June 17, 2009

John Q

Ontem acabamos dever John Q, um filme com o Denzel Washington sobre o desespero do pai ao saber que seu plano de saúde não cobre transplante de órgãos quando seu filho precisa urgentemente de um coração. Dramalhão, eu sei, mas uma crítica merecida ao sistema da saúde americano, que é totalmente cruel e falido.

Claro que não vou fazer comparações, até porque não sou especialista e este tipo de análise tem que ser feita com muito cuidado. Mas o problema neste país é que a saúde ficou completamente na mão dos planos e seguradoras,que reembolsam médicos pelo que eles não gastam em exames e procedimentos preventivos. Uma vergonha!

Fora que aqui parece que profissional de saúde deixa a alma em casa ao sair para o trabalho. A grande maioria dos médicos sequer tem expressão facial! Eles desenganam um paciente sem ao menos demonstrar um pingo de emoção. Com a mania de "honestidade" chegam a beirar a crueldade. Tenho visto isto de perto com a família do Todd. Um dia ele tem dois dias de vida. No outro, tem alguma possibilidade de melhora. E ainda num outro tem umas poucas semanas. Ninguém pode imaginar o sofrimento desta família.

Ontem finalmente ele fez a tal plasmaferesis, um procedimento que ajuda no combate a GVHD, e reagiu bem. Os médicos dizem que farão uma nova sessão na sexta. O que ninguém entendeu foi por que este procedimento não foi feito antes. A Carmi desconfia que o plano de saúde dele tenha algo a ver com isto. Ela disse que viu a funcionária do plano ontem de manhã no hospital. Pode ser...

A mesma Carmi, outro dia, me disse uma coisa muito interessante. "Já reparou que por todos os lugares aqui a gente vê cartazes que incentivam o paciente a ser seu próprio advogado? A lutar por seus direitos? Pois é, no meu tempo isto não existia. Sabe por que? Por que nós, enfermeiras e médicos, lutávamos pelos direitos dos nossos pacientes," ela me explicou. A mãe do Todd não poderia estar mais certa, se não fosse por ela, ele já estaria morto há tempos.

Ao longo das últimas décadas algo muito precioso se perdeu na área da saúde. Ao longo do caminho ficaram perdidos o amor ao próximo, a compaixão, o respeito ao ser humano e a dignidade.

No Brasil, uns podem até dizer que a causa de tanto descaso é a falta de dinheiro, de salários dignos e de verba para saúde. Mas e aqui, nos United States of America, país rico, onde médicos tem salários altíssimos e ótimos benefícios e enfermeiras são muito bem remuneradas? Falta o que? Falta é vergonha na cara!

Outro dia, conversando com uma enfermeira, amiga da família do Blake, ela me disse que de acordo com as novas diretrizes, os lençóis das camas dos pacientes só precisam ser trocados a cada três dias! Três dias!!! De acordo com as diretrizes de quem? Duvido que quem tenha inventado um absurdo deste tenha passado mais de um dia preso a um leito de hospital!!! Para quem não sabe, eu explico: colchão de hospital na melhor das hipóteses é forrado de borracha ou plástico e esquenta horrores! O paciente muitas vezes não pode sair da cama, então imaginem o calor que o coitado sente? Imaginem o que é ficar TRÊS DIAS numa cama ensopada de suor, com lençois muitas vezes sujos de sangue e de medicamentos? Pois é, nada agradável.

As enfermeiras aqui também não dão banho no paciente e poucas vezes fazem a higiene dele! Dá para acreditar que um paciente acamado não tenha direito a isto? Onde fica a dignidade dele? É muito triste perceber que no meio de máquinas revolucionárias e procedimentos complexos, os profissionais de saúde perderam a alma. Como disse um dos personagens do filme de ontem, atualmente parece que o famoso Juramento de Hipócrates foi substituído pelo Juramento do Hipócrita.

O filme do Denzel é antigo, mas vale a pena assistir.


6 comments:

Margot said...

