August 29, 2008

Krazy Sexy Kris


Entrevista com Kris Carr


O legal de ser jornalista é que mesmo afastada da redação você pode continuar a exercer a profissão. A gente pode não “estar” jornalista, mas nunca vai deixar de ser repórter. E isto é um grande trunfo na mão de gente curiosa como eu.

Desde que vi a Kris Carr no Today Show há mais de um ano, queria saber mais dela, queria mesmo era falar com ela, pois não é todo dia que a gente encontra outra paciente de câncer na mesma faixa etária e com interesses semelhantes.

Se eu não fosse jornalista a minha vontade teria parado ali, afinal tenho outras coisas para fazer...ou não. A vontade ficou ali latente, mas não desapareceu. Meses se passaram e eu pensando se virava a página do câncer ou se insitiria em colocar o dedo na ferida. A resposta não veio de uma forma racional, na verdade não tive muita escolha, pois se eu decidi ignorar o câncer, ele ainda achou de querer assunto comigo. A minha tática de ignorar o inimigo até que ele desapareça não funcionou e muito antes do que eu imaginava estávamos eu e o câncer cara a cara mais uma vez.

Eu já tinha saído vitoriosa antes, mas confesso que quando senti que o combate seria inexorável, tremi na base. Eu tinha vencido por nocaute e agora teria que entrar no ringue de novo?! Tinha dado tudo de mim havia cinco anos, será que ainda me restavam forças? Mas o adversário estava lá, mais ameaçador do que nunca, então resolvi colocar as luvas e partir para o ataque.

Ataquei não só o tumor de 6 cm, mas dei um golpe certeiro nos meus medos -- o medo da morte, o medo da doença, o medo da rejeição, o medo do preconceito e tantos outros que me passaram pela cabeça.

Saí da sala de cirurgia ótima e logo depois fui me recuperar em casa. Se aquela foi a minha vitória final não sei, mas prefiro acreditar que sim, mas depois daquela experiência surreal e da segunda viagem ao mundo dos doentes, percebi não poderia mais ignorar o inimigo. Já tinha olhado o câncer de frente duas vezes, não havia mais motivos para tentar me esconder dele.

Então a vontade de falar com a Kris voltou ainda mais forte. Li o livro dela mais uma vez, peguei umas dicas, mas queria dividir aquilo com mais gente. Foi então que mandei um email cara-de-pau para a Criativa e o resultado quem comprar a revista de setembro vai ver. Uma conversa franca e descontraída entre duas mulheres jovens que têm muitas coisas em comum: um marido maravilhoso, uma família fenomenal, amigos interessantíssimos, muitos sonhos e uma disposição enorme para viver a vida da melhor forma possível, sugando dela até a última gota. Como diz a Kris, "viver é uma condição terminal."

Estas semanas têm sido um pouco confusas para mim, com o emprego novo, a venda da casa e a busca do novo lar, mas até o fim do ano quero encontrar meu eixo, preciso de equilíbrio. Quero retomar o foco e colocar a minha saúde em primeiro lugar – de verdade.

O bom de conversar com a Kris foi saber que não estou sozinha nesta luta.
Todos temos obstáculos, dificuldades, mas a vida é feita deles...O grande segredo é a persitência, é continuar tentando sempre e aceitar que a perfeição é inatingível.

August 28, 2008

SeventyK - Estou dentro!!!

Agora é oficial!!!!
Sou voluntária da organização SeventyK, que se dedica a lutar pelos direitos dos jovens e adolescentes portadores de câncer.
Aceitei traduzir o site deles para português, pois acho que este tipo de organização faz muita falta no Brasil. Os pacientes de câncer não estão organizados e principalmente os mais jovens sofrem muito com isto -- olhar a morte nos olhos quando se viveu tão pouco ainda.
A organização ainda é pequena, mas cheia de idéias promissoras que podem mudar a vida de muita gente. Que bom que tem gente que pensa assim, que pensa nos mais frágeis e que leva as idéias à frente. Que bom que o mundo está cheio de gente engajada.


O preconceito, a minoria e eu


Este emprego está sendo uma experiência completamente diferente para mim, pois vivo aqui como "minoria", já que sou considerada "Latina." Este debate é velho (escrevi até um artigo para o jornal da minha faculdade em 1993 sobre o assunto!!!), mas de tempos para cá resolvi abraçar qualquer rótulo que queiram me dar, qualquer coisa para me tornar ao mesmo tempo única e parte de um grupo... Coisa paradoxal. Coisa de gringo mesmo. Não estou nem aí! Eu sou eu e é isto que importa! Sou Danielle, brasileira, carioca, mulher, jornalista, ativista, esposa, filha, irmã, neta, prima, sobrinha, madrinha, amiga, paciente profissional, etc.

Mas tenho que confessar que das coisas que mais me machucam é a injustiça. Nunca fui muito ligada a preconceito apesar de já tê-lo visto de perto várias vezes -- por ser mulher, por ser latina e por ser ex-paciente de câncer. O preconceito não me intimida, ele me instiga e me desafia a mostrar ao outro o quão idiota ele é. Na maioria das vezes perfiro ignorá-lo, fazer de conta que não é comigo, que não me atinge, mas quando a situação é descarada, aí enfrento mesmo e coloco quem quer que seja no lugar, sem sair do salto.

De certa forma, a gente até pode evitar o preconceito, tentando passar longe daqueles que têm mente tacanha. O problema é que muitas vezes o preconceito leva à injustiça e aí a natureza do problema muda completamente.

A injustiça é por si só aviltante e quando se trata de saúde ela é mortal. Saúde é questão polêmica nos quatro cantos do planeta, mas enquanto não se encontra a solução para o problema será que a gente consegue achar normal que uma pessoa pobre morra muito mais rápido que uma pessoa abastada quando elas têm a mesma doença? Não posso me conformar com isto. Aliás espero que nunca consiga, sinceramente espero que o cinismo e a falta de esperança nunca mudem quem eu sou.

O nosso trabalho aqui é identificar a raiz das desigualdades na saúde e a longo prazo fazer com que estas disparidades desapareçam. Parece tarefa hercúlea. E é.

August 26, 2008

Enquete


Pois é, já está chegando aquela época meio tensa, a época de preparação para os exames de acompanhamento de fígado.

No final do mês que vem, vou ter que ir ao hospital dar uma olhadinha no meu fígado. O problema não é o fígado em si -- se Deus quiser -- mas tudo que o exame envolve. Quem lê o blog vai lembrar do fiasco que foi a minha última consulta em Johns Hopkins, que a propósito foi eleito mais uma vez o melhor hospital dos EUA.

Pois é, agora vou ter que me decidir e queria pedir a ajuda de vocês. Não, ainda não vou transformar a minha vida num episódio de Você Decide ou de novela da Record, mas queria ouvir opiniões diferentes antes de tomar minha decisão.

Obviamente vou conversar com meu médico no Rio também, afinal ele me recomendou o melhor dos melhores, só não sabia que o melhor dos melhores estaria cercado pelas piores (enfermeiras). Então peço que vocês respondam a pesquisa ao lado e mandem seus comentários. Vou ter que marcar a consulta nas próximas semanas...

Pensamento positivo!!!!

Ainda sobre o acesso à saúde...

Hoje vi uma artigo no Globo sobre pacientes que sempre pagaram planos de saúde e agora com os aumentos e em idade avançada, se vêem à mercê do sistema público. Quem tiver interesse, pode ler a matéria aqui.

O assunto foi abordado mais cedo pelo G1, mas infelizmente pouco mudou de lá pra cá.

Planos de saúde aumentam preços, apesar de estatuto do idoso
Estatuto proíbe reajustes dos serviços para quem tem mais de 60 anos.
Empresas dizem que liminar do STF garante aplicação dos aumentos.

