December 9, 2011

Joaquim, o brasileirinho

Pode ser viagem minha, mas nunca me passou pela cabeça que o Joaquim não seria brasileiro. Acho que optei por ignorar a geografia e praticamente tudo que nos cerca no dia a dia, pois nunca achei que o Joaquim fosse ter uma vida muito diferente da minha ou da vida das primas dele que nasceram e moram no Rio. Ele pode não andar de short e havaiana o dia inteiro, mas sua canção de ninar favorita é Sapo Cururu. Seu programa de televisão? Xuxa Só Para Baixinhos! Fruta? Banana (que ele chama pelo nome!) Mais brasileirinho que isto?

Viagem minha deve ser. Mas desde que foi concebido o Joaquim escuta português e só ouve português da minha boca. Um esforço consciente e árduo para que ele sempre saiba de onde veio e que é. Nem me passa pela cabeça que uma dia ele possa sentir vergonha disto, de suas origens, da língua de sua mãe...talvez pelo fato de que EU jamais senti algo parecido.

Gosto daqui, mas não sei se um dia vou considerar este país minha casa. É uma pátria acolhedora que me deu muitas chances: bolsa de estudo, trabalho, um marido e mais recentemente, um filho. Sem cotnar nos muitos amigos e experiências inesquecíveis. Me deu até direto à cidadania e por tudo isto, para sempre serei grata. Aprendi muito nos quase 20 anos que vivo entre Brasil e EUA. Uma frase da famosa primeira-dama americana Eleanor Roosevelt nunca me sai da cabeça: No one can make you feel inferior without your consent. Pois é, acho que eu nunca dei permissão a ninguém para fazer isto, então vivo feliz assim, brasileira ou americana.

Também não tenho intenção de mudar muito para me encaixar nos padrões locais. Nunca tive esta preocupação no Brasil e não iria mudar agora. Absorvo o que interessa e ignoro o resto, tanto nos EUA quanto no Brasil. Espero sinceramente que o Joaquim se conforme com isso... Mas além disto, espero que ele sinta-se feliz e em paz consigo mesmo, sempre.

Então hoje que o Joaquim completa seu primeiro aniversário, me pego imaginando o que vai ser daqui a cinco, 10 ou 15 anos... Será um gringuinho brasileiro ou um brasileirinho gringo? Vai gostar de esportes -- surf ou ski, soccer ou football? Vai preferir churrasco com picanha ou com hamburger? São tantas as possibilidades.

Gosto de imaginar que ele será como um jovem que encontrei há muitos anos num destes aeroportos da vida: ele parecia indiano, tinha passaporte americano e falava português sem sotaque. Começamos a conversar e eu, curiosa que sou, fui logo fazendo perguntas e ele se explicando com muito orgulho. "Nasci nos Estados Unidos, filho de pai indiano e mãe brasileira. Minha mãe sempre falou português comigo e sempre visitei minha família no Rio com frequência. Na época da faculdade, estudei português durante os quatro anos. Depois de formado, consegui um emprego num banco de investimentos e vivi anos no Brasil, dois deles com a minha avó." Me lembro de ter dito a ele "Puxa, se um dia tiver um filho, quero que ele seja assim, como você." Ele sorriu e respondeu. "Minha mulher é uruguaia estamos esperando nosso primeiro filho, só ainda não decidimos se em casa falaremos português ou espanhol."

É Joaquim, nossa caminhada está só começando! Feliz aniversário, meu filho!

December 7, 2011

A primeira ida ao hospital a gente nunca esquece...




As últimas semanas foram um verdadeiro vendaval por aqui. O feriado de Thanksgiving que parecia que ia ser um período de "descanso" (entre aspas mesmo porque -- minha mãe estava certa -- depois que a gente tem filho este conceito não existe mais!) foi certamente a fase mais punk da nossa breve vida de pais.

Chegamos da casa da minha sogra e achamos o Joaquim quentinho e resolvemos obviamente acompanhar. De madrugada, a febre dele passava de 39C, então voamos para a emergência pediátrica. Ele tinha acabado o segundo ciclo de antibiótico e parecia melhor durante o dia, mas como depois a febre não parava de subir, no meio da noite nos restavam poucas alternativas.

Eu que já me considero calejada no assunto, fiquei obviamente chateada de estar ali com ele, mas nem de longe imaginei que os médicos fossem dar mais que uma injeção. De repente as enferimeiras me dizem que o médico quer um exame de sangue para se certificar de que a infecção não se espalhou pelo sangue e que vão precisar de um acesso para o exame e para o medicamento. Acesso, como assim? Num bracinho de um bebê gorducho de 11 meses? E assim foi feito -- infelizmente.

Foi horrível, foi traumático, foi de cortar o coração ver o olhar de pânico do nosso filhote durantes aquelas duas horas que mais pareciam uma eternidade. E no dia seguinte, tudo de novo, mas desta vez, as enfermeiras não conseguiram inserir o cateter e decidiram tirar o sangue e depois dar a injeção.

E além do tormento no hospital, Advil e Tylenol a cada três horas e antibiótico duas vezes por dia. Apesar de tudo, Joaquim continuava ativo e esperto, irritadinho às vezes, mas nunca pareceu debilitado. Isto tudo a uma semana da festa de aniversário dele.

os dias seguintes fora difíceis também e acabei ficando um tempo em casa cuidando dele e tentando finalizar uns projetos com prazos apertados no trabalho. (Nestas horas ter um chefe compreensivo e humano conta muito!) Para aumentar ainda mais o stress, tivemos duas festas no fim de semana: a do Blake e a do Joaquim (que foi adiantada em função da agenda apertada do aniversariante!). Eu organizando tudo, trabalhando e com filho doente... Achei que fosse surtar. Chegamos a cogitar cancelar a festa de aniversário do Joaquim, mas resolvemos ver como ele ia reagir durante a semana.

Mas no final deu tudo certo. O jantar de aniversário do Blake foi um barato -- contratamos uma chef e a minha irmã e meu cunhado vieram do Rio para ver a gente e participar das festas. E as crianças -- a começar pelo próprio aniversariante -- amaram a festa do Joaquim, que foi na Gymboree.

Missão cumprida, com sucesso... Mal posso acreditar que na sexta meu pequeno completa um ano. Ao mesmo tempo, estas últimas semanas parecem ter durado um século.

November 24, 2011

Contagem regressiva...


Com o Thanksgiving para trás, agora começa a contagem regressiva para o Natal e para a viagem ao Brasil. As próximas semanas vão ser pra lá de corridas, mas isto é bom, faz o inverno passar mais rápido.

Estas últimas semanas têm sido de flashback. Difícil não pensar que esta época, no ano passado, estava prestes a dar a luz e consequentemente a ter a minah vida completamente virada de cabeça para baixo. Por mais que a gente ache que está preparada para trazer um serzinho ao mundo, não faz a menor ideia da revolução que está prestes a acontecer.

Sim, o terremoto em si já passou. Acho que o grande abalo sísmico ocorre mesmo nos primeiros meses de vida do bebê. Pelo menos para mim foram os seis primeiros -- bebê com cólica, com refluxo, com manha...sei lá, só sei que ele berrava quase que 24 horas por dia e eu achava que ia enlouquecer.

Mas engana-se quem pensa que agora tudo são flores. Sim, o terremoto de oito graus na escala Richter pode ter ficado par atrás, mas juro que sinto os aftershocks até hoje. E como! É gripe, é dentinho nascendo, é virose, é assadura...tudo é motivo para uma noite mal dormida. E se não bastasse tudo isto, às vezes depois de uma choradinha básica do Joaquim (que normalmente quer mamar), não consigo voltar dormir. Aí é dose, porque no dia seguinte o trabalho me espera no mesmo bat-horário.

Esperei bastante para ser mãe e a maternidade no meu caso foi algo muito bem pensado e batalhado. Confesso que achei que estava pronta...mas só hoje percebo como estava enganada! Nada nem tempo nenhum pode preparar a gente para a revolução que é colocar um filho no mundo (ou trazê-lo para nossa vida). Só vivendo para saber...

E como hoje é Dia de Ação de Graças...agradeço a Deus, ao Blake e aos médicos por permitirem que eu pudesse cometer (ou conceber?) esta loucura linda e fofa que se chama Joaquim!

October 31, 2011

October 30, 2011

Câncer e Privilégio

Antes de qualquer coisa, digo que mais do que a maioria das pessoas, me solidarizo e muito com o nosso Presidente Lula. Sei, como poucos, e senti na pele o que é não ter nenhuma certeza ou nehuma garantia do sucesso de um tratamento difícil contra uma doença covarde e vil.

Nos últimos cinco anos já fui testemunha de muitas histórias de luta, de superação, mas também de desespero e de dor que afetaram pessoas queridas e seres humanos especiais. Por isto, não vejo câncer como castigo, ironia, punição ou coisa parecida. Também não acredito que os bons se salvam, já que alguns dos seres humanos mais iluminados que passaram pelo meu caminho já não estão por aqui.

Mas o que sempre me incomodou bastante foi perceber que mesmo diante de uma doença covarde e aparentemente democrática -- que não escolhe cor, raça, sexo, credo, classe social ou estado civil -- nem todos podemos lutar em igualdade de condições. Sem querer procurar culpados e buscar bodes expiatórios, a verdade é que nesta hora, vive que pode mais, vive quem tem mais.

Duas jovens da mesma idade tiveram a mesma doença. Uma tinha um bom plano de saúde, sendo assim, foi operada imediatamente, recebeu tratamento com rapidez, teve acesso aos melhores médicos e a hospitais de ponta. Hoje está viva, feliz e saudável. A outra não tinha plano de saúde, passou por vários hospitais, teve muita dificuldade para realizar uma mera tomografia, teve várias consultas médicas adiadas. Quando enfim conseguiu chegar ao especialista, já era tarde demais. Morreu em seis meses. No caso das duas jovens, a princípio, solução seria a mesma, mas o resultado...ah o resultado infelizmente não poderia ser mais diferente. Por quê?

Como eu conheço estas histórias? A primeira jovem era eu: 28 anos, filha mais velha de um homem chamado Francisco que tinha mais dois filhos (uma menina e um menino), carioca, católica, e cheia de planos e de vida. A segunda jovem era a Thalita: 28 anos, filha mais velha de um homem chamado Francisco que tinha mais dois filhos (uma menina e um menino), carioca, católica, e cheia de planos e de vida. Tantas semelhanças mas uma diferença enorme que pode ter custado a vida da Thalita.

Destino? Até pode ser... Cada um tem a sua hora, muita gente insiste em dizer. Gostaria de me conformar com esta ideia também, mas no fundo me dói muito saber que mesmo tendo um equalizador tão cruel como o câncer, na hora da batalha nem todos têm condições iguais.

