Este post era para ser cheio de alegria, afinal só vinha tendo notícias boas nos últimos meses: minha saúde está ótima, meu emprego é legal, estou escrevendo para revistas que sempre li e tenho me engajado em projetos voluntários maravilhosos por aqui, mas infelizmente não são as boas notícias que ocupam meu pensamento agora.
A vida é tão engraçada...parece que a felicidade nunca pode ser completa. Quando é que vamos aprender a lidar com isso?
Nestes últimos dias tive duas notícias muito ruins. Uma foi a da partida do Felippe, amigo de caminhada e guerreiro valente que se despediu de nós este fim de semana. Já estava estranhando a ausência dele no blog quando a Selma me mandou um email. Agora é rezar para a família dele, pois concordo com o Guimarães Rosa que disse que "as pessoas não morrem, ficam encantadas."
A outra recebi pelo jornal, pois meus pais não gostam de me dar notícias ruins quando não há nada que eu possa fazer de longe. O Delegado Jami-Noá, a amigo do meu pai, que não conheço pessoalmente, foi baleado no fim da semana passada quando foi buscar o filho de oito anos na escola. O menino estava no carro com o pai! Este amigo do meu pai é delegado, então uns dizem se tratar de atentado e outros defendem a hipótese de assalto, mas garanto que para este menino de oito anos, cujo pai está em estado grave no hospital, isto pouco importa. O que importa para ele é que o único pai que ele tem está lutando pela vida num leito de hospital. Não, o pai dele não vai poder buscá-lo na escola esta semana. Também não vai poder acompanhá-lo ao jogo de futebol ou levá-lo à praia. Pelo menos por enquanto não vai poder fazer tantas coisas que um pai deve fazer com o filho. Como explicar isto a um menino de oito anos?
Esta tragédia que aconteceu com este amigo me meu pai, me fez pensar em como a minha vida poderia ter sido diferente. Numa noite de inverno, quando tinha uns 11 ou 12 anos, meus pais foram me levar para experimentar a minha roupa para uma apresentação de ballet. Meu pai tinha acabado de comprar um carro novo e estávamos todos ansiosos para passear nele. Fomos nós três até a casa da costureira, mas chegando lá, meu pai preferiu não entrar e decidiu nos esperar no carro. (O ano era 1985 então as pessoas ainda aguardavam no carro.).
Na saída da casa da costureira, que ficava numa vila, e a rua era levemente inclinada, minha mãe e eu vimos um corpo no chão. De longe e no escuro não sabíamos o que pensar, então a minha mãe chamou pelo meu pai, que graças a Deus repondeu que estava bem. Ele pediu a ela que não me deixasse chegar perto da cena, mas o local já estava tomado por curiosos e eu e ela olhávamos incrédulas. Meu pai é policial, reagiu a um assalto e teve sorte, pois conseguiu atirar em um ladrão enquanto o outro comparsa fugiu. Depois do incidente, a preocupação dele era preservar a arma do ladrão no chão, para que todos soubessem que ele tinha agido em legítima defesa. Ainda assim, a primeira notícia que foi ao ar dizia que um coronel da PM tinha atirado num homem que havia se aproximado dele para pedir informação! Imagina se a arma do crime não estivesse ali? Provavelmente meu pai estaria apodrecendo na cadeia. Incrível como pseudo-jornalistas conseguem ser tão levianos.
Mas felizmente tudo deu certo e eu pude ter meu pai comigo durante toda a minha vida. Estiveram comigo também no hospital todos os dias, me amparando e guiando o meu caminho. Ele e a minha mãe continuaram me levando a apresentações de ballet, peças de teatro, viagens e a tantos outros lugares. Por sorte nossa, eles puderam acompanhar a vida de cada um dos três filhos de perto, participando de cada momento especial.
Espero que o filho do Delegado Jami-Noá tenha a mesma sorte que eu tive. Por enquanto só me resta rezar e peço a vocês que façam o mesmo, que mantenham o Delegado e sua família em suas orações.
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