nunca vi uma criança tão festejada como o Joaquim.
Aliás nunca festejei tanto quanto semana passada. O meu aniversário que seria bem low profile acabou sendo comemorado a semana inteira, desde o almoço de segunda até o happy hour de sexta. A galera do trabalho é animada. (Interessante vai ser ver quanto estou pesando amanhã, já que ontem à noite passei a usar as calças de pijama do Blake!)

Antes que me esqueça, o adorno que tenho na cabeça também faz parte da tradição americana: os laços e papéis de presente são todos colados num prato de papel que vira chapéu. Nem me perguntem o porquê!

November 4, 2010

Banco de Cordões Umbilicais

Em mais uma das decisões que temos que tomar antes do nascimento do Joaquim está a preservação do cordão umbilical. Ao contrário da tendência no Brasil, onde quase todos os meus amigos armazenaram o sangue do cordão cumbilical dos filhos, aqui nos States ninguém que eu conheço teve a mesma atitude e até mesmo os médicos se mostram reticentes quanto ao assunto. “É uma como uma apólice de seguro, uma aposta. Até agora não há nada provado,” sempre me dizem quando pergunto.

Numa das discussões sobre o assunto no curso de gestantes, alguém sugeriu uma outra alternativa: doar para um banco público de cordões umbilicais. Achei a ideia legal, pois além de contribuir para um bem maior, supostamente eles poderiam localizar o seu material específico em caso de necessidade.

O Blake começou as pesquisas e tivemos duas surpresas: não há nenhum hospital cadastrado para fazer este tipo de procedimento em Maryland e eu, por razões de saúde, não posso ser doadora! Tendo em vista o novo cenário, me pus a pensar...se meu material não é bom para os outros, também não deve ser bom para o meu filho...
Ainda preciso conversar melhor com os médicos e bancos, mas se isto for mesmo verdade, vou ficar até mais tranquila com a decisão de não armazenar...

Mudando um pouco de assunto, mas ainda no tema de transplante, soube anteontem que a minha amiga Dawn faleceu. O mais inacreditável e que na quinta-feira passada, quando soube que ela tinha voltado para o hospital, decidi passar lá para vê-la e ela estava ótima! Muito bem disposta, falante, se levantando e andando sozinha, cheia de energia.

A Dawn tinha feito três transplantes mas a leucemia jamais tinha dado trégua. Apesar disto, ela nunca perdeu o senso de humor e a fé. Ela morreu rezando o terço depois de se sentir mal, já em casa. A família diz que apesar de surpresa com a morte repentina – todos sabiam da gravidade do caso, mas ultimamente ela tinha tido uma boa melhora – se sentem aliviados por saber que ela não sofreu. Foi uma luta árdua que durou 14 meses e por incrível que pareça nem uma vez ouvi Dawn ou alguém da família reclamar de coisa alguma... Toda vez que os vi, estavam otimistas e felizes em me ver.

A Dawn foi a primeira pessoa a ver as imagens da última ultra do Joaquim e ficou superfeliz por mim... Me confessou também que sua irmã tinha acabado de saber que estava grávida e que o bebê ia nascer pertinho do aniversário dela... Nestas horas acho que nada acontece por acaso.

Foi bom tê-la visto em um dia tão bom e especial, pois é esta a imagem que vou guardar dela... Mais um anjo no céu.

November 3, 2010

Chá de Bebê




Uma das coisas que mais me chama atenção por aqui é o envolvimento masculino quando o assunto é filho. A grande maioria dos pais americanos leva muito a sério o papel e tem uma participação enorme na educação e na criação dos filhos. Esta história de pai ter papel coadjuvante aqui não existe, pai é protagonista de primeira.

Muitas dicas valiosas que recebi vieram de homens! O meu chefe é ótima fonte de conhecimentos recentes -- foi ele que me disse para não empatar dinheiro numa bomba de leite caríssima e em vez disto, se tiver interesse, alugar uma do hospital, pelo menos para experimentar.

O conhecimento deles também é amplo, vai desde técnicas para colocar a criança para dormir, até as vantagens (?) de armazenar o cordão umbilical depois do parto. Acho isto muito legal e confesso que o apoio e a participação ativa do Blake me deixam bem mais confiante e tranquila.

As fotos são do chá de bebê que os amigos fizeram para ele no trabalho. Apesar de ter sido organizado por mulheres, os homens tiveram participação importante na divisão de tarefas... E viva a igualdade entre os sexos! (Até certo ponto!)

