Quem lê o blog deve lembrar da minha amiga que está no processo de adoção de dois irmãos na Etiópia, pois volta e meia venho aqui me solidarizar com ela, já que o processo é simplesmente brutal. Mesmo a mais zen das pessoas -- como a minha amiga -- fica esgotada com tanta falta de informação, desordem e puro caos. Eu já disse a ela que o drama certamente daria um livro.
Um resumo breve para quem não conhece a história: Eles começaram o processo no fim de 2008 e deram entrada na papelada bem no início de 2009. Escolheram a Etiópia porque tinham morado na África e sempre souberam que queriam adotar uma criança africana, como não conseguiam engravidar naturalmente -- eles optaram por não fazer tratamento -- resolveram adotar duas crianças, de preferência dois irmãos de uma vez.
Até o início deste ano não tinham nenhuma notícia, então começaram a pressionar mais e finalmente a agência identificou dois irmãos, que agora têm três e quatro anos. Apesar de preferirem um bebê no início, minha amiga topou na hora. Agora começava a contagem regressiva, imaginamos. De acordo com as informações disponíveis, ela deveria ir à Etiópia dentro de três meses para adotar as crianças e depois de mais uns dois meses voltaria ao país para trazê-los para os EUA.
No início do ano, dias depois das intensas comemorações, soubemos que as regras haviam mudado e que os dois meses iniciais agora seriam mais ou menos seis! Minha amiga obviamente estava tão incrédula como inconsolável. De volta à estaca zero -- ou quase.
Mas de alguma forma, ela conseguiu uma data para oficializar a adoção em maio! Maior correria e eles finalmente foram conhecer os filhos para legalizar a adoção na justiça etíope. Tudo indo muito bem, até que no grande dia, a juíza nota que falta uma carta do Ministério das Mulheres e Crianças. Sem ela nada de adoção. A juíza entra com mandado e nada... Meus amigos voltam para casa com o coração aos pedaços, sem a menor ideia de quando verão os filhos de novo.
Como trabalhamos numa organização internacional e temos programas na Etiópia, resolvi encher o saco do nosso staff lá. Minha amiga no início ficou muito sem graça e reticente -- não queria perturbar ninguém -- mas eu comecei o processo e ela finalmente aceitou entrar em contato com nosso gerente lá, que prontamente a atendeu. Ele ligou para o tal ministério algumas vezes -- o escritório deles fecha e todo mundo some por semanas! -- falou com alguém lá, recebeu informações sobre o caso, mas a tal funcionária disse que provavelmente a tal carta não estaria pronta a tempo da segunda audiência. Como sempre, quando alguém intercede por nós, fica alguma coisa no ar. Perguntas sem resposta. Minha amiga ficou bem decepcionada com a notícia. Mais uma vez, sem previsão.
Como já tínhamos esgotados todos os caminho possíveis e imaginários, insisti para que ela apelasse para o "pessoal la de cima". Ela, que não acredita(va) em muita coisa, já estava fazendo novena. Contei a ela então sobre São Expedito e como o povo acredita nele e em São Judas, no Brasil. Ela gostou da história e na mesma hora, imprimiu uma oração e colocou a foto dele e uma prece no Facebook!
Lembrei que durante meu tratamento para engravidar, usei um cordão com a medalha milagrosa e só tirei bem depois que o Joaquim nasceu. Só tirei quando ele começou a puxar tudo que tinha "pendurado" em mim: cordão, pulseira, brinco, etc. Eu estava usando justamente o tal cordão quando ela recebeu mais notícias ruins. Como se por instinto, tirei o cordão e dei para ela,que me olhou com um misto de ansiedade e esperança. "Vou usar sim, mas a coisa não está parecendo muito boa para o meu lado," ela confessou. "Mas vou acreditar."
O dia da audiência veio e se foi e não tivemos nenhuma notícia, quando ontem pela manhã, ouvi a voz dela bem animada ao telefone. Resolvi parar e escutar a conversa -- sim, sou muito bisbilhoteira -- será que eu estava ouvindo direito?! A tal carta que não ia chegar como que por milagre tinha aparecido junto aos outros documentos dela! A adoção agora era oficial.
Ela desligou o telefone -- e a esta altura já éramos três olhando para ela -- e aos prantos gritou: "Sou mãe! Os meninos são legalmente nossos filhos! Agora sou mãe!" E começamos todas a pular e a chorar juntas, pois este é sem dúvida o trabalho de parto mais longo que já vi. O calvário dela faz a minha situação parecer piada... Na mesma hora ela beijou a medalha milagrosa e agradeceu. Foi um momento tocante.
Acho que mesmo quem não acredita em Deus ou não tem religião ficaria emocionado com a cena. Alguém ali bem na nossa frente se conectando genuinamente com algo que não se pode ver. Bonito.
Voltei para minha mesa e pouco tempo depois vi que ela tinha atualizado a conta dela no Facebook. "Obrigada, São Expedito" dizia o post, bem ao lado da foto dos filhos dela.
É claro que acredito em milagres; já vi e vivi tantos. Acredito no Homem lá de cima, nos santos que interferem junto a Ele, assim como acredito em anjos de carne e osso que habitam este planeta. Algo me diz que Deus pode ter usado nosso colega na Etiópia para operar este milagre. Nunca sequer o vi -- nem a minha amiga -- mas quem o conhece só tem elogios. Uma outra amiga nossa, que o conhece bem, disse ontem: "Não me admiraria nada saber que o Sintayehu mexeu uns pauzinhos lá, mas nunca vamos saber. Ele é o tipo que faz as coisas e não quer crédito."
Quando o ser humano me irrita e de deixa pessimista, gosto de pensar que ainda há vários Sintayehus por aí... Para mim, isto já é bastante.
6 comments:
HIstória linda e com final feliz. Adoro!!! Que Deus a ajude a cuidar dos filhos.
Mesmo de um ateu que nao acredita em milagres, a linda historia e o resultado de uma vida sao lindos de se acompanhar, sempre.
Voce e' um anjo tambem, eu acredito rsrs
Beijao
Roy
Linda história! Acredito muito que Deus pode e faz muitos milagres. Minha avó é devota de Nossa Senhora do Carmo e conta várias graças alcançadas.
Que esta família seja cada dia mais abençoada e que o amor cresça e floresça cada dia mais.
Beijo
Boa semana
Paula,
Também torço muito por eles. Casal nota 10. Espero que os meninos tragam muita felicidade!
Bjs
Roy,
Assim você me deixa sem graça! Que bom que você acredita nos anjos de carne e osso!
Bjs
Cecília,
Deus te ouça! Amém!
Beijos
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