October 2, 2008

Ainda no Rio

Esta semana foi simplesmente punk. Cheguei aqui achando que iria ver a minha avó sentada já no quarto, mas encontrei-a em coma induzido na UTI. Surpresa triste. O pior nestas horas é a ausência de um diagnóstico definido "pode ser isto, mas também pode ser aquilo e ainda não podemos afastar a hipótese de aquilo outro..." diziam os médicos. Como assim, doutor? Como vocês vão descobrir o que há de errado? Quando vão fechar um diagnóstico? Tantas perguntas sem resposta...

No domingo soubemos que a falta de ar terrível que ela havia sentido dias antes tinha um bom motivo -- embolia pulmonar, um quadro bem grave num paciente nas condições dela. E de novo visitamos aquele lugar horrível, um lugar onde só há dúvidas e medo. A posição dos médicos era delicada, pois tudo que poderia ser feito já havia sido e, embora eles não falassem claramente, a situação era óbvia, a vida da minha avó estava totalmente nas mãos de Deus, uma vez que os médicos já tinham lançado mão de todos os recursos. Tínhamos que rezar para que o trombo do pulmão se desfizesse rapidamente, rezar para que novos trombos não se formassem, rezar para que as plaquetas dela se mantivessem altas para que ela pudesse continuar tomando o anticoagulante e rezar para que nenhuma outra intercorrência aparecesse no meio do caminho. Dali para frente, tudo tinha que correr 100% perfeito para que ela tivesse uma chance de sobreviver. Condição incômoda. Situação desesperadora.

Nestas horas bate uma dor profunda e aguda...a tal sensação de impotência chega ao máximo e o desespero é praticamente inevitável. Os ateus que me perdoem, mas nesta hora só a fé nos mantém sãos, na medida do possível. Quando digo fé, não falo em religião, mas num sentimento de que existe algo além disso que vivemos aqui. Parafraseando o genial Shakespeare, tem que haver mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia. Não faz sentido que a morte seja um fim e que só nos reste esperar por ela.

Não gosto muito de divagar, mas olhando a minha avó deitada imóvel naquele leito de hospital vários cenários se formavam na minha cabeça. Uns belíssimos, outros nem tão otimistas assim e a idéia da ausência dela era simplesmente insuportável. Vê-la ali lutando tanto sem ter certeza de seu destino despedaçava meu coração. Nunca rezei tanto...e olha que não rezo pouco...

Ela ainda esta na UTI, mas tem melhorado a cada dia, como que por milagre. Ainda não respiro aliviada, acho que vou ser capaz de descansar quando ela for para o quarto e mais ainda quando ela for para casa. Depois de duas semanas de um martírio, já não vejo a hora. A idéia de voltar para os EUA e deixá-la aqui nestas condições também me preocupa, mas há muito pouco ou quase nada que eu possa fazer para adiar minha partida. Conseguir vir já foi um privilégio e tanto, então não posso abusar da boa-vontade da minha chefe.

Nestas horas de crise absoluta é incrível perceber como as diferenças desaparecem e como o que é importante vem à tona. Aprende-se muito na dor, mas o grande desafio é guardar para sempre este ensinamentos e continuar aplicando-os depois que a vida voltar ao normal.

Como diz a minha amiga Lu, que lutou contra um linfoma raro e agressivo há algum tempo, mas hoje está totalmente saudável, o negócio e não deixar o impacto da porrada passar. Quando a gente leva um baque destes, revê todos os nossos conceitos, jura que vai mudar da água pro vinho e até muda, mas às vezes as mudanças não duram mais que meses e a gente acaba voltando ao normal. O único saldo positivo da dor e da doença são as lições que ficam e se estas mesmas lições aprendidas na marra aos poucos acabam sendo esquecidas, então a tal porrada não serviu de nada. Uma pena. Um desperdício.

Uma outra amiga, a Flavinha, sempre me dizia que tanto as pessoas mais inteligentes quanto as mais burras cometem erros sempre. A diferença, dizia ela, é que as pessoas inteligentes erram e aprendem com o erro. Fatalmente vão errar novamente, mas vão cometer erros diferentes. As pessoas burras, ao contrário, erram, recusam-se a aprender e ainda teimam em insistir sempre no mesmo erro.

Gostaria de ter chegado a tantas conclusões por conta própria e de forma indolor, mas não foi assim que aconteceu, então o mínimo que posso fazer é não deixar que a pacada perca o efeito. Vou aproveitar que ainda estou em carne-viva para registrar meus pensamentos e voltar a eles a cada vez que achar que a pancada está caindo no esquecimento.

4 comments:

Roy Frenkiel said...

Novamente, espero que tudo melhore em breve, querida.

bjx

RF

Andréa said...

Nao tenho comentado, mas to aqui na torcida pela sua vozinha, tenha certeza. Beijao.

Anonymous said...

Dani, meus pensamentos e orações tem sido todos voltados a D Ruth. Uma beijoca em todos, Dani e Marcos

Anonymous said...

Que bom saber que o quadro esta melhorando, entendo perfeitamente seus temores e a aflicao que da ter alguem que amamos em uma situacao de perigo. Parece que paramos de respirar. E uma tensao e ansiedade horriveis. Que Deus permita que sua avo ainda possa estar junto de voces por muitos anos e que em breve seu coracao possa estar mais tranquilo.

Angeles
Arizona-USA