Lembro que há muitos anos atrás, li uma matéria no New York Times que me chamou atenção. O autor tratava de um tema controverso: a batalha travada entre os com-filhos e os sem-filhos, pois aqui nos EUA trata-se de dois grupos completamente antagônicos e automaticamente excludentes. O sujeito sem filhos é visto como egoísta e superficial pelo cara que tem filhos e aqueles que tem filhos são simplesmente o terror para os que não tem, pois só falam nos pequenos e não conseguem dar um passo sem eles.
Já vivi uma situação no mínimo estranha quando vim visitar o Blake aqui antes de nos casarmos. Um casal amigo nos chamou para uma festa na casa deles. A festa na verdade era para ver a final do Superbowl (campeonato de futebol americano). Chegando lá, a casa estava lotada, de adultos e crianças, todas com menos de três anos, todas lindas e superbem vestidas. Lá pelas tantas um ruivinho, que deveria ter uns dois anos, vem pro meu lado e começa a me chamar de mamãe. A coisa mais linda!!! Fiquei brincando com ele até que o pai veio se explicar "Desculpas por ele se rassim tão atirado, mas é que você tem o mesmo cabelo da mãe dele..." Eu sorri e continuei brincando com ele. Até que lá pelas tantas chega a mãe do ruivinho. Ao nos ver, ela se aproxima e me pergunta meu nome e se eu tenho filhos. Ao ouvir a minha resposta, ela simplesmente vira as costas. Sem mais nem menos! Fiquei chocada! Como assim? Desde quando o fato de eu não ter filhos me torna um pária? Mesmo não tendo filhos, é óbvio que gosto de crianças, afinal estava brincado com o filho dela havia horas...
Fiquei passada. Mas depois conversando com uns amigos, entendi. O problema não era comigo, era com ela mesma. Ao dizer que não tinha filhos, aniquilei qualquer chance de uma conversa entre nós, pois não haveria troca, já que o único assunto que ela dominava ou lhe interessava não era pertinente a mim. Coisa de maluco, eu sei, mas ilustra bem a vida da americana classe média que abre mão da carreira (se é que ela um dia teve) e da própria vida para se dedicar completamente aos filhos. Mas é esta mesma mãe americana que, quando o filho completa 18 anos e sai de casa para a faculdade, já vai logo avisando que dali para frente ele vai ter que seguir seu rumo. Nem pense em voltar para casa e se voltar, saiba que para morar no basement tem que pagar aluguel!!! Não que eu seja a favor de pais superprotetores e nem de filhos com trinta e poucos anos que vivem a custa dos pais, mais exigir que alguém de 18 anos que foi paparicado a vida toda siga seu rumo de um dia para o outro é bem cruel.
Mas voltando às crianças, o problema das crianças americanas em geral (sim, eu sei que todo estereóptipo é falho, mas se é estereótipo, então tem uma razão de ser...) é que elas são descontroladas! Juro que se fosse psicóloga estudaria a questão mais a fundo, mas ao contrário da maioria das crianças brasileiras, as americanas não tem a menor noção de como se portar em público. Culpa dos pais, penso eu. Como aqui neste país, tudo é 8 ou 80, ou a mãe larga as crianças com a babá e nem olha para cara das coitadinhas, ou resolve abrir mão da vida para não perder nenhum detalhe da vida dos pimpolhos. (Fala sério, um pouco de independência nunca matou ninguém!!!) Então elas param de trabalhar para criar os filhos e não abrem mão da companhia da prole por nada deste mundo. Até aí tudo bem, problema delas. Acontece que, como diz o ditado brasileiro, o seu direito acaba quando começa o direito do outro, então por mais lindas que elas achem suas pestinhas, quando começam a destruir a minha casa, o problema passa a ser meu também.
Conversando com a minha mãe, ela disse que não gostava de levar os filhos para festas de adultos porque nunca se divertia. A questão aqui é que as mãe levam os filhos e TAMBÉM se divertem, ou seja, não estão nem aí para o que as pestinhas estejam fazendo. Esta é a diferença de mentalidade. Longe de mim ser nazista ou inimiga das crianças, quem me conhece sabe muito bem que eu ADORO os pequenos. Também não sou fanática por limpeza e nem ligo muito para bens materiais -- quebrou já era. Mas para mim tudo tem um limite, e sábado as coisas chegaram perto do caos. O Blake, que é muito mais ligado nestas coisas do que eu, já decretou: outra festa nas mesmas proporções NUNCA MAIS. Não que não tenhamos planos de abrir nossa casa outras vezes, muito pelo contrário, mas serão festas mais íntimas e restritas a adultos. Claro que pode haver exceções. Temos um casal de amigos cuja filha de oito anos é uma graça e adoramos quando ela vai nos visitar: supercomportada, esperta, inteligente, não dá trabalho nenhum. Infelizmente a imensa maioria das crianças é bem diferente da Lauren.
O engraçado também é que os pais acobertam os filhos. Nós temos dois sobrinhos, um de 13 e outro de 11. Até dois anos atrás, os dois eram verdadeiras pestes e a minha cunhada, para desespero de toda família, sempre insistiu em carregá-los para todos os lados, o que significa que as reuniões de família eram um verdadeiro circo. Hoje o mais velho, já adolescente, é completamente diferente. Passa vários dias conosco em casa e não dá trabalho nenhum. Adora ir ao shopping, fica horas no Wii sozinho, enfim, se sente em casa. Como mais comportado, fizemos um trato com ele: se nada fosse quebrado, ele ganharia 20 dólares e ele adorou a idéia. De fato apesar da sujeira, nada se quebrou e nós notamos que ele havia escondido algumas almofadas do resto das crianças.
No final da festa, a minha cunhada me sai com essa: "As crianças nã deram problema nenhum." Ao que meu sobrinho, filho dela, responde "Não deram problema?! Você diz isto porque não estava lá!" Quando eu pergunto o que tinha acontecido e quem eram os envolvidos, ele responde "Ora quem?! Meu irmão e os meninos asiáticos." Ela olha para ele com um ódio absurdo e dispara "Você sempre tem que estragar tudo. Você e esta sua língua!" E puxa o garoto em direção ao carro.
Para bom entendedor a mensagem da mãe não poderia ter sido mais clara "Acoberte as estripulias do seu irmão ou vai sobrar para você!"
O que ela não sabia era que o Blake tinha visto o sobrinho mais novo com a cara toda vermelha chorando lá pelas tantas. Nossa conclusão: ele foi dar uma de abusado e os meninos chineses devem ter dado um tremendo kung-fu para ele deixar de ser engraçadinho. Aliás, nunca vi chinesinhos tão pestinhas na minha vida...
Sábios foram os nossos gatinhos, que quando viram o tamanho da confusão, se enfiaram embaixo do sofá e lá ficaram o resto da noite.
March 31, 2009
March 30, 2009
Bravenet Sucks!!!!
Desculpem o título do post em inglês, mas esta expressão não dá para traduzir direito para a nossa língua mãe.
Para quem não sabe, Bravenet é o contador de visitantes que fica no rodapé do blog. Como curiosa-mor e pesquisadora amadora, a idéia de saber de onde vem meus amigos virtuais é irresistível, então nem pensei duas vezes antes de colocar o widget to meu blog. Era gratuito e ficava bem discretinho lá no final da página.
Ficava do verbo não fica mais e agora resolveu impestiar meu blog com um pop-up mais que irritante que surge do nada só para encher o saco da gente.
Fui no site deles pesquisar a mudança repentina e ao que parece agora tenho que pagar $40 (quarenta doletas!) para me livrar da praga! Confesso que até pensei no assunto, mas o Blake quase cortou meu pescoço por ser conivente com este típo de prática espúria, então mudei de idéia.
Se por um lado, adoro xeretar aqui e ver de onde vocês estão logando, por outro lado acho um porre ter que ficar fechando janelinha inconveniente... O mais chato é que depois de tantas visitas vou ter que me livrar do contador...
Estou praticamente decidida, mas resolvi abrir a questão para debate e sugestões. E aí? Algum de vocês tem uma boa sugestão? Alguém conhece um contador bom e gratuito? Será que esqueço esta história de uma vez por todas?
Techies de plantão please help!!
Para quem não sabe, Bravenet é o contador de visitantes que fica no rodapé do blog. Como curiosa-mor e pesquisadora amadora, a idéia de saber de onde vem meus amigos virtuais é irresistível, então nem pensei duas vezes antes de colocar o widget to meu blog. Era gratuito e ficava bem discretinho lá no final da página.
Ficava do verbo não fica mais e agora resolveu impestiar meu blog com um pop-up mais que irritante que surge do nada só para encher o saco da gente.
Fui no site deles pesquisar a mudança repentina e ao que parece agora tenho que pagar $40 (quarenta doletas!) para me livrar da praga! Confesso que até pensei no assunto, mas o Blake quase cortou meu pescoço por ser conivente com este típo de prática espúria, então mudei de idéia.
Se por um lado, adoro xeretar aqui e ver de onde vocês estão logando, por outro lado acho um porre ter que ficar fechando janelinha inconveniente... O mais chato é que depois de tantas visitas vou ter que me livrar do contador...
Estou praticamente decidida, mas resolvi abrir a questão para debate e sugestões. E aí? Algum de vocês tem uma boa sugestão? Alguém conhece um contador bom e gratuito? Será que esqueço esta história de uma vez por todas?
Techies de plantão please help!!
Housewarming Party
A tal festa de inauguração da casa foi realmente um sucesso, com mais de 50 pessoas aqui fácil. Diria que o número deve ter chegado próximo dos 60, o que para uma noite fria e cheia de neblina impressionou. Fiquei feliz de ver tantos amigos e satisfeita de saber que a casa comporta esta gente toda. Mas como diz o Blake, outra festa igual vai demorar...e muito!
Ontem passamos o dia limpando tudo, pois o primeiro andar ficou um caos. Felizmente, nada quebrado, o que já é um tremendo lucro, mas muita sujeira, o que já era de se esperar. O único detalhe é que, diferente do Brasil, onde temos empregadas e faxineiras, aqui no primeiro mundo, é a dona da casa e anfitrião quem pega no pesado!!! Sorte minha que o Blake ajuda demais, caso contrário seria impossível.
Depois volto aqui para colocar algumas observações para os mais curiosos, mas desde já, lanço a pergunta, lugar de criança é em festa de adulto num sábado à noite?
Mais no próximo post..
March 26, 2009
Dicas de Beleza
A minha amiga Silvia me colocou no desafio de listar sete dicas de beleza e depois indicar sete amigas blogueras para fazer o mesmo. Como estou bem democrática hoje, vou pedir que as amigas sejam voluntárias... E aí? Quer dividir seus rituais de beleza com a gente? Coloque no seu blog e avise!
O único problema é que ultimamente estou cada vez menos vaidosa. Acho que deve ser influência americana, onde o conforto é mais importante que tudo, mas peraí, não quero ficar com cara de gringa desgrenhada não. Fala sério!* Tenho sempre pelo menos três frascos diferentes de shampoos e condicionadores no meu chuveiro. Escutei quando era adolescente que temos que mudar o shampoo com frequência para que o cabelo nao se acostume com ele e resolvi acreditar. Deve ser mais uma daquelas lendas urbanas, mas a minha coleção já dura anos...
* Sempre lavo o rosto pelo menos três vezes por dia -- ao acordar, ao chegar em casa e antes de dormir, fora na hora do banho. Como tenho a pele oleosa, não dá para descuidar não... E mesmo assim, as espinhas e os cravinhos não me deixam em paz... Meu reino por uma pele de pêssego!
* Faço depilação religiosamente uma vez por mês -- faça chuva, ou faça sol, frio ou calor infernal, pode chover canivete que eu preciso me livrar dos pelos! Sempre tive depiladora em todos os lugares que já morei. Ao chegar aqui, a primeira coisa que fiz foi arrumar uma brasileira! Antes de me depilar faço uma esfolheada básica e obviamente dispenso o hidratante.
* Uso hidratante todos os dias, no verão e no inverno, sempre ao sair do banho.
* Retoco minha balayage a cada três meses, pois raiz escura em cabelo claro dá impressão de desleixo e meus dias de loura natural acabaram na infância!
* Quem tem química no cabelo também precisa de cuidados especiais. No Brasil fazia muita hidratação, mas aqui o preço é proibitivo e dá uma preguiça de fazer sozinha, então faço umas rapidinhas um vez por mês, pelo menos. Também tenho mania de escovar o cabelo antes de dormir.
* Não saio de casa sem passar perfume, pois me sinto NUA sem ele. (Coisa de maluco!) Mudo as fragrâncias de acordo com a estação do ano. No inverno, uso muito Narciso Rodriguez, mas no verão amo o Flower by Kenzo. Há outros que uso o ano todo. Atualmente ando apaixonada pelo Daisy do Marc Jacobs e pelo Euphoria Blosom, que acabou de sair por aqui. Adoro florais!
Celebrando...
Aniversário de casamento é ótimo!!! Pena que é uma vez por ano.... As fotos aí de cima provam que desta vez consegui ficar acordada e aproveitar o restaurante, que é muito legal! Fica em Fells Point, que é o Soho/Meatpacking District aqui de Baltimore, guardadas as devidas proporções, mas tem aquele ar urbano e cinza, que tenho que admitir, até que gosto bastante.
O pé direito é altíssimo, e o lugar certamente deve ter sido um galpão/armazém no passado, já que Baltimore é uma cidade bem industrial, mas o resultado é bem moderno e dramático. A comida é espanhola, mas tem influências italianas e mediterrâneas. A carta de vinhos é bem completa e o preço bem razoável para o tipo de lugar.
Enfim, foi uma noite superagradável e agora posso dizer que fui ao Pazo, pois da primeira vez que o Blake me levou lá eu nem me aguentava em pé de tanto cansaço...
Desta vez valeu!
March 25, 2009
Cancercard
Me disseram que eu tinha direito de usar, mas a idéia sempre me soava mórbida demais. Usar a doença para conseguir desconto, benefícios ou para fins econômicos sempre me pareceu muito estranha. Meus pais sempre disseram que poderia dar azar. “para que?”, eles perguntavam “você já está boa, sua vida é idêntica a de antes, então não tem motivo para usar isto para nada. Fiquei bem tentada com a história de isenção de imposto no carro, mas como graças a Deus não fiquei com nenhuma sequela, deixei para lá. Melhor usar o benefício quem realmente precisa.
Mas o cancercard também pode ser usado em situações banais do dia a dia. É um benefício que te dá a vantagem instantânea e imediata e ninguém tem direito a questionar a validade dele. Você pode usar o cartão dentro de casa, quando não quiser lavar os pratos ou levantar móveis pesados ou na rua, ao recusar convites para alguns programas de índio. Afinal com saúde não se brinca...não é isso que diz o povo? Uns dizem que o cancercard (primo doente do Mastercard Platinum) tem prazo de validade, outros juram que é um benefício para a vida toda. Acho que depende do caso. Eu, para falar a verdade, sempre usei muito pouco o meu, mas às vezes me dava uma vontade...
