September 16, 2008

Sobre americanos, testamentos e dívidas


Americano é povo meio obsecado com esta história de planejamento financeiro. Aliás na verdade a questão é um paradoxo enorme, pois se como a Dri bem colocou, eles têm testamento aos 20 anos, muitos têm dívidas astronômicas que incluem vários cartões de crédito, student loans (ou créditos educacionais), prestação de imóveis e etc. Dinheiro no bolso que é bom, nada!

Lembro que quando morava em Nova York com meus vinte e poucos anos, vários amigos meus tinham dívidas de US$80 mil!!!! E vocês acham que alguém deixava de fazer alguma coisa por isto? De jeito nenhum! Continuavam viajando para os quatro cantos do planeta, comprando nas lojas mais caras de Manhattan e rolando o crédito. A minha mãe sempre fala que eu já tinha previsto esta crise havia mais de 10 anos. Era só olhar para o povo na rua para perceber que muita gente não tinha cacife para levar a vida que levava. O resultado a gente vê hoje. Como dizia um colega de trabalho, "sou americano típico, não tenho um tostão guardado. Minha liquidez é zero!" E ele é um cara inteligentíssimo, jornalista financeiro... Como diz a minha avó, casa de ferreiro, espeto de pau.

Então é por isto que acho engraçado a obsessão que o povo aqui, ou pelo menos os hospitais, têm com o testamento, que aqui é chamado de "living will," que dá plenos poderes à família e aos médicos sobre o quefazer caso o paciente não tenha condições de tomar decisões por si só. Além do tal "living will", parece que eles agora querem fazer parte do testamento normal mesmo. Toda vez que vou ao hospital eles me dão trocentos formulários para preencher -- é o medo de processo judicial! -- e sempre tem uma folhinha lá perguntando se eu tenho a tal "living will" e me dando informações de como posso fazer para atualizar ou criar meu documento. Além de quererem se livrar de qualquer responsabilidade ainda querem dar uma mordida na minha carteira?!

Sempre fui muito precavida -- tenho seguro de vida, plano de saúde super-ultra-completo(também nas minhas condições não dá para abrir mão dele!), previdência privada, continuei contribuindo para o INSS (sempre disse que era otimista!!) e para o Social Security Americano, etc, etc. Obviamente tenho meus designatários registrados aqui no trabalho e no Brasil, mas no momento ainda não quero pensar no testamento não... Fazendo um trocadilho com a palavra em inglês, como disse uma colega de trabalho, no momento, "my only will is to live!" And that's that.

Se o povo aqui adora um testamento, discutir sobre regime de bens em casamento é um grande tabu, então não podemos estranhar quando todo divórcio americanos é uma confusão só e volta e meia uma celebridade vai parar nas páginas de jornais por conta disto. No Brasil a coisa é muito mais civilizada com o regime padrão de comunhão parcial de bens lavrado já na certidão. Se o frenguês quiser algo diferente que faça pacto antinupcial, caso contrário vale o que está escrito. Simples e direto. Quando dei entrada na papelada para o casamento, expliquei tudo direitinho pro Blake e ele estranhou muito o meu jeito non-chalant de abordar questão tão complicada. Expliquei para ele que para mim a questão não tinha nada de complicada, era só justiça. Como nenhum de nós era milionário (que pena!), não tínhamos medo do golpe do baú, então o regime padrão nos atendia bem. O que era meu antes do casamento continuaria sendo meu, o que era dele (incluindo a casa) continuaria sendo dele, e depois de casados tudo que comprássemos seria dividido. Quer mais justo do que isso? Ele concordou, assinou a papelada e desde então vivemos felizes para sempre, sem dramas e sem medo de enfrentar um imbroglio jurídico made in USA. :)

Claro que ninguém casa para separar -- longe disto -- mas acho que certas coisas têm que ser acertadas antes dos papéis serem assinados: vai querer filhos? vai querer morar aonde? vai querer trabalhar ou espera viver à custa do marido/mulher? tem reservas financeiras? planos para aposentadoria?

Mas voltando ao bendito testamento, uma coisa de cada vez. Pode ser que depois que a gente conseguir comprar a casa nova e que a minha vida estiver mais estável eu faça um testamento -- por que não? -- mas por enquanto, concordo com a minha amiga aqui, my only will is to live, so, Hopkins, can you please leave me alone? A propóstio, não sou Leona Helmsley -- não possuo a fortuna dela e não pretendo deixar nada para o meu cachorro, que aliás nem tenho!

3 comments:

Anonymous said...

Dani, tanto eu como meu marido temos testamentos ja ha alguns anos. A gente achou melhor ter so porque como cada um e de um lugar e as familias estao em dois paises diferentes, quisemos especificar o que vai pra quem caso nos dois nao estivermos mais por aqui...

Roy Frenkiel said...

Tecnicamente, segundo o censo, ha um numero crescente de pessoas com seguro de vida que nao tem seguro de saude. Sabia dessa?

bjx

RF

Anonymous said...

Essa das dividas realmente eh impressionante... o Aaron (apesar de nao ter mais nenhuma divida hoje em dia!) se espantou quando eu disse pra ele que NUNCA tive divida, nunca comprei mais doque podia pagar, nem nunca peguei dinheiro emprestado de ninguem... (ateh literalmente 2 semanas atras, nem sequer tinha cartao de credito. Compro tudo a vista, sempre!)
O "Credito" eh algo tao intrincado na cultura americana, que nao sei porque as pessoas estao tao surpresas com essa crise toda nos ultimos meses.
Though times are coming ahead...

O Aaron tambem ficou espantado com essa coisa da divisao de bens (que na Inglaterra eh tipo no Brasil, sem complicacao), e escolhemos o padrao: divisao parcial, so dividindo oque comprarmos juntos depois do casamento). Ele achou que eu ia ficar ofendidissima por nao ter meu nome como dona do apartamento dele! Era soh oque faltava!
Ainda mais com essa crise toda! Vou herdar oque? Uma hipoteca?! To fora! HAHHAHAHAH
BJs
Adri