March 22, 2008

A ansiedade e os mexicanos

Estou aqui tentando segurar a ansiedade até segunda-feira, mas está difícil. Estou ao mesmo tempo animada e temerosa. Não consigo parar de pensar no assunto. Para não enlouquecer e levar o Blake a loucura junto comigo, resolvemos sair para nos divertir um pouco. Já estou tendo crise de abstinência, pois faz alguns meses que não vejo um filme cabeça.

O Blake também gosta do gênero, Graças a Deus. (Não falei que meu marido era diferente?!) Então daqui a pouco vamos sair para ver um filme mexicano-americano, Under the Same Moon ou Bajo La Luna.



Eu adoro filmes com a temática mexicana, pois me lembram muito do Brasil. Sei que a afirmativa costuma desagradar muitos brasileiros, mas acreditem, depois de mais de 15 anos de experiência aqui nos EUA, cheguei à conclusão de que somos muito mais parecidos com "nuestros hermanos" do que queremos admitir. Depois de muito espernear cada vez que me chamavam de hispanic, resolvi abraçar a minha latinidade. Nós brasileiros gostamos de nos considerar diferentes dos outros latinos, principalmente dos coitados dos mexicanos. Achamos os mexicanos cafonas, exagerados. Deve ser tudo culpa do Sílvio Santos. Pura bobagem. Puro preconceito. Os mexicanos são um povo alegre e trabalhador que fazem malabarismos para sobreviver tanto na sua terra natal quanto nos países para onde emigram. Ñão são nada diferentes da maioria dos brasileiros que vêm para os EUA em busca do tão famoso American Dream.

Ouvi falar que este filme por pouco não foi parar na gaveta de algum executivo, pois algum tempo atrás, imigração era um tema que ninguém queria debater, era uma ferida aberta que ninguém queria tocar, coisa que só interessava aos próprios imigrantes ou ao pessoal que mora na fronteira com o México. Entretanto, com a proximidade das eleições presidenciais americanas, tudo mudou e o tema, que até bem pouco era sempre deixado à margem dos grande debates, foi trazido a tona e ocupa lugar muito importante nos discursos dos pré-candidatos. Tanto o republicano John McCain, quanto os democratas Hillary Clinton e Barack Obama sabem que a reforma nas leis de imigração é mais do que necessária e defendem formas de legalizar imigrantes desde que eles aprendam o idioma inglês e paguem multas. Mas por enquanto isto é mais conversa do que outra coisa. Os três candidatos votaram a favor do polêmico muro entre EUA e México e a "caça às bruxas" corre solta em vários estados americanos, inclusive bem aqui em Maryland.

Esta questão é tão ambígua que é difícil ter uma opinião formada. Se uma parte de mim se pergunta se estes imigrantes ilegais vieram para este país conscientes de estar cometendo um crime -- pois ninguém é idiota a ponto de achar que tem o direito de entrar e trabalhar em qualquer país -- por que deveriam receber anistia? Seria justo com as milhares de pessoas em tantas partes do mundo que acalentavam o mesmo sonho, mas por obediência às leis vigentes não colocaram seus planos em prática? Seria justo comigo e com tantos outros imigrantes que cumpriram todas as exigências -- e foram sujeitados a todo tipo de investigação -- para estar aqui de forma legal? Se a anistia de fato ocorrer, isso não fará que o número de imigrantes ilegais aumente ainda mais, pois sempre haverá a experança de uma nova anistia no futuro? A imigração aqui já não é generosa o bastante? Se o sujeito fica ilegal durante 20 anos mas no fim das contas casa com um/a americano/a, ele/a recebe o greencard. SPor incrível que pareça isto é a mais pura verdade. Eu mesma sei de alguns casos que se encaixam nesta categoria.

Mas a minha outra parte, aquela parte mais sensível, vê de perto a luta destas pessoas que só querem uma vida melhor. Há muitos imigrantes ilegais perigosos e problemáticos, mas há muitos outros honestos e trabalhadores que dariam tudo e pagariam as mais altas multas por uma chance de ficar aqui de forma legal. Será que a culpa é só dos ilegais ou é dos americanos que os empregam pagando um décimo do que pagariam a um americano? Não dizem as leis do capitalismo que só há oferta onde existe demanda? Será que existe outra forma de sanar este problema de dimensões absurdas que não seja legalizar uma situação que já existe há tanto tempo? Obviamente tapar o sol com a peneira -- como os americanos têm feito há séculos -- está fora de cogitação, então o que fazer?

Não sei, sinceramente. Vou ver este filme hoje e tenho certeza que sairei de lá com estas mesmas perguntas, mas duvido que encontre respostas. Aos poucos tenho aprendido que o primeiro passo para enfrentar qualquer problema é aceitar que ele existe. É falar sobre ele, é expor opiniões diversas, é ouvir outras colocações. Então a parte otimista dentro de mim já acha que um filme como este ser sucesso por aqui já é um bom começo.

2 comments:

Ana said...

Dani, eu acho que sendo você uma pessoa inteligente e instruida e tendo passado por tudo que você passou eu acho que você desenvolveu o que eu chamo de generosidade, a capacidade de se colocar na pele do outro, por isso a sua abordagem da questao da imigraçao ilegal. Eu vejo tanto brasileiro que nunca passou necessidade na vida condenando quem imigra ilegalmente (nao que eu defenda), mas acho que a coisa é mais complicada mesmo e que o pais que recebe também beneficia da tal imigraçao ilegal. Volte e nos conte sobre o filme. Beijos e muita boa sorte na segunda.

Anonymous said...

Oi, Dani,
Morei 1 ano no México e posso dizer que me sinto muito mexicana. Brasileiros e mexicanos são parecidos em muitos aspectos e, por isso, não poderia ter me sentido mais acolhida e amada em minha estada lá. É uma pena que estejamos sempre colando estereótipos nas pessoas.
Beijos,
Jackie