July 31, 2009

Achei!

Esta semana achei uma mulher de 31 anos que retirou um tumor do fígado muito parecido com o meu e não foi transplantada! Fiquei feliz porque nunca tinha conhecido ninguém com um caso tão parecido com o meu: faixa etária, sexo, tipo de câncer, localização, tratamento, etc. E muito importante, ela está viva e bem.

Bom, na verdade, quem me achou foi ela através de um comentário que eu tinha feito no Facebook há mais de um ano. Ela me mandou um email tímido, me contando sobre seu caso e dizendo que entenderia se eu não quisesse mais falar do meu, já que o post era antigo.

As palavras dela poderiam ter sido escritas por mim. Seus medos e incertezas também são os meus. A cirurgia dela aconteceu em abril deste ano, então atualmente seu maior medo é de uma recidiva. O engraçado é que ela ouviu as mesmas estatíticas que eu, as mesmas pesquisas, as mesmas ponderações. Até as palavras da família são as mesmas “Você é sobrevivente! Você venceu e esta porcaria não vai voltar mais.” Quiséramos nós que nossas famílias e nossos amigos tivessem o dom de prever o futuro ou de evitar o nosso sofrimento...

Acho que ao me contatar, Anna estava esperando que de alguma forma eu pudesse lhe oferecer a certeza de uma vida longe da doença e do sofrimento e a garantia de que este seria um capítulo encerrado na sua existência. Só que o grande problema é que esta certeza que ela procura, nem eu mesma tenho.

Estaria mentindo se negasse que tudo que mais queria no mundo era a certeza absoluta de que a doença jamais iria me importunar, nem no meu fígado, nem em qualquer outro órgão do meu corpo. Já busquei estas respostas nos médicos, nos laudos, nas pesquisas, e em tantos outro pacientes, mas aos poucos fui aprendendo que jamais vou obter este tipo de afirmação. E mais, vou ter que aprender a viver sem ela.

Não era o que eu queria para mim, mas é o que me cabe e não me resta mais nada a fazer a não ser aprender a lidar com isto. Claro que qualquer um pode dizer que não se pode ter certeza de nada, que a doença ou a tragédia podem fazer parte da vida de todo mundo, mas a sensação de já ter passado por algo terrível que pode voltar a qualquer momento é simplesmente aterrorizante e só quem já passou por isto pode entender. Por outro lado, não vou viver a minha vida com medo do que me espera, mas não posso dizer que este incômodo companheiro de viagem não me assusta, uns dias muito mais do que outros.

O tempo alivia mas nunca apaga, eu sei disso. A dor de perder alguém que amamos, o desespero da descoberta de uma doença muito grave, a agonia do não saber...tudo isto faz parte da nossa jornada, mas marca a gente demais e deixa cicatrizes profundas que com o tempo ficam menos visíveis, mas nunca esquecidas.

A Anna, minha mais nova amiga da Florida, diz que a minha história serve de inspiração para ela. O que ela não sabe é que o bem estar dela me traz um conforto absurdo. Acho que deve ser puro egoísmo.

July 30, 2009

Não me chame!

Se você tiver um projeto muito bacana, principalmente que envolva crianças carentes ou jovens doentes, não me chame. Se precisar de alguém que trabalhe horas e horas durante a semana e nos fins de semana sem receber um tostão sequer, por favor, não me chame. Se quiser alguém para contar um história triste e pedir dinheiro para o seu projeto que vai mudar vidas, pelo amor de Deus, não me convide, pois corre o sério risco de eu aceitar!!!!

Tem gente que diz que depois da doença fica mais duro, mais seletivo, mais objetivo. Pena que isto não aconteceu comigo! Depois da doença virei manteiga derretida! Quando chegam envelopes pedindo doações para as zilhões de organizações de caridade na minha casa -- sim, nos EUA chegam vários todo dia, o Blake chega ao ponto de esconder de mim, pois se deixar, eu ajudo todo mundo. Se não puder ajudar financeiramente, entro pro time que faz trabalho pro-bono, compro rifa, ingresso para evento, sei lá, dou um jeito.

Claro que não estou querendo me transformar na próxima Madre Teresa, muito pelo contrário, mas é que este meu coração mole acentua ainda mais uma das minhas piores qualidades, a desorganização, a mania de fazer tudo ao mesmo tempo e tentar sempre dar um jeitinho de fazer mais alguma coisa.

Resultado: trabalho o fim de semana todo, à noite depois de chegar do trabalho e na hora do almoço! Fico morta! Tudo bem que muita gente até sente complexo de culpa por não fazer o suficiente pelo próximo ou por ganhar muita grana ou por trabalhar numa empresa cujo produto pode prejudicar alguém (tipo fábrica de cigarros, salão de bronzeamento). Mas felizmente este não é o meu caso! O meu trabalho é o máximo, já que nossa missão é "eliminar as disparidades em saúde". Sei que isto aqui é um hospício, mas a única prejudicada sou eu! Então pensando friamente a minha dívida com o próximo deveria estar mais que cumprida. Mas não está e percebo isto sempre que me chamam para algum projeto muito bacana mas que é complicado e ninguém quer fazer. Aí vou, salto de cabeça, não só pelo meu austruísmo, mas pelo sabor do desafio. Desafio que muitas vezes me deixa com os nervos à flor da pele.

Então a minha prioridade para 2010 (sim, porque 2009 já quase acabou e estou ainda com MUITOS projetos em andamento!) é me concentrar em poucos mais bons projetos que idealmente me gerem alguma graninha, pois se depender do que fiz em 2009, estou com muito crédito com Ele lá em cima!

Mas como 2009 aindanão acabou, deixa eu sair correndo para uma reunião sobre o website do Cancer Center aqui de Maryland, na minha eterna qualidade de voluntária!

July 29, 2009

INCA PEDE SOCORRO

Este é um alerta e um pedido a todos que moram no Rio.

Para quem não sabe, o INCA - Instituto Nacional do Câncer - fica na Praça da Cruz Vermelha, no Centro do Rio).

Este centro nacional e referência no tratamento do câncer não tem sangue, nem doadores. Apesar de notícias na mídia, a situação só se agrava. O Instituto Nacional do Câncer - INCA - está precisando urgentemente de doadores de sangue.

O banco de sangue está quase vazio e o Hospital enfrenta dificuldades, até para marcar cirurgias, muitas vezes, precisando recorrer a outros bancos de sangue da cidade, que também passam pela mesma dificuldade: falta de doadores.

