September 28, 2009

Memória Viva





Não existe maneira mais fácil de lidar com a morte. Ninguém nunca está preparado para enfrentá-la e ela sempre parece cruel e repentina. Nos últimos meses convivi muito de perto com ela, acompanhando o caso de Todd até o final. Foram momentos extremamente difíceis, mas o que aprendi com um jovem de 28 anos e sua família não está escrito em livro nenhum e vai ficar comigo para sempre.

Apesar da doença, Todd nunca se mostrou egoísta, nem por um minuto sequer. Nunca usou de sua condição para despertar pena ou piedade nos outros. Jamais quis tratamento especial ou se mostrou inconformado com sua dura sentença.

O tempo todo ele pensava nos outros. Pensava na mãe e jamais se queixava na frente dela. Pensava nos irmãos, que privavam suas famílias de seu convívio quando passavam semanas ao lado dele em Baltimore. Pensava no pai, que não podia passar tanto tempo ao seu lado por conta de um chefe insensível. Pensava nos outros pacientes que sequer tiveram a chance de fazer um transplante.

Numa das nossas conversar, ele me disse que queria muito sair do hospital e organizar mais campanhas de doação de medula. Infelizmente isto nunca aconteceu, mas naquela conversa comigo e com o Blake, Todd mais uma vez cumpriu sua missão, ao deixar a semente plantada na gente.

E depois de tanto sofrimento, três meses depois da partida dele, sinto que o corpo pode ter morrido mas suas ideias vão viver para sempre, no meu coração e no coração de cada uma das 82 pessoas que saíram de casa num sábado de muita chuva e frio e que aceitaram ficar na fila para doar um pouquinho de si na esperança de salvar uma vida em algum momento.

Foi ali, ao ver os panfletos com o rosto de Todd e ao ouvir o que as pessoas falavam dele que entendi mais do que nunca que melhor forma de mantê-lo vivo e contar a história dele, a história de um jovem que lutou muito, não só por ele, mas pelos outros. Um jovem de 28 que ao partir teve a preocupação de deixar parte do dinheiro que ele tinha guardado para comprar sua primeira casa para ajudar a custear os estudos de outro jovem paciente de câncer.

Nestas horas acho que alguns partem tão cedo porque simplesmente já tinham aprendido mais que suficiente nesta jornada e em curtíssimo espaço de tempo conseguem cumprir sua missão. Acho que o Todd se inclui neste grupo.

Às vezes este pensamento não me parece justo, mas não há motivos para discordar. A única forma que encontrei para tornar a morte menos insuportável é manter as pessoas queriadas vivas, através de sua memoria e dos exemplos que nos deixaram em vida. Foi isto que tornou um dia tão feio muito especial.

Mais uma vez, obrigada, Todd.

2 comments:

Cristina said...

Lindo texto Dani.
Tô esperando seu livro e uma entrevista no Jõ sua.
bjs

Dani said...

Quem sabe um dia, Cris. O livro está andando...Queria acabar até o Natal. Veremos!
Bjs