September 29, 2011

Joaquim e o Gato

Aleitamento & Julgamento

Outro dia, conversando com uma amiga minha que está grávida, ela perguntou quanto tempo tinha amamentado o Joaquim. Respondi "Sete meses." Ela disparou na mesma hora: "Só?! É pouco, né?!"

Como ela ainda está grávida do primeiro filho, dei um desconto e respondi. "Só?! Depois que sua filhota nascer, você me conta! Para mim, amamentar foi um sacrifício, um perrengue mesmo."

Não sou do tipo que gosta de dourar a pílula. Quem me conhece sabe que não sou de inventar nem de florear coisa nenhuma. Também não pinto o diabo mais feio do que ele é, sou muito realista. Quem acompanha o blog há algum tempo sabe que o Joaquim não foi um bebê dos mais fáceis. Muita gente vai lembrar que ele era ao mesmo tempo faminto e intolerante à lactose, então chorava, ou melhor, urrava, praticamente 24 horas por dia. Metade do tempo ele chorava de fome e a outra metade chorava por conta de cólica e refluxo.

Infelizmente para mim e contrariando todas as minhas expectativas e sonhos, a maioria das mamadas -- principalmente quando ele estave desperto -- não lembrava nem de longe os comerciais de TV ou cenas de novela, estando mais para cenas de O Exorcista! Sem exagero. Ele urrava e se debatia todo, arqueando o corpo e berrando de dor e frustrando qualquer tentativa minha de acalmá-lo. Ainda não sei como não entrei em depressão pós-parto, na época. Deve ser porque não tenho mesmo tendência!

Depois dos primeiros quatro meses, os episódios de filme de terror foram melhorando, mas quando ele rejeitava o peito, não tinha santo que o fizesse mudar de ideia. Durante sete meses, após as mamadas ou mesmo quando o Joaquim se recusava a pegar o peito, me voltada para minha bomba, que neste tempo se tornou minha mais inseparável amiga. E cá entre nós, só quem passou por isto sabe que é um saco ter que sair da sala a cada três horas e se conectar a tubos, conchas e mamadeiras por meia-hora todo dia! E ter que encaixar tudo isto num dia lotado de trabalho, tendo que sair da sala, pegar elevador para chegar até a sala de descanso. Também tentava amamentar na minha sala, mas volta e meia um batia na porta e eu tinha que gritar "Não posso agora, me liga depois!" Convenhamos, situação não das mais agradáveis... Mas, enfim, todo sacrifício para que o filhote da gente tenha acesso a leite materno é válido.

E foi assim, aos trancos e barrancos, que amaneitei o Joaquim até os sete meses e foi assim também, tirando leite e congelando, que ele teve acesso a leite materno até os nove meses. Então não venha me dizer que "só?!"

Sei de mães que amamentaram os filhos até os cinco anos e sei de mães que jamais ofereceram o peito aos filhos. Sei de mães que tiveram a maior facilidade para amamentar e sei de outras que tentaram tudo mas não tiveram sucesso algum. (Eu mesma solicitei os serviços de QUATRO consultoras de amamentação) Mas a imensa maioria das mães que conheço fica no meio do caminho.

Acho que a maternidade já vem carregada de tanta responsabilidade -- e de certa forma de tanta culpa -- que é covardia submeter qualquer mãe a julgamento de terceiros. Então da próxima vez que estiver conversando com uma mãe, especialmente de primeira viagem, é bom ter bastante cuidado com as palavras.

Leite materno ou fórmula/leite em pó, fralda descartável ou de pano, creche, babá ou abrir mão da carreira para ficar em casa com os filhos...são tantas as decisões e para a maior parte delas não há certo ou errrado, há o que funciona e o que é possível para cada uma de nós. Há também os motivos por trás das escolhas de cada uma. Volta e meia fico bem cansada de tantos experts, tantas opiniões, tantas "dicas" e tantos jugalmentos. Sinceramente, acho que tem gente que seria mais útil tomando conta da própria vida.