A transfusão de sangue para pessoas com câncer é muito importante. Sem ela, muitos pacientes não conseguiriam sobreviver aos tratamentos que envolvem drogas pesadas. Para doar, basta chegar na portaria do Hospital com sua carteira de identidade ou qualquer documento similar, apresentando-se como doador.

NÃO vá em jejum, alimente-se de coisas leves e não gordurosas, evite o álcool por pelo menos 12 horas.

Você deve estar em boas condições de saúde, ter entre 18 e 60 anos e pesar 50kg ou mais.

A mulher pode doar a cada 3 meses e o homem a cada 2 meses.
Esta mensagem pode alcançar muitos doadores, se você enviar agora para outros endereços.



Por favor, colabore. Faça a sua parte!

July 28, 2009

Fashion Victim



Se tem uma peça no vestuário feminino que eu ADORO é a tal saia lápis, chamada de pencil skirt por estas bandas. Acho chiquérrima! Não posso ver uma que já me imagino dentro dela. Ainda mais se for preta, me passa uma coisa de glamour, meio francesa, sei lá, adoro!

O único problema é que para quem tem cintura fina e a derriere avantajada como eu, a tal da saia lápis é o tipo da roupa que não favorece, pois fica larga na cintura e apertada no quadril, o que acaba num irritante e eterno estica-e-puxa.

Mas como sou teimosa e brasileira e não desisto jamais, ano passado comprei uma. Justo no dia da estreia tive que andar pra caramba. Desnecessário dizer que fiquei irritadíssima e louca de vontade de voltar pra casa e trocar de roupa. Mas aguentei firme até o final do expediente. Vida de peão é assim mesmo. Nunca mais me atrvei a usar a tal da saia. Mas talvez fosse só aquele modelo, que ainda por cima era de cintura alta.

Meses depois, vi um modelo lindo que a minha irmã e a minha mãe tinham comprado. Caí na choradeira e enchi tanto o saco das coitadas que a Andressa não aguentou e acabou voltando na loja para me dar uma de presente. Minha mãe trouxe quando veio aqui em abril. Adorei e fiquei só esperando uma boa ocasião para usar.

Já tinha usado a saia uma vez para ir a uma reunião. O percurso era mínimo e bem básico: carro, estacionamento, reunião, carro, casa. Resolvi arriscar. Claro que a danada ainda continuou subindo e se torcendo, mas como passei a maior parte do dia sentada, tudo bem. Passamos no teste!

Pois hoje de manhã, sem nenhuma inspiração na hora de me vestir, troquei de roupa trocentas vezes e acabei me arriscando a usar a tal saia, mesmo sabendo que caminharia bem mais.

Mudei de roupa rápido, entrei no carro, levei o dobro do tempo pra chegar ao trabalho, graças a uma obra na rua perto da Universidade, estacionei meu carro, saí correndo para tentar diminuir o atraso, quando, já prestes a atravessar a rua, na saída do estacionamento, escuto uma senhora me chamar. "Senhorita, senhoria!" Olhei pra trás supresa, sem fazer ideia do que ela queria. "Tem um furinho na sua saia. É bem pequeno, mas acho que pode aumentar," ela me alerta.

Olhei pra trás para conferir e o danadinho estava mesmo lá, pequeno mas estrategicamente localizado... E agora? Pensei e resolvi voltar para o carro. Na dúvida se deveria ir ao shopping ou voltar pra casa, entrei correndo no carro para me livrar de vergonha maior. Eis que escuto um barulho 'yack!', agora era a fenda da saia que tinha aberto de vez! Mais um movimento e eu estaria praticamente nua! Socorro!

Era o sinal que precisava para voltar imediatamente para um lugar seguro, o meu amado lar! Onde provavelmente passarei o resto do dia trabalhando, pois enfrentar mais uma hora de engarrafamento pra chegar ao trabalho pela segunda vez ao dia, ninguém merece! Acho que vou colocar uma calça de stretch bem confortável pra passar o dia aqui na frente do computador. Adeus saia lápis! Pelo menos por uns tempos...

July 27, 2009

Brüno

Pouca gente sabe, mas um dos meus filmes favoritos é Borat, escrito e estrelado pelo engraçadíssimo Sacha Baron Cohen, que apesar do nome não é parente do Blake. Sempre que estou triste, assisto o filme e caio na gargalhada!

Ele mistura um humor de banheiro, pastelão e uma crítica sempre muito engraçada, mas sem ser ofensiva, aos EUA.

Mas como todo mundo sabe, o Borat morreu e o novo personagem de Sacha é Brüno! O filme já estreiou nos EUA mas ainda não tive tempo de ver. Só pelo trailer já dá praver que vai render ótimas gargalhadas.

Lilian

Hoje de manhã recebi um texto/SMS da Lilian. Só duas palavrinhas. "Thank u." Acho que ela ainda está no hospital mas não faço ideia do estado de saúde dela, que preferiu ficar reclusa depois de receber a terrível notícia das metásteses no cérebro. Ela, que depois da químio e da cirurgia do intestino, tinha achado que bastava a outra cirurgia no fígado, está sendo submetida a um terrível tratamento de radioterapia.

Não tenho detalhes, pois desde que soube disto ela preferiu que não fossemos mais vê-la. Antes de ir pro Rio escrevi para ela dizendo que gostraia de fazer uma visita antes da viagem mas não queria ser incoveniente. Ela me pediu apenas que rezasse. Entendi o recado.

Desde que voltei, tenho mandado emails para ela, mas acho que ela não tem acessado a internet. Resolvi mandar um torpedo no fim de semana e ela me respondeu hoje.

Queria poder ajudar mais, mas eu, mais do que ninguém, sei que em alguns momentos muito ajuda quem pouco atrapalha. Eu gosto de gente, sempre pedi muitas visitas no hospital e em casa, sinto que a energia das pessoas que me amam me alimenta, mas entendo que alguém se sinta incomodado de ter que falar a toda hora sobre algo tão dolorido. É muito doloroso encarar esta realidade de frente. É quase impossível.

Então fico aqui, pensando e rezando muito pela Lilian, uma jovem mãe muito especial que passa por momentos muito difíceis. Embora saiba da gravidade do caso, tenho esperança de notícias melhores. Quem sabe em breve?

July 26, 2009

Nunca é Fácil

Umas semanas antes da minha viagem ao Rio, ajudei a Elizabeth a recrutar pacientes para uma palestra sobre transplantes e cânceres sanguíneos. Assunto terrível pra nós duas que tínhamos acabado de perder o Todd.