November 2, 2010

Se estiver passando pelo inferno, siga em frente

“If you are going through hell, keep going.”
Winston Churchill

Outro dia procurando uma frase para o nosso cartão de Natal aqui do trabalho, acabei esbarrando com esta máxima do Premier Britânico Winston Churchill. Sei que ele é muito admirado por sua tenacidade e seu bom senso, mas eu nunca fiz nenhuma pesquisa a fundo para conhecer melhor sua história. Mas só com esta frase ele me ganhou!

“Se você está passando pelo inferno, siga em frente” (na minha tradução livre) não poderia ilustrar melhor o que me aconteceu nos últimos anos quando nada parecia dar certo. Quando me lembro desta mesma época ano passado, sinto até arrepios. Parecia que nada engatava: saí de um emprego horrível para outro pior, e mais longe; tentava sem sucesso engravidar e não encontrava nem motivos nem respostas para meu fracasso; conseguir autorização para o tratamento de FIV foi uma novela; e ainda por cima tivemos o pior inverno do século e minhas injeções ficaram retidas no meio do caminho... Sinceramente foi terrível! E como as coisas já não vinham muito bem desde a minha chegada aqui, tudo parecia maior do que realmente era. Uma escuridão só.

A sensação que eu tinha é que tinha virado escrava de sei lá o que, que a minha vida não me pertencia mais, que eu não tinha saída, que tinha me enterrado de vez num buraco só. Quando cheguei do Brasil em meados de janeiro já estava desanimada, com a entrada de fevereiro então as coisas só pioraram... o sentimento de aprisionamento era simplesmente insuportável e o as pessoas mais chegadas percebiam isto até pela minha voz.

Até que um belo dia, por puro desespero, resolvi tomar as rédeas da minha vida de uma vez. Mandei os loucos do meu emprego para PQP e me senti nas nuvens! Apesar de não ter nenhuma carta na manga ou outra oferta de emprego, o medo de ficar sujeita às loucuras de poucos incompetentes era maior do que o de ficar sem grana ou sem trabalho. A perspectiva de manter a minha sanidade era tentadora... (Claro que sabia que poderia contar com a minha família, mas convenhamos que na minha idade isto não seja motivo de orgulho para ninguém.) Cortei as amarras e me senti maior do que todos aqueles nanicos ignorantes. Mostrei a eles quem precisava de quem.

Como se num passe de mágica, no dia seguinte descobri o caminho do arco-íris. Fui chamada para uma entrevista, pouco depois recebi uma boa oferta e uma semana depois meu maior sonho se realizou: meu exame de sangue não deixava dúvidas -- finalmente estava grávida!

O tratamento tinha dado certo na primeira tentativa! Me lembro que custei a acreditar... Dias antes, conversava com Deus, meio incrédula, e pedia que ao menos um dos milagres se realizasse, que eu conseguisse um emprego bacana ou que eu engravidasse, pois pedir as duas coisas seria demais. Nas minhas barganhas divinas, pedia a Deus que se pudesse me conceder um desejo, então que fosse a gravidez, que com o trabalho eu me virava depois...

Mas ele deve ter ficado com muita pena de mim, pois resolveu que iria me ajudar 100% e cá estou eu hoje: num trabalho bacanérrimo e grávida de 35 semanas, curtindo uma gravidez que foi simplesmente perfeita, mesmo sendo eu uma “mãe em idade avançada”. Como o trabalho é muito legal e flexível, o plano é ficar por aqui até o Joaquim mandar parar... O melhor é saber que se eu precisar, posso trabalhar um pouco de casa ou tirar um dia ou outro para descansar. paz de espírito não tem preço; isto eu atesto!

Espero ter definitivamente deixado o inferno para trás, mesmo assim, estou decidida a seguir em frente...desta vez com menos pedras no caminho.

November 1, 2010

Aniversário

Desnecessário dizer que este está sendo o melhor aniversário do mundo... São dias assim em que a gente percebe que o que mais importa no mundo são as pessoas que nos cercam, mesmo de longe. Festa no trabalho, montes de emails, telefonemas e mensagens de amigos, alguns dos quais não tinha notícias há séculos, outros com quem falo sempre. Todos muito especiais!

O melhor presente ainda está dentro de mim e, mesmo correndo o risco de ser piegas, digo convicta que nada material pode se comparar a um sonho realizado.

Vou continuar festejando...por pelo menos mais cinco semanas...e depois pela vida inteira!