Pouco me importa onde o Lula vai se tratar, se é no Einstein, no Sírio Libanês, em Johns Hopkins ou em Harvard. Desejo a ele muita força, fé e coragem, o mesmo que desejei e desejo aos meus melhores amigos que atravessam situação semelhante e o mesmo que pedi a Deus a cada noite durante muito tempo...

Mas além disto, desejo também que o Brasil e o mundo se tornem lugares mais justos, onde não só os privilegiados -- como o Lula ou como eu -- tenham direito a um tratamento eficaz e digno. Sem ironia nenhuma, sem nenhum desrespeito, do fundo do meu coração, gostaria, sim, de que todos os pacientes que hoje se tratam no SUS tivessem as mesmas chances que o presidente e que eu tivemos.

October 24, 2011

Coisas que eu não sabia

Todo mundo fala que a maternidade vem carregada de muitas coisas: responsabilidade, falta de tempo, caos e, obviamente, muita felicidade. Disto eu já sabia. O que nunca tinha me passado pela cabeça é que com a maternidade viria uma coisa esquisita, algo que se assemelha a um regra tácita de que qualquer um passa a ter direito a dar pitaco na sua vida, em nome do bem estar da sua família, da harmonia do casal, do futuro do seu filho, ou o que seja. Todo mundo agora -- inclusive as pessoas que jamais levantaram um dedo para te ajudar em absolutamente nada -- se acha no direito de interferir na sua vida!

Todo mundo se queixa das pessoas entronas que do nada se sentem à vontade para colocar a mão em barriga de grávida no meio da rua. Mas nunca tinham me prevenido a respeito dos sabes-tudo que iam brotar de todos os lados, cinco minutos depois da gente ter colocado um serzinho no mundo. Ah e como eles têm conselhos para dar, regrinhas para contar e opiniões para partilhar! E sobre tudo: o nome que você escolheu para a criança, a comida que você oferece, a marca de fralda que você usa...e por aí vai. Sem falar nos prazos: com tantos meses já deveria estar dormindo a noite toda, com tantos meses já deveria estar andando, falando e até recitando Shakespeare, se bobear... Claro que uns tópicos são bem mais populares que outros.

As mães que ficam em casa dão um duro danado, mas vão me desculpar, pois quando o assunto é ouvir conselhos alheios, mãe que trabalha sofre mais, com certeza! Querer ter carreira para muita gente é um sacrilégio. Como assim, você não vai abrir mão da sua vida profissional? Quem vai criar seu filho? Você vai largá-lo se precisar fazer uma viagem de trabalho? Louca! E não para por aí...

Só que na minha cabeça, uma coisa não exclui a outra. Qual o problema de querer avançar profissionalmente mesmo depois de ter dado a luz? Só porque virei mãe agora vou ter que fazer crochet? Tudo bem para quem gosta, mas ser a dona de casa perfeita nunca foi minha aspiração, meu ideal. E aí? Sempre quis ser uma boa mãe, e me esforço para dar o melhor de mim o tempo todo, mas abrir mão do meu trabalho nunca fez parte do trato. É por isto que abri e abro mão de muitos (quase todos) momentos de lazer ou de descanso, para me dedicar ao meu filho. Mas além disto, quero contribuir para que ele tenha um futuro melhor, para que ele frequente boas escolas, possa realizar atividades extracurriculares (se quiser), viajar e tornar-se um ser humano pensante e feliz. Meu salário entra nas despesas da casa, sim, afinal vivo no século XXI! Mas acho que ao sair de casa para trabalhar, me torno uma pessoa mais arejada, mais realizada, mais feliz.

Também existe uma outra questão igualmente importante: estaria mentindo se não dissesse que, no futuro quando tiver discernimento para tal, quero que meu filho tenha orgulho de mim. Espero que para ele o meu exemplo de vida, de trabalho duro mas gratificante seja mais importante do que quitutes gostosos ou uma casa impecável. Espero também que, como homem, em vez de criticá-las, o Joaquim saiba enxergar o valor e respeitar as mulheres que apesar de tantos obstáculos optam por tentar equilibrar uma carreira bem sucedida e uma família bem estruturada.

E sobre os conselhos alheios, como diz o velho ditado, se conselho fosse bom não era dado, era vendido! E assim vamos seguindo em frente...

Martha Stewart...

Page 2: Martha Stewart's Daughter Writes About Perfectionist Mother Who Made Home Life Hell - ABC News

Depois de ver esta reportagem estou me achando a dona de casa perfeita... hahahaha

October 17, 2011

Breast Pump ou Bomba de Tirar Leite


A pedido da Bruna, aqui vai a informação sobre o site once comprei a minha Medela Feeestyle, que foi realmente a salvação da lavoura para mim.

Depois de pesquisar muito, encontrei este site e a Christy foi superlegal comigo me explicando as diferenças entre os vários modelos e ainda me oferencedo o melhor preço, que na época custou $100 a menos do que na maioria das lojas.

Futuras mamães que estão pensando em amamentar, principlamente depois de voltar ao trabalho, fica minha recomedação -- tanto de produto quanto de fornecedor.

October 6, 2011

Morte Anunciada

A pior coisa que o câncer pode trazer a qualquer um é a iminência da morte. Tudo bem que a única coisa de que se pode ter certeza é a própria morte, mas saber que ela está ali de espreita, prestes a acontecer é terrivelmente aterrorizante. E poucas doenças trazem isto tão a tona quanto o câncer.

Não consigo imaginar nada mais triste na vida do que saber que todas as opções viáveis de tratamento estão esgotadas. Um tratamento após o outro, uma promessa seguida de outra que jamais se materializa. Uma esperança que desbota seguida de outra que nem chega a surgir. Sensação de impotência sem fim. Saber que nada que possa ser feito depende de nós e que nada e nem ninguém pode nos salvar da nossa sentença.Dor mais profunda não há.

Como a grande maioria das pessoas, fiquei muito abalada com a morte de Steve Jobs. Fiquei triste mesmo, pois por mais cliché que possa parecer, a humanidade realmente perdeu um visionário, um gênio, um mágico. E é verdade que hoje o mundo se torna um pouco mais chato, mais medíocre, mais sem graça, pois gênios nos inspiram, nos motivam e nos desafiam a cada instante. E Jobs era tudo isto. Não sou o que se chama de "MacManiac", mas sempre o admirei muito por tudo que ele construiu, por estar tão a frente de tudo e de todos.

Ontem, como muita gente, voltei a ver o discurso dele durante a formatura dos alunos de Stanford, em 2005. Me cortou o coração ouvi-lo dizer "tive câncer mas agora estou bem." E é claro que naquele momento ele estava. E é claro que para a medicina, Steve Jobs é uma história de sucesso, pois alcançou os cinco anos de sobrevida -- ainda mais quando se trata de câncer no pâncreas.

Por outro lado, para mim é um tanto quanto apavorante pensar que nestes casos o "sucesso" é a marca dos cinco anos, o que me parece tão pouco. E a vida? Bom, depois da doença, de acordo com os médicos, o que nos resta é a sobrevida...e, de acordo com os mesmos médicos, se são só cinco anos que lhe restam, dê-se por feliz, a grande maioria dos seus pares precisa se contentar com meses!

Mas as lições aprendidas por Jobs foram muitas e, como muita gente, acho que esta ideia incômoda de ter a morte como companheira de viagem fez de Steve Jobs um ser ainda mais genial. Por ter certeza que seu tempo aqui era tão finito, ele realmente aproveitou-o da melhor forma possível e fez o que amava até o final. E isto requer coragem e fibra.

Para mim, nem o iPhone, nem o iPad podem ser considerados o maior legado de Jobs, mas a paixão e a urgência de viver a vida e produzir ao máximo. Assim como disse Jobs, a cada dia que acordo me pergunto se faria o que estou prestes a fazer se este fosse o último dia da minha vida. E se respondo não muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa.


"Remebering that you are going to die is the best way I know to avoid the trap of thinking you have something to lose."

"Lembrar que você vai morrer é a melhor forma que conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder."

Steve Jobs, 2005.

September 29, 2011

Joaquim e o Gato

Aleitamento & Julgamento

Outro dia, conversando com uma amiga minha que está grávida, ela perguntou quanto tempo tinha amamentado o Joaquim. Respondi "Sete meses." Ela disparou na mesma hora: "Só?! É pouco, né?!"

Como ela ainda está grávida do primeiro filho, dei um desconto e respondi. "Só?! Depois que sua filhota nascer, você me conta! Para mim, amamentar foi um sacrifício, um perrengue mesmo."

Não sou do tipo que gosta de dourar a pílula. Quem me conhece sabe que não sou de inventar nem de florear coisa nenhuma. Também não pinto o diabo mais feio do que ele é, sou muito realista. Quem acompanha o blog há algum tempo sabe que o Joaquim não foi um bebê dos mais fáceis. Muita gente vai lembrar que ele era ao mesmo tempo faminto e intolerante à lactose, então chorava, ou melhor, urrava, praticamente 24 horas por dia. Metade do tempo ele chorava de fome e a outra metade chorava por conta de cólica e refluxo.

Infelizmente para mim e contrariando todas as minhas expectativas e sonhos, a maioria das mamadas -- principalmente quando ele estave desperto -- não lembrava nem de longe os comerciais de TV ou cenas de novela, estando mais para cenas de O Exorcista! Sem exagero. Ele urrava e se debatia todo, arqueando o corpo e berrando de dor e frustrando qualquer tentativa minha de acalmá-lo. Ainda não sei como não entrei em depressão pós-parto, na época. Deve ser porque não tenho mesmo tendência!

Depois dos primeiros quatro meses, os episódios de filme de terror foram melhorando, mas quando ele rejeitava o peito, não tinha santo que o fizesse mudar de ideia. Durante sete meses, após as mamadas ou mesmo quando o Joaquim se recusava a pegar o peito, me voltada para minha bomba, que neste tempo se tornou minha mais inseparável amiga. E cá entre nós, só quem passou por isto sabe que é um saco ter que sair da sala a cada três horas e se conectar a tubos, conchas e mamadeiras por meia-hora todo dia! E ter que encaixar tudo isto num dia lotado de trabalho, tendo que sair da sala, pegar elevador para chegar até a sala de descanso. Também tentava amamentar na minha sala, mas volta e meia um batia na porta e eu tinha que gritar "Não posso agora, me liga depois!" Convenhamos, situação não das mais agradáveis... Mas, enfim, todo sacrifício para que o filhote da gente tenha acesso a leite materno é válido.