Do G1, com informações do Jornal Hoje entre em contato


O estatuto do idoso é claro: proíbe reajustes em todos os serviços para pessoas acima de 60 anos. A regra passou a vigorar a partir de janeiro de 2004, mas não está sendo respeitada.


Em janeiro de 1999, entrou em vigor a lei dos planos de saúde. Foram criadas sete faixas de idade para os reajustes: de zero a acima dos 70 anos. Durante todo o período, o valor do plano pode ser reajustado em até 500%. Em janeiro de 2004, passaram a valer as regras do estatuto.

Para se adequar ao estatuto do idoso, a Agência Nacional de Saúde (ANS) criou uma nova tabela de faixa etária para os reajustes estabelecendo que os aumentos só podem ser aplicados até os 59 de idade. Mas os institutos de defesa do consumidor consideram que assim mesmo os idosos ainda estão sendo prejudicados.

Saiba mais

* » BNDES vai fortalecer empresas do setor de saúde
* » Para ministro, novo tributo com renda destinada à saúde é necessário
* » Veja quem votou a favor e quem votou contra a aprovação da 'nova CPMF'
* » Presidente da Fiesp diz que 'nova CPMF' é ilegal

Já há decisões da justiça proibindo os reajustes para idosos, mas algumas empresas de planos de saúde ignoram as determinações dos juízes, de acordo com Daniela Trettel, advogada do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).


Consumidor x empresas

Quando mais se precisa do plano de saúde, mais se tem que pagar por ele. É o que concluiu o aposentado Antônio Custódio Leite, de 70 anos. Com um contrato que já dura 20 anos, ele vem sofrendo os maiores reajustes justamente agora, que a renda diminuiu e a necessidade de atendimento médico aumentou.

Em nota, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) justificou os aumentos afirmando que a lei não pode retroagir. E que um parecer do Supremo Tribunal Federal (STF), ainda em caráter liminar, é favorável à manutenção das regras anteriores ao estatuto do idoso.

August 25, 2008

Acesso à saúde


Das maiores injustiças do mundo está a doença. Ela não escolhe hora para chegar nem vítima para atacar. Um dia se está bem e saudável, outro dia se luta contra a morte. Nada me parece mais injusto, mais covarde.

Aliás só há algo mais covarde que a doença: a falta de acesso à saúde, que em teoria é um direito de todos e não um privilégio. Mas na verdade este direito não é universal e perversamente é negado àqueles que mais precisam: os mais pobres, os mais frágeis, os mais velhos, os mais jovens, os negros, os mestiços e os que moram longe dos grandes centros urbanos.

Isto me incomoda profundamente, me afronta. Cada vez que escuto um caso de alguém que morreu esperando atendimento ou um paciente que aguarda cirurgia enquanto sua saúde se deteriora, sinto uma pontada no coração. Sei que isto não me faz diferente de nenhum ser humano decente, mas acho que em mim isto têm um significado maior, pois sei o que é estar naquela posição de perplexidade, de impotência, mas não imagino o que é precisar de cuidado e não ter. Por que eu tive tudo a tempo e a hora e outros não têm?

Não tenho o que muitos chamam de "survivor's guilt" ou complexo de culpa do sobrevivente, mas me revolta saber que tantos não vão ter a sorte que eu tive. Acho que o problema esta bem aí, saúde não deveria ser uma questão de "sorte", deveria ser direito assegurado a todos.

Não sei o que as autoridades estão fazendo no Brasil, fora colocar na cadeia pessoas inocentes e impedir que médicos possam salvar a vida de pacientes em estado grave, mas felizmente aos poucos vou me inteirando do que acontece por aqui. E graças a Deus, pelo menos aqui em Maryland, as coisas são diferentes.

Sempre soube que saúde era uma questão muito delicada nos EUA, um paradoxo numa potência mundial onde não existe cobertura universal. Agora vejo isto tudo muito de perto, em primeira mão, e me convenço de que o Rio e Baltimore têm muito em comum, uma população pobre e desassistida, violência e miséria. Em muitos aspectos, Baltimore é uma cidade de terceiro mundo, muito semelhante ao Rio, São Paulo ou Salvador.

Se no Rio, escuto algumas histórias tristes, aqui em Baltimore, tenho números e estatísticas que ilustram um quadro deprimente e expõem a fragilidade do sistema de saúde norte-americano.

Por incrível que pareça, um homem negro nascido em Washington, DC, capital dos EUA, tem uma expectativa de vida 57.9 anos -- menor do que os homens nascidos em Ghana (58.3 anos), Bangladesh (58.1 anos) ou na Bolívia (59.8 anos). Em compensação, uma mulher de ascendência asiática nascida em Westchester County (subúrbios ricos fora de Nova York), pode esperar viver em média 90.3 anos.

O meu novo emprego no Departamento de Políticas e Planejamento na Escola de Medicina, se propõe acabar com estas disparidades, facilitando o acesso das minorias à saúde, oferecendo programas desenvolvidos especificamente para estas comunidades negras, latinas, indígenas e rurais, levando em consideração as barreiras geográficas, culturais e lingüísticas. Tenho certeza que será uma experiência inesquecível e que vai me abrir os horizontes de uma forma assustadora. Se no Brasil, faço parte da "maioria", aqui nos EUA, sou latina (com muito orgulho!) e questões como esta assumem uma dimensão completamente diferente para mim.

August 22, 2008

Enquanto isto em Washington...

Desde que a "escândalo" envolvendo o Dr. Joaquim estourou, uma história não me sai da cabeça. Há alguns anos li uma matéria no Baltimore Sun (mera coincidência!) sobre o pai de um colega de faculdade.

Fiquei atônita quando soube do estado de saúde deste herói da guerra do Vietman, admirado por todos por aqui, e mais surpresa ainda com o final de história. Coisa de filme americano!

Então parei apra pensar...Em 2008 no Brasil, meus médicos são chamados de "criminosos" por salvarem uma vida. Em 2002 aqui nos EUA, um amigo dos tempos de faculdade recebe um prêmio e todo o apoio da opinião pública por ter conseguido salvar a vida do pai. Por incrível que pareça o motivo para a desgraça do médico e a aclamação do filho é o mesmo: o regate de um fígado para um paciente à morte.

Vale a pena ler...


Baltimore Sun
August 16, 2002
'Semper Fidelis' Saves A Life

Decades after his heroics in Vietnam, relatives and servicemen mobilize to help a dying vet.

By Ellen Gamerman, Sun National Staff


WASHINGTON - John Ripley's worthless liver had left his skin a sickly yellow. Toxic fluids were collecting in his system, causing his lean frame to bloat: Once 175 pounds, he now weighed 425. His kidneys were failing. An incision glared from his abdomen, closed with staples in case surgeons had to rip it open fast. Eighteen IV lines fed into his unconscious body. One of the Marine Corps' greatest living heroes was dying. In the intensive care unit at Georgetown University Medical Center, a son of the retired colonel, Tom Ripley, sat vigil. It was 7 a.m. when the phone rang: A donor liver had been found, but his father might not live long enough to get it.

That's when the Ripleys understood that the delivery of the liver, from a 16-year-old gunshot victim in Philadelphia to the dying veteran in Washington, would take too long if left in the hospital's hands. Their
only thought: Call in the Marines. Over the next hours on that day last month, saving John Ripley's life
became a military mission. It would involve the leader of the Marine Corps and helicopters from the president's fleet. Support teams would come from police in two cities, a platoon of current and former Marines, the president of Georgetown University and even a crew of construction workers. "Sir, this is my dad's last chance," Tom Ripley said in a call to the Marine commandant's office. "I'm measuring my father's life in hours,
not days." The extraordinary efforts to save the 63-year-old Ripley, recovering from transplant surgery at Walter Reed Army Medical Center in Washington, shows how far the Corps will go to protect one of its own. Marines will say they'd do this for any fallen comrade. But Ripley is no ordinary Marine. In a messy war with few widely recognized heroes, he is a legend. And at his moment of need, the Corps treated him like one. "Colonel Ripley's story is part of our folklore - everybody is moved by it," said Lt. Col. Ward Scott, who helped organize the organ delivery from his post at the Marine Corps Historical Center in Washington, which Ripley has directed for the past three years. "It mattered that it was Colonel Ripley who was in trouble."