Claro que uma vez ou outra digo que tive câncer só de maldade. Mas só faço isto para assustar algum inconveniente sem noção, como o amigo da minha amiga que, ao perceber que, ao contrário de todos da mesa, eu não estava bebendo (álcool), começou a me chamar de pinguça e a sugerir que eu tinha cirrose (como se isto fosse engraçado!). Sorri amarelo para ver se ele ficava sem graça, mas o engraçadinho continuou, até que eu não me contive mais e disse. “Não é cirrose não! O que eu tive foi câncer e de fígado!” O cara ficou pálido e olhava para mim como se tivesse à frente de um fantasma. “Ué, sempre ouvi falar que câncer no fígado matava!,” tentou se explicar. Ao que respondi, “Mata sim, mas eu continuo aqui bem vivinha. Só não tomo muita birita.”
Não consigo explicar mas senti um prazer enorme ao ver a cara de babaca do indivíduo. Só por isto já valeu. Quando falo da doença que tive, não quero que ninguém tenha pena de mim. Também não quero ser venerada em pedestal, pois acho que fiz o que qualquer ser humano normal faria: lutei para conservar a única vida que tinha. E mais do que isto, decidi que aquela experiência seria uma forma de aprendizado e a usei como uma força transformadora. Acho que tenho tido sucesso.
Semana passada, liguei para marcar a minha primeira sessão de acupuntura aqui, no mesmo lugar que faço yoga, um centro fantástico de medicina complementar. Ao conversar com a recepcionista, precisei dar algumas informções sobre meu histórico de saúde e não poderia deixar de falar “nele”. Ao ouvir minha história, a recepcionista me disse, “Peraí, acho que você pode ter direito a tratamento gratuito.” Como assim?, pensei. Fui logo explicando que não estava em tratamento, só fazendo acompanhamento, etc, etc. Ela me aconselhou a ligar para o Claudia Meyer Cancer Center para pegar mais informações. Não custa tentar, pensei.
Deixei recado e ontem eles me ligaram de volta. Me fizeram poucas perguntas e eu fiz questão de dizer que NÃO estava em tratamento, que a doença NÃO tinha nenhum estágio pois havia sido completamente extirpada na última cirurgia, afinal de contas, como boa filha e sempre tentando melhorar meu karma, jamais ia querer um benefício que não era meu por direito. A resposta dela foi surpreendente. “Você está curada?! Parabéns! Ótimo! Agora pode ligar para o centro de medicina e dizer que falou comigo. Seu tratamento é gratuito.” Como assim?, pensei mais uma vez. E ela leu meus pensamentos: “Este é nosso presente para você. Isto é resultado de um grant (ajuda financeira) que recebemos, então marque seus tratamentos o mais rápido possivel.” Bingo! Consegui todas as sessões de graça e vou economizar uma boa grana. Tudo isto sem comprometer meu karma e usando meu cancercard de uma forma bem honesta. Como diz a minha irmã “Esta doença desgraçada tem mais é que te trazer algo de bom!”
Mas o cancercard também pode ser usado em situações banais do dia a dia. É um benefício que te dá a vantagem instantânea e imediata e ninguém tem direito a questionar a validade dele. Você pode usar o cartão dentro de casa, quando não quiser lavar os pratos ou levantar móveis pesados ou na rua, ao recusar convites para alguns programas de índio. Afinal com saúde não se brinca...não é isso que diz o povo? Uns dizem que o cancercard (primo doente do Mastercard Platinum) tem prazo de validade, outros juram que é um benefício para a vida toda. Acho que depende do caso. Eu, para falar a verdade, sempre usei muito pouco o meu, mas às vezes me dava uma vontade...
Claro que uma vez ou outra digo que tive câncer só de maldade. Mas só faço isto para assustar algum inconveniente sem noção, como o amigo da minha amiga que, ao perceber que, ao contrário de todos da mesa, eu não estava bebendo (álcool), começou a me chamar de pinguça e a sugerir que eu tinha cirrose (como se isto fosse engraçado!). Sorri amarelo para ver se ele ficava sem graça, mas o engraçadinho continuou, até que eu não me contive mais e disse. “Não é cirrose não! O que eu tive foi câncer e de fígado!” O cara ficou pálido e olhava para mim como se tivesse à frente de um fantasma. “Ué, sempre ouvi falar que câncer no fígado matava!,” tentou se explicar. Ao que respondi, “Mata sim, mas eu continuo aqui bem vivinha. Só não tomo muita birita.”
Não consigo explicar mas senti um prazer enorme ao ver a cara de babaca do indivíduo. Só por isto já valeu. Quando falo da doença que tive, não quero que ninguém tenha pena de mim. Também não quero ser venerada em pedestal, pois acho que fiz o que qualquer ser humano normal faria: lutei para conservar a única vida que tinha. E mais do que isto, decidi que aquela experiência seria uma forma de aprendizado e a usei como uma força transformadora. Acho que tenho tido sucesso.
Semana passada, liguei para marcar a minha primeira sessão de acupuntura aqui, no mesmo lugar que faço yoga, um centro fantástico de medicina complementar. Ao conversar com a recepcionista, precisei dar algumas informções sobre meu histórico de saúde e não poderia deixar de falar “nele”. Ao ouvir minha história, a recepcionista me disse, “Peraí, acho que você pode ter direito a tratamento gratuito.” Como assim?, pensei. Fui logo explicando que não estava em tratamento, só fazendo acompanhamento, etc, etc. Ela me aconselhou a ligar para o Claudia Meyer Cancer Center para pegar mais informações. Não custa tentar, pensei.
Deixei recado e ontem eles me ligaram de volta. Me fizeram poucas perguntas e eu fiz questão de dizer que NÃO estava em tratamento, que a doença NÃO tinha nenhum estágio pois havia sido completamente extirpada na última cirurgia, afinal de contas, como boa filha e sempre tentando melhorar meu karma, jamais ia querer um benefício que não era meu por direito. A resposta dela foi surpreendente. “Você está curada?! Parabéns! Ótimo! Agora pode ligar para o centro de medicina e dizer que falou comigo. Seu tratamento é gratuito.” Como assim?, pensei mais uma vez. E ela leu meus pensamentos: “Este é nosso presente para você. Isto é resultado de um grant (ajuda financeira) que recebemos, então marque seus tratamentos o mais rápido possivel.” Bingo! Consegui todas as sessões de graça e vou economizar uma boa grana. Tudo isto sem comprometer meu karma e usando meu cancercard de uma forma bem honesta. Como diz a minha irmã “Esta doença desgraçada tem mais é que te trazer algo de bom!”
Visitas
Casa cheia é ótimo! Ainda mais quando está todo mundo animado com os acontecimentos... Comprar vestido de noiva, grinalda, brincos e véu e encontrar tudo no mesmo lugar é o máximo. A Renata, na foto segurando o vestido, era uma alegria só!
Mas os meninos também saíram daqui felizes com as roupas que compraram (em liquidação!!!) e os eletrônicos que levaram na mala -- indo de Playstation III até fone sem fio para TV (boa dica parar quem tem marido que gosta de ficar vendo televisão até tarde).
Mas os meninos também saíram daqui felizes com as roupas que compraram (em liquidação!!!) e os eletrônicos que levaram na mala -- indo de Playstation III até fone sem fio para TV (boa dica parar quem tem marido que gosta de ficar vendo televisão até tarde).
March 24, 2009
Na Alegria e na Tristeza, na Saúde e na Doença...
Faz exatamente dois anos que o Blake e eu fizemos este juramento na presença vários amigos e familiares que estiveram presentes em nosso casamento. Sem querer desmerecer os convidados, o mais importante foi fazer este juramento diante de Deus, na casa dele. Pedimos a Deus que abençoasse nossa união e a nossa vida a dois que se iniciava naquele instante.
O que ninguém suspeitava é que o tal juramento fosse ser colocado à prova apenas nove meses depois de termos pronunciado aquelas palavras tão belas, que se não tivessem sido amparadas por atos, seriam somente palavras jogadas ao vento.
Muita coisa pode acontecer em nove meses. E conosco de fato várias coisas aconteceram, mais desafios do que suspresas agradáveis, mas a cada obstáculo nos tornávamos mais próximos um do outro. Enfrentamos juntos o meu ‘banzo’ de recém-chegada a Maryland, o meu enorme problema de saúde, e ainda toda a situação da minha avó, no ano passado. Sem falar na cirurgia do Blake (que não foi nada grave), na venda da casa, na compra da outra e na minha estressante busca por um emprego na minha área.
Lembro que nosso primeiro aniversário de casamento foi celebrado em Johns Hopkins, durante a minha primeira consulta com o Dr. Pawlik. A maioria dos casais costuma planejar viagens ou até uma festinha íntima com os amigos. Não nós. Nosso encontro inadiável era com médicos, enfermeiras e tomógrafos. Em vez de me descansar ou me esbaldar no sol, eu estava sendo furada, remexida e apalpada. Em vez de brindar com um delicioso vinho, tomei contraste na veia. Mas vivi. E pela primeira vez depois da cirurgia, respirei um pouco mais aliviada. Três meses sem câncer, uma verdadeira bênção, o melhor presente de casamento que poderíamos receber. (Hoje já são quatorze meses sem câncer. Uma vitória maior ainda.)
Dizem que os primeiros anos na vida de um casal são os mais complicados. Não foi isto que vivemos. Apesar de tantos obstáculos encontrados no meio do caminho, o fato de estarmos juntos tornou esta carga, que poderia ter sido insuportável, muito mais leve. Estes anos foram difíceis e pouco glamorosos, mas mesmo se pudesse não mudaria nada em relação a eles, pois eles me fizeram enxergar a vida de uma forma diferente. Hoje consigo enxergar o todo e me satisfazer com ele, sem procurar defeitos nos pequenos detalhes.
Quanto ao nosso juramento, acho que já provamos mais que o suficiente. Sou uma pessoa melhor por causa do Blake e gosto de pensar que ele também mudou um pouquinho (de preferência para melhor) por minha causa.
Como prova de que todo sofrimento é passageiro, hoje vamos comemorar nossas bodas de papel num restaurante muito bacana aqui em Baltimore. Como qualquer casal normal vamos tomar um vinho e celebrar à luz de velas.
A história é até engraçada, pois o Blake me levou lá na primeira vez que vim visitá-lo aqui. O único problema é que eu estava chegando naquele dia, depois de passar duas semanas na Europa, entre Alemanha e Inglaterra a trabalho. Estava exausta e com o fuso horário completamento trocado. Resultado: por pouco não caí no sono no restaurante. Só me lembro que o ambiente era muito bacana e que a comida era ótima e que saí de lá praticamente desmaiada!
Hoje, três anos e meio depois, estou ansiosa para realmente curtir o lugar. Acordada, saudável e feliz!
March 23, 2009
Fim de Semana com Sabor de Revival
Esta semana, pela primeira vez tivemos hóspedes de verdade aqui em casa. Logo que nos mudamos, a Geovana esteve por aqui e foi ótimo, mas a casa estava toda encaixotada e ela acabou entrando na dança e ajudando a arrumar as coisas.
Desta vez, a casa, ou pelo menos o primeiro, já está quase pronta, então o pessoal pode ter uma noção melhor do lugar. Recebemos logo conco hóspedes e para a surpresa de todos, não ficou nada confuso ou apertado. Para quem sempre morou em apartamento, uma casa espaçosa tem o seu valor.
Claro que além de fazer turismo, o objetivo da turma era muambar, pois como a gente brinca com o Blake, brasileiro é sinônimo de muambeiro! Nunca vi povo para comprar tanto. O mais engraçado é que semanas antes da chegada dos hóspedes, caixas e mais caixas começam a aparecer na nossa porta. É o fenômeno da miltiplicação das tralhas. Elas começam meio tímidas e dias antes da chegada dos donos, chegam aos bandos e aumentam de tamanho, umas três ou quatro por dia. A minha irmã e meu cunhado, que desta vez nem vieram, são os mestres, mas agora os amigos e a família seguem pelo mesmo caminho.
Mas voltando aos objetivos, um, pelo menos para mim, era o mais importante de todos. A noiva do cunhado da minha irmã queria porque queria comprar o vestido dela aqui. Já tinha visto uns aluguéis no Rio, mas tinha achado o preço absurdo e como tinha um determinado modelo na cabeça, resolveu arriscar aqui. Marcamos hora em uma loja em Baltimore, outra em Washington e mais duas em Nova York. As lojas de Baltimore e Washington ficaram por minha conta. Em Nova York ela iria com a futura sigra, mãe do meu cunhado.
Acordamos cedo, e lá fomos nós. A primeira loja tinha muitos modelos "bolão", preferidos das americanas e detestados pela maioria das brasileiras. Um pouco antes de ir embora achamos um vestido muito legal que ficou ótimo no corpo dela. O preço também era ótimo, mas como era a primeira loja, decidimos olhar mais.
A Renata é uma noiva muito diferente do que eu fui. Ao contrário dela, que disse que sempre sonhou com um modelo de vestido -- "Sempre desenhei a Barbie com este vestido, devote em V, frente única e rabo de sereia," ela dizia -- eu não fazia idéia do vestido que queria usar. Ao contrário dela, nunca pensei em me casar muito menos vestida de noiva, então nesta hora fiquei perdida!!!
Acabei fazendo primeiro aluguel no Brasil e tamanha era minha indecisão que mudei o vestido faltando menos de um mês para o casamento. Apesar de viver viajando para a Europa e para os EUA na ápoca, não tinha segurança de fazer a escolha sozinha. Como se diz aqui, different strokes, for different folks. O que traduzindo fica próximo do famoso "cada um com o seu cada um"...
Chegamos a nossa segunda loja, que era um ateliê fofíssimo. Era uma mistura de casinha de boneca e loft. Olhamos araras enormes cheias de vestidos pendurados e a tarefa parecia assustadora, mas rapidamente começamos a procurar. Um dos problemas da Renata é que ela é muito mignon e aqui nos EUA o tamanho dos modelos é simplesmente ENORME!!! Eu fiquei assustada porque em NY sempre ia as tais sample sales e me dava bem, pois o tamano dos modelos era 6 ou no máximo 8. Bem maior do que o tamanho das top models, mas bem próximo do tamanho das reles moratis como eu. Mas ao chegar as lojas de noiva, fomos informadas que os modelos eram tamanho 10 ou 12!!!! Simplesmente enormes! E a Rê veste 2!!!! Mas tudo bem, se achássemos um 10 que pudesse ser alterado, estava valendo! Olha daqui, olha dali até que bati o olho num vestido Pronovias lindo de renda, mas a outra menina estava colocando as mãos nele. Gelei!!! Prendi a respiração e dentro de pouco tempo, ele estava de volta à arara. Eu fui logo mostrando para a vendedora e na mesma hora peguei o tal do vestido e corri para a cabine, onde a Renata estava.