E foi assim, aos trancos e barrancos, que amaneitei o Joaquim até os sete meses e foi assim também, tirando leite e congelando, que ele teve acesso a leite materno até os nove meses. Então não venha me dizer que "só?!"

Sei de mães que amamentaram os filhos até os cinco anos e sei de mães que jamais ofereceram o peito aos filhos. Sei de mães que tiveram a maior facilidade para amamentar e sei de outras que tentaram tudo mas não tiveram sucesso algum. (Eu mesma solicitei os serviços de QUATRO consultoras de amamentação) Mas a imensa maioria das mães que conheço fica no meio do caminho.

Acho que a maternidade já vem carregada de tanta responsabilidade -- e de certa forma de tanta culpa -- que é covardia submeter qualquer mãe a julgamento de terceiros. Então da próxima vez que estiver conversando com uma mãe, especialmente de primeira viagem, é bom ter bastante cuidado com as palavras.

Leite materno ou fórmula/leite em pó, fralda descartável ou de pano, creche, babá ou abrir mão da carreira para ficar em casa com os filhos...são tantas as decisões e para a maior parte delas não há certo ou errrado, há o que funciona e o que é possível para cada uma de nós. Há também os motivos por trás das escolhas de cada uma. Volta e meia fico bem cansada de tantos experts, tantas opiniões, tantas "dicas" e tantos jugalmentos. Sinceramente, acho que tem gente que seria mais útil tomando conta da própria vida.

September 24, 2011

Dr. Oz Show


Could your favorite foods be causing liver cancer? Dr. Oz discussess the risk factors for liver cancer, such as chronic alcohol consumption, as well ...


O programa foi ao ar na terça, dia 20, e finalmente consegui o seguimento do qual participei. Falo bem rapidamente sobre alguns (poucos) sintomas e sobre a descoberta do diagnóstico.

É só clicar na imagem para ver o meu depoimento!

September 19, 2011

Dr. Oz de novo

Como o programa que gravei vai ao ar amanhã, já vou avisando que literamente terei "cinco segundos de fama" que resultaram de uma entrevista de 45 minutos. E como tenho certeza de que o script já estava escrito, a edição foi um primor!

Para começar o título do programa é pra lá de sensacionalista: Stop the Fastest Growing Cancers Inside of You Before It Is Too Late. Acho que eles realmente deveriam estar desesperados porque o câncer que tive foi de crescimento muito lento e não tive NENHUM dos sintomas, o que é relativamente comum. Como já cansei de explicar, no caso do câncer de fígado, infelizmente quando os sintomas aparecem, normalmalmente já é tarde demais.

Mas como nestes programas, o que você diz não tem absolutamente nenhuma importância, lá estava eu, num cenário super noir, com uma música de filme de terror, contando uma história "horripilante!" Para falar a verdade, é até meio cômico, meio pastelão mesmo... Por algum motivo minha fisionomia estava bem pálida e ainda colocaram uma cena de uma mulher (supostamente parecida comigo) olhando uma tempestade através de uma janela. Ai que horror! Ah, e o tomor que tirei em 2008 ainda faz uma participação especial! Está lá ele, brilhante e vermelhinho na angio-tomografia!

Além disso, o câncer de fígado sempre é o grande injustiçado dos cânceres. Como tem muita semelhança com o câncer de pâncreas -- ausência de sintomas até estágio avançado, gravidade da doença, etc -- tudo que falei sobre câncer de fígado foi usando no seguimento sobre câncer de pâncreas, afinal depois da morte do Patrick Swayze e com a doença do Steve Job, este tipo de câncer é bem mais high profile. Sem contar no Randy Pausch. Enfim, longe de mim banalizar uma doença tão terrível, mas o câncer de fígado não fica muito atrás... E no caso específico do tumor que eu tive, a esperança de que haja testes clínicos é nula. O tipo é tão raro que jamais seria possível recrutar número suficiente de pacientes. Então a única esperança está com Ele lá em cima, que jamais me abandona.

Mas voltando à gravação do programa que vai ao ar amanhã, o que me deixou mais chateada é a ideia de que este tipo de câncer é 100 porcento evitável. Não é. Quando listaram os fatores de risco: obesidade, consumo exagerado de álcool, uso de anabolizantes, hepatite C...nada se encaixava ao meu caso. Já perguntei a zilhões de médicos se havia algo que poderia ter feito diferente... A resposta é a mesma: para este caso de tumor não! Para outros tipos, sim, já que muitos são resultado de cirrose hepática e hepatite C, doenças que nunca tive.

Sou completamente a favor de educar a população e mostrar a importância de uma alimentação saudável e balanceada, mas sou contra distorcer os fatos. Quando o Dr. Oz diz que com uma dieta saudável vamos erradicar o câncer de fígado do planeta em 10 anos, me sinto incomodada. Gostaria muito de que esta afirmação fosse verdadeira. Infelizmente não é.

September 14, 2011

Garoto Grande




Há alguns meses, nossa casa vive um período de transição: guardamos os brinquedos e aparatos de bebê e agora nos preparamos para enfrentar a fúria de um serzinho curioso que engatinha mais rápido do que ninguém e cisma de ficar em pé o tempo todo. Joaquim está quase andando! Sendo assim, tampamos todas as tomadas, encapamos todas as quinas da casa, instalamos portõezinhos perto das escadas...e sabemos que isto tudo é só o início!

Mas ele também é supersocial e adora uma badalação. Como ama comer, restaurantes são sempre interessantes. Mas uma coisa me incomodava muito: as tais cadeirinhas de bebê. Todas me parecem sujas, nojentas. Antes que me acusem de germofóbica, vou logo dizendo que não sou! Também não tenho mania de limpeza, mas há certas coisas que me causam mal estar -- cadeirinha de bebê de restaurante está entre elas. Assim como carrinho de supermercado.

Como aqui nos EUA tem sempre alguém que pensou numa solução para um problema que você sequer pensava existir, comprei um forro para carrinhos e cadeirinhas e uma amiga me enviou de presente uma cadeirinha portátil, superprática e útil. E melhor: Joaquim adora porque fica literalmente sentado à mesa com a gente. A nossa é da marca Inglesina, que tem ótimas referências na Amazon e realmente nos quebra um galho. Deixamos normalmente no carro do Blake. No meu carro, usamos a capa/forro que tem lugar até para prender brinquedinhos.

Além disso, como bebê adora comer tudo da mesa, compramos um joguinho americano (que tem ventanas) que você pode prender na mesa do restaurante. Assim o bebê tem um ambiente limpo para comer e/ou brincar.

Enfim, ao que parece meu fofinho está crescendo...com quase 10 kg e prestes a dar os primeiros passinhos sozinho. Cada dia mais independente. E eu, como boa mãe de primeira viagem, vou aos poucos tentando me adaptar a cada uma destas deliciosas fases!

September 11, 2011

Lembranças de Nova York pré-9/11

Sempre que vou a Manhattan me pego olhando o horizonte e sem querer busco as duas Torres que sempre me guiavam pela cidade. Durante os cinco anos que morei em Nova York, sempre viiv no West Village, bairro que fica abaixo da Rua 14. Como não tenho nenhum senso de direção, milhares de vezes, me perdi nas primeiras semanas na NYU. Dei zilhões de voltas no campus da universidade que se espalha por diversas ruas do Greenwich Village.

Americano adora usar os pontos cardinais para se localizar, ao passo que a maior parte do brasileiros -- eu!!! -- prefere os comandos "em frente, vire à direita e depois e esquerda." Então toda vez que pedia informação na rua, ficava mais perdida ainda com as respostas. Até que um amigo me fez ver a luz! "Dani, se localizar aqui é a coisa mais fácil do mundo. Olhe para o horizonte e procure as Torres Gêmeas; elas são sempre o seu sul...o resto você deduz!" E dali para frente nunca mais me perdi.

Daquele dia em diante, as Torres passaram a ser minha bússola. A qualquer hora do dia ou da noite, elas estavam sempre lá! Lembro que a minha mãe tinha medo de visitar o local. "Alvo certo de terrorismo!," ela dizia, mas eu ria e respondia que eles já tinham tentado em 1993 (quando eu morava na Virginia) e que raio não cairia duas vezes no mesmo lugar. Só que eu estava errada.

Trabalhei um tempo em downtown, mais precisamente em Water Street e vivia no shopping que ficava embaixo das Torres. Almoçava com os amigos, fazia comprinhas básicas, olhava as vitrines. É difícil imaginar aquilo tudo destruído. Tive que conferir com meus próprios olhos. Estava de viagem marcada para Nova York dias depois -- obviamente o voo foi cancelado -- mas acabei chegando lá no início de outubro.

Ao voltar ao meu apartamento, os vizinhos me abraçavam e cada um me contava com detalhes a tragédia. Muitos pensavam em se mudar. Outros estavam determinados a ficar. O cenário era de guerra e o cheiro, um cheiro ainda fortíssimo de metal queimado, tomava conta de toda parte sul da cidade. Pelas ruas, cartazes de famílias desesperadas em busca de notícias de entes queridos, lacos de todas as cores...Uma cidade bem diferente da que eu tinha deixado para trás apenas meses antes.

September 9, 2011

Nove Meses...

Esta semana foi intensa...voltamos para Nova York para a gravação do programa do Dr. Oz e pegamos a estrada no maior temporal que arrasou a costa leste do país, graças a tempestade Lee. Graças a Deus o Santo Blake estava no volante, mas até ele ficou estressado no final -- nunca vi tanta chuva! E fora que sair de Manhattan pelo Lincoln Tunnel às 6.30 da tarde...não dá! Mas prometo que voto semana que vem com mais calma e conto tudinho sobre os bastidores de um dos mais famosos daytime talk shows da TV americana... Uma experiência bem diferente. Hoje vou correndo para casa celebrar os nove meses do Joaquim, que está superbem e só nos traz felicidade...

September 2, 2011

Dr. Oz Show


Hoje, por algum motivo, a frase antiga que o colunista Ibrahim Sued usava muito me veio à cabeça "Os cães ladram e a caravana passa..." E como passa e atualmente, o ritmo da caravana anda bem acelerado. Graças a Deus!

Ontem finalmente consegui chegar a Nova York! Peguei um trem mais cedo que o previsto -- seguro morreu de velho! -- e acabei chegando na cidade bem antes do combinado. Quando contactei o produtor do Dr. Oz Show, ele me perguntou; "Quer que eu mande te apanhar logo ou prefere dar uma volta por NY e chegar aqui em torno das três da tarde?" Advinhem a minha resposta?

