June 19, 2009

Pessoas e Não Coisas

Sei que tem muita gente preocupada comigo, com o meu envolvimento com os pacientes aqui do hospital e principalmente com a família do Todd.

Para dizer a verdade, ninguém esperava ou muito menos queria que uma história tão bonita tivesse tido um final tão triste. Quando aceitei conhecer o Todd e os outros pacientes jovens no hospital, o quadro dele era outro. Já haviam passado mais de 100 dias do transplante, um período altamente crítico, e o quadro dele estava praticamente estabilizado. Claro que a GVHD ou DECH (Doença de Enxerto Contra Hospedeiro) sempre foi uma real ameaça, mas até ela estava meio que controlada.

O caso dele tinha sido grave desde o início. Começou com uma forma de linfoma agressivo em 2005, depois de dois anos de químio pesada ele finalmente entrou em remissão, mas continuou as químios para manutenção, até que o bandido voltou em forma de ALL (leucemia aguda linfóide) há um ano. Quando foi diagnosticada a doença, o Todd tinha 70% da medula tomada pela doença, então até o transplante era arriscado. Muitos médicos desaconselharam por achar que ele não conseguiria sobreviver. Mas o Todd daquele jeito low-key dele resolveu que o se o transplante era a única alternativa, ele iria enfrentá-lo e partiu para a luta. E conseguiu sobreviver ao transplante, mas depois de seis meses, a tal GVHD acabou tirando a vida de um jovem brilhante aos 28 anos.

Não tem como não chorar, não tem como não ficar triste. É injusto. É cruel. Mas acontece infelizmente. E para mim também é impossível não me identificar com uma história assim, de luta e de coragem. Então chorei muito, muito mesmo, por isto muita gente ficou preocupada comigo. Minha família quase me pede para parar com meu trabalho voluntário. Entendo os motivos da preocupação, mas aprendidas as lições não tenho a menor intenção de fazer outra coisa. Estas pessoas tão jovens demonstram uma sabedoria enorme e cada minuta em companhia delas é uma lição de vida.

O engraçado disto tudo é que a minha família sempre disse que eu tinha vocação para atriz porque tinha uma veia dramática fortíssima. Eles me acusavam (com alguma razão) de sempre ter sido exagerada, over the top mesmo e na maioria das vezes por motivos muito bobos, como a perda de objetos pessoais ou imprevistos comuns. Admito que já derramei muitas lágrimas por assuntos absolutamente ridículos e hoje me envergonho disto. Me envergonho de ter passado tanto tempo olhando para o meu umbigo e me preocupando com assuntos sem importância qualquer. Hoje percebo que me estressei, chorei, me desesperei por absolutamente nada. Provavelmente perdi anos de vida e ganhei alguns cabelos brancos a toa. Mas vivendo e aprendendo...

Hoje, para minha própria surpresa, me considero feliz ao dizer que este tipo de coisa para mim não faz grandes diferenças. Claro que ainda me incomoda perder as coisas, mas aprendi que o jeito mais fácil de achar alguma coisa e procurando outro objeto perdido! Aprendi que multa, enchente, problemas no carro até doem no bolso, mas jamais devem doer no coração. Finalmente entendi que tudo que pode ser substituído não vale uma lágrima sequer. Para mim, coisas, objetos não tem mais muito valor, mas gente sim. Pessoas, principalmente as boas, são insubstituíveis e fazem uma falta enorme, deixam uma saudade absurda que o tempo até ameniza, mas jamais apaga.

Então hoje ao chorar pela partida do meu amigo, choro com um misto de tristeza e felicidade. Tristeza por ele não estar mais aqui conosco e pelos sonhos que ele não vai realizar, mas felicidade por enfim ter percebido o que vale a pena na vida: pessoas e não coisas. E por isto, por ter me feito perceber o que realmente importa, para sempre serei grata ao Todd.

3 comments:

paula said...

Dani,

Lindo o que vc escreveu, como sempre, é isso aí!!
O que importo são as pessoas, as "coisas", a gente vai perdendo, substituindo, agora as pessoas vão ficar para sempre em nossa alma, em nossos corações, minha família também tem a mesma opinião da sua, mas na verdade estão querendo nos proteger no sofrimento, mas não tem idéia de como é engrandecedor poder participar deste processo junto com as pessoas e de certa forma ajudar, isso somente nós podemos entender, eu vivo falando isso para minha mãe.
Chorei muito também, até o Neto chorou, porque eu contava sempre do Todd para ele.
O sentimento de vazio é difícel, administrar a perda também é outra parte do processo muito complicada, mas...enfim temos que aprender .
Bjs,
Paula

Unknown said...

Concordo Dani.. em genero, numero e grau. Tb esto nessa luta interior de dar valor somente ao q realmente interessa! Me vejo melhor em alguns aspectos e sinto vergonha de mim mesma em outros, mas vamos q vamos.

O q importa eh q devo continuar tentando!

beijo

Monica said...

Puxa, achei lindo ler seus posts... lindo fazer esse trabalho voluntário, deve ser um crescimento magnífico, Parabens.