Só de entrar naquela unidade de TMO me deu calafrios. Tudo ali me lembrava morte -- as enfermeiras, os aparelhos, os médicos, os fios, os barulhos e os quartos -- um cenário muito triste. Pela primeira vez, entrei lá sem destino certo. Desta vez, tivemos autorização de entrar em outros quartos e de conhecer outros pacientes. Como a palestra era paras pacientes de leucemias e linfomas de todas as idades, acabamos por ampliar nosso público, quase sempre jovem.

Primeiro perguntamos aos médicos e enfermeiras quais pacientes poderiam deixar o leito já que a palestra seria no primeiro andar do hospital. De posse desta informação, nos dirigimos a vários quartos e conhecemos várias pessoas bacanas. Ao andar por aquelas alas a sensação era de que eu estava no corredor da morte e de que qualquerum que cruzasse meu caminho talvez não estivesse mais lá dentro de pouco tempo.

Entramos num dos quartos maiores, sentado na cadeira, vimos um homem de seus sessenta e tantos anos. "Alguém pode me informar onde eles guardam a cerveja por aqui?," ele nos perguntou sorrindo. "Olá, sou Roger Meyers, e vocês quem são?" Nos apresentamos a ele que continuou a mostrar bom humor "Já falei pra eles que sem birita não vai dar pra ficar aqui não...este negócio de ficar sentado o dia inteiro é muito chato!" Perguntamos se ele queria assistir a palestra, mas ele foi logo dizendo que estava esperando visita. "Claro, chamei todo mundo pra me visitar aqui e ver se o tempo passa mais rápido!"

Roger também nos falou rapidamente sobre a doença, mas uma frase sua me marcou bastante. "Antes em mim do que num jovem, como vocês. Já tenho 67 anos e tive uma boa vida, se é este o preço a ser pago, tudo bem. É justo."

Meus olhos se encheram de lágrimas. Logo eu, que vivo levantando a bandeira dos pacientes jovens... Mas de alguma forma a afirmação dele não me parecia correta. Um homem de 67 anos é jovem também! Ele tem quase a idade do meu pai e de forma alguma acho que o ciclo dele está completo. Ainda há tanto a fazer... Claro que entendo a afirmação dele, mas preferi pensar que em pacientes mais velhos o câncer é menos agressivo e que estes tem mais chances de cura. Longe de mim querer organizar a fila da morte!

Mas Roger estava mesmo disposto a não deixar a tristeza tomar conta dele. "Olha, estou preparado para o que der e vier. Por enquanto estou fazendo os tratamentos pré-transplante," ele explicou. Logo perguntei, "Você já tem doador?" Ele sorriu de novo, "Pois é, eu tenho 14 irmãos e irmãs, então os médicos me disseram que as chances de algum deles ser compatível são de 300% e por isto estou tranquilo," ele mais uma vez respondeu sorrindo.

Muito embora eu saiba que em medicina e, especialmente ao se falar de câncer, 300% de chances é coisa que não existe, naquele momento me convenci que Roger estava certo. A coragem daquele homem era contagiante e seu jeito de bem com a vida faria qualquer um sorrir.

Além dele, naquele dia encotrei outras pessoas na mesma situação, mas de novo nenhuma delas estava disposta a entregar os pontos. A minha posição era difícil, pois eu sabia a longa caminhada que cada um deles teria que fazer, mas depois de conversar com Roger e com os outros pacientes que me pareciam pessoas tão boas e resignadas, decidi que a minha esperança também não poderia morrer ali.

Não vi mais o Roger, pois ainda não voltei à unidade de TMO, mas do fundo do meu coração espero que não só um, mas vários de seus irmãos sejam compatíveis e possam ser doadores. Apesar de só tê-lo visto uma vez, ficou a impressão de que o mundo seria um lugar muito mais triste sem ele. Espero que dentro de pouco tempo ele possa sair do hospital para tomar uma cerveja bem geladinha!

July 24, 2009

O que Vem Depois

Ontem à noite finalmente tomei coragem e liguei para a Carmi. Queria deixar passar um pouco de tempo antes de falar com ela, deixar que a poeira se assentasse um pouco. Mas acho que no fundo queria mesmo era criar coragem, afinal o que dizer a uma mãe que perdeu o filho há pouco?

Tinha algumas coisas que queria muito dizer a ela, outras que queria perguntar, mas achei por bem esperar um pouco. Desde aquela manhã chuvosa em junho, foi a primeira vez que falei da ausência do Todd com ela. Muito embora eu tenha sido uma das primeiras pessoas a ver seu corpo sem vida, acho que no meu inconsciente ficou registrado que o Todd tinha voltado para casa, em Iowa para continuar a vida dele e realizar os tantos sonhos que ele tinha. Quando sentia a ausência dele e da Carmi naquele hospital, me fazia pensar que eles tinham voltado para as suas vidas de antes e que estavam muito felizes. Era meu mecanismo de defesa.

Mas ontem tive que finalmente encarar a verdade, a dura realidade da morte prematura de um jovem gentil e corajoso de apenas 28 anos. Pela primeira vez, ao ligar para a Carmi, a pergunta não foi “Como está o Todd?” mas sim “Como vai você?” E ela, com a sinceridade de sempre, me disse “Não vou bem não. Tenho dias melhores que outros, mas o vazio é enorme. Tenho tido dificuldade até em rezar. As noites são particularmente difíceis pra mim. As perguntas não me deixam em paz. Será que eu poderia ter feito mais? Será que houve algo que não percebi? Hoje recebi o atestado de óbito dele, mas um tapa na cara, mas uma incômoda lembrança da realidade de que não tenho mais meu filho comigo.”

E o que a gente diz numa hora destas? Não há consolo para estas coisas. Só pude dizer a ela que ela foi a melhor mãe do mundo e que fez tudo e mais um pouco. Disse a ela também que apesar da curta estadia dele aqui, o Todd fez muito, muito mais do que muita gente que viverá até os 80 anos vai fazer. Ele tocou o coração de pessoas que sequer o conheceram e amoleceu o coração já calejado de tantos médicos e enfermeiras. O Todd foi e será sempre especial, deixando um legado enorme de lições que vou levar pra sempre comigo. Ele me ensinou muito sobre generosidade, sobre amor ao próprio e sobre esperança. Até o final quis ser voluntário nas pesquisas clínicas “Quem sabe eu ajudo e um dia eles descobrem a causa e a cura para a leucemia?,” ele sempre dizia.

As pessoas são diferentes e encaram os problemas de diversas maneiras. Semrpe achei que as mais frágeis fossem os casos mais complicados, mas tenho visto que são as pessoas mais estoicas, mais firmes, as que precisam mais de colo, pois na verdade elas sequer sabem pedir socorro. A Carmi se encaixa perfeitamente no segundo grupo, é tão forte e tão preocupada com os outros que às vezes acaba esquecendo de si mesma.