Na mesmo hora, peguei o celular e liguei para a Isabel, que foi minha companheira inseparável nos cinco anos na cidade. "Está fazendo o que hoje no almoço?" foi a minha pergunta. E uma hora depois estávamos lá na Little Brazil, como nos velhos tempos... Saudade! O legal da amizade verdadeira é que você pode até não ver o amigo tanto quanto gostaria, mas quando encontra é como se o tempo não tivesse passado. É cliché mas é verdade!

A gravação do depoimento para o programa foi bem bacana também. Tudo muito louco: praticamente metade do dia no trem, 30/35 minutos de entrevista que vão virar um clip de 30 segundos! Então se for assistir o programa (quando souber, digo a data!), não vá ao banheiro nem levante para beber água, pois corre o risco de você perder meus 30 segundos de fama.

A equipe do programa é muito legal e a clima de gravação me fez lembrar os anos que passei em Nova York. Até porque fui estagiária do Nightly News, que fica no mesmo prédio, durante meu mestrado na NYU. Achei interessante o tema do programa que é dar uma voz -- e uma face -- a doenças tão perigosas e silenciosas. Além do câncer de fígado, o programa vai ter depoimentos de pessoas que tiveram câncer de esôfago, pâncreas, cérebro e melanoma. Bom saber que tem gente viva contando suas histórias. Meio estranho saber que fui a única pessoa que eles encontraram para falar sobre câncer no fígado...

Por coincidência, tinha comprado uma blusa verde -- cor que uso muito pouco! -- e resolvi usar ontem. Verde é a cor do lacinho da campanha do câncer de fígado. Foi bacana poder dar voz a tantas outras pessoas, foi uma coisa que sempre quis fazer e uma oportunidade que surgiu absolutamente do nada! É claro que agarrei com unhas e dentes, como agarro cada chance que aparece no meu caminho.

A entrevista, que pensei que fosse tirar de letra (afinal todo mundo e o cachorro já conhecem a minha história), acabou me surpreendendo. Não como será a edição do relato, mas quando a produtora me pediu para falar sobre como eu tinha recebido a notícia, engasguei. Fazia tempo que não contava esta história para ninguém. Reviver aqueles momentos foi muito mais difícil do que eu imaginava. Acho que coisas assim jamais se apagam da nossa memória. Mas a produtora logo emendou com um "And look at you now!" que me fez sorrir e falar de esperança, fé e da vontade de seguir em frente e continuar a minha vida. Ufa!

E assim foi a minha primeira aventura em rede nacional. Primeira vez na TV americana! O depoimento vai ao ar no programa que será gravado na quarta, dia 7 de setembro. A equipe do Dr. Oz me convidou para voltar e fazer parte da plateia no dia da gravação, mas ainda não resolvemos se vamos...a viagem de ida e volta é cansativa para fazer em um dia só.

August 29, 2011

Férias Frustradas...

Na verdade não eram férias, mas qualquer ida a Nova York para mim é melhor do que férias. Adoro a cidade, que me recebeu superbem e foi minha casa durante cinco anos muito felizes, então apesar do tempo e da distância, DC que me desculpe, mas sou New Yorker de coração! Sempre!

Mas a Irene acabou com a festa, pelo menos hoje. Apesar de não termos ficado sem luz depois do furacão, os trilhos do Amtrak ficaram fechados entre Philadelphia e Hartford, CT. Então apesar de muito esforço de todas as partes envolvidas, que tentaram me encaixar em todos os trens, aviões e carros disponíveis, acabei ficando por aqui.

A viagem e as novidades devem ficar para o fim da semana... Fiquem na torcida!

August 25, 2011

Terremotos, furacões...nada se compara a um dia passado em Hopkins

Esta semana foi punk. Se disser que o terremoto que me fez achar que estava a bordo de um navio de cruzeiro em pleno oitavo andar de um prédio comercial em Silver Spring, MD, foi a coisa que menos me abalou, não estarei mentindo.

Segunda-feira foi dia de Hopkins, o que quer dizer que não dormi no domingo, como de praxe. A rotina a gente já tem de cor: sair de casa com bastante tempo, tentar fazer o exame de sangue, subir para fazer a ressonância e aguardar a consulta médica no fim do dia. Só que é claro que nada sai do jeito que a gente planeja.

Não importa o quão cedo sairmos de casa, a demora para a coleta de sangue é sempre tão absurda que temos que ir correndo para a sala de ressonância e voltar para o sangue depois. Normalmente, não me importa muito porque o médico dá muito mais importância às imagens. Então pensei que este troca-troca seria inofensivo. Só que desta vez estava enganada.

Como a espera em Hopkins é quase sempre absurda, meu médico -- depois de ouvir minha súplicas -- agora sempre manda um residente/enfermeira para me dar os resultados preliminares.

Digo para o Blake que o meu dia em Hopkins é uma pequena prévia do juízo final. Sento lá e fico aguardando a minha sentença quando Deus chegar. Só que ao contrário do juízo final, não tenho contas a prestar e meu destido está completamente fora do meu controle. Então só me resta esperar e rezar...e muito! E tuitar também, é claro! Pois nestas horas de solidão extrema é bom saber que tem gente por todo lado torcendo por nós.

Só que ao contrário do que acontece normalmente, quando a tortura acaba quando o médico entra na sala e mé dá os bons resultados, na segunda foi diferente. Quando já estávamos prontos para celebrar as boas imagens que acusavam "ausência de malignidade", o médico avisou num tom um tanto quanto sóbrio. "Agora vamos aguardar o resultado do exame de sangue." Hum? Como assim cara-pálida? As imagens estão ótimas! "Como você deve lembrar da última vez seus marcadores tumorais estavam elevados. Não deve ser nada. Esta flutação muitas vezes é normal, mas se este nível não cair, vamos ter que fazer mais exames, uma ressonância de torax," ele sentenciou.

Meu mundo, ou melhor, o nosso mundo, pois o coitado do Blake sempre está ao meu lado, caiu. E num segundo fomos da euforia absurda ao quase-desespero total. Um buraco se abriu no meu peito, ainda que momentaneamente. E tantas dúvidas voltaram a me assombrar.

O médico percebeu na hora nosso mudança de atitude. "Acho que vai ficar tudo bem," tentou nos animar, "mas a gente tem que ficar de olho," disse com um sorriso sem graça. "A gente te liga amanhã de manhã."

E aí? Quem vai dormir com um barulho destes? Outra noite em claro, e muitas, muitas orações. Ligo para os meus pais e eles também se preocupam, apesar de tentar esconder para me poupar. Mas claro que meu pai liga para o Dr. Joaquim que diz que a tal alteração deve ter relação com a gravidez/aleitamento. Ficamos mais tranquilos. Aliás, o bom médico é aquele que tem o dom de ser cuidadoso mas “cautiously optimistic” como dizem aqui. E o Dr. Joaquim sempre foi assim, muito franco, mas cautelosamente otimista. Ficamos mais tranquilos, mas acho que até o Dr. Joaquim deve ter ficado um pouquinho tenso com a situação.

No dia seguinte, nada da resultado, nada de ligação! Liguei ansiosa, mas nada da enfermeira. Só eu sei como fiquei trancada numa sala em reunião. Assim que meu telefone tocou, saí desesperada e sem fôlego, quando a enfermeira disse: “Seus resutlados estão perfeitos. O nível caiu para 3 – normal é entre 1 e 10. Isto é excelente!” Engasguei e mal consegui conter o choro ao telefone. Ela percebeu e disse, “Uma ótima semana para você. Fique bem! Que bom que pude te dar esta notícia!”

Liguei para minha mãe, que já tinha me ligado antes para dar a notícia. Ela fica feliz mas me diz que recebeu uma ligação do médico pedindo que ela comparecesse ao consultório com urgência: um exame de sangue acusave um número baixíssimo de plaquetas: suspeita de dengue hemorrágica. Do consultório, ela foi direto par aa emergência fazer mais uma bateria de exames. Mais stress....

Então o terremoto acontece, justo na hora que eu estva voltando da rua com meu almoço e senti tudo tremer, assim que entrei no escritório! Vi na hora que era terremoto. Acreditem, terremoto é como contração/trabalho de parto. Você pode nunca pode ter passado pela experiência mas sabe o que é na hora!

Mas entre tantos perrengues, o dia acabou bem – todo mundo a salvo e casa, graças a Deus. Agora é esperar pela Irene e rezar para ela mudar de ideia e enfraquecer quando chegar por aqui... De qualquer maneira já quero comprar umas barrinhas de cereal, água e frutas. Só para garantir... Ah, e logo mais tenho mais novidades para contar! Ufa!

Esta semana, com certeza, estou me sentindo no meio de um filme de ação...

August 21, 2011

Primeiros Passos...

Joaquim começou a engatinhar no Brasil. De um dia para o outro, finalmente conseguiu coordenar o movimento dos braços e das pernas e em poucos dias já engatinhava para todo lado. Tratamos logo de comprar o cercadinho, playard ou, como chamamos carinhosamente aqui em casa, baby jail.

Compramos um dos maiores modelo do mercado porque o Blake insistiu para que o Joaquim tivesse espaço, o que excluiu o nosso já conhecido pack 'n play que funciona superbem como bercinho portável -- usamos no Brasil! -- mas como playard não rola. Então junto com o Exersaucer , mantém o Joaquim seguro e ocupado.

Hoje, depois de uma tarde inteira no shopping, soltamos nosso bebê no chão, assim que chegamos em casa. E qual não foi a nossa surpresa quando vimos o nosso pequeno se apoiar no puff para se levantar. E não é que ele se levantou sozinho? Não uma, mas várias vezes e ainda ensaiou uns passinhos segurando nos móveis... Ai, ai, ai...é agora que a minha coluna vai se acabar mesmo!

Tudo indica que estamos entrando numa nova fase com o Joaquim, que aliás já "passou de ano" na creche e na próxima segunda, passa para o outro lado da sala, onde ficam as crianças "móveis". Só que como ele é determinado, decidiu que não ia esperar coisa nenhuma e já vai para o outro lado da sala sozinho!

Esta fase realmente é uma delícia e agradeço a Deus a cada momento por poder vivenciar isto... E como amanhã é Dia de Hopkins, fico ainda mais sensível e tudo tem um sabor muito especial para mim. Então, mais uma vez, peço a vocês todos que se tiverem um momento, dediquem uma prece ou um pensamento positivo para mim...

August 15, 2011

Reynaldo Gianecchini

Fiquei triste ao saber da doença do ator semana passada. Sei que, ao contrário do que muita gente pensa, a batalha vai ser árdua e que nestas horas fama, beleza, popularidade não adiantam praticamente nada. Dinheiro adianta alguma coisa, mas conheço gente que era podre de rica e junto com eles descobri que o dinheiro pode comprar muita coisa, mas a cura infelizmente fica fora do alcance.

