October 9, 2008

Médicos de verdade

No meio desta confusão toda, esqueci de deixar registrados alguns fatos importantes. A minha ida ao Brasil foi um presente inesperado da minha chefe aqui, workholic total, mas que sempre coloca a família em primeiro lugar. Quando expliquei a minha situação a ela, sem nenhuma expectativa, ela olhou para mim e disse: "E o que você está fazendo aqui que ainda não foi pra casa? Se fosse a minha avó, eu já estaria lá." E no dia seguinte, às oito da manhã me ligou para saber o que eu fazia no trabalho e dizendo que esperava que eu estivesse de viagem marcada para aquela noite. Dito e feito e foi assim que acabei no Brasil. O sonho de ver a minha avó no quarto antes da minha volta, não foi concretizado, mas como diz a minha mãe, o nosso tempo não é o tempo de Deus, mas creio que ainda vou ter a notícia tão esperada ainda esta semana.

Assim que cheguei ao Rio, tive a notícia da embolia, quase fatal. Os médicos estavam assustados e hesitavam em nos dar prognósticos até porque a situação dramática mudava a cada minuto. Não tive dúvidas, liguei para o Dr. Joaquim Ribeiro para relatar o caso e pedir orientação, pois ele é o médico em que mais confio. Dei a minha versão dos fatos para ele que se ofereceu prontamente a visitar a minha avó, mesmo não sendo cardiologista ou pneumologista. Dr. Joaquim disse que veria a minha avó e depois se precisássemos de um clínico ou outro médico, ele nos recomendaria o melhor. E mais uma vez o Dr. Joaquim cumpriu a sua palavra e foi visitar a minha avó. No meio de tanto desespero, de tantas notícias ruins, ele foi sincero, mas como sempre otimista ao me dizer: "Danielle, o caso da sua avó é grave sim, por vários motivos. Ela teve uma embolia séria, mas não há nada de irreversível no quadro dela. Esta situação pode se resolver dentro de sete a dez dias." Aquelas palavras viraram um mantra para mim, pois a cada pancada, a cada notícia ruim, eu repetia para mim mesma "Não há nada de irreversível no quadro dela. Esta situação pode se resolver" e conseguia recobrar a pouca calma que me restava. Mais uma vez, desta vez sem saber, o Dr. Joaquim salvou a minha vida, ao me dar esperança de poder ver a minha avó viva.

O cardiologista da minha avó, Dr. Leonardo Arantes, também tem sido um herói. O jovem médico leva a sério mesmo o tal Juramento de Hipócrates e parte para o sacrifício o tempo todo. É incansável e dedicadíssimo, sempre disponível e paciente ao explicar quinhentas vezes prodimentos complicados para familiares leigos e ansiosos, sempre com humildade e carinho. A minha avó teve muita sorte. Ele tem sido um anjo, sempre ao lado dela. A minha família sempre fala que só de olhar para o Dr. Léo dá pra ver o estado de saúde da minha avó. Se ele está cabisbaixo e tristonho, a gente sabe que a coisa está feia, então quando o vemos sorrir, damos pulos de alegria. Desde a minha partida, andam me dizendo que o Dr. Léo está sorrindo mais.

O outro cardiologista da minha avó é praticamente o neto mais velho dela, o Filipe, que entrou na nossa vida por conta de um ex-namorado da minha irmã e foi ficando... Sobreviveu ao fim do namoro e virou padrinho de casamento dela e meu também. O Filipe também tem sofrido muito com a gente, pois além de médico dos meus avós e do meu pai, é praticamente da família, além de dar plantão nas residências dos Machados e dos Duran vinte quatro horas por dia, correndo de um lado para o outro sempre que a gente precisa de ajuda. A história da minha avó também foi um baque grande para ele.

Pois no meio de tantas notícias ruins, o consolo é saber que estamos cercados de gente boa -- de médicos competentes, dedicados e amigos e de amigos e familiares que têm se mostrado fenomenais. Minhas tias-avós têm dado plantão no hospital, meus primos, sobrinhos da minha avó, vieram de outroas cidades e outros estados e os parentes que moram no Rio vão freqüentemente ao hospital. Temos sorte, muita sorte, de estar cercados de pessoas iluminadas, mas as orações continuam até que a minha avozinha possa agradecer pessoalmente a um por um.

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