Esta semana foi simplesmente punk. Cheguei aqui achando que iria ver a minha avó sentada já no quarto, mas encontrei-a em coma induzido na UTI. Surpresa triste. O pior nestas horas é a ausência de um diagnóstico definido "pode ser isto, mas também pode ser aquilo e ainda não podemos afastar a hipótese de aquilo outro..." diziam os médicos. Como assim, doutor? Como vocês vão descobrir o que há de errado? Quando vão fechar um diagnóstico? Tantas perguntas sem resposta...
No domingo soubemos que a falta de ar terrível que ela havia sentido dias antes tinha um bom motivo -- embolia pulmonar, um quadro bem grave num paciente nas condições dela. E de novo visitamos aquele lugar horrível, um lugar onde só há dúvidas e medo. A posição dos médicos era delicada, pois tudo que poderia ser feito já havia sido e, embora eles não falassem claramente, a situação era óbvia, a vida da minha avó estava totalmente nas mãos de Deus, uma vez que os médicos já tinham lançado mão de todos os recursos. Tínhamos que rezar para que o trombo do pulmão se desfizesse rapidamente, rezar para que novos trombos não se formassem, rezar para que as plaquetas dela se mantivessem altas para que ela pudesse continuar tomando o anticoagulante e rezar para que nenhuma outra intercorrência aparecesse no meio do caminho. Dali para frente, tudo tinha que correr 100% perfeito para que ela tivesse uma chance de sobreviver. Condição incômoda. Situação desesperadora.
Nestas horas bate uma dor profunda e aguda...a tal sensação de impotência chega ao máximo e o desespero é praticamente inevitável. Os ateus que me perdoem, mas nesta hora só a fé nos mantém sãos, na medida do possível. Quando digo fé, não falo em religião, mas num sentimento de que existe algo além disso que vivemos aqui. Parafraseando o genial Shakespeare, tem que haver mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia. Não faz sentido que a morte seja um fim e que só nos reste esperar por ela.
Não gosto muito de divagar, mas olhando a minha avó deitada imóvel naquele leito de hospital vários cenários se formavam na minha cabeça. Uns belíssimos, outros nem tão otimistas assim e a idéia da ausência dela era simplesmente insuportável. Vê-la ali lutando tanto sem ter certeza de seu destino despedaçava meu coração. Nunca rezei tanto...e olha que não rezo pouco...
Ela ainda esta na UTI, mas tem melhorado a cada dia, como que por milagre. Ainda não respiro aliviada, acho que vou ser capaz de descansar quando ela for para o quarto e mais ainda quando ela for para casa. Depois de duas semanas de um martírio, já não vejo a hora. A idéia de voltar para os EUA e deixá-la aqui nestas condições também me preocupa, mas há muito pouco ou quase nada que eu possa fazer para adiar minha partida. Conseguir vir já foi um privilégio e tanto, então não posso abusar da boa-vontade da minha chefe.
Nestas horas de crise absoluta é incrível perceber como as diferenças desaparecem e como o que é importante vem à tona. Aprende-se muito na dor, mas o grande desafio é guardar para sempre este ensinamentos e continuar aplicando-os depois que a vida voltar ao normal.
Como diz a minha amiga Lu, que lutou contra um linfoma raro e agressivo há algum tempo, mas hoje está totalmente saudável, o negócio e não deixar o impacto da porrada passar. Quando a gente leva um baque destes, revê todos os nossos conceitos, jura que vai mudar da água pro vinho e até muda, mas às vezes as mudanças não duram mais que meses e a gente acaba voltando ao normal. O único saldo positivo da dor e da doença são as lições que ficam e se estas mesmas lições aprendidas na marra aos poucos acabam sendo esquecidas, então a tal porrada não serviu de nada. Uma pena. Um desperdício.
Uma outra amiga, a Flavinha, sempre me dizia que tanto as pessoas mais inteligentes quanto as mais burras cometem erros sempre. A diferença, dizia ela, é que as pessoas inteligentes erram e aprendem com o erro. Fatalmente vão errar novamente, mas vão cometer erros diferentes. As pessoas burras, ao contrário, erram, recusam-se a aprender e ainda teimam em insistir sempre no mesmo erro.
Gostaria de ter chegado a tantas conclusões por conta própria e de forma indolor, mas não foi assim que aconteceu, então o mínimo que posso fazer é não deixar que a pacada perca o efeito. Vou aproveitar que ainda estou em carne-viva para registrar meus pensamentos e voltar a eles a cada vez que achar que a pancada está caindo no esquecimento.
4 comments:
Novamente, espero que tudo melhore em breve, querida.
bjx
RF
Nao tenho comentado, mas to aqui na torcida pela sua vozinha, tenha certeza. Beijao.
Dani, meus pensamentos e orações tem sido todos voltados a D Ruth. Uma beijoca em todos, Dani e Marcos
Que bom saber que o quadro esta melhorando, entendo perfeitamente seus temores e a aflicao que da ter alguem que amamos em uma situacao de perigo. Parece que paramos de respirar. E uma tensao e ansiedade horriveis. Que Deus permita que sua avo ainda possa estar junto de voces por muitos anos e que em breve seu coracao possa estar mais tranquilo.
Angeles
Arizona-USA
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