Outro dia o Blake estava lendo um livro que dizia que as pessoas "se perpetuavam" na Terra não somente através de seus descendentes ou daqueles com os quais tinham tido contato direto, mas através de suas ações e da forma com que tocaram outras vidas, que em retorno vão tocar outras vidas, etc. Em inglês, isto é chamado "ripple effect", que em português poderia ser chamado de "efeito de propagação". Na verdade, o verbo "ripple" quer dizer "ondular" e palavra "ripple" pode ser traduzida como uma "pequena onda".
Basta pensar que quando algo é jogado dentro d'água, uma série de ondas se forma a seu redor e estas ondas vão se propagando e aumentando sua área de influência. Com a vida humana, acontece algo semelhante. Alguém faz alguma coisa que causa reação em outro alguém que decide adotar aquele tipo de comportamento ou atitude e assim por diante.
Fiquei pensando nisto e achei que deveria escrever para a Carmi. Queria que ela soubesse que apesar do Todd não estar mais aqui, muito do que ele se propôs a fazer vai continuar sendo feito por pessoas que aprenderam com as várias lições deixadas por ele. Não que sirva de consolo para uma mãe que perdeu um filho aos 28 anos, mas é importante que ela saiba que mesmo que a passagem do Todd por aqui tenha sido breve, sua influência vai ser duradoura.
Trouxe um cartão para o trabalho que queria escrever e mandar para ela até o final do dia. Qual a minha surpresa, quando por volta das 9.30 da manhã, ninguém menos que a Carmi me liga?! Fiquei até meio tonta e ela notou...
Contei para ela o que se passava e ela riu. O objetivo do telefonema dela era saber se o pessoal do Ulman Fund tem recebido as doações em nome do Todd. Ela vem tentado um contato sem sucesso... Então nós conversamos sobre o que ela, Alan e os filhos queriam que fosse feito com o dinheiro, não só com a quantia deixada pelo Todd, mas com as doações de amigos e pessoas da família.
A Carmi, direta como sempre, disse que queria contribuir para uma bolsa de estudos em nome do filho, pois era isto que ele queria fazer. Além da contribuição que deixou para o Ulman Fund, Todd queria que outra parte do dinheiro deixado por ele fosse para o Hope Lodge, uma organização da American Cancer Society que é uma espécie de hotel para pacientes durante o tratamento. Foi lá que a Carmi morou por nove meses e que o Todd ficou nos períodos curtos de alta, entre uma e outra internação.
É impressionante isto no povo americano. A Carmi ainda está se refazendo dos gastos, já que teve que parar de trabalhar durante a doença do filho, e mesmo assim está disposta a doar $1000 por ano para a bolsa de estudos da UCF e mais uma outra quantia para o Hope Lodge. Tudo para honrar a vontade do filho e para ajudar alguém que atravessa os mesmos problemas que Todd enfrentou com tanta coragem e dignidade. Esta família é mesmo incrível. Nunca deixo de aprender com eles.
É claro que ainda é muito difícil para a Carmi e para toda a família se conformar e aprender a conviver com a ausência do Todd. Para mim é mais fácil, pois cada vez que ando pelos corredores daquele hospital, imagino que ele está num lugar melhor, possivelmente em casa, em Iowa, jogando basquete ou futebol. Outro dia, na minha piscina, percebi que um dos salva-vidas era muito parecido com ele, então acho que meu amigo, que era excelente nadador, ainda está por perto.
Mas assim como a Carmi, a minha grande preocupação é manter vivos os ensinamentos deixados por alguém tão jovem, que mesmo depois de morto, continua a ajudar as pessoas que mais necessitam.
Além da bolsa de estudos em nome dele, vamos fazer o recrutamente de doadores de medula mês que vem, em homenagem a ele. Justo agora que se debatem os gastos com pacientes terminais, histórias como a do Todd tornam-se ainda mais importantes. O Todd foi beneficiado pelo transplante de medula, pela bondade de um doador anônimo, que deu a ele mais seis meses de vida. Se este doador não tivesse existido, o Todd teria partido muito antes e eu não o teria jamais conhecido. Sei que pode ser egoísmo meu, mas sou eternamente grata por ter conhecido não só o Todd, mas a Carmi e toda a família deles.
Estes seis meses que ele viveu pós-transplante foram um enorme presente de valor inestimável para a família, que pode conviver com ele por mais um pouco de tempo. Mas foram igualmente importantes para mim, que tive a honra e o prazer de conhecer um ser humano corajoso e evoluído que passou por aqui tão depressa. O "efeito propagador" do Todd foi e ainda está sendo enorme.
E se os cínicos insistem em dizer que o indivíduo gasta demais nos meses que antecedem a sua morte, vão ter que aceitar que o impacto que este mesmo indíviduo exerce durante este mesmo período é de um alcance absurdo.
Nos seus últimos seis meses de vida, além do transplante e de todos os tratamentos, o Todd decidiu tudo que queria fazer, mesmo quando já não estivesse mais aqui. E além das lições de otimismo e coragem que deixou nos corações de quem conviveu com ele, deixa também a esperança de que outros jovens pacientes de câncer possam concluir seus estudos, conseguir uma medula compatível que pode salvar suas vidas e finalmente seguir em frente, levando uma vida normal e saudável. Chance esta que meu amigo sequer teve.
2 comments:
Dani,
Concordo plenamente, ter conhecido você e consequentemente acompanhado de forma intensa a história do Todd com certeza terá um efeito propagador muito positivo em minha vida.
Admirável a família dele, admirável..
Bjss
Incrível esse efeito propragador!! Sinto como uma onda que me tomou!! Virei sua fã!! Passei a ler diariamente o seu blog, além disso leio pra minha mãe na certeza de que ela tem aprendido muito com a doença e com quem compartilha da mesma situação!!
Que criatura de Deus esse Todd!! e a família, hein? Corações e Almas fantásticas para superar está perda e tocar os projetos propostos por ele! Ainda com as lágrimas nos olhos e os corações em pedaços!! Gente incrível! Sorte a sua Dani, ter convivido com Todd e Carmi!!
....e a onda continua a se propragar!!
Mil beijos e o Abraço apertado da sua amiga e fã, Mari
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