June 23, 2009

Fazendo a Diferença

Hoje cedo recebi um email " Estou de votla ao hospital. Acharam metásteses no meu cérebro. Apareça pra me visitar se puder. Obrigada por ser tão bondosa. Lilian"

Quase me engasguei com o cereal... Semana passada a cirurgia tinha sido ótima, a Lilian tinha voltado pra casa toda contente e agora mais isso! É duro. Demais. Terminei de me arrumar, deixei as coisas na minha sala na universidade e corri para vê-la no hospital. Esperamos horrores porque achávamos que o médico estava com ela no quarto, mas resolvemos entrar. Ela parece bem, só que o olho esquerdo dela está completamente fechado -- evidência de que há algo errado.

Quando me viu, ela sorriu timidamente e disse: "Recebeu meu email, né? O que você achou das minhas notícias malucas?" Eu sorri e disse "Malucas." Elizabeth perguntou a ela como ela estava lidando com tudo isto. "Vou levando," ela respondeu resoluta, "Não vou me deixar abater por isso." Logo depois ouvimos alguém bater na porta. Era o radiologista/oncologista. Saímos do quarto. Eu tinha uma reunião, então voltei para o trabalho. Vou voltar para vê-la na hora do almoço.

Este fim de semana engoli o livro "A Cabana" ou "The Shack", na versão original. Achei a história bem bonita, mas a narrativa um pouco arrastada. A questão central do livro é a mesma que vem me assombrando nos últimos meses "Se existe um Deus maior tão bom e piedoso, onde Ele está quando deixa pessoas maravilhosas sofrerem?"

Tenho certeza que estas coisas quevem acontencendo ultimamente são mesmo uma grande teste à minha fé e sendo assim eu encontro respostas dentro de mim mesma. Semana passada cheguei a conclusão que o Céu deve ser um lugar fascinante, pois o elenco que Deus tem levado pra lá nos últimos meses é fenomenal -- jovens brilhantes e valentes que lutaram até o final. Se eu realmente acredito que há vida após a morte, estes meus amigos foram premiados, pois furaram a fila e já estão ao lado do Pai.

Mas que é difícil acompanhar este proceso aqui de baixo, isto é. Depois de tanta luta, quando a morte finalmente chega é como se fosse uma vitória, um descanso merecido, uma trégua. Estranhamente me senti feliz nos dias que se seguiram à morte do Todd. As últimas três semanas de vida do meu amigo foram um martírio só, que ninguém, muito menos ele, merecia.

Acompanhando o sofrimento enorme destas pessoas tão boas também me faz questionar o movimento dos jovens pacientes de câncer aqui nos EUA, sim pois no Brasil não há sequer esta articulação. Aqui há blogs e mais blogs, na sua grande maioria tentando ser divertidos, tentando oferecer algum entretenimento a quem está na luta. Mas sejamos verdadeiros, NÃO HÁ NADA DE DIVERTIDO OU ENGRAÇADO NO CÂNCER. Vamos parar de fingir. Se nem na hora da doença conseguimos ser verdadeiros, encarar nossos medos, somos muito covardes. Não que eu ache que todos tenhamos que começar a chorar e aceitar nossa sentença de morte assim que recebemos o diagnóstico. Nunca! Longe de mim, que sempre tive e terei sempre muita esperança e muita fé. Mas daí a achar que tudo é muito engraçado, que encontramos um clubinho de amigos para badalar...acho que é forçar uma barra.

É por isto que acho que muitas organizações estão seguindo o caminho errado, uma vez que não são verdadeiras à sua missão. Ao focar exclusivamente em atividades de lazer, esquecem que a luta verdadeira não se trava numa maratona ou numa piscina, mas sim numa cama de hospital. Estas iniciativas são válidas sim. Acho que temos que investir muito em pesquisas para achar a cura, mas o que fazer com aqueles que já tem a doença, principalmente em estágio avançado?

É engano pensar que os jovens tem excelente prognóstico quando se trata de câncer. Muito pelo contrário, nossa expectativa de vida se mantém a mesma há 30 anos. para alguns tipos de câncer, ela piorou! Claro que acho válido angariar dinheiro em corridas e competições e sei lá mais o que. Mas, tendo estado do outro lado posso dizer claramente que nada substitui o contato com o paciente, uma conversa, um ombro amigo, um sorriso de carinho. Em vez de aplicar todos os recursos nestas atividades, tais organizações deveriam ampliar seu quadro clínico, os profissionais que tem contato direto com o paciente e sua família.

Mas enquanto este dia não chega, cada um pode fazer a sua parte. Se você não puder correr a tal maratona, não se sinta derrotado, pois uma simples visita ao hospital é mais que suficiente, vale muito mais do que 1000 km na pista. E você, que resolveu correr a maratona, não pense que sua ajuda termina aí, vá a hospitais, visite pacientes, se tiver algum amigo na luta, ofereça-se para acompanhá-lo na químio. Não é muito, mas faz muita diferença.

3 comments:

Cristina said...

Dani,
passei o findi desconectada e fiquei até hoje sem ver seu blog. Ao ler do último para o último que eu li, percebi que o Todd havia partido. É estranho pq não o conheci mas de alguma forma o conheci, pelas suas palavras. E me controlei para não chorar onde estou (fugidinha, pq sabia que aqui encontraria alento - ando muito preocupada com meu amigo que descobriu um câncer de pâncreas e a esposa dele). Chorar é necessário mas o mais bonito é o que vc disse - fazer a diferença. Pq a gente não sabe, mas certamente estamos aqui na terra para isso. Eu tento manter minha amiga inspirada, alegre, mas é duro qdo o médico te diz 1 ou 2 anos de vida né...Unirei Todd e a família dele nas minhas orações de hoje, para que a força esteja com ela e concordo com vc que ele esteja realmente num lugar melhor que nós. Difícil é entender...boa semana!

Dani said...

Cris,
É algo inimaginável. Deve ser uma dor absurda, mas é nesta hora que os amigos tem um papel fundamental. Continue fazendo a sua parte, fazendo com que cada dia na vida deles conte.
Beijos e fique com Deus

Cristina said...

Obrigada Dani! Hoje soube de uma moça aqui na empresa que teve o mesmo câncer, retirou o órgão todo e já vive bem há 2 anos. Isso anima, contei já para minha amiga!!! E é claro que o seu exemplo me faz acreditar que pode ser diferente!!! beijos e fiqque com Deus também!