Esta deve ter sido uma das frases que mais ouvi desde que cheguei aqui. Cada vez que demonstro impaciência ou desânimo de fazer alguma coisa diferente, escuto o mesmo mantra do Blake... "Você precisa deixar sua zona de conforto; tem que se aventurar mais e fazer coisas novas, blá, blá blá..."
Esta é a explicação para minhas aulas de yoga e de culinária indiana, para meus eventos cheios de estranhos e para os meus projetos com a American Cancer Society e mais recentemente com o Ulman Fund.
Admito: odeio mudança! Morro de medo do novo e detesto entrar sozinha em ambientes lotados. Minha vontade é sair correndo e chamar minha mãe na hora. Não, a minha mãe não! Pois a última vez que tentei fazer isto, tinha treze anos e estava na porta do meu curso de inglês.
Pausa para viagem no tempo: A filha prodígio da Angela (eu!) ou nerd-mor tinha acabado de fazer o livro do curso de inglês durante as férias e quando a minha mãe percebeu o ocorrido, não pestanejou. "Vai pular de ano porque eu não sou milionária para pagar para você aprender o que já sabe!" E assim aconteceu, ela anunciou o feito aos quatro ventos e quando vi, lá estava eu na sala do diretor fazendo prova oral. E depois escrita. Mas o trato com a minha mãe era que a menos que eu tirasse 100, não pularia de nível, pois ainda tinha o que aprender.
Tirar a nota máxima foi a parte fácil. Difícil foi ir para a aula no dia seguinte e no meio do período sem o livro e sem conhecer ninguém. Claro que não queria ir de jeito nenhum. Queria voltar para a minha turma antiga e para o meu livro feito, mas a minha mãe não quis conversa. Fez questão de me levar até lá e aguardar comigo o sinal para ter certeza que eu iria subir para sala.
Nunca senti tanto pavor na vida. O sinal tocou, os alunos se dirigiram para suas respectivas salas e eu literalmente congelei! "Mãe, não consigo sair daqui. Não vou subir! Por favor, me leve de volta para casa," implorei, praticamente aos prantos. Mas ela continuava impassível e quando me distraí um pouco, levei um tremendo empurrão e fui parar do outro lado da porta. Quando tentei abrir, notei que a minha mãe segurava o outro lado. Ainda tentei puxar por alguns segundos, mas nada pior para um tímido do que chamar atenção, então depois de alguns olhares curiosos, me resignei e subi os degraus, me preparando para o sacrifício. A situação agora era ainda pior, além de não conhecer ninguém e não ter o livro, ainda estava atrasada. A tortura durou uns minutos, mas eu sobrevivi e jamais esqueci daquela tarde patética. Vez ou outra, quando o mesmo medo me torna refém de mim mesma, imagino a minha mãe me empurrando porta a dentro e sigo em frente.
Mas esta história toda é para ilustrar o meu pavor por certas coisas. Pedir dinheiro é uma delas. Se fosse rica, daria milhões do meu próprio bolso só para não ter que pedir para ninguém. Meu ego é muito frágil e se esfacela a cada "não" recebido. Pelo menos era assim até muito pouco tempo...
De uns meses para cá sinto que vou mudando aos poucos, vou me atrevendo a dizer uns "nãos" sem me sentir a pior das pessoas e vez ou outra ouso fazer um pedido mais complicadinho que aumenta as possibilidades de ouvir aquela mesma palavrinha que me causa calafrios.
Não sou boa vendedora nem jamais serei, mas acho que sou boa contadora de histórias e foi por isto que encarei o desafio e acabei de mandar uns 80 emails para amigos nos quatro cantos do mundo pedindo para que eles me ajudassem a levantar 500 dólares para o Ulman Cancer Fund.
A causa? Ajudar jovens e adolescentes portadores de câncer. Esta organização oferece diversos serviços de suporte gratuitos a portadores de câncer, independente do estágio da doença, entre 15 e 39 anos. Honestamente não existe causa que fale mais alto ao meu coração, pois infelizmente o meu caso não é regra, mas uma tremenda exceção. Jamais vou achar justo a Thalita ter tido que partir no meio do seu mestrado, ou o Felippe ter nos deixado aos 24 anos quando ainda tinha tantos projetos geniais pela frente. A doença também levou o Sandro que já tinha vencido um câncer no intestino mas sucumbiu a uma metástese depois. E por último o Daniel, o corajoso samurai, que viveu sete anos e meio depois do transplante de medula, mas há poucas semanas partiu por razões relativas a complicações da doença. Sem contar na Allison, que mesmo rtendo o estágio quatro (é último) da doença continua trabalhando e praticemente me convocou para fazer a caminhada com ela.
Estas são histórias de cinco jovens brilhantes que tinham a vida pela frente mas foram (ou provavelmente no caso da Allisom, será) covardemente levados por esta doença terrível. Hoje eles fazem do céu um lugar mais iluminado, mas a saudade vai ficar para sempre. Assim como eles há milhares de jovens no mundo inteiro que lutam pelo direito de ficar aqui mais um pouco. A batalha é dura e é vencida a cada dia. Nào há perdedores, só que alguns partem mais cedo que outros. E é por isto que resolvi deixar a minha zona de conforto de uma vez por todas e pedir a quem quer que possa ajudar, que embarque nesta empreitada comigo, ajudando a fazer as vidas de tantos jovens um pouco melhores enquanto eles estiverem por aqui.
Se vocês quiserem saber mais sobre o evento ou sobre as razões que me levaram a participar do Ulman Cancer Fund, por favor visitem este site .
2 comments:
Dani, acho que estamos em momenos bem parecidos... A tal zona de conforto é um problema, a minha tem encolhido cada vez e vou me esforçando para ampliar aos poucos seu limite... Também, confesso, odeio mudanças, principalmente as que me são impostas... Vou entrar agora mesmo no site da campanha. Quem passou por isso tem obrigação de ajudar, só nós sabemos o tamanho dessa luta, que tantas vezes deixa de ser contra a doença e passar a ser contra nossas próprias limitações frente à vida! beijos, querida!
Dani, eu me identifiquei muito com sua história na infancia...;-)
Sim,sou mais uma que tem pavor a mudanças! Sempre que possível também opto pelo seguro mas estou tentando mudar e, estou realmente me empenhando nesta missão.
Agora vou checar o site da campanha! Bjos!
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