Ela olhou e disse logo, "Muito bonito, mas não sei se gosto destes babados na saia." Mas como já tínhamos aprendido que vestido de noiva se vê no corpo, ela topou experimentar. Dentro de alguns instantes, voltamos a cabine e ela estava enomorada por si mesma. "É este! É este o vestido que eu sempre sonhei. É lindo! É o vestido da minha Barbie!" Então a vendedora lhe oferceu um sapato, tamanho 38 num pé 33, mas nada atrapalhava a alegria dela, que desfilava de um lado para o outro.
Decidimos olhar brincos, que estavam em promoção, e achamos um lindo, que estava bem perto de uma grinalda chiquérrima. Mas nenhuma noiva fica completa sem o véu! E só para ter uma idéia, pedimos um véu longo, pois ao contrário das americanas, nós brasileiras gostamos mesmo é do tal "cathedral veil" de três metros!! Prontamente fomos atendidas e em pouquíssimo tempo já estava ela, prontíssima. O véu era só para experimentas, mas ela se apaixonou e acabou levando o kit todo pelo preço que pagaria num aluguel!!!
É claro que em tudo sempre há uma boa dosagem de sorte. O vestido dela era o último de uma sample sale que tinha acontecido e por isto estava a METADE do preço original. Os acessórios também estavam em promoção, e eram lindos! Então era mesmo o dia dela!!! Ela saiu de lá nas nuvens e não se desgrudava do vestido por nada. E eu fiquei muito feliz de estar ali naquele momento, arrumando a cauda do vestido, prendendo o véu e ajeitando a grinalda. Nestas horas viajo mesmo no tempo e vejo que no fundo no fundo, toda mulher, por mais independente e durona que seja, tem uma menina sonhadora escondida dentro de si. Nestas horas não há quem não se emocione. Foi legal também porque a mãe do noivo, que tem cinco filhos homens e sempre sonhou com uma filha, pode participar deste ritual num papel diferente, mais de mãe do que de sogra e ficou tão feliz quanto a noiva.
No final, saímos as três da loja como se tivessemos acertado na loteria! E de certa forma, acertamos, pois para a noiva a única coisa mais importante que o vestido dos sonhos, é o noivo! Mas isto a Renata já tinha...
March 20, 2009
Gente que Gosta de Gente
Tem gente que gosta de bicho e tem gente que gosta de planta. Eu gosto mesmo é de gente. Claro que acho o verde sempre lindo (apesar de não ter nenhum talento para cultivar um jardim!), sou louca por gatinhos e incapaz de maltratar um animal, mas sou apaixonada mesmo é pelo ser humano. Podem dizer que o homem é cruel, egoísta e mesquinho, que sua ganância sem limites está destruindo nosso planeta, que o desrespeito pelo outro torna a vida uma verdadeira guerra, mas ainda assim tenho esperança. Tenho esperança e fé pois este mesmo homem é capaz de mostrar uma compaixão absurda, um amor pelo próprio infinito ao simplesmente se importar com o outro. É verdade que tem gente que me inspira mais do que outros, mas quase sempre consigo ou pelo menos tento enxergar o lado bom de cada um. E isto faz toda a diferença.
Tenho consiciência que nem todo ser humano é magnânimo como uma jovem de 26 anos que conheci outro dia. A moça, que perdeu boa parte da visão aos dez anos e mais tarde enfrentou um diagnóstico de câncer, hoje é pesquisadora cinetífica é completa seu PhD em biologia em Emory University. Sua missão é encontrar a cura para o vírus HIV. A priemira pergunta que vem à cebeça de qualquer um é "Por que Cristina não concentrou suas pesquisas em algo que pudesse beneficiá-la de certa forma? Com apenas 26 anos, já enfrentou a retinite (uma doença rara) e o câncer, por que ela não se preocupou em pesquisar algo se tivesse relação com as doenças que a afetaram?" A resposta dela é simples e serena "It's not all about me," ela sorri, explicando que acha que pode contribuir mais para este tipo de pesquisa e por este motivo topou se mudar para Atlanta sozinha apesar dos problemas de visão e sem considerar o fato de não conhecer viv'alma por lá.
É claro que eu sei que a grande maioria dos seres humanos não chega a ter tantas qualidades quanto a Cristina, uma jovem que apesar de tantos tropeços, segue firme no caminho que escolheu para ela, que pesar de tantos dissabores, escolheu manter a doçura no sorriso e no caoração. Não tenho tantas ilusões assim. O que eu acho é que na verdade cada um de nós tem um lado Cristina dentro de si, um lado que quer fazer o bem, que se importa com o outro e que tem consciência do seu papel. Em algumas pessoas este lado é aparente e dominante, em outras encontra-se mais escondido e tímido e existe ainda um outro grupo de pessoas cujo lado Cristina está praticamente enterrado, completamente esquecido e até dormente, mas lá no fundo ele existe e precisa ser resgatado. Como e quando depende de cada um de nós. O que vai amolecer o coração duro de alguns continua um mistério, mas tenho certeza que um dia isto vai acontecer, pelo menos com 99% da população.
E quanto ao 1% cujo coração simplesmente não existe?, vocês devem estar se perguntando. Estes a vida me ensinou a ignorar. Dou uma chance, duas, mas acabei aprendendo que meu tempo aqui é muito curto e há muita gente que tem muito par ame ensinar e me inspirar então para que perder meu tempo com casos perdidos? Por sorte minha, encontrei muito pouca gente que se inclui neste grupo. Prefiro me cercar das outras pessoas que tem defeitos (quem não os tem?), mas cujas qualidades são muito mais marcantes. Pessoas absolutamente normais capazes de gestos extraordinários. E isto me basta para que eu continue a acreditar no homem e querer viver sempre cercada de gente.
Tenho consiciência que nem todo ser humano é magnânimo como uma jovem de 26 anos que conheci outro dia. A moça, que perdeu boa parte da visão aos dez anos e mais tarde enfrentou um diagnóstico de câncer, hoje é pesquisadora cinetífica é completa seu PhD em biologia em Emory University. Sua missão é encontrar a cura para o vírus HIV. A priemira pergunta que vem à cebeça de qualquer um é "Por que Cristina não concentrou suas pesquisas em algo que pudesse beneficiá-la de certa forma? Com apenas 26 anos, já enfrentou a retinite (uma doença rara) e o câncer, por que ela não se preocupou em pesquisar algo se tivesse relação com as doenças que a afetaram?" A resposta dela é simples e serena "It's not all about me," ela sorri, explicando que acha que pode contribuir mais para este tipo de pesquisa e por este motivo topou se mudar para Atlanta sozinha apesar dos problemas de visão e sem considerar o fato de não conhecer viv'alma por lá.
É claro que eu sei que a grande maioria dos seres humanos não chega a ter tantas qualidades quanto a Cristina, uma jovem que apesar de tantos tropeços, segue firme no caminho que escolheu para ela, que pesar de tantos dissabores, escolheu manter a doçura no sorriso e no caoração. Não tenho tantas ilusões assim. O que eu acho é que na verdade cada um de nós tem um lado Cristina dentro de si, um lado que quer fazer o bem, que se importa com o outro e que tem consciência do seu papel. Em algumas pessoas este lado é aparente e dominante, em outras encontra-se mais escondido e tímido e existe ainda um outro grupo de pessoas cujo lado Cristina está praticamente enterrado, completamente esquecido e até dormente, mas lá no fundo ele existe e precisa ser resgatado. Como e quando depende de cada um de nós. O que vai amolecer o coração duro de alguns continua um mistério, mas tenho certeza que um dia isto vai acontecer, pelo menos com 99% da população.
E quanto ao 1% cujo coração simplesmente não existe?, vocês devem estar se perguntando. Estes a vida me ensinou a ignorar. Dou uma chance, duas, mas acabei aprendendo que meu tempo aqui é muito curto e há muita gente que tem muito par ame ensinar e me inspirar então para que perder meu tempo com casos perdidos? Por sorte minha, encontrei muito pouca gente que se inclui neste grupo. Prefiro me cercar das outras pessoas que tem defeitos (quem não os tem?), mas cujas qualidades são muito mais marcantes. Pessoas absolutamente normais capazes de gestos extraordinários. E isto me basta para que eu continue a acreditar no homem e querer viver sempre cercada de gente.
March 19, 2009
Narcisos de novo...
Ontem recebi um email sobre a morte de um outro rapaz, voluntário na mesma organização que eu frequento: 26 anos, câncer de pulmão. Detalhe: ele nunca acendeu um cigarro na vida. Lutou por quase quatro anos contra uma doença covarde e feroz, manteve o otimismo até o final, aceitando a sentença de uma forma serena. Inacreditável.
Deixou também uma fundação para ajudar jovens universitários que, assim como ele, muitas vezes se veem forçados a interromper os estudos por motivos de saúde e, às vezes, financeiros. Acho muito legal a preocupação que os americanos em geral tem com o próximo. Vejo também que isto pode ser uma forma de tentar se perpetuar um pouco. É quase impossível aceitar a morte, ainda mais aos 26 anos. Mas ao admitir que não estaremos aqui fisicamente, só nos resta mesmo tentar deixar algum tipo de legado para que nossa memória permaneça viva e outras pessoas possam lembrar de quem um dia fomos. Bonito saber que mesmo em outro plano, ele vai ficar aqui conosco e mesmo lá do outro lado, ele vai continuar ajudando jovens aqui.
Detesto chavão, mas nestas horas a gente percebe que a vida segue...mais dura para uns e mais fácil para outros mas ela segue em frente e não espera ninguém. Ontem mesmo tive esta lembrança, ao receber de presente da minha chefe narcisos, as flores que marcam o início da primavera e a esperança incessante na luta contra o câncer. Em lembrar que ano passado, estava num shopping vendendo as mesmas flores para a American Cancer Society. Ainda me recuperando da cirurgia, tentando me encontrar mais uma vez e em busca de um pouco de paz. Não sei se já achei a paz, mas olhando para trás, só tenho mesmo que agradecer por mais uma chance de estar por aqui, presente, viva e saudável. Ao chegar hoje ao trabalho percebi que os botões que tinha deixado aqui na noite passada hoje são os narcisos lindos e completamente abertos. (podem conferir na foto!) E celebro assim a chegada de mais uma primavera no hemisfério norte. Que venham muitas!
March 18, 2009
Quando Ouvir Importa Mais Que Falar
Volta e meia alguns amigos me perguntam o que dizer quando recebem a notícia de que alguém querido está doente, possivelmente com câncer. Meu conselho é sempre o mesmo: cautela. A reação ou as palavras usadas dependem muito da situação, mas o que sempre ouço de qualquer pessoa que já tenha ficado gravemente doente é que o tempo todo ele ou ela só queria ser tratado normalmente. A maior parte daqueles que ficam doentes não espera pena ou piedade, mas uma palavra carinhosa no momento certo ajuda muito e às vezes mais do que uma palavra de carinho, um olhar, um gesto, já opera milagres.
Muito antes de ficar doente eu sempre ficava tensa ao ir ao velório de alguém querido ou do familiar de alguém querido. O que a gente diz numa hora destas??? Conta comigo? (Para que?) Se precisar de qualquer coisa, me avise? (Qualquer coisa tipo o que?) Então cheguei à conclusão que pelo menos para mim o melhor a dizer é um sincero "sinto muito" e depois de uns dias ver se o amigo realmente está bem. Um convite para jantar, uma saída já ajudam muito. Para muitos, basta um email ou um telefonema rápido para saber que alguém está pensando na gente.
A maior queixa dos pacientes de câncer -- e de qualquer um que fique fora do ar por motivo de doença -- é o isolamento. E quanto mais longo o tratamento, mais o paciente se sente isolado, esquecido pelos amigos e às vezes até pelos familiares. Graças a Deus e aos meus amigos e familiares, não senti isto. Nem por um segundo. Tive medo, tive momentos de solidão por conta da minha situação tão peculiar, mas nunca me senti esquecida. Muito pelo contrário, se houve algo de maravilhoso que experimentei nos períodos de cirurgia e recuperação foi justamente a acolhida dos amigos, reais e virtuais, novos e antigos, próximos e distantes, íntimos e nem tanto. Me senti abraçada por cada um deles e acho que foi justamente por isto que comecei a perceber mais o outro e a deixar de olhar para o meu umbigo. Foi ali que me dei conta de quanta sorte eu tinha, pois apesar de tudo tinha o privilégio de me concentrar só na doença e na consequente recuperação, pois sabia que as despesas médicas seriam pagas, que a minha família jamais me desampararia e que meus amigos nunca se esqueceriam de mim.
Então aos que me perguntam o que dizer ao saber de alguém que está doente, eu mais que nunca penso que um gesto pode valer mais do que mil palavras. Meu conselho é que escutem, que ofereçam um ombro amigo e que se escolher palavras num momento tão difícil for uma tarefa árdua demais, então esqueçam as palvras de vez. Concentrem-se em seus atos, mostrem ao seu amigo que passa por um momento complicado que estão ali para o que der e vier.
Me lembro que depois da minha primeira cirurgia, um grande amigo não conseguiu me ver no hospital. Ele ligava todo dia, mandava flores, mas no final da minha temporada na clínica, me ligou para fazer uma confissão "Dani," ele me disse, "me sinto um covarde mas não consigo te ver aí. Não consigo pegar o carro e te ver no hospital. Não quero nem te imaginar assim. Sou fraco, não posso, ainda. Mas assim que você for para casa, serei a sua primeira visita." E foi. Cumprindo a promessa, assim que voltei para casa, ele apareceu por lá e passava para me ver quase todos os dias.
Quando achamos que eu já estava boa, ele me chamou para um show. Eu nem quis saber de quem era o show, mas era à tarde e perto de casa e eu fui. E adorei! Adorei estar ali e me sentir viva de novo. Aquela tarde de verão e o sol forte que brilhava aquele dia faziam com que me sentisse viva, e acima de tudo, normal, novamente.
Meu amigo, que estava tentando se redimir, conseguiu. Não através de palavras ou clichés, mas através de um convite simples e sem nenhuma pretenção. Acabou me dando um grande presente sem ter que dizer uma palavra se quer. Só precisou me mostrar que lá fora a vida continuava e que a partir de agora eu voltava a fazer parte dela.
Muito antes de ficar doente eu sempre ficava tensa ao ir ao velório de alguém querido ou do familiar de alguém querido. O que a gente diz numa hora destas??? Conta comigo? (Para que?) Se precisar de qualquer coisa, me avise? (Qualquer coisa tipo o que?) Então cheguei à conclusão que pelo menos para mim o melhor a dizer é um sincero "sinto muito" e depois de uns dias ver se o amigo realmente está bem. Um convite para jantar, uma saída já ajudam muito. Para muitos, basta um email ou um telefonema rápido para saber que alguém está pensando na gente.
