Quem me conhece sabe da ligação fortíssima que tenho com a minha avó. Ela sempre foi uma figura muito presente na minha vida. Por causa da profissão arriscada do meu pai, minha mãe optou por morar perto da família – por questões sentimentais e financeiras.
A convivência diária com nossos avós foi o melhor presente que meus pais poderiam nos dar. Como diz a minha irmã, meus pais tiveram a melhor babá do mundo e nós tivemos a melhor professora, pois foi com a minha avó que aprendemos a ler e foi com ela que fizemos todos os deveres de casa até o segundo-grau!!!
No meu trabalho, isto era motivo de piada. Qualquer dúvida que qualquer um de nós tivesse sobre a língua portuguesa, eu ligava para a minha avó na mesma hora. É com dois esses ou cedilha? Tem hifem ou não? A minha avó responde na hora, na lata, explica tintim por tintim e todo mundo aceita. E quando ela tem uma pontinha de dúvida, sai correndo e pega o Caldas Aulete, que ela pediu de Dia das Mães há alguns anos. Antigamente era o Aurélio, mas ela disse que o Caldas Aulete é mais atualizado e quando a minha avó diz alguma coisa sobre educação a gente não discute, implementa.
A minha avó sempre trabalhou, numa época que a maioria das mulheres ficava em casa. Ela nunca foi madame e até hoje tem muito orgulho de ser professora formada pela Instituto de Educação, nos áureos tempos, nos “anos dourados”, como ela gosta de chamar. Apesar de bastante tradicional, a minha avó sempre foi feminista, pois uma das condições impostas ao meu avô, depois de ter aceito o pedido de casamento, foi poder continuar na carreira que ela sempre tinha sonhado. E ele acatou.
A paixão dela era ensinar e foi na sala de aula que ela ficou, até se aposentar. Mas depois da aposentadoria continuou ensinando aos netos em casa. Foi ela que me deu meu primeiro livro, muito antes de eu pensar em começar a ler. Foi na frente dela também que li minha primeira palavra: “faísca” num rótulo do produto de limpeza. Ainda me lembro da alegria dela ao ouvir aquilo na cozinha. Quando eu disse a ela que não tinha lido nada, pois na verdade eu sabia que o nome do tal produto era “faísca” e eu só tinha memorizado, ela não se fez de rogada. “Mas é assim mesmo que se começa. Você está alfabetizada!” Achei melhor não discutir, mas depois disto comecei a ler outras palavras e não parei mais. Graças à paciência e à insistência da minha avó, comecei a ler e devorar todos os livros que via pela frente.
Foi a minha avó também que decretou que eu tinha talento para línguas. Como ela, eu sempre gostei de gramática e de português. Comecei a aprender inglês e para minha surpresa vi que tinha grande facilidade. A minha avó então resolveu me dar um empurãozinho. Como é descendente de alemães, achou que eu deveria tentar aprender o idioma e se propôs a pagar meu curso. Dito e feito. Graças a ela, mais um idioma no meu currículo. Depois do alemão, francês e espanhol. Não sou nenhuma maravilha, mas não digam isso a minha avó!
Mas não é só a minha parte intelectual que teve grande influência dela. A parte emocional também, pois ela desempenha com perfeição o papel de avozinha, aquela que faz bolos deliciosos, que conta histórias interessantíssimas e que reúne a família em torno dela em ocasiões especiais. Verdadeira matriarca sem querer ser, pois ela não gosta muito de ser o centro das atenções. Mas é. Não só o centro das atenções como o motivo de orgulho e alegria para cada um de nós e hoje razão de cada uma das nossas orações.
Fique boa logo, Rutinha, preciso dizer isto a você pessoalmente.
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