Depois de alguns minutos ela confessa que está vivendo o luto de uma forma muito intensa. “Não perdi só o Todd. Eu agora não tenho mais vocês ao meu lado para me dar força,” ela diz, se referindo a Elizabeth e a mim. “Vocês foram a minha família durante todos estes meses e agora estou aqui sozinha. Pouco tenho visto minhas amigas de longa data, ainda não consigo sair por muito tempo. Vejo a Angie sempre, mas ela está sofrendo muito e não raro quem tem que consolá-la sou eu,” Carmi me explica com a voz embargada.

Pela primeira vez contei à Carmi sobre o blog e disse a ela que as muitas pessoas no Brasil que rezavam pelo Todd agora rezam por ela. É inacreditável quantas pessoas me perguntaram sobre eles durante a minha visita ao Brasil. Disse a ela também que o Todd apesar de tudo teve sorte de vir ao mundo cercado de tanto amor. É claro que muito disto era mérito dele, mas ele teve sorte de ter pais e irmãos que não mediram esforços para estar junto a ele, o que infelizmente não acontece com todo mundo. Ela concordou. Prometi à Carmi que ficaria em contato e que se por algum motivo visitasse o meio-oeste americano, avisaria a ela, que prometeu me encontrar.

Consegui conter minhas lágrimas durante a meia-hora que conversei com ela, mas ao desligar o telefone, desabei. Acho que pela primeira vez, desde aquela fatídica quinta-feira, entendi que meu amigo não está mais aqui. Nem aqui, nem em Iowa, nem em nenhum lugar onde eu possa vê-lo. Nem eu, nem seus pais, nem seus amigos, nem ninguém. Claro que eu sei que ele está num lugar muito melhor, mas isto não me impede de sentir muito pela família dele, pois se eu tenho a estranha e covarde opção de pensar que ele se mudou e não quis deixar endereço, a mãe dele tem que lidar com este enorme vazio a cada dia e para sempre.

A única esperança que tenho é que um dia esta dor da Carmi se transforme em saudade e não a sufoque tanto. Ontem ao ler o perfil de uma antiga vizinha no Orkut notei uma estranha coincidência, pois há dias vinha pensando em como a Carmi poderia superar esta perda. Pois o filho desta antiga vizinha era meu amigo de infância e morreu num acidente estúpido andando de bicicleta, aos 15 anos. Eu deveria ter uns 10 ou 11 anos e foi a primeira vez que escutei a palavra morte e tive que lidar com algo assim tão próximo a mim. Me lembro que a minha mãe não me deixou ir ao enterro, pois queria nos poupar daquilo, mas até hoje me lembro daqueles diase da tristeza que se abateu por toda a vizinhança. O tempo passou, a família se mudou do Rio mas sempre me perguntei como os pais dele enfrentaram aquela perda. Ontem coincidentemente tive a resposta ao ler a página da mãe do meu amigo no Orkut. Ela dizia:


"Temos 2 filhas, 5 netos e 2 genros, restando a saudade e não a tristeza de 2
outros filhos: uma recém-nascida, que nasceu muito doente, só viveu 1 mês e
meio; outro, Júnior que nos deixou após trágico acidente. Esse fato abalou-me
profundamente. Após o nascimento do meu 1º neto, fui tocada por Deus de novo,
readquirindo uma Fé, uma compreensão e uma vontade muito grande de me reerguer .
Hoje essa Fé me transformou e mostrou a realidade da vida, recuperando a minha
auto-estima e a alegria de viver."


Espero que, assim como a minha antiga vizinha, a Carmi também possa readquirir sua fé e sua vontade de viver. Rezo para que seja em breve.

July 23, 2009

Monica

Antes mesmo de voltar ao trabalho soube da morte da Monica, que havia acontecido uma semana antes. Recebi a notícia com pesar, mas não com supresa. Dias antes da minha viagem ao Brasil, passei no CTI para me despedir dela, pois tinha quase certeza que Monica não estaria mais ali após meu retorno. O quadro era triste demais. Ela já estava inconsciente e o marido, Antoine, sempre ao lado dela, parecia muito cansado. Para mim, ficou claro que o fim da batalha estava muito próximo. Conversei com ela, que tinha os olhos fechados e permanecia imóvel, e saí com a certeza de que não nos veríamos mais.

A maior dificuldade que tenho é entender como, em pleno século XXI, uma criança de menos de dois anos perde a mãe, que tinha apenas 37. Na minha inocência – ou será ignorância? – pensava que estas coisas não aconteciam mais, que ninguém morria assim tão jovem de câncer. Sempre achei que com tantos avanços da medicina, com tantos recursos, a doença poderia ser mais controlada e possivelmente erradicada e que praticamente todos os pacientes poderiam encontrar a cura. Mas infelizmente descobri que estava completamente errada. A cura não é para todos. Nenhum tratamento é garantia de nada. Dos milhares que recebem este terr'ivel diagnóstico, muitos ainda morrem e vão morrer de câncer em pleno século XXI.

O caso da Monica surpreendeu ainda mais pelo tipo de câncer que ela tinha, um linfoma não-Hodgkin, que teoricamente seria o mais fácil de ser tratado em pacientes da faixa etária dela. Teoricamente, porque no caso da Monica não foi, e em pouco mais de um ano, seus quatro filhos ficaram sem mãe. Não sei quais foram os fatores que contribuíram para que o caso da Monica tivesse este final triste. Talvez a doença já estivesse em estágio avançado quando foi descoberta, talvez fosse um tipo muito específico e pouco conhecido de difícil cura. Não sei, nem vou saber. Mas somente o fato dela ter sido submetida a um transplante cujo doador não era totalmente compatível, me leva a pensar que os médicos deveriam estar realmente desesperados.

Nas últimas semanas de vida de Monica, Elizabeth mostrava-se preocupada principalmente com os filhos dela, cujas idades vão de 11 ou 12 a menos de 2. “Que lembranças eles terão da mãe?”, Elizabeth me perguntava. “Quando a hora da formatura chegar, na hora do casamento, ou quando tiverem seus próprios filhos, eles nunca vão saber o que a mãe os teria dito caso estivesse viva,” ela ponderava, enquanto eu escutava em silêncio. “Será que não deveríamos usar estes momentos para criar estas memórias em vez de submeter uma mãe tão jovem a um tratamento tão agressivo, mantendo-a dopada e desacordada durante estes dias que podem ser seu últimos?”, ela questionava.