A maior queixa dos pacientes de câncer -- e de qualquer um que fique fora do ar por motivo de doença -- é o isolamento. E quanto mais longo o tratamento, mais o paciente se sente isolado, esquecido pelos amigos e às vezes até pelos familiares. Graças a Deus e aos meus amigos e familiares, não senti isto. Nem por um segundo. Tive medo, tive momentos de solidão por conta da minha situação tão peculiar, mas nunca me senti esquecida. Muito pelo contrário, se houve algo de maravilhoso que experimentei nos períodos de cirurgia e recuperação foi justamente a acolhida dos amigos, reais e virtuais, novos e antigos, próximos e distantes, íntimos e nem tanto. Me senti abraçada por cada um deles e acho que foi justamente por isto que comecei a perceber mais o outro e a deixar de olhar para o meu umbigo. Foi ali que me dei conta de quanta sorte eu tinha, pois apesar de tudo tinha o privilégio de me concentrar só na doença e na consequente recuperação, pois sabia que as despesas médicas seriam pagas, que a minha família jamais me desampararia e que meus amigos nunca se esqueceriam de mim.
Então aos que me perguntam o que dizer ao saber de alguém que está doente, eu mais que nunca penso que um gesto pode valer mais do que mil palavras. Meu conselho é que escutem, que ofereçam um ombro amigo e que se escolher palavras num momento tão difícil for uma tarefa árdua demais, então esqueçam as palvras de vez. Concentrem-se em seus atos, mostrem ao seu amigo que passa por um momento complicado que estão ali para o que der e vier.
Me lembro que depois da minha primeira cirurgia, um grande amigo não conseguiu me ver no hospital. Ele ligava todo dia, mandava flores, mas no final da minha temporada na clínica, me ligou para fazer uma confissão "Dani," ele me disse, "me sinto um covarde mas não consigo te ver aí. Não consigo pegar o carro e te ver no hospital. Não quero nem te imaginar assim. Sou fraco, não posso, ainda. Mas assim que você for para casa, serei a sua primeira visita." E foi. Cumprindo a promessa, assim que voltei para casa, ele apareceu por lá e passava para me ver quase todos os dias.
Quando achamos que eu já estava boa, ele me chamou para um show. Eu nem quis saber de quem era o show, mas era à tarde e perto de casa e eu fui. E adorei! Adorei estar ali e me sentir viva de novo. Aquela tarde de verão e o sol forte que brilhava aquele dia faziam com que me sentisse viva, e acima de tudo, normal, novamente.
Meu amigo, que estava tentando se redimir, conseguiu. Não através de palavras ou clichés, mas através de um convite simples e sem nenhuma pretenção. Acabou me dando um grande presente sem ter que dizer uma palavra se quer. Só precisou me mostrar que lá fora a vida continuava e que a partir de agora eu voltava a fazer parte dela.
March 17, 2009
The Aviatrix
Anne is lonely. She lives with her mother, has no friends, and is fighting cancer. Her escape from reality exists in the form of The Aviatrix, an intergalactic superhero alter ego who rockets through space to fight the powers of evil on distant planets.
Não sou muito chegada a super-heróis ou revistas em quadrinhos, mas adorei o filminho! Simpatizei com a heroína rabuja também. Por que será?
St. Patrick's Day
Hoje é dia de St. Patrick, padroeiro da Irlanda, e dia de muita birita (de preferência Guiness) no resto do mundo! Antes de sair de casa, o Blake me lembrou que hoje deveria usar alguma peça verde e, embora não seja chegada a estas cafonices americanas, resolvi usar a única blusa verde que tenho, que por sinal devo usar uma vez por ano.
A tradição aqui é sair para encher a cara nos pubs da cidade. Nos meus tempos de NY lembro que a gente já via os primeiro bebuns no metrô, logo de manhã, como aqui uso carro pra lá e pra cá, ainda não vi nada de anormal. Claro que na TV não se fala de outra coisa e o Today Show foi televisionado direto de Dublin esta manhã. Uma série enorme e propaganda certa financiada pelo governo local -- parece que até entrevista com o presidente vai rolar.
Sempre me perguntei porque o Brasil não se "vende" assim, pois é só abrir as revistas de viagem por aqui que ve anúncios de todo o canto, desde as Ilhas Cayman até a Índia, passando por todos os países do Caribe e lugares bgem escondidos na Ásia e na Europa. Muito pouco ou quase nada sobre o Brasil... Mas se a gente parar para pensar e perceber que grande parte dos funcionários das secretarias de turismo ou até mesmo da Embratur não fala sequer inglês, o fato da nossa imagem ser tão apagada ou às vezes até ruim no exterior não deveria causar espanto. Enquanto a politicagem tomar conta do nosso país seremos sempre Terceiro Mundo. Uma pena!
Mas voltando para St. Patty's Day, acho que vamos celebrar em casa, pois não ando com saco de me espremer em bar lotado cheirando a cigarro para beber um suco de laranja. Melhor aguardar mais uma semana para a comemoração dos nossos dois anos de casados!
March 16, 2009
Baltimore Opera Company
Para quem me pergunta como a crise tem afetado as coisas por aqui, esta notícia ilustra bem a situação. Esta semana a Baltimore Opera Company decretou falência, depois de mais de 50 anos em funcionamento.
Fiquei muito triste porque a ópera fechou semque eu tivesse tido a chance de assitir uma ópera lá. Ano passado chegamos a comprar ingressos, mas infelizmente não pudemos ir, pois no dia, o estado de saúde da minha avó pirou consideravelmente e eu só queria ficar em casa. Acabei dando os ingressos para uma colega de trabalho. Fiquei triste, mas como a temporada só acabaria no final da primavera, não me preocupei muito. Então imaginem a minha surpresa quando entrei no site para efetuar a tal compra e vi que a Ópera não mais existia! Inacreditável.
Tudo bem que ainda temos a Ópera de Washington, muito mais badalada e dirigida por Plácido Domingo, mas o fechamento certamente vai contribuir ainda mais para o complexo de inferioridade de Baltimore, cidade operária e hardcore, irmã pobre de Washington.
Outro dia, voltando para casa, me dei conta de várias lojas de móveis estavam anunciando queima total de estoque e "going out of business sale". Ainda vejo os restaurantes mais populares bem cheios nos finais de semana, mas outro dia li uma matéria da CNN que as vendas de congelados tinham aumentado bastante, assim como os aluguéis de DVD, oque mostrava que o famoso "cineminha e jantar" dos americanos está mais do que nunca acontecendo em casa.
Sinais da crise...
O dilema do cabelo
Ia dar um jeito no meu cabelo na sexta, mas o salão ligou para cancelar porque a hairsylist estava gripada. Aliás, ela e 95% da população de Maryland. E eu aqui, toda congestionada lutando bravamente para não cair de cama. Remarquei para quarta, mas acho que vou mudar de idéia e fazer minha balayage com uma amiga da minha cunhada que deixou o cabelo dela bem bacana.
Não sei se sou só eu, mas a idéia de deixar alguém mudar ou retocar a cor das minhas longas madeixas me deixa muito tensa! Adoro o meu cabelereiro no Rio porque ele já me conhece há anos e sabe bem o que fazer... Vez ou outra arrisco uma mudança bem sutil e sempre acabo me arrependendo um pouco. Aqui em Maryland ainda não achei ninguém que valesse muito a pena. Como ano passado consegui fazer os retoques nas minhas muitas visitas ao Rio e a NY, nem me preocupei, mas este ano as coisas estão diferentes, então é muito bom achar alguém decente por aqui.
Sou meio traumatizada com lugares novos, pois uma vez acabei ficando MORENA depois de um estrago feito num dos salões mais caros de Manhattan. Minha mãe me deu de presente de formatura (de mestrado) e quase me matou quando viu o resultado. A cor não ficou ruim, mas estava na cara que o hairsylist das estrelas tinha fritado o meu cabelo, ou como dizer por aqui, overprocessed! O resultado na hora até que agradou, mas em dois meses meu cabelo quebrou inteiro e tive que pintar de castanho (mais escuro que a minha cor natural!) e cortar na altura dos ombros. ODIEI!
Então este fim de semana, passei olhando revistas e websites e ainda não achei nada que sirva para mim, sem jeito e preguiçosa-mor quando o assunto é cabelo. Sem muita inspiração, estou pensando aqui em manter a cor e só dar um corte na minha franja que já está enorme, deixando meu redemoinho, que durante anos estava escondido, ainda mais evidente.
A cor, deve continuar parecida, talvez com mais umas mechinas louras para esperar o verão, pois egundoa minha mãe, no verào a gente clareia o cabelo e no inverno escurece...só que morando nos EUA e fazendo cabelo no Brasil, para mim é sempre verão!!!
Não sei se sou só eu, mas a idéia de deixar alguém mudar ou retocar a cor das minhas longas madeixas me deixa muito tensa! Adoro o meu cabelereiro no Rio porque ele já me conhece há anos e sabe bem o que fazer... Vez ou outra arrisco uma mudança bem sutil e sempre acabo me arrependendo um pouco. Aqui em Maryland ainda não achei ninguém que valesse muito a pena. Como ano passado consegui fazer os retoques nas minhas muitas visitas ao Rio e a NY, nem me preocupei, mas este ano as coisas estão diferentes, então é muito bom achar alguém decente por aqui.
Sou meio traumatizada com lugares novos, pois uma vez acabei ficando MORENA depois de um estrago feito num dos salões mais caros de Manhattan. Minha mãe me deu de presente de formatura (de mestrado) e quase me matou quando viu o resultado. A cor não ficou ruim, mas estava na cara que o hairsylist das estrelas tinha fritado o meu cabelo, ou como dizer por aqui, overprocessed! O resultado na hora até que agradou, mas em dois meses meu cabelo quebrou inteiro e tive que pintar de castanho (mais escuro que a minha cor natural!) e cortar na altura dos ombros. ODIEI!
Então este fim de semana, passei olhando revistas e websites e ainda não achei nada que sirva para mim, sem jeito e preguiçosa-mor quando o assunto é cabelo. Sem muita inspiração, estou pensando aqui em manter a cor e só dar um corte na minha franja que já está enorme, deixando meu redemoinho, que durante anos estava escondido, ainda mais evidente.
A cor, deve continuar parecida, talvez com mais umas mechinas louras para esperar o verão, pois egundoa minha mãe, no verào a gente clareia o cabelo e no inverno escurece...só que morando nos EUA e fazendo cabelo no Brasil, para mim é sempre verão!!!
March 14, 2009
A Arte e a Vida
Esta semana o Blake alugou a ópera La Traviata no blu-Ray. Ele sabe que eu sou fanática por ópera e me deu de presente de Valentine's Day ingressos para ver nada menos do que Turandot! Mas como esta ópera só estréia em maio, ele decidiu entrar no clima desde já.
La Traviata é das óperas mais famosas. A ópera de Giuseppe Verdi é baseada no livro A Dama das Camélias de Alexandre Dumas, que por sua parte é baseado em fatos da vida do autor.
É uma história linda e triste que assisti a primeira vez no Met, em Nova York há muitos anos. Assisti também anos depois ao ar livre no Central Park, mas a montagem do Met nunca me saiu da cabeça. Achei linda!
Claro que como em 99% das óperas, a história é muito triste, e apesar de ser nuito tocante, não me lembro de ter me emocionado tanto assim quando vi as montagens ao vivo.
Quando sentei ao lado do Blake ontem foi mais por curiosidade e para fazer companhia a ele, já que já tinha visto a ópera duas vezes ao vivo e algumas vezes na TV. Também nunca tinha visto a montagem no Scalla de Milão. Confesso que fiquei encantada e apesar de estar vendo pela TV, me senti como se estivesse lá numa frisa luxuosíssima! E fui às lágrimas no final do terceiro ato!
Parecia incrível que eu tivesse resistido nas duas vezes que vi a ópera ao vivo só para me debulhar em lágrimas vendo a mesma ópera no conforto da minha casa! Mas a cena final entre Violetta e Alfredo é muito intensa e agora assumiu um significado muito mais profundo para mim. A cena da despedida entre os dois me fez viajar no tempo e me vi em situação parecida não faz tanto tempo assim.
Quando soube que a minha segunda cirurgia era iminente fiquei muito assustada; senti muito medo. Por alguma lógica torta, achava que o tumor talvez fosse um sinal de que a minha jornada estava próxima do fim. Na minha cabeça, talvez Deus tivesse resolvido me premiar com mais cinco anos de uma vida muito melhor do que aquela que eu tinha vivido antes, mas temia que talvez o meu destino fosse mesmo morrer naquela mesa de cirurgia. (Por sorte estava errada!) Então cheguei a ter a mesma conversa com o Blake e a dizer a ele o que eu queria que ele fizesse caso eu não saísse daquele centro cirúrgico com vida.
Digo que aquele foi um dos momentos mais difíceis da minha vida e sinto uma angústia, um enorme aperto no peito, só de reviver aqueles minutos. A minha mãe sempre diz que levo jeito para o drama, mas só quem quase morreu numa cirurgia e tem que passar por outra entende o que senti.
Então ontem a despedida de Violetta e Alfredo me tocou fundo, pois a dor que ela sentia não me é estranha, mas graças a Deus, ao contrário da pobre cortesã, eu sobrevivi e estou aqui para contar a história. Então aquela máxima que arte é a comunhão entre o artista e o público se torna muito real. É incrível perceber que uma ópera composta há 150 anos contiunua atual, pois histórias de amor são sempre eternas.
E se eu não chorei ao ver montagens ao vivo no auge dos meus vinte e poucos anos, ontem chorei feito criança ao ver a mesma ópera pela TV. Conclui-se então que se a ópera continua a mesma, quem mudou fui eu.
Esta é a montagem do Scalla:
Mas achei esta da Ópera de Washington melhor.
La Traviata é das óperas mais famosas. A ópera de Giuseppe Verdi é baseada no livro A Dama das Camélias de Alexandre Dumas, que por sua parte é baseado em fatos da vida do autor.
É uma história linda e triste que assisti a primeira vez no Met, em Nova York há muitos anos. Assisti também anos depois ao ar livre no Central Park, mas a montagem do Met nunca me saiu da cabeça. Achei linda!
Claro que como em 99% das óperas, a história é muito triste, e apesar de ser nuito tocante, não me lembro de ter me emocionado tanto assim quando vi as montagens ao vivo.
Quando sentei ao lado do Blake ontem foi mais por curiosidade e para fazer companhia a ele, já que já tinha visto a ópera duas vezes ao vivo e algumas vezes na TV. Também nunca tinha visto a montagem no Scalla de Milão. Confesso que fiquei encantada e apesar de estar vendo pela TV, me senti como se estivesse lá numa frisa luxuosíssima! E fui às lágrimas no final do terceiro ato!