September 24, 2011

Dr. Oz Show


Could your favorite foods be causing liver cancer? Dr. Oz discussess the risk factors for liver cancer, such as chronic alcohol consumption, as well ...


O programa foi ao ar na terça, dia 20, e finalmente consegui o seguimento do qual participei. Falo bem rapidamente sobre alguns (poucos) sintomas e sobre a descoberta do diagnóstico.

É só clicar na imagem para ver o meu depoimento!

September 19, 2011

Dr. Oz de novo

Como o programa que gravei vai ao ar amanhã, já vou avisando que literamente terei "cinco segundos de fama" que resultaram de uma entrevista de 45 minutos. E como tenho certeza de que o script já estava escrito, a edição foi um primor!

Para começar o título do programa é pra lá de sensacionalista: Stop the Fastest Growing Cancers Inside of You Before It Is Too Late. Acho que eles realmente deveriam estar desesperados porque o câncer que tive foi de crescimento muito lento e não tive NENHUM dos sintomas, o que é relativamente comum. Como já cansei de explicar, no caso do câncer de fígado, infelizmente quando os sintomas aparecem, normalmalmente já é tarde demais.

Mas como nestes programas, o que você diz não tem absolutamente nenhuma importância, lá estava eu, num cenário super noir, com uma música de filme de terror, contando uma história "horripilante!" Para falar a verdade, é até meio cômico, meio pastelão mesmo... Por algum motivo minha fisionomia estava bem pálida e ainda colocaram uma cena de uma mulher (supostamente parecida comigo) olhando uma tempestade através de uma janela. Ai que horror! Ah, e o tomor que tirei em 2008 ainda faz uma participação especial! Está lá ele, brilhante e vermelhinho na angio-tomografia!

Além disso, o câncer de fígado sempre é o grande injustiçado dos cânceres. Como tem muita semelhança com o câncer de pâncreas -- ausência de sintomas até estágio avançado, gravidade da doença, etc -- tudo que falei sobre câncer de fígado foi usando no seguimento sobre câncer de pâncreas, afinal depois da morte do Patrick Swayze e com a doença do Steve Job, este tipo de câncer é bem mais high profile. Sem contar no Randy Pausch. Enfim, longe de mim banalizar uma doença tão terrível, mas o câncer de fígado não fica muito atrás... E no caso específico do tumor que eu tive, a esperança de que haja testes clínicos é nula. O tipo é tão raro que jamais seria possível recrutar número suficiente de pacientes. Então a única esperança está com Ele lá em cima, que jamais me abandona.

Mas voltando à gravação do programa que vai ao ar amanhã, o que me deixou mais chateada é a ideia de que este tipo de câncer é 100 porcento evitável. Não é. Quando listaram os fatores de risco: obesidade, consumo exagerado de álcool, uso de anabolizantes, hepatite C...nada se encaixava ao meu caso. Já perguntei a zilhões de médicos se havia algo que poderia ter feito diferente... A resposta é a mesma: para este caso de tumor não! Para outros tipos, sim, já que muitos são resultado de cirrose hepática e hepatite C, doenças que nunca tive.

Sou completamente a favor de educar a população e mostrar a importância de uma alimentação saudável e balanceada, mas sou contra distorcer os fatos. Quando o Dr. Oz diz que com uma dieta saudável vamos erradicar o câncer de fígado do planeta em 10 anos, me sinto incomodada. Gostaria muito de que esta afirmação fosse verdadeira. Infelizmente não é.

September 14, 2011

Garoto Grande




Há alguns meses, nossa casa vive um período de transição: guardamos os brinquedos e aparatos de bebê e agora nos preparamos para enfrentar a fúria de um serzinho curioso que engatinha mais rápido do que ninguém e cisma de ficar em pé o tempo todo. Joaquim está quase andando! Sendo assim, tampamos todas as tomadas, encapamos todas as quinas da casa, instalamos portõezinhos perto das escadas...e sabemos que isto tudo é só o início!