A heroic effort


On Easter Sunday 1972, Col. John Walter Ripley - swinging arm over arm to attach explosives to the span while dangling beneath it - almost single-handedly destroyed a bridge near the South Vietnamese city of
Dong Ha. The action, which took place under heavy fire over several hours as he ran back and forth to shore for materials, is thought to have thwarted the onslaught of 20,000 enemy troops. His tale is required reading for every Naval Academy plebe. In Memorial Hall, Ripley, a 1962 academy graduate, is the only Marine featured from the Vietnam War: A diorama shows him clinging to the grid work of the bridge at Dong Ha. Ripley received the Navy Cross, the second-highest award a Marine can receive for combat. That decoration is surpassed only by the Congressional Medal of Honor, which, many in the Marine Corps vigorously argue, Ripley deserves. But on this July morning, three decades after surviving combat wounds, Ripley was facing death from a transportation problem. His doctors tried four civilian organ transportation agencies and could not immediately be guaranteed a helicopter by any of them. The Ripleys say they were told that a civilian helicopter would not be available for at least six hours. Driving to Philadelphia was not an option because doctors worried that any traffic delays would ruin the organ.

Helicopter mission


Tom Ripley saw only one solution. From his father's hospital room, he called the office of the Marine Corps commandant, James L. Jones, and secured the use of a CH-46 helicopter, which is part of the presidential
Marine One fleet. The plan: The chopper would ferry the transplant team to the University of Pennsylvania hospital to remove the donor liver and then transport the doctors back to Washington. Marine lawyers instantly approved the use of military materiel for Ripley, including nearly three hours on a helicopter that costs up to
$6,000 an hour to operate. The commandant considered this an official lifesaving mission for a retired Marine still valuable to the Corps as a living symbol of pride. Action was swift. The doctors rushed to Anacostia Naval Air Station, where the helicopter was waiting, rotors spinning. The chopper took off before the surgeons were even strapped in. By about 10 a.m., just three hours after learning that a new liver would be available in
Philadelphia, the transplant team was swooping into that city. On the landing pad, an ambulance and a Philadelphia Highway Patrol car, both summoned by the Marines, were waiting. The motorcade took off, sirens
blaring. "When you're in a situation like this, and an organ becomes available, you use the fastest resource to get it," said Dr. Cal Matsumodo, a transplant surgeon from Walter Reed who flew on the helicopter to retrieve the new liver. "This turned out to be the swiftest and best-organized effort that I've ever seen."

Years of problems


Ripley's original liver had been ruined by a rare genetic disease as well as by a case of Hepatitis B that he believes he contracted in Vietnam. After a year-and-a-half of hospitalizations and infections, Ripley had received a new liver from a D.C. area donor July 22. But within hours of the surgery, that donor liver began to fail. Medical professionals say the organ donation process is safeguarded to keep powerful people from skipping to the top of the waiting list. It was Ripley's critical condition - caused by the failure of the first
donor liver, his doctors say - not his personal story, that put him first in line for another liver July 24.
Still, most new organs are never granted military escorts. "It was clearly extraordinary, what they did," said Roger Brown, manager of the Organ Center at the United Network for Organ Sharing, a
clearinghouse for organ procurement and allocation. Sometimes, Brown said, patients will die because available organs cannot be transported to them in time. "There's a lot of work that goes into matching a donor with a patient," he said. "If you can't find that one piece of the puzzle, it's just devastating." In Ripley's mind, the mission that day reflects the strength of the Marine Corps fraternity. As he convalesces at Walter Reed, where he went after his operation and is listed in stable condition, he summons his booming voice long enough to insist that Marines would do the same for even an unknown grunt. "Does it surprise me that the Marine Corps would do this?" Ripley said from his hospital bed, his dog tags still hanging around his neck. "The answer is absolutely flat no! If any Marine is out there, no matter who he is, and he's in trouble, then the Marines will say, 'We've got to do what it takes to help him.'"

A battle plan


In Philadelphia, though, the Marine pilots knew exactly whom they were helping, and they called it an honor. On the helipad, the flight crew stood ready as the transplant team rushed back with a box marked "HUMAN ORGAN: FRAGILE." Moments later, Tom Ripley, traveling with the doctors, got an update from his oldest brother, Stephen, at his father's bedside. Their dad's condition was worsening. The organ had to get to Washington, fast. Tom and Stephen, both former Marine captains, debated the quickest "rtb" - return to base, which in this case meant the Georgetown hospital. In pager messages fired off like battlefield dispatches, the chopper became "the bird" and the doctors the "pax," slang for passengers. As the day wore on, the brothers drew from their military roots, comforting each other with the Marine motto, Semper Fidelis. Their father, meanwhile, lay still. His dog tags, fastened with the same tape he'd used to keep them from clanking on secret missions in Vietnam, had been removed. Twice, the family had summoned a Catholic priest to deliver last rites. Now, the Ripleys wondered whether a third might be needed. The hours ticked away, and the family learned that the Marine helicopter was too big to land on the Georgetown hospital helipad. But the doctors
feared getting stuck in traffic on the drive from the Anacostia helipad to the hospital.

The delivery


A well-connected Marine buddy of Ripley's called the president of Georgetown University and got permission to land on the school's football field. A construction crew standing nearby was soon ripping down fencing to make room. But the Marines rejected that makeshift helipad after sending another helicopter to survey it. The area was deemed too crowded for a landing. At one point, the Ripleys suggested landing at the Marine Corps War Memorial, across the river from Georgetown, by the statue that depicts Marines raising the flag at Iwo Jima. But that fanciful notion went nowhere. The answer finally came in the form of a D.C. police helicopter pilot - Sgt. Thomas Hardy, a former Marine. A Corps official found him and asked whether he would take the team from Anacostia to Georgetown on his smaller chopper. "This was a Marine Corps mission," said Hardy, a Vietnam veteran who agreed to fly without hesitation. "Once a Marine," he explained, "always a Marine." The organ delivered, the surgery could finally start. The next day, Ripley's recovery began. Slowly, he is gaining strength and returning to a normal weight. Despite the surgery's success, risks of infection or other problems remain. His family expects him to be in the hospital for up to three more weeks. Ripley rests quietly, unable to accept visitors. His wife of 37 years, Moline, sits with him amid pictures of their four children and their grandkids.

Repaying an old debt


The sons who orchestrated this rescue operation call it a culminating moment in their father's military life. John Ripley was shot in the side by a North Vietnamese soldier and during two tours of duty was pierced with so much shrapnel that doctors found metal fragments in his body as recently as last year. After Vietnam, Ripley continued to serve, losing most of the pigment in his face from severe sunburns while stationed above the Arctic Circle. The Marines, his family believes, repaid a longtime debt. "Dad gave 32 years of his life to the Marine Corps," said Stephen Ripley. "When he really, really needed the Marine Corps, they were there
for him." Even from the quiet of his hospital room, the Marine Corps still defines Ripley. His family has packed a cabinet by his bed with copies of a book that John Grider Miller wrote about Ripley's heroics; Ripley says he
will give complimentary copies of The Bridge at Dong Ha to the medical staff. Not long ago, a military color guard held a bedside ceremony for him, placing in the room the Marine Corps colors that normally hang in
Commandant Jones' office. Ripley was urged to keep the flags in his room until he leaves the hospital.
On a recent afternoon, Ripley looked past his IV machine, past the uneaten hospital lunch, past the plastic cup of pills, to the flags. He was, at that moment, John Ripley, grateful warrior, awed by what his sons, and the Marines, had done. "They reached over the side," he said, "and they pulled me back in the boat."