Parecia incrível que eu tivesse resistido nas duas vezes que vi a ópera ao vivo só para me debulhar em lágrimas vendo a mesma ópera no conforto da minha casa! Mas a cena final entre Violetta e Alfredo é muito intensa e agora assumiu um significado muito mais profundo para mim. A cena da despedida entre os dois me fez viajar no tempo e me vi em situação parecida não faz tanto tempo assim.
Quando soube que a minha segunda cirurgia era iminente fiquei muito assustada; senti muito medo. Por alguma lógica torta, achava que o tumor talvez fosse um sinal de que a minha jornada estava próxima do fim. Na minha cabeça, talvez Deus tivesse resolvido me premiar com mais cinco anos de uma vida muito melhor do que aquela que eu tinha vivido antes, mas temia que talvez o meu destino fosse mesmo morrer naquela mesa de cirurgia. (Por sorte estava errada!) Então cheguei a ter a mesma conversa com o Blake e a dizer a ele o que eu queria que ele fizesse caso eu não saísse daquele centro cirúrgico com vida.
Digo que aquele foi um dos momentos mais difíceis da minha vida e sinto uma angústia, um enorme aperto no peito, só de reviver aqueles minutos. A minha mãe sempre diz que levo jeito para o drama, mas só quem quase morreu numa cirurgia e tem que passar por outra entende o que senti.
Então ontem a despedida de Violetta e Alfredo me tocou fundo, pois a dor que ela sentia não me é estranha, mas graças a Deus, ao contrário da pobre cortesã, eu sobrevivi e estou aqui para contar a história. Então aquela máxima que arte é a comunhão entre o artista e o público se torna muito real. É incrível perceber que uma ópera composta há 150 anos contiunua atual, pois histórias de amor são sempre eternas.
E se eu não chorei ao ver montagens ao vivo no auge dos meus vinte e poucos anos, ontem chorei feito criança ao ver a mesma ópera pela TV. Conclui-se então que se a ópera continua a mesma, quem mudou fui eu.
Esta é a montagem do Scalla:
Mas achei esta da Ópera de Washington melhor.
March 13, 2009
Natureba
Sexta-feira! Maravilha! Como vou sair mais cedo do trabalho hoje, graças ao furlow, ou às férias coletivas, já tinha me programado para ir ao cabelereiro, mas como diz o Blake, ainda vou ficar mais uns dias morena!!! A hair stylist -- sim, pois nos EUA não há cabelereiros só stylists, designers...daqui a pouco teremos arquitetos e engenheiros de cabelo!!! -- está gripada. Aliás esta tal gripe está derrubando todo mundo. Então vade retro, bangalô três vezes, pois de doença, qualquer que seja, quero distância!
Remarquei para semana que vem. Melhor assim. Estava louca para dar uma passada na tal escola de medicina alternativa/holística que tem perto da minha casa, o tal lugar onde faço yoga. Hoje vai ter um evento lá e estou querendo muito conferir.
Apesar da minha pesonalidade bem mainstream e do meu jeito patricinha, sempre fui meio bicho-grilo quando o assunto é filosofia ou alimentção. Sempre adorei lojinhas naturebas antes delas se tornarem moda e o tal do Muppy, um suquinho de soja muito gostoso, bisavô do atual Adés, sempre fez parte do meu cardápio nas minhas idas às tais lojinhas/lanchonetes pré-Mundo Verde.
Também sempre gostei de astrologia e adorava ir a uma cartomante. J'a perdi a conta de quantas já "consultei"! Mas desde que uma delas viu o Blake e me disse que tinha certeza de que ele NÃO seria o homem da minha vida, me desencantei totalmente! Putz, ainda teve uma outra que cismou que eu ia casar com um amigo de um amigo meu, um carioca!!! Eu dizia para ela que aquilo não era possível porque eu já conhecia todos os amigos dos meus amigos e daquele mato não sairia coelho jamais! Quase briguei com a tal taróloga, que aliás é superconhecida e vira e mexe está em programas de TV! Pode ser boa com os outros, mas comigo errou feio!
Voltando à minha tendência natureba... Pois é, acho que a yoga deve ter despertado este lado que andava meio adormecido, mas agora estou muito animada para voltar a fazer acupuntura e, como não tomo absolutamente remédio nenhum -- nem aspirina, nem tylenol -- enfrento a dor na cara e na coragem, vou começar a explorar a fitoterapia -- tudo com o aval da minha médica.
Antes que me perguntem, não tenho nenhuma vontade de me tornar curandeira ou shaman, mas morro de curiosidade de experientar os tratamentos. Depois volto aqui para contar como foi o evento.
Namastê!
March 12, 2009
Só Sei Que Nada Sei
Esta frase atribuída ao filósofo Sócrates parece estar fora de moda atualmente. No mundo dos talk-shows, blogs, sites de relacionamento, onde todos são conhecedores de todos os assuntos, e do dia para noite temos zilhões de experts opinando sobre tudo: desde política internacional à segurança pública, passando por temas como saúde e violência doméstica.
Acho tudo isto ótimo, afinal o acesso à informação é sempre bem-vindo, mas tenho uma dificuldade imensa em aceitar gente que se auto-intitula isto ou aquilo e se arvora em teorias um tanto duvidosas para defender um lado, denegrindo o outro sem se dar o mínimo trabalho de escutar outras versões. Sim, pois com a vida aprendi que para tudo há dois lados, que toda história tem mais de uma versão e que nem sempre alguém está completamente certo ou completamente errado. Entre o preto e o branco há uma infinidade de nuances de cinza. Só que muitas vezes a gente não quer ver.
Na língua inglesa existe uma adjetivo que caractereiza bem este tipo de pessoa: self-righteous, que é o que se diz de alguém que se julga superior aos outros no que diz respeito à sua conduta e é extremamente intolerante com a opinião e o comportamento alheios. Trocando em miúdos, é o tipo de pessoa que se acha melhor que os outros, ao menos moralmente, ou como diria a minha mãe, gente que se julga a palmatória do mundo.
Este tipo de gente me dá um pouco de alergia. Claro que todos temos nossas convicções e devemos sempre lutar por elas. Serei a primeira a levantar a bandeira das minhas, mas quando para defender nossas idéias passamos a denegrir a imagem de pessoas que sequer conhecemos, já passamos dos limites.
Nos dias atuais, onde todos nos achamos o máximo, a humildade torna-se uma virtude totalmente esquecida, deixada de lado, completamente demodé. Aliás, nem sei se na sociedade moderna humildade continua a ser virtude. Muita gente parece confundir humildade com falta de auto-estima, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. O sujeito pode ter uma excelente auto-estima e enxergar perfeitamente que não domina todos os assuntos. Pode ser um excelente atleta mas não entender nada de música, ou de mecânica. Nem por isto é melhor ou pior do que o outro.
Não tenho pretensão de entender o que Sócrates queria dizer quando supostamente cunhou a tal frase (já que o filósofo não deixou escritos), mas acho que só aqueles que aceitam que pouco sabem estão verdadeiramente dispostos a aprender. E estes são os verdadeiros sábios.
Acho tudo isto ótimo, afinal o acesso à informação é sempre bem-vindo, mas tenho uma dificuldade imensa em aceitar gente que se auto-intitula isto ou aquilo e se arvora em teorias um tanto duvidosas para defender um lado, denegrindo o outro sem se dar o mínimo trabalho de escutar outras versões. Sim, pois com a vida aprendi que para tudo há dois lados, que toda história tem mais de uma versão e que nem sempre alguém está completamente certo ou completamente errado. Entre o preto e o branco há uma infinidade de nuances de cinza. Só que muitas vezes a gente não quer ver.
Na língua inglesa existe uma adjetivo que caractereiza bem este tipo de pessoa: self-righteous, que é o que se diz de alguém que se julga superior aos outros no que diz respeito à sua conduta e é extremamente intolerante com a opinião e o comportamento alheios. Trocando em miúdos, é o tipo de pessoa que se acha melhor que os outros, ao menos moralmente, ou como diria a minha mãe, gente que se julga a palmatória do mundo.
Este tipo de gente me dá um pouco de alergia. Claro que todos temos nossas convicções e devemos sempre lutar por elas. Serei a primeira a levantar a bandeira das minhas, mas quando para defender nossas idéias passamos a denegrir a imagem de pessoas que sequer conhecemos, já passamos dos limites.
Nos dias atuais, onde todos nos achamos o máximo, a humildade torna-se uma virtude totalmente esquecida, deixada de lado, completamente demodé. Aliás, nem sei se na sociedade moderna humildade continua a ser virtude. Muita gente parece confundir humildade com falta de auto-estima, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. O sujeito pode ter uma excelente auto-estima e enxergar perfeitamente que não domina todos os assuntos. Pode ser um excelente atleta mas não entender nada de música, ou de mecânica. Nem por isto é melhor ou pior do que o outro.
Não tenho pretensão de entender o que Sócrates queria dizer quando supostamente cunhou a tal frase (já que o filósofo não deixou escritos), mas acho que só aqueles que aceitam que pouco sabem estão verdadeiramente dispostos a aprender. E estes são os verdadeiros sábios.
March 11, 2009
Diagnóstico de Câncer em Jovens É Tardio
Pode ser impressão minha, mas noto que timidamente questão do câncer em pacientes jovens começa a entrar em pauta.
Ano passado, a Folha publicou uma série de artigos na Ilustrada (inclusive uma nota sobre este blog). Este fim de semana o Estadãoo publicou esta matéria.
Aqui nos EUA, vários centros de pesquisa já estão mobilizadas e dispostas a correr atrás do tempo perdido. Os primeiros passos, resultados de um trabalho cuidadoso de lobby e pressão feito por organizações como Planet Cancer e Ulman Fund, já foram dados. Enquanto isto, o que estará acontecendo naquele enorme país que fica ao sul do equador?
Ano passado, a Folha publicou uma série de artigos na Ilustrada (inclusive uma nota sobre este blog). Este fim de semana o Estadãoo publicou esta matéria.
Aqui nos EUA, vários centros de pesquisa já estão mobilizadas e dispostas a correr atrás do tempo perdido. Os primeiros passos, resultados de um trabalho cuidadoso de lobby e pressão feito por organizações como Planet Cancer e Ulman Fund, já foram dados. Enquanto isto, o que estará acontecendo naquele enorme país que fica ao sul do equador?
Torna-te Quem Tu És
O email dela começava com uma frase que me tocou fundo "Torna-te quem tu és," de Friedrich Nietzsche, um dos filósofos que mais me fazem pensar. A minha amiga virtual dizia que a frase há tinha perseguido por três vezes nos últimos dias. Concluiu dizendo: “não é nada fácil escolher ser quem somos”.
No início, não entendi muito bem o motivo para tal colocação ali, no início da mensagem. Logo depois do pequeno questionamento, ela mudava de assunto e respondia as perguntas que eu havia feito no meu email anterior.
Tive uma sensação completamente estranha mas prazerosa. Uma cumplicidade que não tinha muita razão de ser pelo fato de que nunca nos vimos e faz pouco tempo que começamos a trocar emails. Mas tem gente que tem o poder de ir direto ao ponto e tocar, com muita delicadeza, naquela ferida que de tanto esconder a gente até esquece que existe. Tem gente que ao falar de si mesmo e dividir suas angústias, sequer imagina o efeito que tais palavras tem no outro. Nas três primeiras linhas da mensagem dela, percebi que naquele exato momento ela era eu! Ali naquele instante juntas e tão distantes compartilhávamos os mesmos medos e estávamos diante do mesmo desafio: tornarnos quem realmente somos.
Já era tarde e eu estava a caminho da cama quando resolvi dar uma olhada na minha caixa de entrada e vi a mensagem dela. Curiosa como sou, quis logo dar uma olhadinha. Responderia mais tarde, o que não imaginava é que a tal frase de Nietzsche também fosse me perseguir.
Torna-te quem tu és. Esta citação um tanto enigmática me soava quase como um desafio. Para que te tornes quem tu és, primeiro precisas saber onde está teu verdadeiro eu. Será que este eu conhecido é realmente a tua essência? E se não fores quem imaginas, então quem és? E o que é necessário para que experimentes esta transformação?
Muitos veem a doença como um catalizador. Eu me incluo neste grupo. Penso que até alguns anos atrás não sabia muito bem quem eu era, ou talvez soubesse, mas a verdade é que não era a pessoa que eu no fundo queria ser. Talvez não conseguisse enxergar a verdade sobre mim, ou porque talvez fosse doloroso demais enxergar a minha essência ou porque no fundo eu duvidava mesmo que ela existisse.
Dizem que nada melhor que um duro golpe para nos definir. No meu caso deve ter sido a doença. Depois dela passei a ser ao mesmo tempo mais seletiva e menos severa, com os outros, mas acima de tudo comigo mesma. Procuro conviver melhor com as minhas limitações e me entender comigo mesma. Confesso que às vezes não é fácil. E assim a frase de Nitezsche, que tem perseguido a minha amiga, assume um sentido completamente diferente para mim. Hoje, encaro com mais tranquilidade o desafio de me tornar o que realmente sou e não aquilo que um dia julguei que gostaria de ser.
Concordo com a minha amiga que diz que não é nada fácil escolher ser quem somos. Mas por mais difícil que seja abraçar verdadeiramente quem somos, a alternativa me parece muito melhor do que tentarmos ser aquilo que jamais seremos ou figirmos eternamente ser aquilo que nunca fomos.
March 10, 2009
Ulman Fund Fundraiser
Uma das coisas que mais admiro na sociedade americana é o engajamento social. As pessoas aqui arregaçam as mangas e não esperam que o Governo lhes diga o que fazer, muito pelo contrário, tomam a iniciativa e depois exigem que o Governo apoie. Mobilizam seus representantes, fazem lobby, pressão, campanha pelos seus direitos e assim conseguem mover montanhas. Aqui a gente v6e a todo momento que a união faz a força mesmo!
Confesso que admiro esta garra e que morro de inveja também. Queria que as coisas acontecessem do mesmo jeito no meu país, mas por mais contraditório que possa parecer, sou muito cética quando a questão são as ONGS brasileiras. Não vou dizer que não acredito em nenhuma porque seria uma afirmação leviana, mas que acho que tem muito diretor de ONG picareta, acho sim! Sei que há ONGs que fazem trabalhos de primeiro mundo, como o GRAACC e Pró-Criança Cardíaca, mas as manchetes de jornal sempre me deixam com o pé atrás quando penso em ONGs em geral.