O que pude constatar não só com a minha experiência, mas com a experiência de vários amigos queridos é que se tratando desta doença terrível nunca há certezas. Aquelas bobagens que a gente vive escutando que "fulano perdeu a luta quando perdeu a esperança", ou que "se ele tivesse um pouco mais de fé, o resultado seria diferente," só servem para machucar tanto o paciente quanto quem fica. Algumas das pessoas mais corajosas, positivas e bondosas que já conhecei na minha vida não estão mais aqui e não foi por falta de vontade. Muito pelo contrário, lutaram muito, lutaram bravamente e tiveram uma dignidade absurda até o final.

Desejo ao Gianecchini o que desejo a cada um que enfrenta esta doença: força e fé. A parada é dura, mas não impossível. O mais difícil é não enlouquecer. Pouco me importa o que este povo fala quando dizem que "tiraram de letra" o tratamento. Não sei o que se passa na cabeça deles, mas pelo que me lembro, é difícil pacas. Não só a parte física, mas a mental. Com tantas incertezas é muito difícil manter a cabeça no lugar. No meu caso, acho que a fé ajudou bastante.

August 11, 2011

Ser mãe é...



Cresci escutando a velha frase que diz que "ser mãe é padacer no paraíso", mas nunca entendi muito bem o sentido dela. Desconfio que tem a ver com os tantos dilemas e as nuances complexas do papel de mãe.

Hoje, vindo para o trabalho, escutei no rádio os resultados de uma pesquisa realizada pela revista Parenting. Os locutores estavam revoltados com o fato de que várias das 26 mil mães entrevistaas confessaram preferir perder 15 libras (ou quase 7 kg) a acrescentar 15 pontos ao QI de seus filhos. "Como pode alguém ser tão egoísta?," eles se perguntavam com indignação. Outras confissões incluiam mães que usavam o trabalho como desculpa para não cuidar de seus filhos ou filhos como desculpas para se livrar de obrigações sociais.

Falando francamente, acho muitas das "confissões" bem normais. A única que me tira do sério é saber que existem pais/mães que medicam os filhos antes de algum evento significativo (viagem de avião ou festa) sem nenhum motivo real, apenas para que eles durmam/fiquem quietos. Quando tem remédio em jogo, acho que a coisa fica mais séria. Há vários meses, o Joaquim vem sofrendo bastante por conta dos benditos dentinhos, que só recentemente começaram a dar sinal de vida, e confesso que um par de vezes apelamos para o Tylenol. Não para que ele ficasse quieto, mas sinceramente porque o incômodo dele nos parecia insuportável e não existe motivo para tanto spfrimento quando há alternativas.

Quanto a acrescentar 15 pontos ao QI do filho, também tenho minhas dúvidas, pois não acredito que QI altíssimo seja garantia de felicidade ou de sucesso na vida, muito pelo contrário. Assim como não acredito que beleza ou riqueza extremas sejam sinônimo de nirvana. Canso de dizer que quero que o Joaquim seja inteligente o suficiente, bonito o suficiente e nada mais. Só o caráter...este tem que ser pra lá de bom. As pessoas mais felizes e realizadas que eu conheço não são necessariamente as mais inteligentes e belas e nem todos os gênios ou apolos que cruzaram meu caminho são iluminados. Sendo assim, a não ser que estes 15 pontos fossem realmente cruciais para o Joaquim (se ele tivesse inteligência abaixo da média), acho que também não fariam muita falta.

O fato é que oito meses se passaram desde que assumi este papel para o qual -- já me conformei -- jamais vou estar preparada. Entendo muito bem as outras mães quando elas se dizem exaustas -- física e mentalmente -- com tantas demandas por conta de seus múltiplos papéis. Só tenho um filho, é verdade, mas tenho uma casa, um marido (que me ajuda muito, é verdade) e uma carreira (que apesar de não ser das mais estressantes, ainda exige bastante de mim.) Aos poucos faço alguns ajustes, me esforço muito, mas sempre ciente das minhas limitações, afinal sou humana. Sou humana e não sou despida de egoísmo e de falhas, mas me aceito assim, ou ao menos procuro ao máximo me aceitar.

Acho que uma das minhas qualidades é pensar a longo prazo e enxergar o todo sem me ater muito aos detalhes (às vezes sem importância) e é por isto que ainda luto para preservar algo de meu, da minha individualidade nesta nova função que ocupo. Entendo que no longo prazo o Joaquim também vai ganhar com isto. Vai ganhar entendimento e respeito por mulheres que vivem fazendo malabarismos para equilibrar família e carreira, o tempo todo.

August 8, 2011

De Volta



Este post é só par aavisar aos navegantes (se ainda restou algum!) que este blog não está totalmente à deriva. Sim, anda meio abandonado -- a vida virtual sofre quando a real esquenta -- mas em breve prometo dar notícias.

Nossa temporada no Brasil foi maravilhosa e teve direito a aniversários, batizado e casamento...coisa bem novela das oito, menos o drama, graças a Deus. Joaquim já mostrou que puxou a mãe e que gosta mesmo de viajar e nem se importa com a duração do voo. (Pelo jeito, os 10 voos de teco-teco em Honduras valeram a pena!)

Mas agora, é voltar ao trabalho porque a vida é dura... A temporada de água de coco fresquinha na Praia da Barra é finita! Então vamos voltar às caixinhas longa-vida em Maryland e dar graças a Deus pelas ótimas férias e começar a contagem regressiva para o Natal!

July 12, 2011

Chuck wood at the cat?



Ontem meu chefe me mandou um email perguntando se eu conhecia esta cantiga infantil. Imagina?! Um amigo dele, inglês que está morando no Brasil, mandou este mesmo link para ele.

A tradução em inglês? Chuck wood at the cat...

É a Galinha Pintadinha ganhando o mundo...quem diria?

July 8, 2011

Preparativos


Este ano completo 19 anos de vida Brasil-EUA, ou seja, tenho quase 20 anos de carreira de mula profissional. O tempo passa, as coisas mudam e só uma coisa permanece a mesma: o volume da minha bagagem. É uma coisa fenomenal! Ainda não tem estudos científicos que comprovem, mas eu digo sempre, brasileiro é o povo mais muambeiro do mundo! Ao que parece até a famosa revista Time se rendeu aos nossos gordos reais. E vamos combinara que seis bilhões de dólares é coisa para caramba, ainda mais numa país em crise!

Mas não preciso que a Time me diga isto, que brasileiro é comprador compulsivo até o lixeiro da minha rua sabe, pois o número de caixas vazias que reciclamos perto de viagens é um absurdo. Quando temos visita em casa também. Durante algumas semanas, o volume de lixo aumenta assustadoramente, afinal as caixas da Amazon e as sacolas de todas as lojas das redondezas têm que ir para algum lugar!

Aliás, a Amazon para mim foi a melhor e a pior das invenções. Não vou negar que tornou a minha vida mais fácil, pois não tenho que ir a zilhões de lojas atrás das encomendas mais esdrúxulas, mas em compensação, o povo se anima fazendo comprinhas online e extrapola. Compram um monte de coisas "bem pequenininhas" que acabam sendo maiores do que a minha mala! E haja mágica para fazer o zíper fechar. Amassa, senta, empurra, pula...afinal tem que caber tudinho na minha pequena mala de 32 kg!

Bom, vamos ver no que vai dar...O Blake que me aguarde. Acho que ele já está até tendo pesadelos por conta de tanta bagagem. Ontem mesmo ele dizia "A única vez na vida que eu pedi para a gente não levar muita coisa! Além das nossas bagagens temos que levar tudo para o Joaquim!" Um dia ele acostuma.

July 6, 2011

Música para os pequenos

Claro que como toda mãe desesperada, tentei me munir de tudo e qualquer coisa para acalmar o Joaquim. Músicas, vídeos, livrinhos e tudo mais. No desespero de noites e mais noites sem dormir com o Ipod em shuffle, até guia de meditação entrou na dança. Não sei bem se o Joaquim seguiu os conselhos da voz serena que pedia que ele fechasse os olhos e se imaginasse numa praia deserta pisando na areia fofinha e sentindo a brisa acariciar seu rosto, mas eu tentei! Às vezes ele dormia, às vezes ele berrava mais alto ainda.

Num daqueles rompantes de desespero, resolvi colocar uma ópera, um bom Pavarotti, no volume mais alto para que eu simplesmente não conseguisse mais escutar o choro estridente do meu bebê. Sim, pois os bebês alheios choramingam, reclamam, mas o meu BERRA, URRA, pior do que qualquer sirene de ambulância. Coisa ensurdecedora! Mas voltando para o Pavarotti, já desesperada, coloquei minha ária favorita e comecei a cantar, ou melhor, a berrar junto.
"Dilegua, o notte!
Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle!
All'alba vincerò!
Vincerò, vincerò!
Vincerò!"

E não é que o Joaquim vencido pelo cansaço ficava queitinho pela primeira vez e dentro de pouco tempo adormecia.

Incrível, pensei, meu bebê de dois meses gosta de ópera. E dali para frente, quando se esgotavam todas as alternativas, era balancinho, ópera e cobertor. Lembro que uma amiga e a mãe vieram visitar e quando viram o ritual não acreditaram. "Seu bebê gosta de ópera? Como assim? Nunca vi nada parecido," exclamava a mãe, que até hoje quando me liga pergunta se o Joaquim continua fã dos tenores.

Umas semanas atrás uma amiga virtual me contou sobre um aplicativo nos telefones Android chamado Relax and Sleep que foi o maior achado de século. Você pode escolher de uma lista de mais de 35 sons ambientes que incluem trovões, oceanos, chuvas, grilos, águas, pássaros e muito mais. Além disso, ainda pode combinar vários sons e misturar volumes, criando uma melodia personalizada.

Claro que comecei minhas experiências com o Joaquim e já sabendo do gosto tão eclético quanto sui-generis dele, resolvi combinar canto de monges com chuva de verão. Resultado: em menos de cinco minutos ele cai direto no sono! Antes que alguém diga que foi sorte de principiante, esta semana quando ele estava de péssimo humor e eu tentanva fazê-lo dormir há mais de uma hora, apelei para o truque do celular e, mais uma vez, em cinco minutos, ele caiu no sono.

Ao que parece, além de ópera, Joaquim gosta de canto gregoriano! No gosto musical, ao menos, puxou à mãe!

July 5, 2011

Criança tem que ser criança

Existem poucas coisas que me irritam mais do que criança-prodígio. Detesto criança que fala como adulto, que se veste como adulto e que tem atitudes típicas de adultos mimados. Falem o que quiser, as crianças de programas de auditório me dão arrepios. Não vejo nada de bonitinho em uma menina de três anos com o rosto cheio de maquiagem e os cabelos cheirando a laquê. Acho um horror! Acho coisa de circo!