O grande problema é como abordar esta questão. Elizabeth acha que este papel seria dos médicos, ao explicar ao paciente a real gravidade da situação, sendo assim incentivando este tipo de pensamento, este desfecho, esta despedida. Mas o que dizer a uma mãe de 37 anos cujos dias se esgotam numa rapidez cruel? Como dizer a ela que seu tempo é muito curto e que ainda há coisas a fazer? Como explicar a ela que ela precisa se despedir de uma vida inacabada?

Monica não via os filhos desde a Páscoa, quando conseguiu passar um dia na casa dos sogros. Durante os meses que ficou internada, as crianças mandavam cartões e fotos e Monica fazia questão de colá-las na parede daquele quarto tão impessoal. Apesar da saudade enorme, Monica não queria que as crianças tão pequenas a vissem tão frágil e tão doente. Monica não queria que fosse esta a imagem gravada na memória delas. Monica não queria que a rotina deles se saísse do normal. Sabemos das muitas coisas que Monica não queria, entretanto, agora que a Monica partiu, sabemos muito pouco sobre o que ela realmente queria.

Sei que ela gostava de moda e de decoração e que adorava uma liquidação das boas. Que ela e Antoine se conheceram bem jovens e que eram grandes amigos e cúmplices. Sei também que ela amava seus filhos e que seu grande sonho depois de criar três meninos era ter uma filha, o que ela conseguiu realizar com o nascimento de Mackenna, uma linda garotinha de cabelos louros e chacheados, que provavelmente ainda é pequena demais para lembrar da mãe que partiu.

Monica descobriu a doença no final dos exames do pré-natal de Mackenna. Pouco pode cuidar da filha tão desejada. Não sei que tipo de lembranças ela pode deixar para a menina. Tenho certeza que Antoine é um ótimo pai e certamente vai fazer o possível para preservar a memória da esposa e mãe tão dedicada. Rezo para que ele tenha forças para seguir em frente, pois a responsabilidade é imensa, do mesmo tamanho que a saudade.

Não sei se Monica conseguiu escrever alguma carta ou deixar algum tipo de mensagem para seus filhos. Só sei que a história dela me faz pensar que talvez a Elizabeth tenha mesmo razão. Não devemos jamais perder a esperança, mas a esperança não necessariamente é sinônimo de cura. Talvez, para alguns, a esperança seja a chance de ter uma vida normal mesmo depois de sofrer uma perda tão dura.

July 22, 2009

Voltei!

O post é só para avisar aos navegantes que apesar do sumiço dos últimos dias, estou bem e agora de volta a Maryland e ao trabalho, qye vai entrar num ritmo enlouquecido muito em breve.

A visita ao Rio foi o máximo, consegui passar bastante tempo em família curtindo principalmente as minhas sobrinhas e a minha avó, que além de elegantíssima, está ótima, e encontrar muitos amigos na cidade. Claro que não vi algumas pessoas que gostaria muito de ter visto, mas em 10 dias realmente não dá pra fazer tanta coisa assim. Vim cheia de projetos para colocar em prática e cheia de ideias que devem me manter ocupada por algum tempo.

Voltei também cansada e percebi que já não tenho mais 18 anos -- infelizmente! Além de não ter conseguido dormir no voo por ter sentado no corredor e não na janela, ontem acabei trabalhando de casa, por imposição do Blake. A vidatoda sempre fui direto do aeroporto para o trabalho, mas ontem fui forçada a voltar pra casa. Ainda pensei em ir pra aula de yoga, mas não consegui me levantar do sofá. Caí na cama pouco depois das nove e dormi feito pedra até as sete e pouco da manhã. Também mais de dez noites acordando com a Kika e a Gigi, mantendo uma agenda lotada durante o dia e voltando altas horas de saídas com amigos já fazem um estrago na vida de uma balzaca!

Como disse para a Andressa, a temporada na casa dela funciona como um ótimo anticoncepcional. Eu que já estava na fila e até disposta a fazer tratamentos, depois de passar uma semaninha com Chiara e Giovanna, resolvi me dar mais um tempinho... Sei que não estou ficando nem um pouco mais jovem, mas quero terminar umas coisinhas antes de começar outras...

Bom, depois coloco algumas fotos aqui. Vou esperar a Andressa mandar umas fotos das meninas e depois faço um post exclusivo sobre a despedida de solteira da Michelle, que começou no Gero e acabou na...

July 17, 2009

Uma Vez Fã, Sempre Fã

As viagens ao Rio são sempre corridas, quase frenéticas. Muita coisa pra fazer, muitos amigos pra ver e pouquíssimo tempo pra tudo. Me sinto meio que político em meio de campanha, emendando uma ligação na outra, marcando mil encontros ao mesmo tempo, correndo sempre contra o relógio, mas no final tudo dá certo. Vou tentando planejar o meu dia e vou encontrando os amigos espalhados pelo caminho. No final das contas, um amigo conhece o outro e o outro conhece mais um e assim vai.

Hoje fui visitar o Horácio, meu amigo de infância e responsável por muitas aventuras na minha vida meio louca. Passei a tarde no escritório dele com o pessoal da MediaMania. Batemos altos papos e lá pelas tantas ele me disse que estava fazendo um projeto com o Roy, do Menudo. Comecei a rir! Eu era MUITO FÃ do Menudo, louca, desvairada mesmo. Destas que foram a todos os shows deles no Brasil e assitiram tudo na primeira fila. Minha memorabilia deles era enorme, mas no meio de tantas mudanças nem sei que fim levou. Tudo bem que meu favorito sempre foi o Ricky Martin -- pois é, bom gosto sempre! Mas um Menudo das áureas épocas no telefone é sempre um Menudo.

O maluco me coloca o Roy no telefone e diz "Fala com a minha amiga Danielle Duran que era louca pelo Menudo!" Dá pra acreditar que depois disto tive um acesso de riso seguido por um ataque de inércia, nem abrir a boca eu conseguia. E o cara do outro lado da linha com aquele sotaque ainda bem carregado.. "Oi Daniela, por que no falas comigo? Como vá?"

Gente, eu ria muito, mas não conseguia pronunciar uma palavrinha sequer. Até que finalmente soltei um ridículo "Oi, tudo bem!" Que vergonha, eu, uma mulher casada, extrovertida, que na véspera tinha conhecido Deus e o mundo e falado muito da minha cara de pau, de repente tinha virado uma pirralha de onze anos fãzoca do Menudo? Fala sério... Fora o Ricky Martin, o resto todo está no mais absoluto anonimato, fazendo sei lá o que da vida.

Inexplicável, mas inexplicável ainda foi achar este vídeo no You Tube e perceber que eu tinha ido a este show no Estádio de São Januário. E morredo de vergonha admito ter entrado em êxtase.