Mas voltando ao envolvimento da sociedade civil americana, ontem fui convidada para o cocktail de aniversário do Ulman Fund e depois de pensar um pouco, aceitei o convite. Não sou muito chegada a este tipo de evento, ainda mais quando vou sozinha. Prefiro coisas mais íntimas, com no máximo 20 ou 30 pessoas, onde você realmente conversa com alguém e chega a saber alguma coisa relevante sobre esta pessoa. Detesto esta troca de cartões instantânea, porém tão instituída na nossa cultura corporativa moderna. Mas se no passado a simples idéia de ir a um evento e não conhecer ninguém me deixava em pânico, com o passar dos anos e devido às inúmeras obrigações do trabalho, hoje acho esta situação apenas chata. Topei mesmo porque queria ver e conhecer melhor a organização.
Chegando lá não me decepcionei. Cá entre nós, americano sabe bem montar um show. O lugar era lindo, um centro de artes de uma faculdade local estalando de novo e havia muita coisa interessante: silent auction (um leilão aberto, onde as pessoas colocam seus lances numa folha de papel), música ao vivo, muita comida, bebida e um monte de gente bem vestida e tipos corporativos, coisa que ainda não tinha visto muito por aqui.
Depois do cocktail, fomos todos para um teatro onde assitimos a performance de uma cantora cujo nome me escapa, mas que foi revelada no American Idol, e a premiere do episódio do programa de TV Deserving Design. O bacana deste programa é que Vern Yip, o arquiteto e apresentador, seleciona pessoas muito boas de coração e refaz um cômodo na casa delas. No episódio de ontem, ele acabou refazendo a sala e o quarto de uma moça de 26 que perdeu parte da visão aos 10 por causa de uma doença chamada retinite e anos depois teve câncer. Superou as duas doenças com um belo sorriso no rosto e hoje termina seu PhD em Emory University, onde trabalha com pesquisas para HIV e Aids. Impressionante!
O programa foi muito bonito, as histórias lindíssimas, mas o que mais me impressionou foi o comprometimento de tantas pessoas ali reunidas. Gente que abriu a carteira e tirou vinte mil ou dez dólares, mas abriu seu coração para uma causa tão nobre. O próprio designer Vern Yip criou há anos uma bolsa de estudos para estudantes universitários cujas vidas tenham sido impactadas pelo câncer, no papels de paciente ou de familiar. Que forma mais linda de manter a memória da mãe, que morreu de câncer, viva!
Não me lembro de ter visto nada parecido no Brasil. Não é da nossa cultura, você leitor deve estar dizendo. Mas aí eu pergunto, não é por que? Não é porque amamos menos nossas mães ou porque não desejamos preservar a memória de entes queridos ou fazer o bem a que merece... Então por que será? Por que será que não nos juntamos assim para chamar atenção para uma causa tão importante? Esta doença terrível, que não poupa ninguém, não vai embora tão cedo. A bem da verdade em 2010 vai ser o maior responsável por mortes neste planeta!!! Hoje o câncer já mata mais do que malaria e aids juntas! E cada vez mais jovens vão ter que aprender a lidar com esta doença. Ninguém sabe o porquê.
Só no cocktail de ontem, eles arrecadaram seguramente mais de $20 mil dólares, num evento onde praticamente tudo foi doado: o local, o buffet, as bebidas e todos os prêmios. Mais do que isto, ontem também soubemos que o Presidente Obama emitiu pedidos de propostas para pesquisas e estudos focados em populações jovens e câncer, pela primeira vez na história.
No final da noite, Doug Ulman, que começou tudo isto há 11 anos na mesa de jantar de sua casa depois de saber que tinha melanoma, disse uma coisa que me tocou demais. Ele disse que o que mais o comove são as cartas, telefonemas e emails de jovens que estão espalhados pelos quatro cantos do país lutando contra uma doença tão covarde, mas que se mantém fortes e enfrentam um problema enorme com um sabedoria que vai muito além dos anos de vida... E concluiu dizendo que se a fundação fosse capaz de oferecer apoio e manter a esperança e o espírito de luta de cada um destes jovens vivos, ela já teria cumprido seu papel com louvor.
Fiquei feliz em ver que os jovens americanos tem este apoio tão importante...e muito triste em pensar que no meu país eles ainda vivem em morrem sozinhos.
Confesso que admiro esta garra e que morro de inveja também. Queria que as coisas acontecessem do mesmo jeito no meu país, mas por mais contraditório que possa parecer, sou muito cética quando a questão são as ONGS brasileiras. Não vou dizer que não acredito em nenhuma porque seria uma afirmação leviana, mas que acho que tem muito diretor de ONG picareta, acho sim! Sei que há ONGs que fazem trabalhos de primeiro mundo, como o GRAACC e Pró-Criança Cardíaca, mas as manchetes de jornal sempre me deixam com o pé atrás quando penso em ONGs em geral.
Mas voltando ao envolvimento da sociedade civil americana, ontem fui convidada para o cocktail de aniversário do Ulman Fund e depois de pensar um pouco, aceitei o convite. Não sou muito chegada a este tipo de evento, ainda mais quando vou sozinha. Prefiro coisas mais íntimas, com no máximo 20 ou 30 pessoas, onde você realmente conversa com alguém e chega a saber alguma coisa relevante sobre esta pessoa. Detesto esta troca de cartões instantânea, porém tão instituída na nossa cultura corporativa moderna. Mas se no passado a simples idéia de ir a um evento e não conhecer ninguém me deixava em pânico, com o passar dos anos e devido às inúmeras obrigações do trabalho, hoje acho esta situação apenas chata. Topei mesmo porque queria ver e conhecer melhor a organização.
Chegando lá não me decepcionei. Cá entre nós, americano sabe bem montar um show. O lugar era lindo, um centro de artes de uma faculdade local estalando de novo e havia muita coisa interessante: silent auction (um leilão aberto, onde as pessoas colocam seus lances numa folha de papel), música ao vivo, muita comida, bebida e um monte de gente bem vestida e tipos corporativos, coisa que ainda não tinha visto muito por aqui.
Depois do cocktail, fomos todos para um teatro onde assitimos a performance de uma cantora cujo nome me escapa, mas que foi revelada no American Idol, e a premiere do episódio do programa de TV Deserving Design. O bacana deste programa é que Vern Yip, o arquiteto e apresentador, seleciona pessoas muito boas de coração e refaz um cômodo na casa delas. No episódio de ontem, ele acabou refazendo a sala e o quarto de uma moça de 26 que perdeu parte da visão aos 10 por causa de uma doença chamada retinite e anos depois teve câncer. Superou as duas doenças com um belo sorriso no rosto e hoje termina seu PhD em Emory University, onde trabalha com pesquisas para HIV e Aids. Impressionante!
O programa foi muito bonito, as histórias lindíssimas, mas o que mais me impressionou foi o comprometimento de tantas pessoas ali reunidas. Gente que abriu a carteira e tirou vinte mil ou dez dólares, mas abriu seu coração para uma causa tão nobre. O próprio designer Vern Yip criou há anos uma bolsa de estudos para estudantes universitários cujas vidas tenham sido impactadas pelo câncer, no papels de paciente ou de familiar. Que forma mais linda de manter a memória da mãe, que morreu de câncer, viva!
Não me lembro de ter visto nada parecido no Brasil. Não é da nossa cultura, você leitor deve estar dizendo. Mas aí eu pergunto, não é por que? Não é porque amamos menos nossas mães ou porque não desejamos preservar a memória de entes queridos ou fazer o bem a que merece... Então por que será? Por que será que não nos juntamos assim para chamar atenção para uma causa tão importante? Esta doença terrível, que não poupa ninguém, não vai embora tão cedo. A bem da verdade em 2010 vai ser o maior responsável por mortes neste planeta!!! Hoje o câncer já mata mais do que malaria e aids juntas! E cada vez mais jovens vão ter que aprender a lidar com esta doença. Ninguém sabe o porquê.
Só no cocktail de ontem, eles arrecadaram seguramente mais de $20 mil dólares, num evento onde praticamente tudo foi doado: o local, o buffet, as bebidas e todos os prêmios. Mais do que isto, ontem também soubemos que o Presidente Obama emitiu pedidos de propostas para pesquisas e estudos focados em populações jovens e câncer, pela primeira vez na história.
No final da noite, Doug Ulman, que começou tudo isto há 11 anos na mesa de jantar de sua casa depois de saber que tinha melanoma, disse uma coisa que me tocou demais. Ele disse que o que mais o comove são as cartas, telefonemas e emails de jovens que estão espalhados pelos quatro cantos do país lutando contra uma doença tão covarde, mas que se mantém fortes e enfrentam um problema enorme com um sabedoria que vai muito além dos anos de vida... E concluiu dizendo que se a fundação fosse capaz de oferecer apoio e manter a esperança e o espírito de luta de cada um destes jovens vivos, ela já teria cumprido seu papel com louvor.
Fiquei feliz em ver que os jovens americanos tem este apoio tão importante...e muito triste em pensar que no meu país eles ainda vivem em morrem sozinhos.
March 9, 2009
Veredito
Nestas horas nada melhor que pedir ajuda aos universitários mesmo. Valeu, meninas!
Já bati o martelo: só serão convidados os vizinhos que conversarem com a gente até lá. Tchauzinho do outro lado da rua não vale, tem que abrir a boca pra falar hello mesmo. E trocar mais de duas palavras!
Gostei dos conselhos aqui e se fizermos amizade com eles até dia 28, ótimo, a gente dá uma de carioca e joga logo um "passa lá em casa". Se colar, colou. Caso contrário, too bad! Mas a lista já está ficando grande demais e com a família do Blake e do cunhado dele (nossa extended family aqui é persa!!!) já vamos passar de 50 pessoas, fora os amigos. Mas este povo todo se não se conhece bem já se viu várias vezes, então é todo mundo de casa...Fora que com umas caipirinhas o povo aqui chama urubu de meu louro fácil, fácil.
Se os nossos vizinhos fossem sociáveis, talvez pudessem se manter entretidos, mas tudo nos leva a crer que sequer se conhecem, fatalmente ficariam mesmo deslocados. Mais perto passo para deixar um update.
Já bati o martelo: só serão convidados os vizinhos que conversarem com a gente até lá. Tchauzinho do outro lado da rua não vale, tem que abrir a boca pra falar hello mesmo. E trocar mais de duas palavras!
Gostei dos conselhos aqui e se fizermos amizade com eles até dia 28, ótimo, a gente dá uma de carioca e joga logo um "passa lá em casa". Se colar, colou. Caso contrário, too bad! Mas a lista já está ficando grande demais e com a família do Blake e do cunhado dele (nossa extended family aqui é persa!!!) já vamos passar de 50 pessoas, fora os amigos. Mas este povo todo se não se conhece bem já se viu várias vezes, então é todo mundo de casa...Fora que com umas caipirinhas o povo aqui chama urubu de meu louro fácil, fácil.
Se os nossos vizinhos fossem sociáveis, talvez pudessem se manter entretidos, mas tudo nos leva a crer que sequer se conhecem, fatalmente ficariam mesmo deslocados. Mais perto passo para deixar um update.
Selinho
Este selinho, que ganhei da Aninha, é especial e merece ser dividido com todas as leitoras e amigas aqui do blog.
Para mim, todo dia é Dia da Mulher!
March 8, 2009
O Dilema da Housewarming Party
Não tem nada mais tipicamente americano do que uma housewarming party, ou festa de inauguração da casa, quando o morador mais novo abre as portas da casa aos seus amigos e novos vizinhos. E é claro que como bons "americanos" não vamos fugir ao nosso dever. A família do Blake e os nossos amigos já cobram há muito a tal festa, mas como só agora a casa começou a ter cara de lar, adiamos a tal comemoração.
Depois de muito pesnar, acabamos marcando a festa para dia 28 de março, quando esperamos que o tempo já esteja melhor e de quebra vamos aproveitar e comemorar o aniversário de 91 anos da avó do Blake.
Já estamos mandando os convites e até meus pais se animaram a vir. Sim, pois aqui nos EUA o povo apesar de na maioria da vezes não fazer nada, sempre diz que tem a agenda lotada e tudo tem que ser marcado com pelo menos um mês de antecedência! Alguns amigos já confirmaram, a família idem. Ainda faltam uns convites a ser entregues, mas o grande dilema é o que fazer com os nossos vizinhos, também conhecidos como Salve-Salve Simpatia, Chinamen e Al Qaeda. Então já viram o calibre do povo!
Mudamos para cá no final de outubro e até hoje só sabemos o nome de dois vizinhos: um homem jovem que passou pela nossa calçada no fim de semama da mudança e se apresentou para nós e uma outra vizinha, também jovem que passou por aqui no Halloween. Fora isto, ninguém, nadie, nobody! Claro que no frio, pouco se sai e eu sou desligada por natureza, mas o Blake diz que o Al Qaeda faz questão de fingir que não o vê.
Daí nosso dilema: passamos óleo de peroba na cara e batemos na porta dos vizinhos para convidar este povo ou fazemos como eles, e ignoramos solenemente este povo? Sim, a festa seria a oportunidade perfeita para convidar os vizinhos. O único problema é que normalmente o convite para a tal festa vem como retribuição aos mimos oferecidos pelos vizinhos. Sim, pois de acordo com as regras do American Way of Life, os vizinhos vem saudar os novos moradores do bairro munidos cookies e sorrisos... Pena que não mandaram tal manual da instrução para os vizinhos aqui! Talvez seja o preço a se pagar pela diversidade, já que grande parte dos moradores de Hoaward County é estrangeira, principalmente asiática...
Bom, então a dívida continua: chamamos esta galera ou esquecemos de vez, pois ao que tudo indica se não tomarmos a iniciativa vamos morar aqui 10 anos sem conhecer ninguém!!!
Então que vocês acham?
Depois de muito pesnar, acabamos marcando a festa para dia 28 de março, quando esperamos que o tempo já esteja melhor e de quebra vamos aproveitar e comemorar o aniversário de 91 anos da avó do Blake.
Já estamos mandando os convites e até meus pais se animaram a vir. Sim, pois aqui nos EUA o povo apesar de na maioria da vezes não fazer nada, sempre diz que tem a agenda lotada e tudo tem que ser marcado com pelo menos um mês de antecedência! Alguns amigos já confirmaram, a família idem. Ainda faltam uns convites a ser entregues, mas o grande dilema é o que fazer com os nossos vizinhos, também conhecidos como Salve-Salve Simpatia, Chinamen e Al Qaeda. Então já viram o calibre do povo!
Mudamos para cá no final de outubro e até hoje só sabemos o nome de dois vizinhos: um homem jovem que passou pela nossa calçada no fim de semama da mudança e se apresentou para nós e uma outra vizinha, também jovem que passou por aqui no Halloween. Fora isto, ninguém, nadie, nobody! Claro que no frio, pouco se sai e eu sou desligada por natureza, mas o Blake diz que o Al Qaeda faz questão de fingir que não o vê.