Frentes de trabalho...

Estou com uma novidade engasgada há meses. Queria esperar mais um pouco para contar mas a verdade é que a minha língua já está coçando!!!

Muita gente aqui sabe que virei colunista/correspondente internacional(!!!) da Revista Noivas Rio de Janeiro. Num momento nada característico meu de extrema cara-de-pau, peguei o telefone aqui em Maryland e resolvi ligar para a Lu Bittencourt, editora da revista. Tinha trocado uns emails com ela uns meses antes por conta de uma foto minha que tinha saído na revista, mas nosso contato acabou sendo bem rápido.

Com a proposta de trabalhar em casa para o Mergermarket, resolvi aproveitar meu tempo e a estrutura de home office para fazer matérias que me dessem prazer. E foi assim que acabei me tornando colaboradora da revista. A minha primeira coluna saiu dentro da Fique Por Dentro e ainda colaborei com umas outras matérias, dando um foco Americano/internacional. A parceria tem dado certo e agora no próximo número da revista, minha coluna vai ser independente e com direito a foto e tudo! Oooh-hoo!

Alguns meses antes, para ser mais precisa, em fevereiro, uma amiga minha me deu umas revistas assim que saí do hospital. Uma delas era a Criativa, que para minha surpresa estava completamente repaginada – mais jovem, mais interessante, mais dinâmica. Lendo a revista, imaginei uma matéria da Kris Carr, do Crazy Sexy Cancer, lá. A Kris era a cara da revista; bem-humorada, atrevida, corajosa e moderna.

Em outro arroubo de cara-de-pau, resolvi mandar um email para a redatora-chefe da revista. Sei que isto é a coisa mais comum na vida de qualquer repórter, mas sempre tive um medo terrível de rejeição e evitei ao máximo estes telefonemas/emails oferecendo meus serviços a estranhos, mas no fim decidi que um email não seria tão ruim assim. Apertei o "send" e lá se foi minha mensagem. Não liguei para confirmar nada, não fiz follow-up, deixei para lá. A minha breve cara-de-pau tinha acabado assim que o email tinha sido enviado.

Vários meses se passaram até que em junho, para a minha total surpresa, a redatora me escreve de volta, dizendo que tinha adorado a minha pauta e tinha encaminhado para a editora, que ia entrar em contato comigo. Dito e feito! Em questão de horas elas tinham comprado a minha idéia, mas o prazo da matéria era de uma semana!!!! Quase enlouqueci, pois estava às voltas com um outro projeto muito bacana de uma vinícola no Vale do São Francisco. Mas como dizem por aqui, "when it rains, it pours" e eu nunca fiquei triste de ter trabalho bacana para fazer.

Depois de trocar emails com um monte de gente, resolvi ligar do nada para a editora da Kris. Obviamente a pessoa responsável estava fora, então continuei ligando até encontrar alguém que pudesse me ajudar. Acabei falando com a agente dela que, depois de algumas perguntas, agendou a entrevista para a semana seguinte. Conversei com o pessoal da Criativa e consegui aumentar um pouquinho o prazo.

A entrevista foi superbacana e ainda que por telefone deu para sentir a vibração boa da Kris. Se no início, apesar de admirá-la muito, eu tinha alguma reservas quanto ao seu "bom humor excessivo", conversando com ela, vi que ela era uma pessoa extremamente centrada. Trocamos muitas experiências; ela me deu várias dicas de saúde, pois agora ela é especialista em alimentação, e respondeu a todas as perguntas com franqueza absoluta. Desliguei o telefone feliz e satisfeita de ter cumprido a minha missão.

Apesar da correria toda, o livro da Kris, que estava marcado para sair em agosto, foi adiado para mês que vem, sendo assim a Criativa segurou a matéria para coincidir com o lançamento, então a minha matéria sai na edição do mês que vem, setembro.

Nestas horas me lembro bem o motivo que me levou a virar jornalista: poder me aproximar de qualquer pessoa, fazer qualquer pergunta (dentro dos limites da inteligência e da sensibilidade humanas) sem precisar de justificativa. A parte ruim é que às vezes a gente acaba entrevistando quem não quer e tem que fazer perguntas que para nós não fazem a menor diferença, mas não tem opção, afinal são ossos do ofício.

Mas depois de tudo que já passei e das experiências e desilusões que tive dentro da profissão, hoje me encontro numa posição invejável: só falo e só escrevo sobre as coisas e as pessoas que me interessam. Não me interessa inventar matéria sensacionalista; não me interessa devassar a vida de inocentes, não me interessa julgar e condenar ninguém. Quero falar de gente que tem mensagens interessantes para dividir, que tem uma trajetória de vida com a qual possamos aprender, quero estar perto do que me inspira e não do que me causa nojo.

Se durante muito tempo me vi em situações onde pensei não ter escolhas, hoje vejo tudo muito diferente. Sempre há opções. Às vezes não são as alternativas ideais, mas elas elas existem e a vida é feita delas. Aprendi na marra que não se pode ter tudo na vida, ou pelo menos não exatamente do jeito que a gente sonhou, mas é justo isto que nos faz pessoas mais interessantes.

A Kris disse na entrevista, que independente do c6ancer, ela percebeu que coisas boas iriam acontecer. Acho que foi à mesma conclusão que cheguei. Ela tem razão, coisas boas vão acontecer, mas temos que estar abertos para elas e acreditar. Pena que eu tenha demorado tanto para entender isto.

August 21, 2008

"Of all the forms of inequality, injustice in health care is the most shocking and inhumane."

Martin Luther King Jr.

Nada como um dia apos o outro...

Noticia que foi publicada nos jornais cariocas de forma estranhamente discreta...
A materia transcrita abaixo saiu na Folha de Sao Paulo ontem.

So no Brasil um medico e preso e humilhado publicamente sem ter cometido qualquer erro medico.

So no Brasil uma medica comete um erro que resulta na MORTE de uma paciente e "afastada por falhas admistrativas".

Nao acuso ninguem, mas acho que temos muito a refletir. O mais injusto de tudo isto e que inocentes paguem com a vida pela crueldade e pela incompetencia de outros.

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Quarta-Feira, 20 de Agosto de 2008
O Estado de São Paulo
Chefe de transplantes sai após erro

Rio afasta coordenadora porque paciente de 51 anos recebeu rim no lugar de mulher de 60; nome era parecido

Fabiana Cimieri, RIO

A Secretaria de Estado da Saúde do Rio determinou ontem o afastamento da coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Ellen Barroso, sob acusação de falha administrativa. Uma sindicância concluiu que ela teve responsabilidade no caso de um rim transplantado por engano, em março. De acordo com a apuração, teria havido falha na checagem dos dados das pacientes.

Além dela, uma outra funcionária foi afastada cautelarmente. Elas terão dez dias para apresentar suas defesas. Ellen estava no cargo desde o ano passado, quando sucedeu ao cirurgião Joaquim Ribeiro Filho, preso recentemente na operação Fura-Fila sob a acusação de desrespeitar a ordem dos transplantes de fígado.

O erro aconteceu em março, quando foi captado um rim que deveria beneficiar a doméstica aposentada Maria das Graças de Jesus, de 60 anos. O órgão foi transplantado para outra pessoa, de nome parecido, Maria das Graças de Jesus Araújo, de 51 anos, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, conhecido como Hospital do Fundão. Esta última morreu em maio.