Trash. Muito trash.

July 16, 2009

Uma Noite Pra Lá de Agradável

A festa de lançamento da edição de inverno da Noivas de Rio de Janeiro bombou! Na melhor expressão carioca, no melhor espírito desta cidade que eu adoro chamar de minha, a festa foi o máximo! Numa noite linda de inverno carioca, um monte de pessoas resolveu aparecer para prestigiar mais uma edição da revista e a pequena multidão que não cabia dentro da pequena mas aconchegante livraria, tomou uma das ruas mais charmosas do Jardim Botânico, que por si só já é um charme.

Coisas que a gente só vê no Brasil e muitas vezes no Rio: bate-papos animadíssimos entre estranhos, degistação de vinhos franceses e italianos na calçada, fotos tiradas no meio do trânsito e muita animação e troca de figurinhas entre noivinhas, profissionais de casamento e curiosos. Tudo no maior astral. Fazia tempo que não me sentia tão bem, tão em casa.

Não me canso de repetir que até podem tirar um carioca do Rio, mas jamais vão conseguir tirar o Rio de uma carioca. Já andei por muitos lugares, já vivi em tantos outros, mas hoje digo com convicção que a minha casa é aqui. Sempre foi e sempre será. Tem horas que até acho que posso ficar longe daqui, desta confusão, deste burburinho, desta loucura. Mas basta pisar no Galeão para me sentir como se jamais tivesse saído daqui.

Gosto dos EUA, um país onde realizei dois grandes sonhos: a possibilidade estudar em grandes instituições de ensino e de encontrar meu príncipe encantado e companheiro para todas as horas. Vivo feliz lá na minha casinha de boneca, mas se dissesse que não sinto falta da badalação daqui, estaria mentindo.

A noite de hoje foi perfeita e cheia de surpresas. Conheci vários amigas que fiz aqui no blog e outros que conheci na Casar é Fácil, no Orkut. De quebra ainda encontrei com outras amigas que não via há tempos e que deram uma passadinha pra me ver por lá.

Pena que não carrego máquina fotgráfica pelo simples motivo de medo de perdê-la, pois quando abro a matraca, perco a noção das coisas e largo tudo pelos cantos, então foi ficar devendo a vocês as fotos da galera super do bem que apareceu lá na Ponte das Tábuas para o lançamento da revista.

Depois volto pra contar mais! Já passa da minha hora de nanar no quartinho da Kika...

July 14, 2009

Noivas Rio de Janeiro - Inverno

capa da revista Noivas Rio de Janeiro edição 13


Finalmente vou poder comparecer a um lançamento da Noivas Rio de Janeiro. A revista sempre faz um evento para comem0rar a chegada de uma nova edição, mas como moro do outro lado do equador, nunca posso estar aqui.

Mas esta semana, o universo conspirou a meu favor e se tudo der certo, estarei la para o coquetel. Como sei que ha noivas e interessadas que leem este blog, fica aqui o aviso e o convite:

Abra logo sua agenda e reserve o dia 15 para um compromisso especial: o lançamento da Noivas Rio de Janeiro de Inverno. Dessa vez, a comemoração da mais nova edição da revista será na Livraria Ponte de Tábuas, a partir de 19h. Durante o evento, o sommelier Bernardo Murgel, da Destilado, promoverá uma degustação de vinhos com o tema Tintos para festas. “A idéia é ajudar a noiva na difícil tarefa de encontrar as melhores bebidas e o melhor custo benefício na hora de escolher entre os vinhos franceses e italianos, que são os melhores do mundo e são garantia de originalidade na festa”, afirma Bernardo. Não deixe de participar! Anote o endereço: Rua Jardim Botânico, 585.


Quem estiver por perto e curtir um vinhozinho, nao deixe de passar por la...

July 13, 2009

Giovanna

Esta ai de cima e a Giovanna e ultimamente tenho estado afastada do blog por alguns motivos, mas o principal tem sido a rotina de revezamento de bebes.

A Giovanna e muito calminha e uma fofa. A Chiara cada dia mais linda, mas agitadinha. Entao, nos primeiros dias, quando uma dormia, a outra acordava e assim revezavamos a noite toda.

Agora parece que as coisas vao se acalmando, mas casa cheia de bebe e sempre uma alegria so!

July 9, 2009

Bodas de Diamante




Há exatos 60 anos da data de hoje, dia de nove de julho, casavam-se Ruth e Fernando, ele aos 21 e ela aos 20 anos.

Depois de três filhos, sete netos e agora duas bisnetas e muitas aventuras, bons e maus momentos, continuam juntos. Coisa praticamente inimaginável nos dias de hoje.

A alegria de ter a minha avó viva e saudável depois de tudo que aconteceu ano passado é enorme. Este aniversário de casamento teve um sabor mais do que especial.

Em vez da festa que havíamos planejado, tivemos uma reunião pequena na tarde de hoje, já que a minha avó ainda não tem condições de ficar longe de casa por muito tempo e a minha irmã acaba de voltar para casa com a Giovanna, que aliás, é um anjinho.

Estou muito feliz de estar por aqui... Só ficou faltando o Blake para minha alegria ser completa.




Foto tirada hoje -- falta gente -- mas até que a tarde foi animada.

July 7, 2009

O Dilema de Saber ou Não...

Ontem depois de almoçar com a Elizabeth, decidi ver a Monica, pois já fazia mais de uma semana que não a visitava. Ao manifestar minha vontade, notei a Elizabeth um pouco reticente. “Vou lá visitá-la, mas você pode ficar bem à vontade se não quiser vê-la. Para falar a verdade, talvez seja melhor que você não vá. O nível de consciência dela é o mesmo do Todd nos últimos dias, ela está muito inchada, as crianças já foram avisadas, é questão de tempo. O quadro é muito grave e de certa forma chocante,” ela me explicou, talvez mais como amiga do que como assistente social.

Mas eu estava decidida. Ao chegar no CTI, vi o mesmo médico que uma vez explicava à Carmi sobre o estado terminal do Todd. Senti calafrios. Ele entrou no quarto para falar com o Antoine, marido da Monica e pai dos quatro filhos dela. Resolvi ficar do lado de fora. Às vezes me sinto no meio de um filme, um dramalhão daqueles, tipo Love Story. Logo eu, que pensava que tragédias assim só aconteciam na telona e só serviam para vender ingressos de cinema...