Fico chocada cada vez que ouço uma amiga americana dizer que vai levar à filha de quatro anos à manicure. É sério! Outro dia, no salão, vi um menino que deveria ter uns seis anos sentado na cadeira alta dos salões daqui com uma cara de quem não fazia a menor ideia do que se passava ou de como tinha chegado até ali. Será que a mãe dele não sabe usar um cortador de unha ou uma boa tesourinha? Ou será que ela acha que um menino de seis anos tem que ter o pé cutilado? Socorro!

Durante estes poucos meses da minha recente maternidade, venho sendo bombardeada por publicações voltadas a mães. Para a infelicidade do Blake, adoro revista de papel mesmo, gosto do cheiro, da textura da folha, das boas informações veiculadas...só não gosto dos tais ensaios fotográficos! Gente, parece coisa de revista de moda! Daqui a pouco vão lançar as mini-Angels da Victoria's Secret! O negócio é uma mega produção -- cabelo, maquiagem, unhas! A coisa me assusta.

Ano passado, vi alguns episódios de um programa de extremo mau gosto chamado Toddlers & Tiaras. Algo mais assustador não há. Meninas de três anos que pintam cabelo, fazem depilação, clareamento de dentes e usam unhas de silicone! E mães que na melhor das hipóteses deveriam estar num manicômio. Foi bem nesta fase que eu comecei a torcer para ter um menino, só assim não passaria nem perto desta raça transloucada. Nunca pensei que uma mãe tão complexada poderia ser tão nociva a seus filhos, principalmente se forem do sexo feminino.

Tenho certeza que deve haver o equivalente do sexo masculino -- deve ser o pai supercompetitivo que acha que o filho vai virar atleta profissional aos três anos -- mas pelo menos ainda não existe programa de TV para endeusar mais este grupo inútil.

Nunca me vi como mãe xiita. Muito pelo contrário, acho que sou bem aberta e flexível, mas se existe algo de que não abro mão é que o Joaquim seja criança o tempo que puder, pois algo me diz que a criança-prodígio de hoje é o adulto-problema de amanhã.

June 28, 2011

Tempo passa...Joaquim cresce sem parar!

O tempo passa e a gente acaba esquecendo das coisas. Quando o assunto é compra, sou indecisa por natureza. Pesquiso, pesquiso e pesquiso até chegar à conclusão de que pesquiso demais e vencida pelo cansaço mental e psicológico, acabo quase sempre seguindo a minha intuição.

O assunto do momento é a cadeirinha de carro do Joaquim. O infant car seat já está ficando pequeno e precisamos de outro com urgência. Já tenho alguns modelos em mente, mas está difícil escolher entre uns três finalistas.

na minha indecisão, hoje me dei conta que o Joaquim já não cabe mais na atual cadeirinha! Esta manhã, a caminho da creche, olhei para trás para ver o meu pequeno e percebi que a cabeça dele está basicamente mais alta que o assento! Pois é, o meu pequenino cresceu tão rápido que a mãe nem percebeu direito. De hoje a compra da cadeirinha não passa! Santa indecisão!

June 27, 2011

Groucho Marx...e eu!

Este fim de semana recebi um friend request de uma jovem que tinha alguns amigos em comum comigo, fui olhar o perfil dela e precebi que ela também teve HCF, o mesmo tipo de câncer que eu tive. Ela já completou 12 anos em remissão, se não me engano, o que é ótimo. Atráves dela, descobri que o tipo de câncer que tivemos é ainda mais raro do que pensava: 200 casos por ano!

Alguém tem noção do que isto significa? Que das 7 BILHÕES de pessoas que habitam este planeta enorme, 200 - DUZENTAS - a cada ano tem esta doença?! De acordo com as poucas informações disponíveis, a doença afeta um em cada 5,000,000. Dá para acreditar? Ou seja, tinha mais chance de ganhar no loteria do que ter este negócio horrível! Mais, como não há casos suficientes, não existem teste clínicos disponíveis e como pouca gente conhece a doença, a maioria acaba morrendo. É claro que deve haver muitos casos que não foram reportados, mas convenhamos que o número assim mesmo é ínfimo.

Descobri até que tem um grupo no Facebook chamado Fibrolamellars of the World Unite! A ideia é ótima já que este tipo de câncer é tão raro que normalmente os pacientes acabam sabendo mais sobre ele do que a maioria dos médicos. Mas confesso que tenho sentimentos ambivalentes e estou mais para Groucho Marx quando ele disse que não tinha muito interesse em pertencer a um clube que aceitasse pessoas como ele. ["I don't care to belong to a club that accepts people like me as members."] Por mais exclusivo que este grupo seja e por mais que eu queira ajudar quem está passando por este problema terrível, pretendo pelo menos neste momento manter um pouco de distância, por puro medo. Espero que Deus me entenda -- me perdoe pela convardia -- e me permita esta "leave of absence" ou período de licença para que eu possa me dedicar de corpo e alma a um fofinho de seis meses que precisa muito de mim.

June 24, 2011

Santo Expedito, Virgem Maria, Jesus e Anjos de Carne e Osso

Quem lê o blog deve lembrar da minha amiga que está no processo de adoção de dois irmãos na Etiópia, pois volta e meia venho aqui me solidarizar com ela, já que o processo é simplesmente brutal. Mesmo a mais zen das pessoas -- como a minha amiga -- fica esgotada com tanta falta de informação, desordem e puro caos. Eu já disse a ela que o drama certamente daria um livro.

Um resumo breve para quem não conhece a história: Eles começaram o processo no fim de 2008 e deram entrada na papelada bem no início de 2009. Escolheram a Etiópia porque tinham morado na África e sempre souberam que queriam adotar uma criança africana, como não conseguiam engravidar naturalmente -- eles optaram por não fazer tratamento -- resolveram adotar duas crianças, de preferência dois irmãos de uma vez.

Até o início deste ano não tinham nenhuma notícia, então começaram a pressionar mais e finalmente a agência identificou dois irmãos, que agora têm três e quatro anos. Apesar de preferirem um bebê no início, minha amiga topou na hora. Agora começava a contagem regressiva, imaginamos. De acordo com as informações disponíveis, ela deveria ir à Etiópia dentro de três meses para adotar as crianças e depois de mais uns dois meses voltaria ao país para trazê-los para os EUA.

No início do ano, dias depois das intensas comemorações, soubemos que as regras haviam mudado e que os dois meses iniciais agora seriam mais ou menos seis! Minha amiga obviamente estava tão incrédula como inconsolável. De volta à estaca zero -- ou quase.

Mas de alguma forma, ela conseguiu uma data para oficializar a adoção em maio! Maior correria e eles finalmente foram conhecer os filhos para legalizar a adoção na justiça etíope. Tudo indo muito bem, até que no grande dia, a juíza nota que falta uma carta do Ministério das Mulheres e Crianças. Sem ela nada de adoção. A juíza entra com mandado e nada... Meus amigos voltam para casa com o coração aos pedaços, sem a menor ideia de quando verão os filhos de novo.

Como trabalhamos numa organização internacional e temos programas na Etiópia, resolvi encher o saco do nosso staff lá. Minha amiga no início ficou muito sem graça e reticente -- não queria perturbar ninguém -- mas eu comecei o processo e ela finalmente aceitou entrar em contato com nosso gerente lá, que prontamente a atendeu. Ele ligou para o tal ministério algumas vezes -- o escritório deles fecha e todo mundo some por semanas! -- falou com alguém lá, recebeu informações sobre o caso, mas a tal funcionária disse que provavelmente a tal carta não estaria pronta a tempo da segunda audiência. Como sempre, quando alguém intercede por nós, fica alguma coisa no ar. Perguntas sem resposta. Minha amiga ficou bem decepcionada com a notícia. Mais uma vez, sem previsão.

Como já tínhamos esgotados todos os caminho possíveis e imaginários, insisti para que ela apelasse para o "pessoal la de cima". Ela, que não acredita(va) em muita coisa, já estava fazendo novena. Contei a ela então sobre São Expedito e como o povo acredita nele e em São Judas, no Brasil. Ela gostou da história e na mesma hora, imprimiu uma oração e colocou a foto dele e uma prece no Facebook!

Lembrei que durante meu tratamento para engravidar, usei um cordão com a medalha milagrosa e só tirei bem depois que o Joaquim nasceu. Só tirei quando ele começou a puxar tudo que tinha "pendurado" em mim: cordão, pulseira, brinco, etc. Eu estava usando justamente o tal cordão quando ela recebeu mais notícias ruins. Como se por instinto, tirei o cordão e dei para ela,que me olhou com um misto de ansiedade e esperança. "Vou usar sim, mas a coisa não está parecendo muito boa para o meu lado," ela confessou. "Mas vou acreditar."

O dia da audiência veio e se foi e não tivemos nenhuma notícia, quando ontem pela manhã, ouvi a voz dela bem animada ao telefone. Resolvi parar e escutar a conversa -- sim, sou muito bisbilhoteira -- será que eu estava ouvindo direito?! A tal carta que não ia chegar como que por milagre tinha aparecido junto aos outros documentos dela! A adoção agora era oficial.

Ela desligou o telefone -- e a esta altura já éramos três olhando para ela -- e aos prantos gritou: "Sou mãe! Os meninos são legalmente nossos filhos! Agora sou mãe!" E começamos todas a pular e a chorar juntas, pois este é sem dúvida o trabalho de parto mais longo que já vi. O calvário dela faz a minha situação parecer piada... Na mesma hora ela beijou a medalha milagrosa e agradeceu. Foi um momento tocante.

Acho que mesmo quem não acredita em Deus ou não tem religião ficaria emocionado com a cena. Alguém ali bem na nossa frente se conectando genuinamente com algo que não se pode ver. Bonito.

Voltei para minha mesa e pouco tempo depois vi que ela tinha atualizado a conta dela no Facebook. "Obrigada, São Expedito" dizia o post, bem ao lado da foto dos filhos dela.

É claro que acredito em milagres; já vi e vivi tantos. Acredito no Homem lá de cima, nos santos que interferem junto a Ele, assim como acredito em anjos de carne e osso que habitam este planeta. Algo me diz que Deus pode ter usado nosso colega na Etiópia para operar este milagre. Nunca sequer o vi -- nem a minha amiga -- mas quem o conhece só tem elogios. Uma outra amiga nossa, que o conhece bem, disse ontem: "Não me admiraria nada saber que o Sintayehu mexeu uns pauzinhos lá, mas nunca vamos saber. Ele é o tipo que faz as coisas e não quer crédito."

