March 11, 2009

Torna-te Quem Tu És


O email dela começava com uma frase que me tocou fundo "Torna-te quem tu és," de Friedrich Nietzsche, um dos filósofos que mais me fazem pensar. A minha amiga virtual dizia que a frase há tinha perseguido por três vezes nos últimos dias. Concluiu dizendo: “não é nada fácil escolher ser quem somos”.

No início, não entendi muito bem o motivo para tal colocação ali, no início da mensagem. Logo depois do pequeno questionamento, ela mudava de assunto e respondia as perguntas que eu havia feito no meu email anterior.

Tive uma sensação completamente estranha mas prazerosa. Uma cumplicidade que não tinha muita razão de ser pelo fato de que nunca nos vimos e faz pouco tempo que começamos a trocar emails. Mas tem gente que tem o poder de ir direto ao ponto e tocar, com muita delicadeza, naquela ferida que de tanto esconder a gente até esquece que existe. Tem gente que ao falar de si mesmo e dividir suas angústias, sequer imagina o efeito que tais palavras tem no outro. Nas três primeiras linhas da mensagem dela, percebi que naquele exato momento ela era eu! Ali naquele instante juntas e tão distantes compartilhávamos os mesmos medos e estávamos diante do mesmo desafio: tornarnos quem realmente somos.

Já era tarde e eu estava a caminho da cama quando resolvi dar uma olhada na minha caixa de entrada e vi a mensagem dela. Curiosa como sou, quis logo dar uma olhadinha. Responderia mais tarde, o que não imaginava é que a tal frase de Nietzsche também fosse me perseguir.

Torna-te quem tu és. Esta citação um tanto enigmática me soava quase como um desafio. Para que te tornes quem tu és, primeiro precisas saber onde está teu verdadeiro eu. Será que este eu conhecido é realmente a tua essência? E se não fores quem imaginas, então quem és? E o que é necessário para que experimentes esta transformação?

Muitos veem a doença como um catalizador. Eu me incluo neste grupo. Penso que até alguns anos atrás não sabia muito bem quem eu era, ou talvez soubesse, mas a verdade é que não era a pessoa que eu no fundo queria ser. Talvez não conseguisse enxergar a verdade sobre mim, ou porque talvez fosse doloroso demais enxergar a minha essência ou porque no fundo eu duvidava mesmo que ela existisse.

Dizem que nada melhor que um duro golpe para nos definir. No meu caso deve ter sido a doença. Depois dela passei a ser ao mesmo tempo mais seletiva e menos severa, com os outros, mas acima de tudo comigo mesma. Procuro conviver melhor com as minhas limitações e me entender comigo mesma. Confesso que às vezes não é fácil. E assim a frase de Nitezsche, que tem perseguido a minha amiga, assume um sentido completamente diferente para mim. Hoje, encaro com mais tranquilidade o desafio de me tornar o que realmente sou e não aquilo que um dia julguei que gostaria de ser.

Concordo com a minha amiga que diz que não é nada fácil escolher ser quem somos. Mas por mais difícil que seja abraçar verdadeiramente quem somos, a alternativa me parece muito melhor do que tentarmos ser aquilo que jamais seremos ou figirmos eternamente ser aquilo que nunca fomos.

3 comments:

Anonymous said...

"Mas por mais difícil que seja abraçar verdadeiramente quem somos, a alternativa me parece muito melhor do que tentarmos ser aquilo que jamais seremos ou figirmos eternamente ser aquilo que nunca fomos" ... AMÉM!

Muitas vezes me vejo em você também. De um jeito ou de outro: agora você já faz parte da liga dos mutantes.

Anonymous said...

"Mas por mais difícil que seja abraçar verdadeiramente quem somos, a alternativa me parece muito melhor do que tentarmos ser aquilo que jamais seremos ou figirmos eternamente ser aquilo que nunca fomos" ... AMÉM!

Muitas vezes me vejo em você também. De um jeito ou de outro: agora você já faz parte da liga dos mutantes.

Daniela Freitas said...

Dani,
Hoje tbem li uma frase que me fez parar pra pensar o dia inteiro...
"(...) em vez de querer ser outro, é mais interessante inventar o que podemos fazer com o que somos".
Contardo Calligaris