September 10, 2009

Obama e a Saúde

Nos últimos dias não se fala de outra coisa aqui: Obama! na terça, ele fez um pronunciamente direcionado aos alunos das escolas públicas nos EUA, no canal especial que é transmitido nas escolas de todo o país. Um ato tão simples causou uma polêmica enorme,com diretores que obrigaram todos os alunos a assistir a pronunciamente sob ameaça de punição de um lado, e pais se recusando a mandar os filhos para a escola dizendo que não tolerariam propaganda política.

No final das contas, um tremendo exagero, já que o discurso do presidente foi mais uma lista de conselhos para as crianças, numa versão bem mais simples do livro do meu favorito Rainer Maria Rilke, Cartas a Um Jovem Poeta.

Mas o discurso de ontem foi muito mais polêmico, muito mais ardente, a começar pelo público e o local: o Congresso Americano. Claro que agora todo mundo já viu um dos deputados chamar o Obama de mentiroso, no maior estilo barraco que a gente pensa só existir no Brasil, mas distrações à parte, este é um debate duro mas que tem que acontecer neste país urgentemente.

Normalmente me abstenho a dar uma opinião por simplesmente não possuir conhecimento total dos fatos e saber que há sempre vários argumentos em qualquer uma das posições que se tome, mas uma das situações é muito real para mim: a ausência de cobertura por questões financeiras. Não sei bem o motivo mas isto tem um gosto amargo demais para mim. Não acho justo que só uns poucos privilegiados tenham direito a uma cirurgia ou a um tratamento que pode lhes salvar a vida. para falar a verdade, acho isto indecente! Acho covarde. Acho cruel. As mortes da Thalita e da Lilia ainda engasgadas na minha garganta e as tantas perguntas que jamais terão respostas.

É claro que há os que dizem que já havia chegado a hora delas, mas este argumento não me traz nenhuma paz. Quem há de dizer que a minha hora também não tinha chegado? A única diferenca entre mim e elas é que eu tinha plano de saúde, eu tinha recursos financeiros, eu tinha pais que tinham amigos que puderam me ajudar logo. Elas não. E o resultado disto é que eu continuo aqui e elas partiram. Partiram mas não sem antes lutar muito, é bem verdade, mas sua passagem por aqui foi breve demais. Acontece no Brasil. Acontece nos EUA. Infelizmente.

Durante seu discurso, Obama fala de Ted Kennedy, que também morreu de câncer, mas que antes disto, viveu a doença dos dois filhos e sentiu na pele o que é ser pai de um filho muito doente. Na época, quando recebeu os dois diagnósticos terríveis, Ted não se deu por vencido, convocou os melhores especialistas do país, lutou até encontrar um médico que aceitasse cuidar dos casos da forma mais agressiva possível. E das duas vezes saiu vencedor: seus dois filhos vivem saudáveis hoje.

Ted sabia que era provilegiado, mas não achava isto justo e por isto sempre lutou arduamente pela reforma do sistema de saúde americano. Obama diz que a paixão e a compaixão de Ted Kennedy não eram originárias de nenhuma filosofia política, mas das experiências vividas pelo senador ao longo de sua vida. Entendo bem isto. Ao contrário da imensa maioria da população americana, não tenho nenhum problema com meu plano de saúde, aliás com meus planos, pois hoje tenho dois! O que um não cobrir, o outro paga. Mas ao meu redor, pessoas perdem suas casas e gastam todas as economias para cobrir despesas de saúde.

É claro que muitos vão acusar o Presidente de usar o nome de Kennedy para passar a tal reforma. Talvez eles tenham razão. Não entendo muito bem os meandros da política ou do sistema de saúde americanos, mas do fundo do meu coraçã sei que algo fundamenteal tem que mudar na saúde deste país, que há muito tempo está muito doente.

3 comments:

Silvia said...

Sinceramente e daí se ele usar do sobrenome Kennedy para conseguir algo positivo?

Eu não sei muito bem o que está acontecendo por aí, dado que as notícias sempre chegam meio "truncadas" aqui, mas de uma coisa eu tenho certa: para mim o estado deve fornecer Saúde, Escola e Condições Básicas de Sanitarismo para um povo.

Já era mais que hora de alguem tomar uma atitude pelo quesito saúde, se o Obama está fazendo isso tem o meu respeito. E eu duvido que Ted Kennedy iria se aborrecer de ter seu nome usado em uma causa tão nobre.

Beijocas!

Amanda said...

Dani
A Lilia é a Lilian?
se não, como a Lilian está?
Beijos

Dani said...

Oi Silvia,
Também acho que o Kennedy não iria se opor, já que acesso à saúde sempre foi uma de suas bandeiras.

Amanda,
A Lilia era do Rio e faleceu alguns meses atrás de câncer no fígado, depois de muito lutar. A Lilian, aqui de Baltimore, está muito doente. Saiu do hospital e está em casa mas deve vir aqui amanhã para químio. Desde que acharam a metástese no cérebro, ela ficou muito abatida e tem se isolado de todos. Vou ver se consigo vê-la amanhã na químio.

Bjs