Daí nosso dilema: passamos óleo de peroba na cara e batemos na porta dos vizinhos para convidar este povo ou fazemos como eles, e ignoramos solenemente este povo? Sim, a festa seria a oportunidade perfeita para convidar os vizinhos. O único problema é que normalmente o convite para a tal festa vem como retribuição aos mimos oferecidos pelos vizinhos. Sim, pois de acordo com as regras do American Way of Life, os vizinhos vem saudar os novos moradores do bairro munidos cookies e sorrisos... Pena que não mandaram tal manual da instrução para os vizinhos aqui! Talvez seja o preço a se pagar pela diversidade, já que grande parte dos moradores de Hoaward County é estrangeira, principalmente asiática...
Bom, então a dívida continua: chamamos esta galera ou esquecemos de vez, pois ao que tudo indica se não tomarmos a iniciativa vamos morar aqui 10 anos sem conhecer ninguém!!!
Então que vocês acham?
March 7, 2009
Estadão
A Val me mandou o link para uma matéria publicada no Estadão que aborda a questão do diagnóstico tardio de câncer em pacientes jovens.
É a segunda vez que o jornal toca nesta questão e espero que ela volte à pauta outras vezes. Não se pode conceber que câncer seja a segunda causa mortis entre adolescentes e jovens.
No caso dos jovens adultos, acho a doença ainda mais grave, pois muitos de nós já não somos mais dependentes de nossos pais nos planos de saúde e por nos acharmos indestrutíveis ou por falta de rescursos financeiros acabamos descobertos. A Thalita foi um destes casos: trocou de emprego e trabalhando como pessoa jurídica nunca pensou que ficaria doente. Mas ficou, ficou e o diagnóstico demorou, o tratamento atrasou e ela não está mais aqui. Ela e muitos outros, porque muitos médicos ainda acreditam que câncer não aparece em jovem e que enjôos e mal estar devem ser coisa da nossa cabeça.
Espero que outros estudos comprovem o que todo mundo já sabe: que a cada dia mais jovens morrem de câncer e muitas vezes poderiam ao menos ter recebido um tratamento melhor, se tivesse descoberto a doença mais cedo.
É a segunda vez que o jornal toca nesta questão e espero que ela volte à pauta outras vezes. Não se pode conceber que câncer seja a segunda causa mortis entre adolescentes e jovens.
No caso dos jovens adultos, acho a doença ainda mais grave, pois muitos de nós já não somos mais dependentes de nossos pais nos planos de saúde e por nos acharmos indestrutíveis ou por falta de rescursos financeiros acabamos descobertos. A Thalita foi um destes casos: trocou de emprego e trabalhando como pessoa jurídica nunca pensou que ficaria doente. Mas ficou, ficou e o diagnóstico demorou, o tratamento atrasou e ela não está mais aqui. Ela e muitos outros, porque muitos médicos ainda acreditam que câncer não aparece em jovem e que enjôos e mal estar devem ser coisa da nossa cabeça.
Espero que outros estudos comprovem o que todo mundo já sabe: que a cada dia mais jovens morrem de câncer e muitas vezes poderiam ao menos ter recebido um tratamento melhor, se tivesse descoberto a doença mais cedo.
Caminhada no Parque
Hoje fui caminhar mais uma vez com a Allison e a Amber, minhas amigas do Ulman Fund. Faz um dia lindo e quentinho aqui e mais cedo o sol tinha aparecido, pena que as nuvens tomaram conta agora.
A força da Allison me impressiona cada dia mais. A doença avança a passos largos, mas ela está determinada a fazer várias coisas ainda: a corrida/caminhada do dia 26 de abril é a mais importante, diria, mas ela ainda trabalha diariamente e ainda me convoca para um monte de atividades... É tão estranho fazer amizade com alguém que está se preparando para nos deixar... Mas procuramos não falar muito nisso. Hoje a única coisa que ela deixou escapar foi que as sessões de drenagem pleural causam muita dor, coisa que sei bem, pois fiz umas três depois da minha primeira cirurgia e só de lembrar, meus olhos se enchem de lágrima. No meu caso, o melhor a fazer foi colocar um dreno externo, também chamado de cachorrinho, mas no caso da Allison, se eles fizerem isto, seria o começo do fim. E depois de cada drenagem, os pulmões dela voltam a se encher de células cancerígenas...ao que parece, nada pode conter a doença.
Mas as caminhadas com ela e com a Amber são sempre alegres, apesar de tudo. Hoje a Allison tirou o chapéu e pudemos ver que o cabelo dela volta a crescer... E ela completou a volta toda no parque conosco, a passos normais. Se issso não se chama resiliência eu não sei o que é. Só sei que ela é um exemplo para mim, de doçura, de fé, de perserverança e de dignidade. Conviver com ela tem sido um presente e tanto e um tremendo privilégio.
Espero que Deus esteja com ela e que nos permita muitas outras caminhadas no parque.
A força da Allison me impressiona cada dia mais. A doença avança a passos largos, mas ela está determinada a fazer várias coisas ainda: a corrida/caminhada do dia 26 de abril é a mais importante, diria, mas ela ainda trabalha diariamente e ainda me convoca para um monte de atividades... É tão estranho fazer amizade com alguém que está se preparando para nos deixar... Mas procuramos não falar muito nisso. Hoje a única coisa que ela deixou escapar foi que as sessões de drenagem pleural causam muita dor, coisa que sei bem, pois fiz umas três depois da minha primeira cirurgia e só de lembrar, meus olhos se enchem de lágrima. No meu caso, o melhor a fazer foi colocar um dreno externo, também chamado de cachorrinho, mas no caso da Allison, se eles fizerem isto, seria o começo do fim. E depois de cada drenagem, os pulmões dela voltam a se encher de células cancerígenas...ao que parece, nada pode conter a doença.
Mas as caminhadas com ela e com a Amber são sempre alegres, apesar de tudo. Hoje a Allison tirou o chapéu e pudemos ver que o cabelo dela volta a crescer... E ela completou a volta toda no parque conosco, a passos normais. Se issso não se chama resiliência eu não sei o que é. Só sei que ela é um exemplo para mim, de doçura, de fé, de perserverança e de dignidade. Conviver com ela tem sido um presente e tanto e um tremendo privilégio.
Espero que Deus esteja com ela e que nos permita muitas outras caminhadas no parque.
March 6, 2009
Divagando...
Sei que é o maior chavão do mundo dizer que a doença me trouxe muitas coisas boas e me fez ver o mundo de uma forma diferente, mas isto é a mais absoluta verdade. Com esta experiência única aprendi muito sobre mim, mas o melhor de tudo foi ter aprendido mais sobre o ser humano. Vi meus amigos com outros olhos. Vi a bondade de estranhos e o medo de não tão estranhos assim. Reforcei laços antigos e fiz outros novos. Mudei. Prefiro achar que foi para melhor. Tive sorte.
Outro grande privilégio foi o de conhecer pessoas facinantes que jamais teriam cruzado meu caminho, se não fosse por um pequeno acidente de percurso chamado hepatocarcinoma fibrolamelar, também conhecido como câncer primário do fígado. Estas pessoas tem histórias de vida fascinantes e se à primeira vista nossas vidas podem parecer tão diferentes, basta olhar para dentro de cada um de nós para ver que somos extremamente parecidos.
Dizem que os sobreviventes de guerra se sentem assim, que tem um laço muito profundo por terem vivido coisas terríveis juntos. Os pacientes que enfrentam o câncer tem características parecidas. Apesar de terem lutado em fronts diferentes e cada um a frente de seu exército, as cicatrizes das batalhas são muito semelhantes, mais ainda se os combatentes tem idades próximas. O enredo é sempre o mesmo, íamos vivendo a nossa vida, até que chegou a convocação para a luta. Não sabíamos mas o alistamento era compulsório. De um dia para o outro arrumamos nossas malas e embarcamos numa jornada que iria nos modificar para sempre.
Não sei como o tal tumor "brotou" em mim e acho que jamais vou descobrir. Não o quero de volta em minha vida em hipótese alguma, mas não tenho como negar que apesar de assutador e doloroso, ele foi a melhor coisa que me aconteceu, pois me forçou a olhar para dentro de mim e ver quem eu era de verdade. E quando a visão não me agradou nem um pouco, me apressei logo em mudar, pois vi que a vida é curta e preciosa demais para ser desperdiçada. Sempre disse aos médicos que me considerava feliz por ter enfrentado um problema tão sério tão jovem pelo simples fato de que me restariam muitos anos para implementar todas as lições aprendidas e viver mais feliz comigo mesma.
Esta é só uma parte da história. O outro lado, bem mais sombrio, só fui descobrir quando me vi às voltas com a doença de novo. Tive medo, muito medo. Não estava preparada para o contra-ataque. Não sei se já me recuperei do susto; para ser sincera não sei se a gente se recupera de um susto destes. Só sei que estou determinada a conviver com ele e viver a minha vida da melhor forma possível, pois esta foi a grande lição que ficou.
Outro grande privilégio foi o de conhecer pessoas facinantes que jamais teriam cruzado meu caminho, se não fosse por um pequeno acidente de percurso chamado hepatocarcinoma fibrolamelar, também conhecido como câncer primário do fígado. Estas pessoas tem histórias de vida fascinantes e se à primeira vista nossas vidas podem parecer tão diferentes, basta olhar para dentro de cada um de nós para ver que somos extremamente parecidos.
Dizem que os sobreviventes de guerra se sentem assim, que tem um laço muito profundo por terem vivido coisas terríveis juntos. Os pacientes que enfrentam o câncer tem características parecidas. Apesar de terem lutado em fronts diferentes e cada um a frente de seu exército, as cicatrizes das batalhas são muito semelhantes, mais ainda se os combatentes tem idades próximas. O enredo é sempre o mesmo, íamos vivendo a nossa vida, até que chegou a convocação para a luta. Não sabíamos mas o alistamento era compulsório. De um dia para o outro arrumamos nossas malas e embarcamos numa jornada que iria nos modificar para sempre.
Não sei como o tal tumor "brotou" em mim e acho que jamais vou descobrir. Não o quero de volta em minha vida em hipótese alguma, mas não tenho como negar que apesar de assutador e doloroso, ele foi a melhor coisa que me aconteceu, pois me forçou a olhar para dentro de mim e ver quem eu era de verdade. E quando a visão não me agradou nem um pouco, me apressei logo em mudar, pois vi que a vida é curta e preciosa demais para ser desperdiçada. Sempre disse aos médicos que me considerava feliz por ter enfrentado um problema tão sério tão jovem pelo simples fato de que me restariam muitos anos para implementar todas as lições aprendidas e viver mais feliz comigo mesma.
Esta é só uma parte da história. O outro lado, bem mais sombrio, só fui descobrir quando me vi às voltas com a doença de novo. Tive medo, muito medo. Não estava preparada para o contra-ataque. Não sei se já me recuperei do susto; para ser sincera não sei se a gente se recupera de um susto destes. Só sei que estou determinada a conviver com ele e viver a minha vida da melhor forma possível, pois esta foi a grande lição que ficou.
March 5, 2009
Shake It!
Estou aqui muito pau da vida porque vou perder minha aula de yoga de novo já que a minha chefe resolveu convocar para outra reunião às 5.30PM. Ninguém merece... Enquanto mofo esperando por ela, pelo menos escuto esta musiquinha fofa...
Haja paciência.
Haja paciência.
The Bucket List
Ontem finalmente vimos este filme estrelado pelos incríveis Jack Nicholson e Morgan Freeman. Já sabíamos do tema, então estávamos preparados para o que viria pela frente.
O nome original do filme (não sei qual foi a tradução para o português) se refere a uma lista que o sujeito faz antes de “chutar o balde”, que aqui é uma metáfora equivalente a “passar desta para melhor.” Resumindo a história: os dois personagens tem câncer em estágio terminal e poucos meses para viver. Depois de uma temporada dividindo quarto no hospital, dois homens, que aparentemente tem pouco em comum, tornam-se muito amigos e resolvem fazer tudo que sempre tiveram vontade antes de partir. Como é filme, um deles é milionário e pode levar o outro a tiracolo!
O tema é realmente intrigante. Eu pessoalmente não tenho a menor vontade de saber o dia exato da minha morte. Espero que ela demore muito para chegar mas que venhade surpresa e me leve sem muito sofrimento. Sou covarde mesmo! Já cheguei pertinho da morte, pedi penico, Deus me atendeu e desde então tento manter distância dela. Quero mais é que ela me esqueça! Mas depois do que passei ela continua a pairar sobre mim. Não que a minha saúde inspire cuidados ou coisa alguma, mas depois da pancada inicial a gente nunca mais olha a morte como antes. Ela passa a ser real e isto é assustador. Não é justo nem explicável, mas é real.
Chorei horrores durante o filme. Cenas de hospital sempre me dão um aperto enorme no coração, mas ao mesmo tempo me fazem perceber o quanto fui sortuda, pois passei muito bem durante todo o tratamento. Não tive nenhum efeito colateral, graças a Ele lá em cima. As conversas entre os personagens me lembraram conversas que já tive com familiares e amigos, muitos deles jovens contemplanod a idéia da partida iminente. O filme me tocou fundo.
Mas o tempo todo fiquei me fazendo várias perguntas... Será que vale mesmo a pena lutar até o fim e morrer preso a um leito de hospital esperando por um milagre da medicina? Ou será que mais vale aproveitar o pouco tempo que nos resta? Por que a Allison está trabalhando ainda em vez de visitar o Taj Mahal? Será que teria sido melhor para o Felippe passar os últimos meses dele na praia do que no hospital? E a Thalita? Será que a químio agressiva que ela pediu para fazer apressou ainda mais a morte dela? Será que ela sabia disto e por isto quis logo partir para o tudo ou nada? São tantas perguntas que nunca serão respondidas... Elas incomodam, pois fica sempre aquele buraco entre o que se foi e o que poderia ter sido. Não faz sentido pensar assim, mas quem disse que nada vida tudo tem que fazer sentido?
O filme acabou, mas o meu choro compulsivo ainda durou muito além da subida dos créditos... Fiquei pensando ali se eu também tinha uma “bucket list”. E percebi que não. Claro que há muito que eu quero fazer ainda, mas não consigo colocar num papel todos os meus desejos. O mundo é grande demais para que eu escolha um ou outro destino para minha viagem. Tem muita gente que eu gostaria de ver, encontrar e conhecer ainda. Muita coisa que preciso fazer, mas não quero me preocupar com o tempo. Não quero me prender a certas metas, pois do que vale a viagem se não pudermos apreciar a paisagem?
March 4, 2009
Desperate Housewife -- real ou ficção?