Quando o ser humano me irrita e de deixa pessimista, gosto de pensar que ainda há vários Sintayehus por aí... Para mim, isto já é bastante.

June 23, 2011

U2 360




Ontem voltei a pensar na minha bucket list, coisa que não fazia há tempos. A vida anda tão ocupada que não sobre muito t empo para filosofar ou pensar em termos abstratos, ou até sonhar alto demais. Não é uma queixa, só uma constatação! Quem vai pensar numa viagem incrível às Ilhas Fiji quando tem um bebê de seis meses berrando cheio de sapinho na boca e assaduras terríveis resultantes de sua primeira diarréia?! Sim, este foi meu fim de semana. Lavando bumbum de bebê, lençol e roupinhas praticamente 24 horas por dia, mas até que gostei de me sentir tão próxima e tão útil ao meu bebezinho.

Só que ontem desafiei até a chefona do meu chefe e disse a ela que ia sair mais cedo porque ia ao show do U2 e não poderia ir a tal reunião que ela tinha jogado no meu colo de última hora. Ela quis me enforcar, mas meu chefe já tinha me dado permissão e eu decidi que antes do show queria pegar duas míseras horas de sol, aproveitando que o Joaquim estava na creche. Sou muito workaholic, mas estava esperando por este dia há "apenas" seis meses e não seria ela a me fazer mudar de ideia.

Corri para casa, passei na piscina, arrumei tudo, o Blake pegou o Joaquim na creche, a Consuelo chegou, explicamos os rituais e procedimentos a ela rapidamente e saímos correndo com medo de trânsito. Ufa!

Mas não foi até entrar no carro e pegar o caminho de Baltimore que me toquei: vou ver o U2 pela primeira vez e há 20 anos espero por isso! Uau! Sim, ver o U2 ao vivo num megashow faz parte da minha bucket list sim! Quem disse que preciso ver o Taj Mahal (até preciso, mas há outros itens mais acessíveis!) para ser feliz? Um passeio ao Inner Harbor e um show no M&T já estão de bom tamanho para uma mãe de família na atual conjuntura!

E foi mesmo o máximo! O Blake, que até um mês antes não sabia que queria ir acabou adorando, e ao saber que o show era parte da minha lista me perguntou por que não tinha dito isto a ele antes?! Ele detesta confusão, multidão, aglomeração e muitas coisas que terminam em "ão", mas enchi tanto o saco dele, que ele comprou os ingressos no meu aniversário, ou seja, em novembro do ano passado!

O show foi perfeito e o repertório maravilhoso para os fãs de Achtung Baby, como eu. acho que tocaram todas as minhas músicas favoritas, mas o meu momento favorito foi sem dúvida o do clip acima. Comecei a chorar feito boba quando vi a declaração de amor -- direto do espaço! -- do Comandante Mark Kelly à sua esposa Gabrielle Giffords, deputada democrata que foi gravemente ferida por um louco num atentado ano passado no Arizona. Achei uma sacada genial do genial Bono!

Além de Kelly, Desmond Tutu e Aung San Suu Kyi apareceram no telão gigante como "guest speakers"...coisa superhiperbem bolada!

Bom, agora que já vi o U2 posso voltar a pensar na minha viagem a Fiji...ou num showzinho do Ricky Martin!?

PS: Durante o show, morri de saudade do meu gordinho!

June 20, 2011

Vida Dupla de Mãe Moderna



Semana passada fiz o impensável e no meio do expediente – mais precisamente na hora do almoço – saí com minhas amigas do trabalho para ver um filme cult de Werner Herzog. Se é para ser cult, tem que ser cult mesmo! Nem me lembro do último filme de Herzog que assisti. Que vergonha! Saímos todas, levando nossas estagiárias a tiracolo e com a bênção do chefe, rumos a um cinema muito bacana que fica bem em frente ao prédio onde trabalho.

Cave of the Forgotten Dreams é filme bacanérrimo: documentário narrado por ninguém menos do que o próprio Herzog sobre uma caverna no sul da França, onde nos anos 90, cientistas encontraram os desenhos humanos mais antigos que se tem noticia. Coisa de 30 mil anos atrás, sim 30 MIL! Obviamente, o acesso é fechado e só uma vez por ano um grupo exclusivo de especialistas consegue entrar. Herzog conseguiu acesso à Caverna de Chauvet (recebeu o nome do explorador que fez a descoberta) e por algumas horas durante alguns dias gravou cenas impressionantes. E emocionantes.

Saí do cinema mais reflexiva e muito mais viva do que entrei, como se tivesse matado mina eterna sede por estímulo intelectual, ainda que momentariamente. Matei a saudade das atividades culturais do Goethe Institut! Prometi a mim mesmo que vou fazer isto outras vezes. Nem que tenha que fazer hora extra!

No fim de semana, vesti novamente a roupa de mãe e fiquei na minha "caverna" o tempo todo cuidando do Joaquim, que teve seu primeiro episódio sério de assadura. O médico recomendou que ele ficasse sem fralda o maior tempo possível. Resultado: passei sábado e domingo lavando roupa (graças a Deus pela máquina de lavar!) e bumbum de bebê. Trancada em casa (ou na minha caverna?)com o Joaquim, a Galinha Pintadinha e a Xuxa, sem muito estímulo intelectual mas cheia de instinto maternal e feliz!

Quem tiver a oportunidade não deve deixar de ver este filme!

June 16, 2011

Soccer player?!



Depois da escola, ele ainda está cheio de energia...adorou o novo brinquedo!

From+Trash+To+Treasure+-+India's+Invisible+Environmentalists

From+Trash+To+Treasure+-+India's+Invisible+Environmentalists

Este é um programa fantástico que estamos realizando na Índia. Vale a pena ler e compartilhar!

June 14, 2011

Mães e mães...

Ontem uma amiga minha me ligou para dizer que está pensando em tirar a filha da creche porque eles não estão seguindo o currículo. Além disto, parece que ela anda chorando bastante lá. Antes que me perguntem, a filha dela tem exatamente a idade do Joaquim, ou seja, seis meses.

Vocês devem estar achando estranho o motivo pelo qual ela pensa em desistir da creche, afinal que currículo pode ser implementado com bebês de seis meses? Minha amiga reclama que tudo que eles fazem lá é trocar fralda, dar mamadeira e colocar para dormir. Pela grana que a gente paga ela quer mais. Está pensando em babá, mais precisamente, nanny share, ou seja, vai dividir o tempo e o salário da babá com uma outra amiga nossa. Cada um sabe de si, mas se achar uma supernanny que vai estimular seu filho 24 horas por dia com um currículo didático cinco estrelas vai ser difícil, imagina dividi-la com uma outra pessoa? Pode ser...

Esta segunda amiga também está meio receosa de colocar a filha na creche e quando foi fazer a matrícula, perguntou detalhadamente sobre cada procedimento utilizado na creche: Se o bebê chorar,o que fazem? Quanto tempo deixam a criança chorar? Qual é a rotina diária dos bebês? Que horas comem? Que tipo de atividade desenvolvem? Como são avaliados, etc., etc...

Então parei para pensar e cheguei à seguinte conclusão: ou elas são exigentes demais ou eu sou de outro planeta. Quando estava grávida e visitei 13 creches nas redondezas, fiz várias perguntas, mas mais importante foi o tempo que passei em cada estabelecimento e a "vibe" que senti quando conversei com cada pessoa. Claro que estava procurando obter o máximo de informação, mas não era só isto. Minhas perguntas não foram específicas ou exigiam respostas certas ou erradas. Conversei horas com todo o staff, não só sobre crianças, metodologias, currículos, mas sobre a vida delas, o trabalho delas, o que elas queriam fazer no futuro ou o que fariam no fim de semana. Enquanto isto, observei tudo ao meu redor, desde a fisionomia das crianças até o ambiente. Abandonei meu checklist pela metada, anotei algumas coisas de um modo bem vago, mas do meu jeito acabei tendo as respostas que queria.

Escolhi a primeira creche que visitei, que nãe é a mesma creche das minhas amigas. Simpatizei de cara, mas apesar de uma forte intuição, a repórter dentro de mim continuou a apurar a matéria, checar todas as fontes, até tomar a minha decisão. Até hoje não me arrependi. Sinto que o Joaquim gosta de estar lá, é muito estimulado e tratado com muito carinho. Assim como eu. Lá, ele desenvolve atividades que sequer passariam pela minha cabeça de mãe de primeira viagem. Elas também me dão muitas dicas, sobre a rotina dele, alimentação e atividades preferidas. Sempre que vamos buscá-lo ele está feliz, apesar de exausto.

Claro que quero que ele seja bem tratado e amado, mas acho que chorar às vezes faz parte da vida, que nem sempre a gente vai ter tudo que quer a hora que quer, então é bom ir se acostumando com isto. Acho importante aprender a dividir, aprender a ceder e também a brigar pelo que é seu por direito. Acho imprescindível aprender a conviver. E por isto a ideia da creche me agrada, pois acho que esta experiência desde bebê pode ser muito positiva.

Quando chegamos em casa após um dia de trabalho, Blake, Joaquim e eu normalmente saímos para uma caminhada ou brincamos no chão. É impressionante ver como nosso filhote muda tão depressa e a cada dia que passa ficamos mais encantados de ver tudo que ele pode fazer. Procuro aproveitar ao máximo cada momento com ele...eu sei, o tempo passa rápido demais.

Às vezes tenho crises de consciência e acho que deveria ser mais como as minhas amigas, mais preocupada, mais detalhista. Então reflito e entendo que a minha preocupação é outra. A minha maior preocupação é que o Joaquim seja independente, saiba cuidar de si mesmo. Claro que a minha intenção -- se Deus quiser -- é sempre estar por perto, mas é importante para mim que ele saiba (quando puder entender) que pode se virar sozinho e que seja auto-confiante! Talvez seja pela minha experiência de vida, mas sou muito consciente da minha mortalidade, do meu tempo finito aqui, então me preocupo em amar meu filho, em primeiro lugar, mas além disto, minha grande preocupação é prepará-lo para a vida. Desde já.

June 9, 2011

Seis Meses


Parece incrível mas hoje o meu pequeno Joaquim faz seis meses. Hoje também estou fazendo seis meses na minha função de mãe. Faz seis meses que a minha nova vida começou. Uma vida que não tem muito horário, que não tem nenhum tempo livre, que é de pura correria. Mas uma vida que sequer imaginava ser possível. Uma felicidade que eu sequer poderia calcular.