Assistindo aquela cena do outro lado da parede de vidro, tudo me parecia surreal. A Monica deitada inconsciente num leito de hospital, Antoine de pé conversando com o médico, fisionomias preocupadas, e a Elizabeth ao lado. Claro que não dava para ouvir nada além dos bipes de máquinas e passos apertados de enfermeiras e residentes, mas eu podia imaginar muito bem o teor da conversa. Ao ver o rosto da Monica inchado, os olhos semi-fechados e a boca um pouco ensanguentada não poderia esperar outra coisa. Infelizmente.

Um pouco antes, durante o almoço, Elizabeth e eu falávamos sobre a melhor forma de lidar com estes casos gravíssimos. Ela acha que a grande maioria dos pacientes transplantados não tem a menor idéia do que os aguarda, dos obstáculos a serem enfrentados e das reais chances de sobrevivência. Na opinião dela, os médicos não são francos o suficiente nestas horas e muitas vezes acabam privando o paciente e sua família de momentos importantíssimos nas horas finais.

“A Monica tem quatro filhos pequenos, será que alguém já pensou no futuro destas crianças? Não no bem estar imediato delas, mas que daqui a alguns anos elas vão se casar, vão se formar, vão ter filhos e provavelmente não terão a mãe ao seu lado? Será que a Monica não teria usado melhor os últimos meses dela para escrever cartas para eles, preparando memórias para um futuro no qual ela talvez não esteja presente? Será que não teria sido melhor para ela saber que seu tempo era tão limitado e assim poderia ter escolhido exatamente o que fazer com ele?, minha amiga indaga.

Mas eu não consigo responder. Talvez eu seja mesmo covarde, mais covarde que eu imaginava. Ela continua, “Ninguém quer falar da seriedade do caso ou das chances ínfimas do paciente porque ninguém se sente no direito de tirar a esperança do outro, pois há sempre milagres, casos inexplicáveis, mas vamos combinar que estes casos são as exceções e por isto são chamados milagres! Se acontecessem com todo mundo teriam outro nome! O problema é o modo como encaramos ‘esperança’. Você pode ter toda a esperança do mundo mesmo estando consciente da dificuldade da batalha a ser enfrentada, desta forma você pode fazer suas próprias escolhas. Tem gente que depois de entender a gravidade da doença e a agressividae do tratamento, simplesmente decide que não vai passar os últimos dias da vida intoxicado numa cama de hospital. Há outros, que mesmo cientes das dificuldades, vão para o tudo ou nada, por vontade própria. Assim é diferente, o sujeito tem a informação e faz a escolha,” ela me explica, logo depois se desculpando pelo discurso inflamado.

Entendo. Reflito. Ainda assim não consigo encontrar a resposta. Não sei, sinceramente, não sei. Não faço ideia do que teria feito se algum médico tivesse me dito que as minhas chances de sobreviver eram ínfimas. Para dizer a verdade, acho que prefiro não saber. O mais próximo que cheguei de ter esta informação técnica foi ao traduzir o laudo da minha biópsia da segunda cirurgia, uma experiência tão deprimente quanto assustadora. Prefiro não pensar no assunto.

Terminamos o almoço e a pergunta continua a me assombrar, assim como aquelas palavras que tive que traduzir para colocar no papel e entregar aos médicos de Johns Hopkins no início do ano passado. Nunca mais reli o documento. Espero nunca mais ter que fazê-lo.

É por estas e outras que escrevo este blog, me correspondo com tantos amigos e tento deixar registrado um pouco de mim de alguma forma. Para que nem eu mesma me esqueça de quem eu sou, só por precaução.

July 6, 2009

Fiquei pra Titia...de novo!


Giovanna chegou hoje de manhã por volta das 8.30, no horário do Brasil. Esta já chegou mostrando ao que veio, quando resolveu apressar sua estreia e deixar a tia aqui morrendo de vontade de estar lá por perto.


Comprei minha passagem há mais ou menos uns cinco meses, já contando que ela ia adiantar, mas na quinta a médica resolveu adiantar o parto mais ainda e hoje por volta das 5 da manhã, a Andressa se internou.


Graças a Deus, o parto foi perfeito e ambas passam bem. A Giovanna nasceu pesando quase 3.9 kg e medindo 51 cm -- uma meninona cabeluda e de cara redonda. Diz a Andressa que parece comigo quando nasci. Ainda não sei se a minha mãe concorda... Engraçado é que a Chiara era a cara da Andressa recém-nascida. Já disse para ela que temos que ceder nosso lugar como a "dupla dinâmica."


É estranho estar longe num momento tão especial. Mais estranho ainda é que me sinto extremamente próxima apesar da distância. Ainda vou esperar dois dias para ver a carinha dela de perto, mas ela já tem lugar cativo no meu coração e na minha bagagem, pois venho lotada de presentes. A família aumenta e a bagagem idem!


Desejo que a Giovanna seja uma menina extremamente feliz e saudável, que ela tenha muitos amigos e que ame muito, pois tenho certeza que será muito amada. Do fundo do meu coração, espero que Giovanna e Chiara possam ter uma relação como a que eu tive e tenho com a Andressa, uma relação de amizade e de cumplicidade, uma relação honesta e franca, de muitos altos e pouquíssimos baixos, de poucos puxões de cabelo e de muito amor.


Sei que há muitos fatores que contribuem para uma relação entre irmãs, mas tenho que dar crédito a minha mãe, que sempre deixou muito claro que nós seríamos as melhores amigas do mundo, quiséssemos ou não. Claro que a nossa afinidade sempre contou, mas para dizer a verdade não sei se a tal afinidade era natural ou construída e também a esta altura não cabe a mim questionar. Dizem os sábios filósofos populares que em time que está ganhando não se deve mudar nada.


Não tenho memórias da minha vida sem a minha irmã e tenho certeza que com a Chiara não vai ser diferente, afinal ela só faz um ano sábado! Para dizer a verdade, acho isto ótimo! Desde que me entendo por gente, sei o que é dividir, sei o que é discordar e sei o que é ceder (muitas vezes, mediante uns tapas e empurrões), mas antes de tudo sei o que é uma amizade dura a vida inteira.


Mal posso esperar para saber da reação da Kika ao ver a irmãzinha...


Bem-vinda Giovanna!

July 3, 2009

Noiva Neurótica




Ontem do nada resolvemos assistir o DVD do casamento. Desta vez escolhemos o DVD 2 da série de 4. O argumento do Blake é que a gente sempre assiste os outros: o 1 é o da cerimônia, o 3 é o da festa bombando, o 4 é o buquet e o final da festa... E o dois é o making of da Villa Riso, muitas imagens da decoração, da recepção ba biblioteca e do início da festa no salão principal.