O subsecretário jurídico e de corregedoria da Secretaria da Saúde, Pedro Henrique Di Masi, disse que o relatório do médico que realizou o transplante informou que a paciente morreu de causas infecciosas. "Se fosse por rejeição, provavelmente a morte teria acontecido mais rápido", avaliou a superintendente de Atenção Especializada, Hellen Miyamoto, que substituirá Ellen interinamente na Central de Transplantes. Em nota, a Coordenação de Transplante Renal do Hospital Universitário informou que a instituição agiu como órgão executor. "A Central de Transplantes determinou a realização do procedimento na paciente, que antes havia sido avaliada no Hospital-Geral de Bonsucesso."

De acordo com a sindicância, a paciente Maria das Graças de Jesus foi selecionada como a mais compatível para receber o rim. Mas a funcionária da central telefonou para Maria das Graças de Jesus Araújo. O HGB fez exames pré-operatórios e não percebeu que se tratava de outra paciente. O Hospital Universitário fez o transplante para uma paciente com o prontuário da outra. "Ninguém confirmou documento, nome e CPF. Houve falha na checagem, o que não quer dizer que houve má-fé", disse Di Masi, lembrando que uma mulher tem 60 anos e a outra 51. Maria das Graças de Jesus, que ocupava a 11ª posição na lista de espera por rim, era a mais compatível entre os selecionados. Ontem, passou o dia fazendo hemodiálise, procedimento que realiza três vezes por semana, há três anos. Um de seus rins não funciona; o outro filtra menos de 10% do que deveria. "Achei uma covardia muito grande o que fizeram com ela, que está sofrendo", disse a irmã de Maria das Graças, Rita Guilherme Amaro.

Mais sobre o fígado

De uns anos para cá, virei quase que uma especialista em fígado. Se em 2002 eu mal sabia exatamente onde este órgão vital ficava, por força das circunstâncias, fiquei muito próxima do meu. A expressão "comer meu fígado" passou a ter um significado completamente para mim. E comer bife de fígado, embora recomendado pelo seu auto teor de ferro, tornou-se impossível para mim.

Achei uma matéria bem bacana (e antiga!) na superinteressante e resolvi dividir com quem tiver interesse por este órgão tão importante e às vezes mal-tratado. Quem tiver interesse, basta clicar aqui

August 19, 2008

Good Morning Baltimore II

Achei no Youtube e não resisti!

Adriana, a musiquinha também não me sai da cabeça há dias...

Legal ver o cenário. Apesar da segunda versão do filme Hairspray ter sido filmada em estúdio em Toronto, eles tentaram ser bem fiéis a Baltimore dos anos 60.

A arquitetura continua lá, no meio da confusão, da sujeira e do caos, mas continua. Qualquer dia tiro umas fotos com a minha câmera para vocês terem uma idéia do que é Baltimore hoje.

Passou

Ultimamente tenho sentido que estou prestes a mudar de nivel na escola do cancer. Depois de quase seis anos e uma recidiva, acho que a minha historia pessoal com a doenca esta chegando ao fim. A minha relacao com ela ja nao e a mesma, eu percebo. Sei que uma experiencia destas jamais se apaga da memoria de ninguem, mas aos poucos entendo que ja esta na hora de parar de olhar so para o meu umbigo.

Sim, tive cancer muito cedo. Sim, tive mais de uma vez. Sim, sofri horrores e vou carregar estas lembrancas para sempre comigo – as boas e as ruins. Foi barra, foi horrivel, mas passou.

A verdade e que tive muita, muita sorte. Sorte de ter descoberto a doenca silenciosa que sequer apresentava sintomas; sorte de ter uma familia que me deu todo apoio emocional e financeiro; sorte de ter chefes e colegas de trabalho que se mostraram mais que amigos, de ter amigos que se mostraram formidaveis e de ter medicos tao competentes quanto humanos, que me salvaram duas vezes e sempre estiveram do meu lado.

Entao chega de chorar sobre o que ja foi.

August 18, 2008

Good Morning Baltimore!



Quem viu o filme Hairspray vai lembrar da saudação no início do filme de John Waters, símbolo máximo do cinema kitsch americano. O filme original chegou às telas em 1988 e fez tanto sucesso que mereceu uma nova versão estrelada por Zec Ephron, astro de High School Musical, ano passado.

Mas o post não para falar de John Waters, nem de Michael Phelps, cidadão mais ilustre de Baltimore, mas da cidade em si. Está bem, vou falar um pouco do Michael Phelps, pois o cara é realmente um fenômeno. Em pensar que tudo começou depois do diagnóstico de ADHD - Attention Deficit Hyperactivity Disorder, uma "condição" bem comum em meninos em idade pré-escolar. A mãe não sabia como lidar com a hiperatividade de Michael e resolveu tentar a natação...quinze anos depois surge o maior campeão olímpico de todos os tempos. Incrível. Mas como americano é povo engajado mesmo, Debbie e o filho Michael decidiram abrir uma fundação para ajudar pais a lidarem com filhos portadores desta mesma "deficiência". E Michal não vai parar por aí. Na volta para casa, Michael que acaba de se formar, decidiu que vai recuperar o Baltimore Aquatic Center, que como muita coisa nesta cidade vive anos de ostracismo. Bom pro Michael. Melhor para Baltimore, cidade pobre e nada glamurosa que aos poucos recupera o prestígio perdido há muitos anos.

Baltimore, que para quem não sabe NÃO é a capital de Maryland (Annapolis é a capital) pode ser chamada de prima pobre da "arrumadinha" Washington. É também capital da violência americana, posto que disputa pau a pau com Detroit ano a ano. Baltimore é blue-colar, Washington é white-colar. Baltimore é operária e Washington é executiva, mas Baltimore tem personalidade, tem pulso, é real. Quando muitas cidades americanas têm que "inventar" arquitetura e história, Baltimore tem de sobra e agora com a revitalização de vários pontos da cidade a gente começa a ver beleza que ficou escondida tanto tempo.

O relógio da foto é a paisagem que vejo da minha janela. Vocês não imaginam a minha felicidade ao entrar na cidade de manhã cedo e de longe avistar os arranha-céus. Sou urbana. Urbana mesmo. Sempre fui assim.

Queria encontrar a felicidade no campo, junto ao verde e ao canto dos pássaros, mas não consigo por mais que me esforce. Preciso de asfalto, preciso da vibração, de vozes, de outros seres humanos, preciso de um pouquinho, só um pouquinho de caos, para ficar à vontade.

Se no início a cidade me assustou bastante -- há bolsões de pobreza que se comparam às áreas mais pobres do Rio -- aos poucos vou conquistando meu espaço, vou vencendo o medo de me aventurar.

Jamais pensei que fosse trabalhar tão diretamente em questões ligadas à saúde. Nunca pensei que fosse militar pelo direito dos menos favorecidos, dos esquecidos, num país de primeiro mundo, na maior potência mundo. Jamais pensei em ver tantas vulnerabilidades tão expostas.

O bom de Baltimore é isso, a cidade é muito real -- tem história, tem pobreza mas tem carater e eu gosto disso. Num mundo tão artificial é alívio conhecer pessoas e lugares de verdade.

August 16, 2008

Em dois tempos

Impossível não parar para pensar...


Janeiro de 2008





Agosto de 2008.







Realmente a vida dá muitas voltas...

Caribe em fotos




Novidades

Esta semana foi cheia de novidades para mim. Chegamos do Caribe no sábado, desfizemos as malas, arrumamos a casa e quando vimos a tão aguardada segunda-feira, 11 de agosto, tinha chegado.

