August 20, 2009

Sequestro

Cheguei em casa ontem e soube atráves de um amigo que uma amiga em comum tinha acabado de receber um diagnóstico completamente inesperado de câncer de mama. Aquela velha história: jovem, saudável, sem fatores de risco, durante um exame de rotina recebe este baque. São tantos casos, mas nunca vou deixar de me surpreender.

Não dá pra tentar disfarçar, esta doença é uma merda! Em pensar que há poucas semanas nós estávamos trocando figurinhas sobre o casamento dela, marcado para o ano que vem. Ela, como toda noiva, animadíssima, com a data marcada, igreja e casa de festa acertadas, buscava informações sobre fornecedores. Meu assunto favorito! Ela estava radiante, em estado de graça, parecia que nada poderia fazê-la perder aquele brilho no olhar. Acho que é por isto que AMO casamentos, pois adoro ver pessoas queridas tão felizes.

Ontem, quando recebi a notícia, fiquei surpresa. Depois fiquei possessa. E só então fiquei triste. A minha amiga está vivendo os dois momentos mais marcantes da minha vida ao mesmo tempo: o mais feliz e também o mais triste. Como lidar com isto?

A merda desta doença é que ela não escolhe hora para chagar, ou melhor, acho que escolhe sim, pois parece que ela invade a nossa vida no pior momento possível. Parece que ela quer mesmo estragar a festa, de qualquer maneira. Quando estava tudo perfeito, quando a mocinha enfim encontra seu príncipe encantado e os dois estão finalmente prontos para "viverem felizes para sempre", algo tão terrível acontece: a mocinha fica doente. E o que parecia ser um final feliz, é só o início de uma outra história, de sofrimento, de dor, mas também de aventura, de superação, que mais do que todas as histórias merece um final feliz. E vai ter. Só que eles vão ter que esperar. O beijo e a subida dos créditos vão ter que ficar pra depois. Que balde de água fria!

Já chamei esta doença de tudo: de maldita, de infeliz, de bandida... Mas a melhor definição para ela é "sequestradora" porque de uma hora para outra você se torna refém dela, e tem que abandonar todos aqueles planos, toda aquela vida que você levava antes. Assim, do nada. Sem nenhum aviso sequer ela mostra a cara, e sem nenhum pudor, se apodera da sua vida.

Tenho certeza que é assim que a minha amiga se sente hoje. Refém de algo desconhecido e assustador, sozinha para enfrentar sua batalha. Logo agora que tudo estava perfeito...

Ainda não conversei com ela, mas quando o fizer, vou dizer a ela que tudo vai ficar bem. Que a briga vai ser boa, que vai ser um processo difícil e doído, mas que ela vai sair dele vitoriosa. E mais, que vai sair dele uma pessoa melhor.

Direi a ela também que o melhor a fazer neste momento é abrir seu coração e deixar que Deus e os amigos façam o resto. É impressionante o paradoxo, num mesmo instante nos sentimos tão sós e tão amadas, tão vulneráveis e tão protegidas, envoltas por um carinho absoluto.

Não existe mapa da mina ou manual de uso. Não existem certezas. E o ser humano não sabe lidar bem com isto, com tons de cinza no lugar do preto e do branco, com mais dúvidas so que afirmações. Não sei se algum dia vou realmente vou entender isto, mas sei que este sentimento já faz parte da minha vida.

Lembro que no meio de tanto desespero quando me preparava para minha segunda cirurgia cheguei a um lugar fascinante. No meio de tanto medo, de tanto pavor, acabei encontrando a paz. Esta mesma paz que me acompanhou até o centro cirúrgico, onde meu destino me aguardava. Naqueles minutos que antecederam a operação, me sentia extremamente calma e até feliz, por ter tanta gente torcendo e rezando por mim, por ter médicos competentes em quem confiava, em ter uma terceira chance de continuar viva.

Infelizmente aquela paz absoluta não durou para sempre. Não sei como cheguei a ela e nem como ela me deixou, mas o fato é que ela estava dentro de mim ou eu me encontrava naquele lugar fascinante de uma forma inexplicável e na hora que eu mais precisava.

Sei que há aqueles que não acreditam, mas sinto que naquela hora foi Deus quem segurou a minha mão e me levou até lá. Não sei explicar porque Ele me deixou aqui e levou tantos outros, alguns até muito melhores do que eu. Prefiro achar que a missão deles estava cumprida e a minha continua.

Ainda não descobri exatamente como continuar a minha missão, mas algo me diz que Ele me deixou aqui para colecionar estas histórias e passá-las a diante, para que os que se foram sejam sempre lembrados pelas lições deixadas e os que ficaram nunca esqueçam do que aprenderam durante esta árdua jornada.

3 comments:

A grande batalha! said...

Puxa Dani, eu tambem fico indignada cada vez que vejo jovens como nos recebendo esse diagnostico.
Passe a ela meus contatos, quem sabe eu nao possa ajuda-la pelo menos com a minha experiencia.
Forca mulher, afinal vc passa essa forca para muita gente!
Beijo grande,

Thais

Luciana Misura said...

E uma merda mesmo. Foi o que aconteceu com o meu primo, ele tinha 26 anos e com o casamento marcado foi submetido a uma apendicite. Durante a cirurgia encontraram um tumor ali escondido atras do apendice, que foi removido. Ele passou meses no hospital mas saiu, casou e hoje tem uma filhinha linda. Os medicos dizem que se nao fosse a apendicite eles nao teriam nunca descoberto o tumor a tempo (nao sei que tipo porque ele nunca entrou em detalhes sobre essa epoca). Vou torcer pra historia da sua amiga ter um final feliz como a do meu primo.

Andréa Paes said...

Passei aqui hoje porque estou numa semana muito difícil. Tenho uma amiga com o pai com cÂncer voltando, e outra com a mãe. E eu sempre com medo, pois toda a minha família paterna se foi por causa dessa "sequestradora".
Sua amiga tem o melhor exemplo e força que poderia querer: Você! Lendo seu texto, quando mencionou a batalha...é fato. Começa com a aceitação e depois com a certeza de que no final tudo ficará melhor. Lembrando de aproveitar a companhia das pessoas que ama ao máximo!
Admiro sua força e a forma que vc usa sua história pra ajudar a tantos outros.
Um agrande abraço!