October 6, 2011

Morte Anunciada

A pior coisa que o câncer pode trazer a qualquer um é a iminência da morte. Tudo bem que a única coisa de que se pode ter certeza é a própria morte, mas saber que ela está ali de espreita, prestes a acontecer é terrivelmente aterrorizante. E poucas doenças trazem isto tão a tona quanto o câncer.

Não consigo imaginar nada mais triste na vida do que saber que todas as opções viáveis de tratamento estão esgotadas. Um tratamento após o outro, uma promessa seguida de outra que jamais se materializa. Uma esperança que desbota seguida de outra que nem chega a surgir. Sensação de impotência sem fim. Saber que nada que possa ser feito depende de nós e que nada e nem ninguém pode nos salvar da nossa sentença.Dor mais profunda não há.

Como a grande maioria das pessoas, fiquei muito abalada com a morte de Steve Jobs. Fiquei triste mesmo, pois por mais cliché que possa parecer, a humanidade realmente perdeu um visionário, um gênio, um mágico. E é verdade que hoje o mundo se torna um pouco mais chato, mais medíocre, mais sem graça, pois gênios nos inspiram, nos motivam e nos desafiam a cada instante. E Jobs era tudo isto. Não sou o que se chama de "MacManiac", mas sempre o admirei muito por tudo que ele construiu, por estar tão a frente de tudo e de todos.

Ontem, como muita gente, voltei a ver o discurso dele durante a formatura dos alunos de Stanford, em 2005. Me cortou o coração ouvi-lo dizer "tive câncer mas agora estou bem." E é claro que naquele momento ele estava. E é claro que para a medicina, Steve Jobs é uma história de sucesso, pois alcançou os cinco anos de sobrevida -- ainda mais quando se trata de câncer no pâncreas.

Por outro lado, para mim é um tanto quanto apavorante pensar que nestes casos o "sucesso" é a marca dos cinco anos, o que me parece tão pouco. E a vida? Bom, depois da doença, de acordo com os médicos, o que nos resta é a sobrevida...e, de acordo com os mesmos médicos, se são só cinco anos que lhe restam, dê-se por feliz, a grande maioria dos seus pares precisa se contentar com meses!

Mas as lições aprendidas por Jobs foram muitas e, como muita gente, acho que esta ideia incômoda de ter a morte como companheira de viagem fez de Steve Jobs um ser ainda mais genial. Por ter certeza que seu tempo aqui era tão finito, ele realmente aproveitou-o da melhor forma possível e fez o que amava até o final. E isto requer coragem e fibra.

Para mim, nem o iPhone, nem o iPad podem ser considerados o maior legado de Jobs, mas a paixão e a urgência de viver a vida e produzir ao máximo. Assim como disse Jobs, a cada dia que acordo me pergunto se faria o que estou prestes a fazer se este fosse o último dia da minha vida. E se respondo não muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa.


"Remebering that you are going to die is the best way I know to avoid the trap of thinking you have something to lose."

"Lembrar que você vai morrer é a melhor forma que conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder."

Steve Jobs, 2005.

1 comment:

ODON ASSUMPÇÃO MACHADO said...

Dani, não tenho visitado muito seu blog ultimamente: mudanças de hábitos... Só queria te dizer que seus textos sobre a vida e sobre o câncer me emocionam muito. Você é uma vencedora! Um grande beijo para a família,
Maraba
PS: só agora criei um blogger. A insônia afinal serviu para alguma coisa.