Esta semana achei uma mulher de 31 anos que retirou um tumor do fígado muito parecido com o meu e não foi transplantada! Fiquei feliz porque nunca tinha conhecido ninguém com um caso tão parecido com o meu: faixa etária, sexo, tipo de câncer, localização, tratamento, etc. E muito importante, ela está viva e bem.
Bom, na verdade, quem me achou foi ela através de um comentário que eu tinha feito no Facebook há mais de um ano. Ela me mandou um email tímido, me contando sobre seu caso e dizendo que entenderia se eu não quisesse mais falar do meu, já que o post era antigo.
As palavras dela poderiam ter sido escritas por mim. Seus medos e incertezas também são os meus. A cirurgia dela aconteceu em abril deste ano, então atualmente seu maior medo é de uma recidiva. O engraçado é que ela ouviu as mesmas estatíticas que eu, as mesmas pesquisas, as mesmas ponderações. Até as palavras da família são as mesmas “Você é sobrevivente! Você venceu e esta porcaria não vai voltar mais.” Quiséramos nós que nossas famílias e nossos amigos tivessem o dom de prever o futuro ou de evitar o nosso sofrimento...
Acho que ao me contatar, Anna estava esperando que de alguma forma eu pudesse lhe oferecer a certeza de uma vida longe da doença e do sofrimento e a garantia de que este seria um capítulo encerrado na sua existência. Só que o grande problema é que esta certeza que ela procura, nem eu mesma tenho.
Estaria mentindo se negasse que tudo que mais queria no mundo era a certeza absoluta de que a doença jamais iria me importunar, nem no meu fígado, nem em qualquer outro órgão do meu corpo. Já busquei estas respostas nos médicos, nos laudos, nas pesquisas, e em tantos outro pacientes, mas aos poucos fui aprendendo que jamais vou obter este tipo de afirmação. E mais, vou ter que aprender a viver sem ela.
Não era o que eu queria para mim, mas é o que me cabe e não me resta mais nada a fazer a não ser aprender a lidar com isto. Claro que qualquer um pode dizer que não se pode ter certeza de nada, que a doença ou a tragédia podem fazer parte da vida de todo mundo, mas a sensação de já ter passado por algo terrível que pode voltar a qualquer momento é simplesmente aterrorizante e só quem já passou por isto pode entender. Por outro lado, não vou viver a minha vida com medo do que me espera, mas não posso dizer que este incômodo companheiro de viagem não me assusta, uns dias muito mais do que outros.
O tempo alivia mas nunca apaga, eu sei disso. A dor de perder alguém que amamos, o desespero da descoberta de uma doença muito grave, a agonia do não saber...tudo isto faz parte da nossa jornada, mas marca a gente demais e deixa cicatrizes profundas que com o tempo ficam menos visíveis, mas nunca esquecidas.
A Anna, minha mais nova amiga da Florida, diz que a minha história serve de inspiração para ela. O que ela não sabe é que o bem estar dela me traz um conforto absurdo. Acho que deve ser puro egoísmo.
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