Joaquim está uma graça e a cada dia vamos notando mais a personalidade dele, o que não é difícil. Como já desconfiávamos desde os tempos da gravidez, o Joaquim sempre diz ao que veio. Se ele está feliz, dá gargalhadas e é só sorrisos, se algo incomoda, ele nos faz perceber na hora. Ele não gosta de ficar sujo, então sempre sabemos quando precisamos trocar a fralda ou a roupa. O rostinho dele tem que estar sempre limpo.

O Joaquim gosta de atenção. Ele até pode brincar sozinho por uns minutinhos, mas não gosta. Gosta mesmo é de gente, de movimento. Está cada dia mais intrigado com os gatos, que em breve vão começar a sofrer nas mãos de um pequeno curioso. Outro dia, agarrou um deles pelo bigode!

Joaquim é menino bruto, de movimentos bruscos, de pouco medo, atrevido. Ele gosta das coisas da maneira dele. Jamais aceita mamadeira de primeira, faz um joguinho de tira-e-bota muito engraçado com a chupeta. No final, não só toma toda mamadeira como pede mais. E depois quase sempre dorme, feliz e satisfeito.

Joaquim adora comer. Cada vez que introduzimos um novo alimento morremos de rir. Assim que ele experimenta a primeira colherada leva uns três segundos para perceber o sabor delicioso, que pode ser de banana, maçã, pêssego, ervilha, batata doce, abóbora, cenoura, espinafre e, mais recentemente, manga. Como ele adora manga. Puxou aos pais. Ele adora uma papinha orgânica que é uma mistureba de tudo. Nem para tomar remédio ele reclama.

Ele adora andar de carro e adormece na cadeirinha com frequência, mas não sem antes nos dar um aviso, que é a coisa mais engraçada do mundo. Ele começa a falar (na língua dele, é claro) e depois os sons vão ficando mais longos, como se formassem um mantra. E de repente, ele fecha os olhinhos, suspira e dorme tranquilamente.

Agora está querendo engatinhar e o lugar preferido para treinar é o berço. Sempre me assusto ao vê-lo totalmente de cabeça para baixo no meio da noite. Dizem que filho é assim mesmo, uma surpresa depois da outra.

Joaquim foi a melhor surpresa que recebi na vida e o melhor de tudo é que as surpresas continuam a cada dia, a cada minuto que passamos com ele.

Parabéns, meu filho. Mais do que tudo, obrigada.

June 7, 2011

O processo ou o evento?

Outro dia a minha amiga que acabava de voltar da Etiópia, onde vai adotaar dois meninos, estava aos prantos quando entrei na sala dela. Eu, que vinha rindo e pronta para contar o que tinha acontecido na reunião anterior, imediatamente entendi o motivo da agonia dela. Durante a viagem, ela tinha finalmente conhecido os filhos e tudo fazia crer que em dois ou três meses os meninos estariam aqui. Só que na hora da audiência, a juíza notou que faltava uma carta de um ministério local, autorizando a adoção. A agência garantiu que em poucos dias a carta aparecia e o problema seria sanado. Uma semana depois, ela recebe um email com uma nova data para audiência, 23 de junho. Obviamente, ela ficou decepcionada.

Tentei, como sempre, mostrar a ela o lado positivo. "Pense bem, pelo menos eles têm um prazo razoável para emitir o documento e nem falta tanto tempo assim para o dia 23." Ela, como os olhos vermelhos,respondeu; "Eu sei, mas imagine você saber que vai ficar três semanas longe do Joaquim?" Ela respirou e continuou "Tudo bem, eu sei que não é a mesma coisa..." Foi então que, para minah surpresa, eu sequer deixei que ela terminasse a frase e fui incisiva dizendo "É sim, é sim."

Se na hora, falei sem pensar muito, agora tenho a maior para tranquilidade para dizer que acho que é a mesma coisa sim. Filho é filho do mesmo jeito, biológico, adotivo, do coração, do que seja... Agora, depois de ter esperado muito para ter meu filho que hoje tem seis meses, acho sinceramente que o amor mesmo vem a cada dia. Amo o Joaquim hoje muito mais do que o amei quando ele saiu da minha barriga. A sensação de ver sua carinha pela primeira vez foi maravilhosa, mas nada supera a felicidade que sinto ao ouvir sua gargalhada a cada manhã, quando ele acorda. Ser mãe não é um evento, é um processo.

É natural que o ser humano queira se eternizar de alguma forma. Saber que parte de nós viverá além de nós mesmos pode ser um tipo de consolo, ou vaidade pura. Olhar para um bebê e tentar saber com quem ele se parece é sempre interessante, mas ser mãe vai muito além. Uma vez, ouvi que adotar é ser mãe duas vezes e acompanhando o martírio -- sim pois o que ela passa parece um sofrimento sem fim -- da minha amiga só me faz ter mais certeza disto.

Acho que o nosso foco está errado. Parir, para muita gente, é fácil, mas educar um ser humano é uma tarefa árdua e constante, muitas vezes inglória. O mesmo vale para o casamento. Organizar uma festa é fácil, usar um lindo vestido é glamouroso, mas sustentar uma relação na base do respeito, da verdade e do amor é um desafio. Muito além da aliança no dedo, casamento é um projeto comum de duas pessoas e construído a cada dia. E vale a pena. Vale a pena lutar pelo que se acredita, vale a pena passar noites em claro, vale a pena abrir mão de certas coisas em troca de outras de maior significado. Apesar do trabalho, vale muito mais a pena focar no processo do que no evento em si.

June 3, 2011

Agente de Mudança



Uma das grandes vantagens de trabalhar numa organização de ajuda humanitária e desevolvimento internacional e vir para o escritório e saber que de alguma forma você está ajudando alguém em algum canto do planeta. Na maioria das vezes, acho que tenho o melhor trabalho do mundo, pois a minha função é contar estas histórias e espalhá-las aos quatro cantos do planeta.

Um outro aspecto muito bacana do nosso trabalho fica por conta das pessoas com quem nos relacionamos: colegas de trabalho, parceiros locais e comunidades que servimos. Cada vez que nos reunimos me sinto dentro de uma sala de aula, pois saio sempre com uma lição de vida.

Minha reunião ontem foi com a diretora do nosso escritório na Palestina, Lana Abu-Hijleh, uma mulher sensacional. Durante uma hora ela nos contou um pouco mais dos projetos que implementa na região e dos desafios diários que ela enfrenta, principlamente por conta do Governo Hammas. E durante uma hora, escutei de forma objetiva, mas ao mesmo tempo não pude deixar de admirar sua determinação e força de vontade.

A história de vida dela também é sensacional e é por isto que compartilho o vídeo acima. Posições políticas e ideológicas à parte, a gente tem que tirar o chapéu para esta grande mulher.

June 1, 2011

Acupuntura & FIV

Tenho várias amigas fazendo tratamento de fertilidade. No momento, duas já passaram por um ciclo sem sucesso e é lógico que só quem viveu esta experiência entende exatamente o que elas estão atravessando. No momento buscam respostas, informações, alento e, mais que tudo, força, pois vão se submeter a outro ciclo.

Minha experiência durante o tratamento foi muito positiva. Aliás, graças a Deus, isto tem sido uma constante na minha vida: nada vem fácil, passo bons pedaços, mas no final os tratamentos funcionam muito bem. Foi assim com o fígado, foi assim com o bebê. Então pelos bons resultados e pela "bagagem" acumulada ao longo dos anos e das temporadas em hospital, minha visão pode ser um pouco simplista, já que para mim o tratamento foi muito fácil. Afinal o que são três agulhadas diárias e um exame de sangue dia sim dia não para que tem mais de 3000 pontos na barriga e de três em três meses (agora seis!) tem que colocar um IV no pulso para tirar sangue e fazer ressonância com contraste?

Mas conversando com as minhas amigas cujos tratamentos ainda não deram certo, elas me perguntaram se eu tinha feito alguma coisa para auxiliar no tratamento. E a resposta é "O que eu NÃO fiz para ajudar o processo?" Mudei minha dieta, pratiquei yoga, continuei firme na acupuntura, tudo específico para a fertilidade. E pode ter sido coincidência, mas respondi ao tratamento de uma forma absurda e fiquei grávida de primeira, o que é um excelente resultado.

Como já vinha fazendo acupuntura há anos, só perguntei ao meu médico se teria que parar e ele disse que não. Pelo contrário, me disse que há estudos que buscam comprovar a eficácia do tratamento e ninguém ainda conseguiu provar o papel da acupuntura na FIV, mas que mal não me faria. Muita gente acha que acupuntura auxilia bastante o tratamento de FIV, talvez por levar mais sangue para a área do útero e dos ovários, talvez por relaxar a paciente. Obviamente que também há estudos que discordam desta teoria, mas como acupuntura nunca fez mal a ninguém, resolvi tentar.

Além do tratamento normal, que fiz durante anos, minha acupunturista disse que era muito importante fazer uma sessão logo depois da transferência dos embriões, pois este tratamento bem específico ajudaria a fixá-los. O mais incrível é que sem marcar nada, consegui sair do hospital e ir direto ao consultório dela. (Claro que ela já estava em stand-by caso precisasse de outra data.) Pode ter sido coincidência...ou não!

Para quem não sabe, um dos motivos pelos quais o tratamento de FIV causa muita ansiedade é sua total imprevisibilidade: a gente não sabe como vai reagir, quanto tempo vai ter que tomar cada medicação, e quando o tratamento em si acada. Não há certo nem errado, cada um tem seu próprio ritmo e as doses mudam diariamente.

Lembro que durante algumas semanas me senti como se estivesse filmando Missão Impossível. A enfermeira me ligava toda tarde, religiosamente às 16 horas, para me dar o resultado de exame de sangue que eu tinha feito pela manhã e me dizer quais remédios e quantas doses deles precisava tomar aquele dia. À noite eram duas injeções, pela manhã só uma. Na etapa final, as ultras e os exames de sangue eram diários até a hora do trigger shot, que é a última injeção para liberar os óvulos, 36 horas antes da fertilização acontecer. Coisa de Admirável Mundo Novo!

Por outro lado, também acredito muito na medicina chinesa e em práticas tradicionais. Sinto que a acupuntura teve um efeito físico e psicológico sobre mim, o que no fim contribiuu bastante para o resultado positivo, pois me mantive surpreendentemente calma durante todo o processo.

Ao me cercar de cuidados e de especialistas por tudos os lados, consegui uma certa tranquilidade, crucial num momento tão importante. E na certeza de estar fazendo tudo ao meu alcance, tive paz para poder deixar o resto nas mãos dEle. A fé certamente foi um grande fator nesta equação: fé em Deus, fé nos médicos e profissionais de saúde, fé nas terapias, fé nas medicações e fé em mim.