Mas ele também é supersocial e adora uma badalação. Como ama comer, restaurantes são sempre interessantes. Mas uma coisa me incomodava muito: as tais cadeirinhas de bebê. Todas me parecem sujas, nojentas. Antes que me acusem de germofóbica, vou logo dizendo que não sou! Também não tenho mania de limpeza, mas há certas coisas que me causam mal estar -- cadeirinha de bebê de restaurante está entre elas. Assim como carrinho de supermercado.

Como aqui nos EUA tem sempre alguém que pensou numa solução para um problema que você sequer pensava existir, comprei um forro para carrinhos e cadeirinhas e uma amiga me enviou de presente uma cadeirinha portátil, superprática e útil. E melhor: Joaquim adora porque fica literalmente sentado à mesa com a gente. A nossa é da marca Inglesina, que tem ótimas referências na Amazon e realmente nos quebra um galho. Deixamos normalmente no carro do Blake. No meu carro, usamos a capa/forro que tem lugar até para prender brinquedinhos.

Além disso, como bebê adora comer tudo da mesa, compramos um joguinho americano (que tem ventanas) que você pode prender na mesa do restaurante. Assim o bebê tem um ambiente limpo para comer e/ou brincar.

Enfim, ao que parece meu fofinho está crescendo...com quase 10 kg e prestes a dar os primeiros passinhos sozinho. Cada dia mais independente. E eu, como boa mãe de primeira viagem, vou aos poucos tentando me adaptar a cada uma destas deliciosas fases!

September 11, 2011

Lembranças de Nova York pré-9/11

Sempre que vou a Manhattan me pego olhando o horizonte e sem querer busco as duas Torres que sempre me guiavam pela cidade. Durante os cinco anos que morei em Nova York, sempre viiv no West Village, bairro que fica abaixo da Rua 14. Como não tenho nenhum senso de direção, milhares de vezes, me perdi nas primeiras semanas na NYU. Dei zilhões de voltas no campus da universidade que se espalha por diversas ruas do Greenwich Village.

Americano adora usar os pontos cardinais para se localizar, ao passo que a maior parte do brasileiros -- eu!!! -- prefere os comandos "em frente, vire à direita e depois e esquerda." Então toda vez que pedia informação na rua, ficava mais perdida ainda com as respostas. Até que um amigo me fez ver a luz! "Dani, se localizar aqui é a coisa mais fácil do mundo. Olhe para o horizonte e procure as Torres Gêmeas; elas são sempre o seu sul...o resto você deduz!" E dali para frente nunca mais me perdi.

Daquele dia em diante, as Torres passaram a ser minha bússola. A qualquer hora do dia ou da noite, elas estavam sempre lá! Lembro que a minha mãe tinha medo de visitar o local. "Alvo certo de terrorismo!," ela dizia, mas eu ria e respondia que eles já tinham tentado em 1993 (quando eu morava na Virginia) e que raio não cairia duas vezes no mesmo lugar. Só que eu estava errada.

Trabalhei um tempo em downtown, mais precisamente em Water Street e vivia no shopping que ficava embaixo das Torres. Almoçava com os amigos, fazia comprinhas básicas, olhava as vitrines. É difícil imaginar aquilo tudo destruído. Tive que conferir com meus próprios olhos. Estava de viagem marcada para Nova York dias depois -- obviamente o voo foi cancelado -- mas acabei chegando lá no início de outubro.

Ao voltar ao meu apartamento, os vizinhos me abraçavam e cada um me contava com detalhes a tragédia. Muitos pensavam em se mudar. Outros estavam determinados a ficar. O cenário era de guerra e o cheiro, um cheiro ainda fortíssimo de metal queimado, tomava conta de toda parte sul da cidade. Pelas ruas, cartazes de famílias desesperadas em busca de notícias de entes queridos, lacos de todas as cores...Uma cidade bem diferente da que eu tinha deixado para trás apenas meses antes.

September 9, 2011

Nove Meses...

