Outro dia fui a outra festa para promover o livro da Kairol Rosenthal, desta vez, uma coisa mais íntima, na casa da Allison, aqui pertinho de casa. A primeira festa que fui para ela foi em Washington e comentei neste post aqui. A festa desta semana foi muito bacana porque, como o grupo era pequeno (umas sete pessoas), todo mundo falou com todo mundo e houve uma troca legal.
Foi uma noite agradável e Kairol nos contou uns casos mais detalhados e nos escutou muito. Cada um contou um pouco da sua relação com a doença e as histórias eram de encher os olhos de qualquer um de lágrimas. As atitudes também eram ótimas, muita fé e força para seguir em frente, sem pieguice. Sylvia tinha seus vinte e tantos anos e depois de descobrir um linfoma de Hodgkin, casou e há oito meses teve uma bebezinha linda. Janine teve câncer de mama aos 20 anos e agora, dez anos depois, pensa em ter filhos. Owen precisou receber um rim de seu pai aos 16 anos. Aos 23 teve linfoma não-Hogdkin e aos 26, outro linfoma, desta vez de Hodgkin. Hoje, aos 29, trabalha para o governo americano e diz viver sua vida em paz.
O único homem na festinha, foi muito sacaneado. Tem noção do que é tentar falar competindo com seis mulheres?! Coitado. Mas no final, recebeu apoio da mulherada e contou uma das melhores histórias que já ouvi.
Além de ter um protocolo que mais parece lista de supermercado, Owen tem um jeito muito non-chalant de lidar com os obstáculos que surgem em seu caminho. Como bom físico e matemático que é, mostra ser extremamente racional. “Já me aconteceu tanta coisa que nunca imaginaria. Para que perder meu tempo fabricando mais bobagem?”, ele questiona. Em vez disto, Owen diz que leu a papelada do plano de saúde de cabo a rabo e sabe direitinho o que é coberto e a porcentagem paga pelo plano. Ele se orgulha de ter TODAS as notas fiscais reconciliadas numa planilha Excel. “Uma vez me mandaram uma conta com um serviço de US$20 mil. Quando fui ver, era pela busca do órgão que eu havia recebido. Que busca se meu pai foi meu doador?! Quando ligamos para lá eles nos explicaram que a tal tarifa era para achar o cadáver e transportar o corpo do doador até o hospital onde eu estava internado. Então meu pai pegou o telefone e disse ‘Minha filha, você está falando com o tal cadáver, pois quem doou o rim para o meu filho fui eu! Ou você manda estes US$ 20 mil pra mim pelos meus serviços, ou você retira isto da fatura imediatamente!’ Nem preciso dizer que no mês seguinte a tal quantia desapareceu!,” Owen conta às gargalhadas.
Como se não bastasse ter que lidar com a doença, a gente ainda tem que lidar com os doentes mentais que dominam as seguradoras de saúde. Isto quando o paciente tem plano, pois a grande maioria dos jovens americanos não tem ou porque o emprego não oferece tal benefício ou porque na impossibilidade de pagar não pode ser coberto pelos pais. No Brasil, como último recurso ainda existe o SUS, aqui Medicaid (o sistema de saúde pago pelo governo) não cobre a maioria destes jovens porque eles estão “acima do nível mínimo de pobreza.” Histórias de famílias que tiveram que penhorar seus bens ou foram a falência por conta de despesas médicas estão longe de ser novidade por aqui...na primeira economia do mundo. Parece mentira, mas não é. Enquanto isto o Obama tenta passar a reforma do sistema de saúde em Capitol Hill. Vai precisar de sorte. De muita sorte.
2 comments:
Dani,
Nem conheço e já gostei desse cara!!Adoro gente que pensa assim, ele está certíssimo!!
Deve ter sido uma reunião muito legal, repleta de lição de vida e gente de verdade!!
Estou perplexa com a situação da saude por aí, nunca imaginei que fosse desta forma, primeiro mundo...Dinheiro para gastar com guerra não faltou, não entendo isso.
Bjssss
Meus amigos no Brasil tb não acreditam qdo conto a situação da saúde por aqui...já vi familias desesperadas com as despesas médicas, cada história pior que a outra!:-0
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