Confesso que volta e meia me pergunto onde consegui gastar tanto dinheiro do meu pai no casório...Ontem tive a resposta! É engraçado ver as imagens mais de dois anos depois, quando a gente tem um distanciamento maior para enxergar certas coisas. Ficou claro ontem que a grana do meu pobre pai ois gasta nos detalhes! Claro que o casamento foi meu e foi tudo escolhido a dedo por mim, mas só ontem consegui perceber um monte de coisas bacanas.

Uma das minhas grandes frustrações do dia foi não ter visto pessoalmente um lounge maneiríssimo que a gente fez no jardim de trás da Villa Riso! Eu e o Denis (decorador), escolhemos tudo com o maior carinho, colocamos um ponto de bar lá fora para que as pessoas pudessem fumar ou conversar longe da pista, espalhamos mesas de cocktail e puffs, velas, almofadas...tudo muito fofo. Só que eu NÃO vi!!! Nem fui lá na hora da festa! Dá pra acreditar?

Ontem, reparei também nas cores que o Denis usou, respeitando muito o meu gosto -- lavanda e cor de rosa -- tudo nos mínimos detalhes. Notei cada caixinha de doce, de bem-casado, os menus nas mesas, as velas Provence, os mini-bouquets de hortênsias (minha flor favorita!), as toalhas, os guardanapos feitos para combinar com a cor, as mesas de vidro... Enfim, tudo muito a minha cara...pena que não tenha visto na hora. Em vez disso, fiquei desesperada quando vi que a noivinha no topo do bolo tinha cabelo escuro!

Notei também que fui noiva e cerimonialista ao mesmo tempo, chamando o pessoal para as fotos, checando item por item, organizando distribuição de brindes...Parecia guarda de trânsito! Não fui aquelas noivas princesas, de ar lânguido e semblante calmo. Acho que só conseguiria me portar assim se estivesse dopada. Então antes eu noiva-neurótica do que eu débil mental.

Mas deu uma saudade enorme... Saudade daquele dia. Saudade daquelas pessoas. Saudade daquela energia. Só espero que ela se renove e se perpetue por todos os dias do resto das nossas vidas.

Tenho dois casamentos muito bacanas para ir no Brasil, mas infelizmente não vou poder viajar de novo... Desde agora já estou chorando, pois já sei o que vou estar perdendo. Já fui a muitos casamentos e muitos lugares, mas os meus perferidos continuam sendo no Brasil.

July 2, 2009

Ciclo

Hoje recebi duas notícias um tanto quanto inesperadas e estranhamente interligadas...

Logo de manhã a Andressa me telefonou. Ao que parece, a Giovanna vai apressar sua chegada e não vai conseguir esperar a tia chegar, na quarta-feira. Tudo indica que a danadinha vai nascer na segunda! Ao ouvir a notícia, já fui logo reclamando, "Esta aí já vai nascer sacaneando os outros!"

E como era esperado, a bebezinha, que ainda nem nasceu, já foi imediatamente defendida pela mãe, que foi logo contestando: "Não é culpa dela! Ela nem quer sair, mas a médica disse que se o bebê já está pronto, não há motivos para esperar. O objetivo é evitar ao máximo que eu entre em trabalho de parto," Andressa me explicou.

Para quem não sabe, a irmã mais nova da Chiara AKA Kika vai nascer antes dela completar um ano, o que torna a gravidez da minha irmã mais arriscada do que uma gravidez normal, já que nesta situação o risco de ruptura do útero aumenta. Então, brincadeiras à parte, quero o que for melhor para minha irmã e para minha sobrinha. Claro que adoraria estar no hospital na hora do nascimento, mas posso esperar dois dias a mais para vê-las sem o menor problema. Assim já vejo todo mundo em casa e já entro no rodízio das noites sem dormir.

Poucas horas depois, à tarde, recebi um SMS da Elizabeth me avisando que a Monica estava muito doente e seria entubada. A Elizabeth acha que ela não tem mais do que um punhado de dias de vida. Simplesmente inacreditável. Uma jovem mãe de quatro filhos que vem travando uma batalha corajosa contra a GVHD ou DEVH, mesma condição que abateu o Todd.

É muito triste acompanhar uma história destas de perto, conhecendo os pais dela, o marido e vendo as fotos dos filhotes, que tem entre 12 e menos de 2 anos. O pior é saber que tanto o Todd quanto a Monica lutaram tanto, sofreram horrores, mas acabam partindo no final... Nestas horas a gente não entende muito o porquê. Acho que só Ele lá em cima para explicar.

Mas a fato é que todas estas experiências dolorosíssimas acabaram me ensinando muito em pouquíssimo tempo. Com elas aprendi que não existe explicação para muita coisa, então não adianta perder tempo com questionamentos ou revolta. Aos meus olhos, mais do que nunca, a vida se apresenta como um círculo de nascimento, morte e renascimento e não cabe a nós entender os mecanismos intrínsecos a ele; só nos resta aceitar.

Nos últimos 12 meses tive que me despedir de muita gente querida (dias depois da morte do Todd, perdi um outro amigo, o Ivan, de Recife, que era o máximo!) e no meio de tantas lágrimas e tanta tristeza, aos poucos vou encontrando algum alento, ao pensar que meus amigos estão todos vivendo felizes lá em cima, para onde tenho certeza que foram, e onde não há doenças, tumores, cirurgias ou quimioterapias, onde só existe a paz.

Quero um dia poder receber a notícia da morte de alguém com serenidade e esperança, os mesmos sentimentos tão presentes quando sabemos do nascimento de um bebê. Me lembro de uma palestra que assisti há muitos anos num Encontro de Adolescentes, que por sinal detestei.

A palestrante convidada dizia que deveríamos encarar esta vida terrena como uma gestação, como uma preparação para a real vida que ainda vem pela frente, que é a vida eterna. Ela lembrava que do mesmo modo como o bebê chora quando vem ao mundo, nós choramos quando alguém parte dele...e pelo mesmo motivo, porque não sabemos o que vem pela frente, porque saímos da nossa zona de conforto rumo ao desconhecido.

Quem me dera encarar a vida e a morte desta forma...mas aos poucos quem sabe não consigo ao menos aceitar que tanto uma como outra fazem parte do mesmo ciclo da nossa existência?

Enquanto isto, me preparo para dar adeus à Monica e boas-vindas a Giovanna, que Deus esteja com as duas em momentos tão diferentes.

July 1, 2009

Sem tempo...

Tem épocas que a vida da gente vira de cabeça pra baixo e a gente emenda uma reunião na outra...
Depois volto pra postar mais!
Vou correndo pra acupuntura pra ficar muito zen!
OHMMMMMMMMMMMMMMMM....