Pois é, segunda-feira, foi meu primeiro dia no trabalho novo e por incrível que pareça me senti muito bem lá. Acho que vai ser um experiência muito bacana, primeiro pelo que o trabalho em si se propõe: tornar a saúde mais acessível às minorias e populações de baixa renda; segundo pela diversidade dos meus novos colegas de trabalho e terceiro pela localização superurbana, no coração de Baltimore, uma cidade nada glamurosa mas que tem seu charme por ser muito "real". Vou tirar umas fotos e postar aqui.

Esta semana vai ser mais movimentada pois vou ter uma reunião sobre o acesso das minorias e das populações de baixa renda a testes clínicos relativos ao câncer. A disparidade é enorme e quem mais precisa de medicina de ponta é justamente a população de baixa renda e saúde frágil, normalmente excluída dos testes clínicos. Uma das missões do nosso departamento é justamente diminuir a desigualdade e fazer parte de um grupo assim me deixa muito feliz.

Estou cheia de expectativas e espero que as coisas continuem a ir bem. Acho que depois de tudo que passei no último ano, chegou a minha vez.

August 14, 2008

Panfletagem

Pois e, tem dias que so tenho falado na historia do Dr. Joaquim. Sei que ja devo estar me tornando ate chata, mas isto tudo me abalou demais.

Num pais onde a saude e uma questao tao problematica querem impedir que brilhantes profissionais exercam a medicina. A equipe do Dr. Joaquim e brilhante e honesta. Se fosse inescrupulosa ou comerciante -- como varios medicos que existem por ai -- poderiam ter tirado todo o dinheiro da minha familia. Nao tiveram uma, mas duas chances de nos explorar, quando dariamos tudo o que tinhamos e mais um pouco para que a minha vida fosse salva. Nao precisamos. Gracas a Deus e a consciencia dos medicos que me trataram, sempre preocupados com a minha saude e com o meu bem-estar em primeiro lugar. Nas duas vezes so discutiram preco depois de se certificar que meu plano de saude iria cobrir boa parte da cirurgia.

Eu tirei tres tumores do figado em cinco anos em duas cirurgias espetaculares e milagrosas. Poderia ter feito transplante? Sim, claro, imagino que muitos medicos carreiristas nao iriam pensar duas vezes antes de me sugerirem um transplante urgente, pois assim poderiam dizer que fizeram mais um transplante (ponto pro curriculo deles!) e ainda trocariam uma cirurgia cheia de incertezas por um "procedimento padrao".

Mas nao o Dr. Joaquim, que sempre seguiu sua consciencia defendendo o transplante como a ultima opcao. "Fora os tumores seu figado e muito saudavel. Voce tem muito figado para isso. Nao precisa de transplante," ele sempre me dizia.

Eu poderia ter feito o transplante no Brasil ou em qualquer lugar do mundo -- gracas a Deus tenho condicoes e conhecimento para isto. Mas nao fiz. Nao fiz porque o Dr. Joaquim, que poderia ter me vendido dois figados a peso de ouro (como a midia acusa), nao deixou. Ele disse que nao precisava. Eu acreditei na palavra dele. Estou viva ate hoje, mais viva e saudavel do que nunca.

Para quem nao sabe, os prognosticos para pacientes de hepatocarcinoma (meu caso) sao bem ruins, cerca de 20% tem sobrevida (detesto esta palavra!!) de ate cinco anos, mesmo depois da cirurgia. Eu ja estou viva ha quase seis e se Deus quiser vou viver muito mais. E ja que Deus me deu esta chance pelas maos da equipe do Dr. Joaquim, vou defende-los ate o final para que outros pacientes tenham a mesma chance que eu tive. So por isto.

A esquizofrenia continua


Lendo esta materia no Estadao fiquei estupefata. As alegacoes sao de uma inconsistencia absurda.

Quem tiver curiosidade clique aqui. Para quem estiver sem tempo, selecionei os "melhores momentos" ou perguntas que nao querem calar.

Seria comico se nao fosse tragico.

Foi a primeira vez que o médico, que é uma referência em, transplantes de fígado, apareceu em público depois de ter sido preso pela Polícia Federal na Operação Fura-Fila. Ele demonstrou segurança nas respostas, contestando cada uma das acusações.

Como assim a primeira vez? O cara sai de casa escoltado por varias viaturas policiais, tem a vida devassada, passa uma semana na companhia do Cacciola e do Nadinho e so agora e ouvido??? Onde nos estamos? Em que seculo?


O Ministério Público afirmava que Arraes não poderia ter sido inscrito na fila de espera porque possuía um tumor maior do que cinco centímetros. Mas Ribeiro Filho disse que ele foi inscrito como portador de "cirrose hepática do tipo C Shield-Tugh, o que garante a sua inscrição independente de complicações" e, seguindo ele, o tumor é uma das complicações.

Agora sao os burocratas do MP que vao decidir quais sao os casos mais graves? Seriam Deuses os procuradores? So por passarem num concurso publico agora entendem de ciencia e saude publica?


No final do interrogatório, o juiz Lafredo Lisboa leu um ofício do delegado da Polícia Federal Giovani Agnoletto, ao Ministério Público Federal, de 15 de fevereiro de 2008, em que ele lista uma série de "fatos interessantes" que levaram a Justiça a pedir a prisão preventiva de Ribeiro Filho - já relaxada por habeas corpus - , considerando que ele tentou interferir no andamento das investigações.


Fatos interessantes para quem? Certamente nao para os pacientes que estao na fila do transplante! Estes correm contra o tempo e veem suas chances de cura se esvaindo rapidamente. Dr. Joaquim tentou interferir nas investigacoes? Como assim? Onde estao as explicacoes? A tal investigacao se arrasta por cinco anos e de repente, sem nenhum fato novo, o medico e preso? Quem e que esta interferindo no que?

No documento, Agnoletto afirma que um assessor pernambucano do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, estaria fazendo "gestões para abafar o caso", que o secretário Estadual de Saúde, Sergio Côrtes, teria se reunido com o governador Sergio Cabral e o diretor da TV Globo Guel Arraes, irmão de Carlos Augusto, para avisá-los das investigações. A TV Globo também teria sido avisada e estaria fazendo pressão para abafar o caso. Ainda segundo o ofício, um assessor do ministro da Justiça, Tarso Genro, estaria acompanhando de perto o desenrolar das investigações e a Polícia Federal estaria preparando um dossiê contra Agnoletto.

Agora o mais surreal! Uma teoria de conspiracao involvendo o Ministro Temporao, o Secretario Sergio Cortes, o Governador Sergio Cabral e ate a TV Globo!!! So faltou colocar a culpa no Bush!!! Gente, sera que alguem deste nivel acha que pode ser levado a serio??? Quem e o tal Agnoletto mesmo?

O procurador da República, Marcelo Muller, disse que as acusações são graves, "mas não há provas, por isso não me baseei nelas para fazer a denúncia".

Este ultimo trecho entao so serve para fechar com chave de ouro. O proprio procurador da Republica diz que NAO HA PROVAS!!! Nao sou eu quem esta dizendo isto, foi o proprio PROCURADOR, acrescentando que NAO se baseou nelas para fazer as denuncias!!! Onde e que este procurador aprendeu a trabalhar?! Sou eu ignorante ou o sujeito e considerado inocente ate que se prove o contrario? E aquela historia de que a prova e o onus de quem acusa? Sera que estou delirando ou este mundo esta perdido mesmo?

Mais uma vez digo, a verdade vai triunfar, mas ate la quem vai cuidar dos doentes que aguardam desesperadamente por uma cirurgia de figado. Todo dia agradeco a Deus por ter ficado doente em janeiro e nao em julho! So que infelizmente a gente nao escolhe a hora e tem muita gente boa e inocente pagando o preco da mediocridade de outros.