Esta semana foi intensa...voltamos para Nova York para a gravação do programa do Dr. Oz e pegamos a estrada no maior temporal que arrasou a costa leste do país, graças a tempestade Lee. Graças a Deus o Santo Blake estava no volante, mas até ele ficou estressado no final -- nunca vi tanta chuva! E fora que sair de Manhattan pelo Lincoln Tunnel às 6.30 da tarde...não dá! Mas prometo que voto semana que vem com mais calma e conto tudinho sobre os bastidores de um dos mais famosos daytime talk shows da TV americana... Uma experiência bem diferente. Hoje vou correndo para casa celebrar os nove meses do Joaquim, que está superbem e só nos traz felicidade...

September 2, 2011

Dr. Oz Show


Hoje, por algum motivo, a frase antiga que o colunista Ibrahim Sued usava muito me veio à cabeça "Os cães ladram e a caravana passa..." E como passa e atualmente, o ritmo da caravana anda bem acelerado. Graças a Deus!

Ontem finalmente consegui chegar a Nova York! Peguei um trem mais cedo que o previsto -- seguro morreu de velho! -- e acabei chegando na cidade bem antes do combinado. Quando contactei o produtor do Dr. Oz Show, ele me perguntou; "Quer que eu mande te apanhar logo ou prefere dar uma volta por NY e chegar aqui em torno das três da tarde?" Advinhem a minha resposta?

Na mesmo hora, peguei o celular e liguei para a Isabel, que foi minha companheira inseparável nos cinco anos na cidade. "Está fazendo o que hoje no almoço?" foi a minha pergunta. E uma hora depois estávamos lá na Little Brazil, como nos velhos tempos... Saudade! O legal da amizade verdadeira é que você pode até não ver o amigo tanto quanto gostaria, mas quando encontra é como se o tempo não tivesse passado. É cliché mas é verdade!

A gravação do depoimento para o programa foi bem bacana também. Tudo muito louco: praticamente metade do dia no trem, 30/35 minutos de entrevista que vão virar um clip de 30 segundos! Então se for assistir o programa (quando souber, digo a data!), não vá ao banheiro nem levante para beber água, pois corre o risco de você perder meus 30 segundos de fama.

A equipe do programa é muito legal e a clima de gravação me fez lembrar os anos que passei em Nova York. Até porque fui estagiária do Nightly News, que fica no mesmo prédio, durante meu mestrado na NYU. Achei interessante o tema do programa que é dar uma voz -- e uma face -- a doenças tão perigosas e silenciosas. Além do câncer de fígado, o programa vai ter depoimentos de pessoas que tiveram câncer de esôfago, pâncreas, cérebro e melanoma. Bom saber que tem gente viva contando suas histórias. Meio estranho saber que fui a única pessoa que eles encontraram para falar sobre câncer no fígado...

Por coincidência, tinha comprado uma blusa verde -- cor que uso muito pouco! -- e resolvi usar ontem. Verde é a cor do lacinho da campanha do câncer de fígado. Foi bacana poder dar voz a tantas outras pessoas, foi uma coisa que sempre quis fazer e uma oportunidade que surgiu absolutamente do nada! É claro que agarrei com unhas e dentes, como agarro cada chance que aparece no meu caminho.

A entrevista, que pensei que fosse tirar de letra (afinal todo mundo e o cachorro já conhecem a minha história), acabou me surpreendendo. Não como será a edição do relato, mas quando a produtora me pediu para falar sobre como eu tinha recebido a notícia, engasguei. Fazia tempo que não contava esta história para ninguém. Reviver aqueles momentos foi muito mais difícil do que eu imaginava. Acho que coisas assim jamais se apagam da nossa memória. Mas a produtora logo emendou com um "And look at you now!" que me fez sorrir e falar de esperança, fé e da vontade de seguir em frente e continuar a minha vida. Ufa!

E assim foi a minha primeira aventura em rede nacional. Primeira vez na TV americana! O depoimento vai ao ar no programa que será gravado na quarta, dia 7 de setembro. A equipe do Dr. Oz me convidou para voltar e fazer parte da plateia no dia da gravação, mas ainda não resolvemos se vamos...a viagem de ida e volta é cansativa para fazer em um dia só.