A minha vida nos suburbs não estaria completa sem que eu aceitasse o convite para uma reunião do The Pampered Chef. Relutei um pouco, mas o convite veio da Carolina, uma amiga nossa muito gente boa, então acabei topando. Para simplificar a história, digamos que o público alvo das reuniões do The Pampered Chef são as filhas das mulheres que nos anos 80 encaravam as famosas Tupperware Parties. Acho que ainda não tem Pampered Chef no Brasil, mas daqui a pouco chega aí, do mesmo jeito que os agora indispensáveis tupperwares, cuja patente já deve ter vencido, pois o que se vê de genérico por aí...
Mas voltando à história, aceitei o convite já na intenção de comprar um abridor de lata legal já que o Blake quebrou o nosso, que já não era estas coisas e eu também não quero mais usar aquele pequenininho do tempo do onça, que aliás ninguém nem conhece aqui nos EUA.
Chegando lá vi uns rostos conhecidos e outros nem tanto... O legal é que a maioria das cozinhas americanas é enorme então parece até que estamos num programa de TV! A menina se apresentou e deu o rundown do dia, coisa bem americana, e depois pediu para que as convidadas se apresentassem e falassem sobre seu produto preferido da linha deles. Claro que chegou a minha vez e fui logo dizendo “Olha, estou longe de ser chef de cozinha, aliás minha intimidade com ela é quase nula. Não conheço os produtos de vocês, mas estou curiosa.” Eis que a minha amiga e anfitriã Carolina entra para salvar a pátria “Mas a Danielle adora receber e tem sempre visita em casa!” Bom, esta parte até que é verdade, mas se pudesse chamaria um buffet cada vez que recebesse mais de quatro pessoas no cafofo! Mas como não posso...vou à reunião do Pampered Chef para aprender truques de como tornar a minha vida mais fácil. Oh well!
Confesso que fui mais numa experiência antropológica, no mesmo espírito que visitei a Feira de São Cristóvão quando ela ainda era ao ar livre e muito antes de ter virado cult. A idéia era observar de longe e preparar relatório... Mas depois que provei uma pasta de alcachofra e uma sobremesa maravilhosa que ela preparou na nossa frente, me rendi! Comprei o tal abridor hight-tech, uma frigideira muito fofa e mais uma coisa que não consigo me lembrar...mas juro que estava precisando!
Enfim, no final das contas a reuniãozinha foi bem agradável e deliciosa e acho que vou topar fazer uma lá em casa. Sintam-se convidadas!!! Às vezes nem eu mesma me reconheço....
March 3, 2009
Ponto para o Obama!
Me belisquem por favor? Um político cumprindo promessa de campanha? Para tudo...mas parece que está acontecendo bem aqui em Washington!
Ao contrário do que a mídia americana insiste em apregoar, não vejo Barack Obama como o novo messias e não tenho nenhuma ilusão de que um pobre mortal possa arrumar a bagunça em que se encontra a economia americana. Podem me chamar de cética ou pessimista, mas acho que esta recessão ainda não chegou ao fim e que ainda vamos ver mais bailouts por aí.
Mas não pode ignorar que o novo presidente americano está trabalhando muito para cumprir algumas promessas de campanha. Uma delas é especialmente importante para mim. O novo pacote do Obama incui 6 bilhões de dólares para a pesquisa em câncer. Que bacana! Sempre achei que o Obama iria olhar para esta causa com atenção especial, já que perdeu a mãe jovem vítima dela e mais recentemente perdeu a avó que o criou, aos 87 anos.
A meta de Obama é "erradicar o câncer durante o nosso tempo" e tem muitos cientistas dizendo que é um plano ambicioso demais, já que para alguns tipos de câncer a cura ainda é algo muito distante. Mas os mesmos cientistas concordam que fazer com que o câncer se torne uma doença crônica já é uma excelente alternativa para quem até então tinha poucos meses de vida a frente.
O primeiro pacote do Obama propõe 6 bilhões de dólares para o (National Institutes of Health) NIH. Esta quantia é além dos 10 bilhões já destinados a causa que vem nos pacote do estímulo econômico para 2009 e 2010.
Espero do fundo do coração que Obama consiga levar seus planos a frente e, assim como ele, também espero ver uma cura (ou um gerenciamento) para os 200 tipos diferentes de câncer enquanto eu estiver viva.
Quem tiver curiosidade de saber mais detalhes do novo pacote, este é o link da matéria na CNN.
Ao contrário do que a mídia americana insiste em apregoar, não vejo Barack Obama como o novo messias e não tenho nenhuma ilusão de que um pobre mortal possa arrumar a bagunça em que se encontra a economia americana. Podem me chamar de cética ou pessimista, mas acho que esta recessão ainda não chegou ao fim e que ainda vamos ver mais bailouts por aí.
Mas não pode ignorar que o novo presidente americano está trabalhando muito para cumprir algumas promessas de campanha. Uma delas é especialmente importante para mim. O novo pacote do Obama incui 6 bilhões de dólares para a pesquisa em câncer. Que bacana! Sempre achei que o Obama iria olhar para esta causa com atenção especial, já que perdeu a mãe jovem vítima dela e mais recentemente perdeu a avó que o criou, aos 87 anos.
A meta de Obama é "erradicar o câncer durante o nosso tempo" e tem muitos cientistas dizendo que é um plano ambicioso demais, já que para alguns tipos de câncer a cura ainda é algo muito distante. Mas os mesmos cientistas concordam que fazer com que o câncer se torne uma doença crônica já é uma excelente alternativa para quem até então tinha poucos meses de vida a frente.
O primeiro pacote do Obama propõe 6 bilhões de dólares para o (National Institutes of Health) NIH. Esta quantia é além dos 10 bilhões já destinados a causa que vem nos pacote do estímulo econômico para 2009 e 2010.
Espero do fundo do coração que Obama consiga levar seus planos a frente e, assim como ele, também espero ver uma cura (ou um gerenciamento) para os 200 tipos diferentes de câncer enquanto eu estiver viva.
Quem tiver curiosidade de saber mais detalhes do novo pacote, este é o link da matéria na CNN.
March 2, 2009
Snow Storm
March 1, 2009
Falem Comigo
Numa das vezes que fui a Hopkins, já cansada de esperar para ser atendida, resovi perambular pelos corredores do departamento de hepatologia. Já tinha lido todas as revistas expostas na sala de espera (que aliás eram mais velhas do que a minha avó!) e impaciente precisava achar mais alguma coisa para ler. É preciso entender que nas horas que antecedem a consulta, logo depois de todos os exames, a gente fica uma pilha. A minha cabeça girava a mil quilômetros por hora: exames feitos, cartas na mesa, e eu ali à mercê do meu próprio destino, do meu corpo e de mim mesma. Claro que sempre agarrada com Deus, pois se não fosse Ele lá em cima eu já teria pirado faz tempo.
Comecei a andar pelos corredores escuros até que encontrei uma parede cheia de porta-revistas. Os títulos não me recordo mais, só me lembro que eram um mais assustador do que o outro. Câncer para lá, câncer para cá, opções de cirurgia, opções de tratamento, como organizar seu testamento, como deixar suas finanças em dia... Ai que horror! Doomsday total! De repente vi dois títulos que me chamaram atenção. "No Way, It Can't be" e "My way", ambas eram publicações direcionadas a jovens que enfrentam o câncer. Por instantes, fiquei ali incrédula e depois para minha surpresa, percebi que a tal organização ficava aqui mesmo em Maryland! E foi assim que o Ulman Cancer Fund entrou na minha vida, aliás como tudo, muito por acaso.
Li os livrinhos e fiquei encantada. Eras histórias fascinates sobre jovens que tinham enfrentado diferentes tipos de câncer e como eles tinham lidado com a doença, passando por todos os estágios -- da incredulidade completa à ação, passando ainda pela dor e pelo desespero. O mesmo caminho tortuoso que eu também tinha traçado. Pensei na hora "A gente tinha que ter algo assim no Brasil!" Eu sei que ainda não existe, pois cansei de procurar.
Desde então tenho tentado encontrar jovens que tenham vivido a experiência e queiram dividir comigo suas histórias de luta e superação. Mas por incrível que pareça, tenho tido uma dificuldade enorme de encontrar tais depoimentos. Já entrei em comunidades do Orkut, foruns e sempre que faço a pergunta fico sem resposta. Por que será?
O que noto numa comunidade do Orkut que freqüento é que a maioria das pessoas fica no discurso "Tenha fé, Deus vai prover" ou "Você não tem o direito de desistir ou se desesperar." E confesso que as duas posições me irritam profundamente. Não me levem a mal. A minha fé em Deus é ENORME e tenho certeza que só estou aqui porque Ele assim quis. Mas por outro lado, sinto que Deus também me deu algo precioso que se chama livre arbítrio. Foi Deus também que me deu inteligência e lucidez, então não é jussto cruzar os braços e exigir que Ele faça tudo sozinho. Eu vou à luta sempre, guiada por Ele, é claro, mas não fico esperando nadad cair do céu.
Outra coisa que me irrita tremendamente são algumas pessoas que tiveram a doença e hoje se acham verdadeiros gurus, distribuindo conselhos e se achando acima do bem o do mal. Cada vez que alguém ousa fazer uma reclamação qualquer -- afinal todo mundo tem dias melhores e piores, imagina quem está fazendo quimioterapia ou enfrentando o câncer?! -- tem sempre um sargentão que responde indignado "Como você ousa falar assim? Você me decepcionada cada vez que diz estar cansado!" O pobre sujeito já não está se sentindo a última Coca-Cola do deserto, ainda vem a maluca fazer o cara se sentir culpado?! Fala sério! Entendo que muitos precisam de motivação, mas este tipo de psicologia às avessas é o fim da picada...
Mas voltando ao tema do post, vejo que grande parte dos brasileiros não se sentem muito à vontade de falar sobre suas experiências abertamente, uns por superstição, outros por medo de discriminação e outros não sem bem o motivo. Acho uma pena, pois cada depoimento que escuto me faz acreditar que é possível, que não estou só e me dá forças para seguir em frente. Também não acredito que falar na experiência atraia a doença ou que tenha gente que vá me desejar mal ou coisa parecida. Já falei mil vezes, uma das maiores lições que aprendi nos últimos anos é que o homem é bom. Pelo menos em sua grande maioria.
Há muito tempo venho querendo reunir depoimentos de jovens que vivem ou viveram estas experiências no Brasil. Eu achei o livrinho do Ulman o máximo e pensei até em traduzí-lo para o português, mas depois pensei de novo e cheguei a conclusão que no Brasil temos material vasto e que poderíamos criar uma cartilha com os nossos próprios personagens, mas a pergunta é uma só: será que haveria interesse de ambas as partes? Pessoas interessadas em contar suas histórias e pacientes e familaires interessados em conhecer um pouco mais sobre elas?
Lanço a pergunta aqui para um debate... O que vocês acham? Vale e pena levar esta idéia à frente? Por quê ou por quê não?
Comecei a andar pelos corredores escuros até que encontrei uma parede cheia de porta-revistas. Os títulos não me recordo mais, só me lembro que eram um mais assustador do que o outro. Câncer para lá, câncer para cá, opções de cirurgia, opções de tratamento, como organizar seu testamento, como deixar suas finanças em dia... Ai que horror! Doomsday total! De repente vi dois títulos que me chamaram atenção. "No Way, It Can't be" e "My way", ambas eram publicações direcionadas a jovens que enfrentam o câncer. Por instantes, fiquei ali incrédula e depois para minha surpresa, percebi que a tal organização ficava aqui mesmo em Maryland! E foi assim que o Ulman Cancer Fund entrou na minha vida, aliás como tudo, muito por acaso.
Li os livrinhos e fiquei encantada. Eras histórias fascinates sobre jovens que tinham enfrentado diferentes tipos de câncer e como eles tinham lidado com a doença, passando por todos os estágios -- da incredulidade completa à ação, passando ainda pela dor e pelo desespero. O mesmo caminho tortuoso que eu também tinha traçado. Pensei na hora "A gente tinha que ter algo assim no Brasil!" Eu sei que ainda não existe, pois cansei de procurar.
Desde então tenho tentado encontrar jovens que tenham vivido a experiência e queiram dividir comigo suas histórias de luta e superação. Mas por incrível que pareça, tenho tido uma dificuldade enorme de encontrar tais depoimentos. Já entrei em comunidades do Orkut, foruns e sempre que faço a pergunta fico sem resposta. Por que será?
O que noto numa comunidade do Orkut que freqüento é que a maioria das pessoas fica no discurso "Tenha fé, Deus vai prover" ou "Você não tem o direito de desistir ou se desesperar." E confesso que as duas posições me irritam profundamente. Não me levem a mal. A minha fé em Deus é ENORME e tenho certeza que só estou aqui porque Ele assim quis. Mas por outro lado, sinto que Deus também me deu algo precioso que se chama livre arbítrio. Foi Deus também que me deu inteligência e lucidez, então não é jussto cruzar os braços e exigir que Ele faça tudo sozinho. Eu vou à luta sempre, guiada por Ele, é claro, mas não fico esperando nadad cair do céu.
Outra coisa que me irrita tremendamente são algumas pessoas que tiveram a doença e hoje se acham verdadeiros gurus, distribuindo conselhos e se achando acima do bem o do mal. Cada vez que alguém ousa fazer uma reclamação qualquer -- afinal todo mundo tem dias melhores e piores, imagina quem está fazendo quimioterapia ou enfrentando o câncer?! -- tem sempre um sargentão que responde indignado "Como você ousa falar assim? Você me decepcionada cada vez que diz estar cansado!" O pobre sujeito já não está se sentindo a última Coca-Cola do deserto, ainda vem a maluca fazer o cara se sentir culpado?! Fala sério! Entendo que muitos precisam de motivação, mas este tipo de psicologia às avessas é o fim da picada...
Mas voltando ao tema do post, vejo que grande parte dos brasileiros não se sentem muito à vontade de falar sobre suas experiências abertamente, uns por superstição, outros por medo de discriminação e outros não sem bem o motivo. Acho uma pena, pois cada depoimento que escuto me faz acreditar que é possível, que não estou só e me dá forças para seguir em frente. Também não acredito que falar na experiência atraia a doença ou que tenha gente que vá me desejar mal ou coisa parecida. Já falei mil vezes, uma das maiores lições que aprendi nos últimos anos é que o homem é bom. Pelo menos em sua grande maioria.
Há muito tempo venho querendo reunir depoimentos de jovens que vivem ou viveram estas experiências no Brasil. Eu achei o livrinho do Ulman o máximo e pensei até em traduzí-lo para o português, mas depois pensei de novo e cheguei a conclusão que no Brasil temos material vasto e que poderíamos criar uma cartilha com os nossos próprios personagens, mas a pergunta é uma só: será que haveria interesse de ambas as partes? Pessoas interessadas em contar suas histórias e pacientes e familaires interessados em conhecer um pouco mais sobre elas?
Lanço a pergunta aqui para um debate... O que vocês acham? Vale e pena levar esta idéia à frente? Por quê ou por quê não?
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