August 13, 2008

Vozes dissonantes numa midia esquizofrenica

Ate que enfim lucidez no pantano que se tornou o jornalismo brasileiro...

Mais uma vez no blog do Moreno, que por mais incrivel que possa parecer e postado no mesmo Globo Online que ja julgou e condenou o Dr. Joaquim.

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Enviado por Jorge Bastos Moreno - 13.8.2008| 9h30m

Transplante
Salvar vidas ou manter a ordem na fila das mortes?

Sob o título " O Silêncio dos inocentes", na edição da "Folha de S. Paulo" do domingo passado, 10 de agosto, o ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva escreveu um dos mais memoráveis artigos sobre a condenação de inocentes e alerta que o caso do médico Joaquim Ribeiro , acusado de manipular a lista de transplante de fígados, pode ser mais uma repetição da Escola Base, um clássico erro jornalístico que manchou a mídia brasileira. O texto do ombusdman da Folha deveria estar pregado em todos os murais das redações deste país, em todas as salas de aulas dos cursos de Jornalismo e, principalmente, em todos os gabinetes do ministério Público e da Polícia Federal.

E este belo artigo do autor, roteirista e diretor de cinema e tv, Jorge Furtado, sobre esse caso dá razão ao alerta do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva. E eu, mais uma vez reafirmo: a família de Augusto Arraes não furou a fila. Simplesmente resgatou um fígado cujo destino era o lixo, Repito também uma frase de Caertano Veloso sobre o caso: "Estão discutindo a fila e não soluções para a fila.

Leia então o artigo do cineasta JORGE FURTADO:



O médico Joaquim Ribeiro Filho foi preso no Rio de Janeiro acusado de fraudar a lista de prioridades nas cirurgias de transplante de fígado. A prisão foi registrada por várias equipes de telejornais. Jornais dizem que ele é "acusado de desvio de órgãos entre 2003 e 2007", mas esquecem de dizer que a acusação se refere a apenas três transplantes. O primeiro caso foi levado ao Conselho de Medicina, que o absolveu por 21 votos a zero. Um dos transplantes não aconteceu. No outro caso, ele é inocente. O fígado que ele transplantou, numa operação de alto risco e brilhantemente bem sucedida, iria parar no lixo de um hospital mineiro se a família do transplantado, no Rio de Janeiro, não tivesse enfrentado uma gincana para conseguir, no dia da queda do avião da TAM, um jatinho para decolar imediatamente, ir a Belo Horizonte e voltar para o Rio. O médico fez a cirurgia e tinha a obrigação de fazê-la, até porque o transplantado tinha um mandato judicial que lhe garantia prioridade. O médico fez muito bem, salvou uma vida, é disso que se trata no exercício da medicina.

O sistema nacional de transplantes tem uma tarefa fundamental, garantir a justiça na ordem de prioridades dos receptores dos órgãos doados, seguindo critérios técnicos: duração da vida útil dos órgãos doados, condições de transporte aos receptores, urgência da cirurgia. O sentido da coisa deve ser salvar vidas e não manter a ordem na lista dos mortos. Um órgão, antes de ir para o lixo, deve ser usado para salvar a vida de quem puder ser salvo, isso é o óbvio. No Brasil, cerca de 400 fígados doados vão para o lixo todos os anos por incapacidade do sistema público de saúde de fazê-lo chegar aos transplantados.

Será que os jornalistas que protestaram contra a "espetacularização" da prisão da quadrilha dantesca que tentava subornar um policial federal vão protestar contra a execração pública do médico que já salvou milhares de vidas com o seu trabalho?

Prender um médico cirurgião que, na pior da hipóteses - já que a presunção de inocência, no Brasil, foi substituída pelo mau jornalismo - representa zero de perigo para sociedade e ocupa desnecessariamente uma vaga na cadeia, é uma burrice. Prender e expor a execração pública uma pessoa inocente que exerceu com extrema eficiência a sua profissão e, assim agindo, salvou uma vida, é um crime. Quem são os autores? Serão punidos?

August 12, 2008

Daqui a pouco no Fundao...


"Queremos nosso médicos"

MANIFESTACÃO DE APOIO AO DR. JOAQUIM E AOS MÉDICOS DA EQUIPE DE TRANSPLANTES DO HOSPITAL DO FUNDÃO NESTA 3ª FEIRA (12/08) ÀS 11 HS.
Em frente ao hospital no fundão/UFRJ.
Qualquer contato conosco,ligue para nossa ONG: tel:25622571
Amigos do Transplante
"QUEREMOS NOSSOS MÉDICOS DE VOLTA"


Se eu estivesse no Rio, nao perderia esta, mas como estou bem longe, so vou poder estar la em pesamento.

A passeata esta sendo organizada pela Lilia. Quem le o blog ha tempos vai lembrar dela. A Lilia foi uma das ultimas pacientes a ser transplantada no Fundao, ha mais ou menos um mes. Lembram da paciente de 23 anos que tirou um tumor de 7 kg do figado e ganhou um orgao novo? Pois e, e a Lilia. Foi ela tambem que teve que apelar para a justica para conseguir realizar o transplante no Hospital do Fundao. Depois de ouvir que teria que fazer o transplante no Hospital de Bonsucesso, ja que o Hospital Clementino Franga Filho supostamente nao teria condicoes de realizar a cirurgia, Lilia entrou com um mandado de seguranca que garantiu que o transplante fosse realizado pela equipe do Dr. Joaquim.

Esta menina ainda tem muito o que fazer. Que garra!

O post esta sem acentos porque estou postando do trabalho novo, que alias, promete. Mas isto ja e assunto para outro post.

August 11, 2008

Por que so agora ouvimos outras versoes???

Tirei esta noticia agorinha da Radio do Moreno, no Globo Online, mesmo jornal que ja tinha julgado e condenado o Dr. Joaquim.

Aos poucos a verdade vem a tona...

Ja, ja vamos conhecer os verdadeiros mocinhos e bandidos nesta historia irresponsavel e leviana.


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polêmica do transplante
Mais uma vez as versões não correspondem aos fatos

Como prometi, leia aqui as explicações de Guel Arraes e José Almino sobre o transplante do irmão deles, Augusto Arraes:

"O que mais nos intriga nesta história do transplante de fígado de nosso irmão Carlos Augusto Arraes – que figura como um dos três casos pelos quais o Dr. Joaquim Ribeiro é denunciado por suspeita de irregularidades – é a enorme discrepância entre o que foi declarado diretamente ou através de simples insinuações pelas autoridades e publicado na imprensa por ocasião da sua prisão e o que nós vivemos efetivamente. Discrepâncias tão sérias que beiram a leviandade ou talvez mesmo a má-fé.

Desde então, tivemos ocasião de esclarecer as circunstâncias da cirurgia pelos jornais, mas é preciso dizer que há alguns meses atrás, Carlos Augusto Arraes e Guel Arraes já haviam dado os mesmos esclarecimentos tanto à Polícia Federal quanto ao Ministério Público e, em ambos os casos, suas declarações aparentementemente não foram tomadas em consideração. Algumas foram efetivamente distorcidas, como é o caso da quantia de noventa mil reais, declarada por eles como consta no inquérito e paga a toda equipe médica pelo tratamento e cirurgia – e que vem a público como uma suspeita de suborno, aumentada para duzentos mil reais). Além disso, até agora ninguém deu qualquer explicação sobre como o serviço público de saúde responsável evitaria que o órgão utilizado para o transplante fosse parar no lixo, caso não tivéssemos custeado um transporte particular para trazê-lo de Minas Gerais para o Rio de Janeiro.

