August 16, 2009

American Cancer Society

Na quinta, organizei uma recepção bem bacana e petit committee para a American Cancer Society. A minha chefe é do board e, em tempos de crise, a organização pediu aos membros mais graduados que ajudassem a angariar mais doações através de recepções ou funções deste tipo.

Para mim foi um prazer por vários motivos:
1. adoro festa
2. não me importo de organizar
3. melhor ainda se for com o dinheiro dos outros
4. quando a festa é beneficiente
5. quando é para uma organização que eu já conheço e participo


Escolhemos um restaurante francês autêntico, aqui em Columbia, Maryland. Acreditem se quiser, mas tem francês perdido na roça americana! (Se bem que Columbia não é roça é suburbia!!!)

O menu estava perfeito e os vinhos idem. Os convidados eram la crème de la crème da Escola de Medicina e muitos já velhos conhecidos. Pediram para que a minha chefe fizesse as honras da casa. Desta vez ela não me pediu para escrever discurso ou talking points, já que estava decidida a dar apenas as boas-vindas.

Para minha surpresa ela perguntou se eu me incomodava em contar rapidamente a minha história. Tomei um susto enorme! Muito embora ela saiba e me dê muito apoio quando preciso ir ao médico, fazer exames, etc, ela é uma pessoa bastante reservada, fala pouco a vida dela e respeita muito a privacidade alheia.

Eu sou o contrário! Minha vida é um livro escancarado e eu sei da vida de todo mundo. Não porque seja fofoqueira ou intrometida, mas porque, por algum motivo que desconheço, as pessoas me contam coisas que normalmente não dividem com ninguém. Refeita do susto, concordei. Ela então me explicou que só me fazia aquele pedido porque uma de suas grandes amigas, médica e professora da faculdade, tinha recém descoberto um câncer de mama e estava muito assustada e deprimida.

Chegada a hora, agradeci a oportunidade e contei um pouquinho da minha história e para minha surpresa, fiquei engasgada no meio! Senti meus olhos se encherem de lágrimas e tratei de terminar o mini-discurso. Respirei fundo e olhei ao meu redor para ver se os copos de todos os convidados estavam cheios...e continuei no meu papel de anfitriã.

Logo depois, a tal médica que tinha descoberto o tumor no seio se aproximou de mim sorrindo. "Fígado? Aos 28 anos?! Pois é, eles descobriram algo na minha mama mas ainda não me acostumei com a ideia de ser uma 'sobrevivente' ou uma 'paciente'. Está sendo difícil pra mim," ela confessou.

E engatamos uma conversa animada sobre pacientes, médicos, hospitais e generosidade. Ela me contou horrores que tinha passado no hospital de universidade onde ela é professora! Ao que respondi, "Imagine eu, que trabalho lá mas sou uma simples paciente? Ou pior, um paciente humilde que nem plano de saúde tem?"

A conversa foi ótima e logo mais gente se juntou a nós, outros médicos, funcionários da American Cancer Society e outros convidados. Quando percebi contava a eles sobre o Dr. Joaquim e minha relação com o médico que tinha salvado a minha vida e eles se colocavam à disposição para me ver sempre que eu precisasse e me encaminharem sempre que eu precisasse de ajuda, fosse com projetos na faculdado ou minha própria saúde.

Pela primeira vez, enxerguei médicos americanos como seres humanos, que tem medos, mas tem coração. Pela primeira vez, eles se colocavam no mesmo nível que eu. Aliás, gosto de um ginecologista que encontrei aqui justamente por isto. Ele me liga no m eu celular. Eu posso ligar para o dele e falo diretamente com ele, sem ter que passar por recepcionistas que mais parecem robôs ou enfermeiras que se assemelham a autômatos.

Sabia que a festinha ia ser legal, mas não imaginava que seria tão bacana assim. Ao dividir a minha experiência e ao me mostrar como sou, imediatamente ganhei amigos. Não gosto de usar o "cancer card" porque não gosto de suscitar o sentimento de pena de ninguém. Não quero, não gosto, não preciso e não mereço. Mas reconheço que as palavras e que a verdade libertam.

Cada vez que conto a minha história, faço isto por mim, para aliviar o fardo que carrego e pelos outros, na esperança de que a minha vivência possa de alguma forma ajudá-los a lidar com uma experiência tão complexa.

1 comment:

Cristina said...

Adorei os motivos ;-)
Botando a leitura em dia.