Não existe nada mais angustiante do que esperar por notícias sobre a saúde de quem amamos. Minha família sempre me disse isto, mas até agora nunca tinha experimentado este sofrimento, pois só estive do outro lado. O outro lado é péssimo também, não me entendam mal, mas esta impotência de quem espera do lado de cá parece que come a gente por dentro.
Tudo que ouvi hoje me fez lembrar uma conversa que tive com o Dr. Ary Ribeiro, que na época era diretor médico da Clínica São Vicente da Gávea, onde fiquei internada depois de complicações na minha primeira cirurgia de fígado. Fiquei lá umas três semanas. Não cheguei a ficar no CTI, mas os médicos me queriam lá para me monitorar e tentar descobrir a razão do meu derrame pleural e fazer mais uns inúmeros exames.
Já pela segunda semana eu começava a me revoltar. Estava lúcida, bem disposta e me sentia pronta para ir para a casa. Não agüentava mais comida de hospital, soro, "procedimentos", ressonâncias, visitas médicas e aquela cama dura. Eu queria ir para casa; estava consciente e alerta, implorava para ter alta.
Um dia, por algum motivo qualquer, a minha família toda estava fora do quarto (acho que devem ter pedido que o Dr. Ary, um médico excelente e ser humano muito sábio, fosse dar uma palavrinha comigo)e o médico chegou. Entrou no quarto e me encontrou impaciente e inquieta. Não fiz questão nenhuma de esconder a minha insatisfação de estar ali. Disse a ele que estava fazendo tudo que eu podia para sair do hospital o mais rápido possível: comendo aquela comida insossa até dizer chega, levando espetada e furada sem dar um ai, tomando soro, remédio e cumprindo todas as ordens médicas para quê? Eu continuava ali; continuava internada e sem previsão de alta.
Ele olhou para mim muito serenamente e me disse uma coisa que vou me lembrar para sempre. "Esta decisão não é sua. Você não tem o controle da situação. Para você, uma moça muito ativa e decidida é muito difícil aceitar que não há ABSOLUTAMENTE nada que você possa fazer que vai tirar você daqui mais rápido. Você está fazendo o que pode, mas não depende de você, então o melhor que pode fazer por si mesma é abrir mão do controle da situação. Você acredita em Deus, então deve entregar este controle nas mãos dEle, pois só Ele pode tirar você daqui, na hora que Ele achar que deve. Você tem como ajudá-lo, e agora o melhor a fazer é entregar sua causa a Ele."
Aquelas palavras me atingiram lá no fundo. Foi ali, pela primeira vez que me vi cara a cara com a minha fragilidade. Até aquele momento ainda guardava uma certa arrogância, tinha uma vaga idéia de que cabia a mim mudar o meu destino. Mas foi naquele quarto de hospital que tive a minha fé posta à prova mais uma vez e por completa falta de opção e desepero, deixei que Deus tomasse as rédeas. Mergulhei no fundo para voltar a superfície, mas voltei renovada.
Hoje, quase seis anos depois, me encontro mais uma vez numa encruzilhada, desta vez de um lado diferente, mas não menos doloroso. Mais uma vez queria que houvesse muitas coisas que eu pudesse fazer. Queria que a minha simples presença ao lado da minha adorada avozinha resolvesse todos os problemas, como num passe de mágica. Mas estas lição, por mais dura que seja, eu já aprendi seis anos atrás. Sei que não tenho este poder.
A mim só me resta a espera e a fé de que a minha avó vai sair desta bem e que na segunda-feira já vai estar indo pro quarto. E no final da semana já vai estar rindo e embalando a nossa Chiara nos braços, como na foto do post aí embaixo.
Fica firme, Rutinha, você sempre foi meu exemplo. A gente ainda vai respirar aliviadas juntas depois desta. Te amo vovó, fique bem. Deus está do nosso lado, mais uma vez. Até dezembro.
3 comments:
Boa noite Dani, somente agora pude ler seus post e saber de sua avó... vou rezar por ela,espero que ela já tenha melhorado.
TENHA CALMA E FÉ, mais uma vez creio que Deus lhe dará o melhor!
Um beijo e muita força para voces.
Selma
Estou orando po sua avozinha!
Dani, semana passada fiquei longe do blog e se não fosse seu e-mail não teria sabido. Linda a foto deles com a Chiara! Muito enxuta, lindona, vai sair dessa!!! Oremos!
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