Eu concordo q o sistema de saúde americano é horrível. Eu mesmo já precisei de coisas que o plano não cobriu e foi um horror, portanto posso falar como paciente. Como esposa de um médico também posso falar que eu não concordo que o principal problema seja dos médicos - eles estão de mãos atadas graças a mania desse povo daqui processar médicos a torto e a direita. Acaba que os médicos não fazem certos procedimentos por precaução, ou omitem certas coisas para não serem sued. Claro que isto está errado, mas.. Pra mimi o grande problema neste ponto nos EUA são essas corporations de "saúde" (Humana, Kaiser e afins) que sacaneiam os médicos e os pacientes (como foi bem mostrado no filme do Michael Moore). Quanto a questão de falta de emoção dos médicos, bom, vc está nos EUA né? Infelizmente calor humano não é exatamente uma característica norte-americana... Ah, e nem acho que os médicos e enfermeiras ganhem tão bem assim, se vc for comparar com advogados, empresários e afins...

Bjos!!

paula said...

Dani,

Em alguns aspectos o Brasil atende melhor as pessoas, eu disse em alguns.
Alguns médicos realmente não tem a menor compaixão, a menor, ouví inúmeros absurdos como já te contei.
Imagine só, eu com meus 23 anos, assustadíssima no momento de fazer as tais "entrevistas" em Curitiba, que coincidem com o dia da internação, e um monte de médicos residentes atrás de mim, querendo que eu me submetesse a exames "voluntários" para defesa de tese deles! Ah, que absurdo!!
Concordo que é para a evolução da ciência, mas e a alma desse povo?
E não eram quaisquer exames não, por exemplo, tinha um de líquor, tinha um com choques, tá bom para você? Eu quase batí em um que entrou no meu quarto e ficou falando duas horas sobre o líquor, ele não se conformava com a minha negativa, tive que gritar com o cara.
Contando ninguém acredita!!
Mas em compensação, meus médicos do Einstein, Dr. Sergio Simon, Dr. Ricardo Marques, quanta diferença!! Eles só falavam o que eu perguntava, nada de me aterrorizar, só a realidade, mas de uma maneira humana, sem crueldades com o paciente, já ví inúmeros depoimentos do Roberto Carlos elogiando ele, pois foi esta equipe qu cuidou da Maria Rita.
Cada vez admiro mais a mãe do Todd.

Bjs,

Paula

Dani said...

Mi,
Você falou tudo -- estes planos de saúde estão arruinando o sistema e lembrou bem da história maluca dos processos aqui. Como me disse um médico brasileiro, basta a gente parar para perceber que cada vez mais as especialidades ditas de risco estão nas mãos de estrangeiros. Médicos americanos cada vez menos se arriscam nelas -- cirurgia, mastologia, ginecologia, etc. Você sabe que o médico que eu mais gosto aqui é egípcio?! É por estas e outras que o Arthur tem um campo enorme aqui nos EUA, pois acho os médicos brasileiros no geral muito melhores e mais humanos que os americanos. E aí? Não tem planos de vir pra Maryland não?
Beijos

Silvia said...

Nossa, esse filme é muito bom! Sem palavras para descrever o que eu senti quando assisti.

Dani, eu quero fazer um trabalho de faculdade sobre doação de medula. Vou te mandar um e-mail para explicar melhor. Acho que você pode me ajudar.

Beijocas linda!

Margot said...

pois é dani, meu marido sempre diz q os médicos com os quais ele mais aprende aqui são os estrangeiros, hahahahaha... falando em viagem, sabe q re-descobri uma boa amiga minha da high school no facebook e ela mora nos arredores de baltimore??? de repente vou tentar visitá-la, aí vc já sabe, vai entrar na dança, hahahahaha se essa viagem sair realmente eu te falo... bjos!!!

Jackie said...

Oi, Dani,
Não conheço o sistema de saúde americano, mas adoro esse filme, que no Brasil passou com o nome Um Ato de Coragem.
Aqui no Rio, cansei de dar com a cara na porta do Quinta D'or, quando tinha que internar a minha tia. Viviam dizendo que não havia vagas, mas como o plano dela é só hospitalar e a Sulamérica nem o comercializa mais (acha que não é lucrativo), várias vezes desconfiei que foi orientação do plano para não interná-la. Afinal, que empresa quer pagar por 6 meses de internação no "hotel", né?
Beijos,
Jackie
PS: Sinto muito pelo Todd. Torci bastante por ele...