March 10, 2008
A crise imobiliária nos EUA & Eu
Vocês devem estar se perguntando que tipo de título é este para o post, mas já vou explicar. Como é público e notório, não sou muito fã da cidadezinha que moramos aqui em Maryland. A casa é muito bacana, a cidade é fofa, as pessoas são simpáticas, é um dos lugares mais seguros dos EUA...e só! Fica a milhas e milhas de qualquer coisa que se assemelhe à civilização e as opções de entretetimento são no mínimo limitadas. Para você terem idéia, meu passeio favorito aqui é ir à biblioteca! Sou uma traça e leio vorazmente praticamente qualquer coisa, mas além disso tenho outros interesses bem diversos: teatro, cinema-cabeça, museus, exposições e obviamente ópera e ballet, este últimos então bem no topo da lista.
Infelizmente nos últimos meses não tenho feito nada disso, mas já estou determinada a mudar. Não tenho a ilusão de recuperar a minha vida social dos tempos de solteira no West Village, mas ir ao mall ou visitar restaurantes realmente não é o que eu chamo de cultura. Pensando nisto e na possibilidade de trabalho em Washington (que se Deus quiser vai se concretizar muito em breve), convenci o Blake de que precisávamos ampliar nossos horizontes, ou seja, está na hora de mudar de casa! Mais do que isso, está na hora de mudar de cidade.
Depois que ele concordou -- aliás, já tínhamos um acordo de que ficaríamos aqui mas ou menos um ano e depois nos mudaríamos -- começamos a pesquisar o mercado imobiliário. Ainda estamos nos estágios iniciais mas sabemos que não queremos uma mansão, que queremos ficar mais perto de Washington e se possível da família dele. Obviamente não temos um milhão de dólares para gastar, o que aqui passa a ser um problema, pois o preço dos imóveis é inacreditável.
Começamos a pesquisa de campo fim de semana passado e formos visitar uma nova comunidade entre a nossa casa e a casa dos pais do Blake. A idéia é bacana e está se tornando muito popular aqui nos EUA -- casas com menos terreno e mais próximas umas das outras, mas em comunidades praticamente auto-suficientes, tipo Alphaville, em São Paulo. Faz muito tempo que existem vários condomínios imensos na Florida e no Texas, mas em Maryland eles são mais recentes.
Nossa primeira experiência foi meio surreal, pois a tal comunidade (Maple Lawn) ainda está em construção e o preço das townhouses (casas geminadas) chega a US$1 milhão. Sim, um milhão de dólares! As casas obviamente são lindas, mas sinceramente não são para o nosso bolso.
Voltei para casa meio desanimada mas resolvi investigar mais na internet e foi aí que achei uma outra comunidade chamada Clarksburg, que fica a umas 28 milhas ou 45 minutos de Washington. É o mais perto que o Blake pode chegar de Washington e o mais longe que eu gostaria de morar. O engraçado é que o Blake mora em Maryland há mais de 20 anos e nunca tinha ouvido falar na tal cidade. Vimos algumas casas à venda na internet, anotamos os endereços e preço e saímos rumo a nossa aventura.
Adoramos o que vimos! A cidadezinha é linda e os preços bem mais em conta do que em outros condomínios semelhantes. E tem menos de cinco anos de idade, por isto o Blake nunca tinha ouvido falar. Os caras criaram uma cidade do nada em menos de cinco anos!! Visitamos várias casas muito fofas e pela primeira vez enxerguei Maryland como meu novo lar. Aceitei enfim a idéia de fincar raízes e comprar uma casa que tenha a minha cara, um lugar que vou poder decorar e chamar de meu. Mais do que isso, vai ser a nosso primeiro grande projeto juntos e isso tudo me deixa muito animada.
O mais intessante porém foi a aula que tivemos sobre o mercado imobiliário. Todo mundo está de orelha em pé com a tal crise imobiliária americana, mas ninguém sabe muito o que está acontecendo por aqui.