Finalmente (e as incoerências não se esgotam por aqui), diante da enxurrada de declarações publicadas contra o Dr. Joaquim Ribeiro sem qualquer verificação prévia, achamos ser nosso dever dar um testemunho que obviamente só tem valor para os que têm fé em nossa palavra: os honorários de 90 mil pagos à equipe de médicos foram acertados com o Dr. Joaquim somente após duas semanas da cirurgia."

Guel Arraes e José Almino de Alencar

August 10, 2008

Fertilidade pós-câncer

Matéria superinteressante que saiu na Newsweek há algumas semanas.

Temos mais opções do que nunca, mas há riscos também. Vale e pena refletir.

August 9, 2008

De volta


Estou de volta finalmente e cheia de novidades para contar. Na verdade não são tantas novidades assim, mas tenho muito, muito o que colocar para fora. Justo na semana das minhas merecidas férias com o Blake, recebo a notícia da prisão do meu médico e amigo Dr. Joaquim Ribeiro Filho, vítima de gente ardilosa e de mentes perigosas e mesquinhas que manipulam a opinião pública de forma irresponsável e impressionante.

Como o acesso à internet era quase inexistente no navio, fui tomada por uma enorme sensação de impotência. Não que eu achasse que as minhas palavras tivessem o poder de solucionar ou sequer ajudar de alguma forma a equipe médica que salvou a minha vida mais de uma vez, mas a idéia de ficar calada perante uma situação tão absurda quase me enlouqueceu. Me senti amordaçada, presa e completamente impotente.

Amanhã posto com mais calma. Quem conhece a minha história sabe o quanto eu devo ao Dr. Joaquim Ribeiro Filho, médico excepcional e das melhores pessoas que já cruzaram o meu caminho. Devo a minha a vida a ele, aos jovens médicos Eduardo Fernandes e Samanta Basto e ao Dr. João Ricardo, que estiveram sempre ao meu lado, nos piores e nos melhores momentos da minha vida. Estes mesmos médicos que o MP acusa de peculato. Nunca vi coisa mais louca!

Esta investigação de araque não é de hoje, conheço esta história desde o início e vou contar para vocês tudo que sei. A verdade precisa ser dita e os justos não podem calar. Neste imbroglio surreal os grande prjudicados não são os pacientes ricos que podem arcar com custos da cirurgia ou do transplante em qualquer lugar do Brasil ou do mundo, mas sim os menos favorecidos que contavam com o talento e bondade do Dr. Joaquim para sobreviver. Este mesmo médico acusado de "vender órgãos" (expressão igualmente absurda) atendia e operava muita gente de graça, mas isto não rende pauta para a mídia medíocre e sensacionalista.

Fico feliz de saber que o Dr. Joaquim foi colocado em liberdade, mas confesso que muito me preocupa o fato de ele estar impossibilitado de exercer sua profissão, de salvar vidas! Vidas como a minha e tantas outras que foram salvas pelas mãos firmes e pela competência de um dos melhores cirurgiões do mundo. Tive sorte de ter ficado doente no início do ano, muita sorte. Mas ainda assim fico indignada de pensar naqueles que não tiveram a mesma sorte que eu. Só no Brasil alguém é impedido de salvar vidas. Só no Brasil.

Mas como sei muito mais do que a maioria das pessoas que insistem em fazer comentários mentirosos nos sites dos grandes jornais, não posso ficar calada, pois conheço a verdade. Não posso permitir o linchamento moral da equipe que por duas vezes salvou a minha vida.

Fico triste de ver uma polícia política no Brasil. Também morro de medo e percebo que capítulos tristes da história humana teimam em se repetir. A situação atual é no mínimo perturbadora e por isto uma citação que vi há tempos no Museu do Holocausto me veio à cabeça:

"In Germany, they came first for the communists, and I didn't speak up because I wasn't a communist. Then they came for the Jews, and I didn't speak up because I wasn't a Jew. Then they came for the trade unionists but I didn't speak up because I was not a trade unionist. Then they came for the Catholics, and I didn't speak up because I was a Protestant. Then they came for me, and by that time nobody was left to speak up."

Martin Niemoeller, Dachau, 1944


Na minha tradução livre:

"Na Alemanha, eles vieram primeiro atrás dos comunistas, e eu não me manifestei porque eu não era comunista. Então eles vieram atrás dos judeus, e eu não me manifestei porque eu não era judeu. Depois eles vieram atrás dos sindicalistas, e eu não me manifestei porque eu não era sindicalista. Então eles vieram atrás dos católicos, e eu não me manifestei porque eu era protestante. Então vieram atrás de mim, e a esta hora não havia mais ninguém para se manifestar."


Martin Niemoeller, Dachau (campo de concentração próximo a Munique), 1944

August 8, 2008

ALERTA URGENTE - SOLIDARIEDADE AO DR JOAQUIM RIBEIRO FILHO

Ainda bem que tem gente indignada no Brasil!

Abaixo o Macartismo as avessas!

Carta de apoio:

O GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ vem a público denunciar a truculência do Estado brasileiro contra o cirurgião Joaquim Ribeiro Filho, chefe da equipe de transplantes do Hospital Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituição de referência internacional em transplantes de fígado. Acusado pelo Ministério Público de desrespeitar a fila dos transplantes no Rio de Janeiro, Joaquim Ribeiro Filho foi preso no último dia 30 de julho, pela Polícia Federal, que protagonizou um lamentável espetáculo midiático, para o qual a imprensa brasileira foi convocada a acompanhar e registrar, iniciando campanha difamatória, destinada a transformar uma acusação em condenação, pelo tribunal da opinião pública.
Condenado a priori pela operação policial, denominada "Operação Fura-Fila", o médico pioneiro na realização de transplantes de fígado no Rio de Janeiro, doutor pela Universidade de Paris, foi mantido preso e incomunicável por oito dias no presídio Bangu 8, sob a alegação de que poderia prejudicar as investigações, quando, na verdade, tenha manifestado, todo o tempo, por meio de seus advogados, a disposição de colaborar com as investigações em curso, respondendo às acusações que pesam sobre ele.
O GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ repudia esta demonstração de flagrante arbítrio e desrespeito à honra e à dignidade do Dr. Joaquim Ribeiro Filho, a quem hipoteca inequívoca solidariedade. Sua prisão ocasionou o desmonte repentino do serviço de transplantes no Hospital Clementino Fraga, onde centenas de pacientes esperam por uma chance de vida. O expediente da prisão preventiva contra o Dr. Joaquim Ribeiro Filho fortalece e banaliza um modelo de Estado penal e punitivo, no qual o libelo acusatório da imprensa substitui o processo e as garantias de defesa, os direitos humanos são ignorados e as práticas repressivas de exceção são naturalizadas. Solicitamos que este alerta seja amplamente divulgado e que mensagens de apoio sejam enviadas para o blog:
http://transplantevida.blogspot.com/

PELA VIDA PELA PAZ TORTURA NUNCA MAIS!
www.torturanuncamais-rj.org.br/
Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2008

August 4, 2008

Injusto

Acompanhando de longe a saga do Dr. Joaquim, me revolto. Como pode algo assim acontecer em pleno seculo XXI?! Tenho vergonha de um país que vive na era do macartismo e se julga democrático. Como prendem alguém sem provas e usam de forma irresponsável pessoas humildes e ignorantes como massa de manobra?

Estou chocada e entristecida. Sinto pelo Dr. Joaquim, por sua família e por seus amigos. Mas sinto mais, muito mais por pacientes inocentes que perdem tempo valioso e que por questões absurdas não vão ter acesso aos cuidados e a competência do maior cirurgião hepático do Rio de Janeiro.

Hoje houve missa em apoio ao Dr Joaquim Ribeiro Filho. Eu, de longe, não pude participar, mas deixo aqui todo meu apoio a quem me devolveu a vida.

Em apoio ao Dr. Joaquim.