August 6, 2009

Quando não tem graça

Americano tem mania de colocar humor em tudo. Às vezes funciona, mas na maioria das vezes, não. Dos seriados com aquelas claquetes e gargalhadas forçadas até umas piadas estilo pastelão que ninguém entende...tipicamente humor americano.

A minha irmã diz que eu já estou me influenciando e achando graça em coisas extremamente sem graça. Por exemplo: Knocked Up e Superbad, dois filmes do Seth Rogen e sua turma. Tudo bem, que pra mim o filme mais engraçado de todos os tempos é Borat, mas estes dois me arrancaram umas boas gargalhadas. A minha irmã e meu cunhado não entendem como até hoje.

Mas tem certas coisas que nem meus vários anos por aqui jamais vão me fazer rir ou ao menos entender. Achar o câncer engraçado é uma delas. Acredite se quiser, mas a respeitada revista Newsweek vai publicar uma matéria sobre fazer graça com o câncer. É isto mesmo, você leu certo, uma revista tradicional americana está entrevistando jovens que tem ou tiveram a doença e pedindo para que eles contem piadas sobre ela ou lembrem-se de passagens engraçadas. Tudo bem que vomitar na cara de alguém depois da químio pode render uma cena num filme de humor pastelão, mas nada vida real, a coisa muda de figura. Claro que dá um certo gostinho a gente ver um imbecil que há pouco chamava a gente de pinguço perder a fala quando ele descobre que o motivo da abstinência é “câncer no fígado”. Mas daí a achar que o câncer é motivo para riso, já é forçar a barra.

A matéria ainda está sendo escrita e o repórter está enrevistando esta galera que depois de arrancar uma pintinha (sem desmerecer melanoma, por favor!!!), acha que merece uma medalha e que agora vive no circuito Elizabeth Arden bebendo champanhe e falando de câncer. Esquisito pacas!

Não tenho nenhum problema ao falar da doença. Inclusive acho que falo até demais, (foi assim que me livrei da terapia!), mas me recuso a fazer disto um meio de vida. Quero ajudar as pessoas, dividir a minha história de vida, aprender com elas a cada dia e me tornar uma pessoa melhor. Mas não quero perder a noção das coisas. Não quero viver em negação. Não quero banalizar uma doença que mata pelo menos um em cada quatro pacientes na minha faixa etária (pelas minhas contas, só pensando nos meus amigos, sem nenhuma base científica, mata até mais!). E é por isto que me recuso a achar que esta doença terrível é engraçada, sexy ou qualquer coisa do tipo.

O câncer me ensinou muito, sim. Aprendi muito sobre mim mesma e sobre os outros. A doença e a obrigação de conviver com ela me abriram as portas para muitas coisas positivas, mas sinceramente não contribuiram em nada para meu senso de humor. Engaraçado para mim é o Casseta,quando os caras estão inspirados, e Sasha Baron Cohen raptando a Pamela Anderson. Independente do que disserem os “experts” entrevistados pela Newsweek, gente careca e vômito em hospital, pra mim, não tem nem nunca terão a menor graça.

1 comment:

paula said...

Dani,

Incrível!! Só alguém muito imbecil para achar graça em algo tão, sei lá, não tem nem palavras, só quem realmente viveu esta experiência pode falar do assunto e não vale pintinha mesmo!!! rsrsrsr vamos entrar no clima.
É estranho uma revista como essa fazer uma matéria cancer x piada, não entendí, quiseram dar um ar mais leve a doença e não deu certo, cancer não tem nada, nada de leve. Tenho muito senso de humor, até tenho que tomar cuidado, pois as vezes é até acido demais, atribuo isso ao cancer, mais daí a me perguntar momentos engraçados? É demsia!!

Bjssss