Sempre achei que comprar um imóvel era um processo bem trabalhoso mas também claro, até certo ponto. A gente vê quanto dinheiro tem, quanto quer gastar e quanto quer/pode financiar e depois começa a procurar. Mas aqui a coisa é muito diferente e certamente por este motivo é que a situação nos EUA ficou muito complicada. Numa das casas que visitamos encontramos a Isabel, uma corretora espanhola muito simpática que morou no Rio na década de 70. Ela passou horas conosco nos explicando o motivo do excesso de oferta em Clarksburg. Acertou quem apostou nos especuladores imobiliários...de fundo de quintal! Pois especulador que é especulador tem bala na agulha.
A Isabel, como boa espanhola, disse que sempre achou que o americano era rico, mas que na verdade tudo não passa de ilusão e o povo não consegue entender que nem tudo que brilha é ouro. Para a maioria dos mortais, o tamanho do empréstimo é proporcional ao rendimento do cliente. Nos EUA não. Até ano passado, qualquer um podia pegar praticamente o quanto quisesse sem dar nenhuma entrada. Com alta valorização dos imóveis, muitos viram a chance de ficar milionários sem fazer nenhum esforço e não satisfeitos comprando uma casa fora de suas possibilidades, compraram várias!
E no final do ano passado a festa acabou! E teve muita gente que ficou com uma ou várias casas caríssimas e como não tinha a menor condição de pagar as prestações, vai ter que vender. Quem achou que ia ficar milionário do dia para noite, agora caiu da cama e está cheio de contas a pagar. Então não é raro ver anúncios que tem uma frase bem estranha no final: "Venda sujeita a aprovação de terceiros", o que quer dizer que não basta comprador e vendedor entrarem em acordo. Quem decide se o negócio vai à frente é o banco que concedeu o empréstimo. Em alguns casos há mais de um banco envolvido, pois o sujeito levantou dois ou mais empréstimos para pagar a casa. Nestes casos então, melhor nem entrar no jogo, pois é dor de cabeça na certa.
Saí de lá cheia de informações sobre empréstimos, financiamentos, formas de pagamento, novas exigências e etc. Na volta para casa, o Blake me perguntou o que eu tinha aprendido sobre os EUA ontem. Achei a pergunta muito engraçada, pois já convivo com esta realidade há tanto tempo que nem me preocupo muito em aprender coisa nenhuma. Com exceção de pouquíssimas coisas que me chamam a atenção em algumas ocasiões, nada por aqui me surpreende mais.
Aí pensei por alguns segundos e respondi: "Acho que hoje aprendi mais sobre mim do que sobre os EUA. Percebi que pela terceira vez em pouco mais de um ano, vou me tornando expert em alguma coisa meio que sem querer. " Na época do casamento, eu que nunca pensava em casar, virei uma cerimonialista/organizadora de eventos de primeira. Além do casamento, organizei a agenda de todos os convidados internacionais por aqui. Em seis meses, conheci quase todos os fornecedores, igrejas e casas de festa do Rio de Janeiro. Teria entrado no ramo se não tivesse vindo para cá. Depois disso, quando tive a notícia bombástica e vi um racha na minha equipe médica, decidi me dedicar para valer à causa do câncer. Este blog foi meu primeiro passo, depois mudei a alimentação (e graças a Andrea, companheira blogueira e vegana, não tenho passado fome!!!) e hoje sou bem atuante na American Cancer Society. Logo eu que achava esta história de dieta uma frescura só, hoje sou supersaudável... O destino nos dá cada rasteira. E por último, agora começo as minhas pesquisas imobiliárias. Já estou fazendo as minhas anotações e meu objetivo agora é tornar esta casa linda para que muitos compradores em potencial se interessem por ela. Justo eu que nunca gostei de casa!!!!
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1 comment:
Hehe, que bom que você está comendo direitinho! Fico feliz em ajudar, querida. E boa sorte com a casa! Beijos.
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