Ainda sobre as lições que aprendi com as meninas no Screw Cancer happy Hour.
* A Allison diz que não gosta do termo 'cancer survivor' ou 'sobrevivente do câncer'. Depois de três batalhas com a doença, ela prefere ser chamada de 'fighter', ou 'lutadora'. Concordo com ela, pois o termo é mais amplo e aplicável a outras áreas da vida da gente. Também prefiro pensar que não luto CONTRA algo, mas luto POR algo. Não luto contra o câncer ou contra a doença, luto PELA minha vida, PELA realização dos meus sonhos, PELOS meus objetivos. Sempre fui assim.
* A Amber, casada há dois anos, e com 32 de idade está meio ansiosa sobre a possibilidade de ter filhos. (I hear you, sister, I hear you.) Os médicos pediram para que ela espere cinco anos, mas ela acha que é tempo demais. Depois de ouvir a minha história disse: "Está vendo, está vendo. Você esperou os cinco anos e o danado voltou! Nesta vida não há garantias." Repeti o mantra que meu médico em Hopkins diz toda a vez que eu faço a mesma pergunta pela milhonésima vez: "Não existem garantias nesta vida, mas quanto mais tempo você esperar, em teoria, mais seguro vai ser. No seu caso, você está começando a entrar na idade que a gravidez pode não acontecer tão facilmente, então precisa encontrar um meio termo. O seu fígado está bom, não há nenhum sinal da doença, então quem sou eu para tentar impedi-la? Esta opção é sua e sendo assim vamos acompanhar você bem de pertinho hoje e sempre." Como a escolha é minha, já fiz minha opção, vou tentar. Prefiro acreditar no Dr. Joaquim e achar que o último tumor era resquício do primeiro e a história triste acaba aí. Agora, bola para frente.
* A Betthany disse que adorou o livro do Randy Pausch, mas ficou um pouco incomodada com o fatalismo dele que dizia coisas do tipo "Vou morrer e pronto. Está tudo bem." Ela acha que a gente tem que acreditar que quando se tem a vida toda pela frente, morrer não está OK. Se ele era sábio demais ou a Betthany é Pollyanna demais, quem sou eu para dizer, mas preciso admitir que morrer por enquanto não está nos meus planos. Eu também consigo ver milagres em todos os cantos -- mulheres que teoricamente jamais poderiam ter filhos e hoje tem uma prole; pacientes terminais que já vivem há 20 anos; gente que em hipótese alguma voltaria a andar e hoje caminha para lá e para cá. Acho que sou otimista e prefiro me manter assim.
* A Natalia disse que morria de raiva quando os médicos a tratavam como uma criança de cinco anos. "Não é porque estou doente que de repente emburreci!," ela reclamava, dizendo que a médica usava o mesmo tom do Barney ao falar com ela, clara e pausadamente. "Você vai ter que ir a um médico que cuida do sangue e depois vai conversar com um especialista," a primeira médica disse a Natália que respondeu: "Você quer dizer que saindo daqui eu preciso marcar consulta com um hematologista e com um oncologista? Ah bem!"
O engraçado do encontro é que pude ver um pouquinho de mim em cada uma delas, as mesmas queixas, as mesmas dúvidas e os mesmos medos, apesar das nossas vidas serem bem diferentes. De repente não me senti tão E.T. assim. Ir a um evento destes não é fácil, pois como disse uma colega de trabalho, nunca se sabe quem a gente vai ou não vai encontrar nos eventos futuros, mas a vida é assim.
Uma das grandes lições que todos aprendemos quando enfrentamos uma situação tão traumática tão cedo é que NADA, absolutamente NADA deve ser ignorado ou negligenciado. A gente não pode ser blasé mesmo, pois hoje estamos aqui e amanhã onde estaremos? Sei que pode ser cliché, mas é a mais pura verdade, nesta vida não há garantia de nada, nem para mim, nem para vocês. A única diferença é que quando se enfrenta uma doença desgraçada ainda jovem, isto fica muito evidente e a gente leva isto à flor da pele, pois não dá para voltar atrás e fingir que não aconteceu nada. Ao contrário da maioria das pessoas da minha idade, eu sei o que é ficar doente de verdade, eu sei o que é chance de sobrevida, quimioterapia, ressonância, contraste, tumor, etc. Sei também o quanto vale um minuto, uma hora, um dia inteiro num CTI em cima de uma cama. (Talvez por isto os quatro meses que a minha avó passou no hospital tenham me abalado tanto.) E por este mesmo motivo sei o quanto vale um dia na praia ou uma noite de bate-papo com os amigos. Às vezes eu até esqueço e me estresso por nada, mas no final do dia, procuro respirar fundo e encontrar meu eixo mais uma vez.
Dizem que depois da doença eu mudei bastante, fiquei mais alegre, mais aberta, mais otimista. Talvez esta doença terrível tenha sido uma bênção, pois me forçou a conhecer a mim mesma. Não existe nenhum documento que garanta a minha vida nos próximos 10, 20 ou 60 anos, mas o mesmo é válido para qualquer um de nós. Quanta gente que nunca se preocupou com doença e acaba morrendo por um motivo absurdo qualquer -- acidente de trânsito, ataque cardíaco ou até bala perdida... sei lá!O que tenho aprendido aos poucos é que não há nada que possa ser feito quanto a isto, então só nos resta viver a vida e tentar aproveitar cada minuto dela. Acho que quando mais jovem estava tão preocupada com planos para o futuro que sequer via o presente se descortinar à minha frente. Hoje, depois de tudo que passei, não posso mais me dar este luxo. Talvez seja este o segredo.
2 comments:
Não tive tempo de me atualizar em todas as novidades, mas fiquei muito feliz que sua avó está em casa. Espero que ela esteja bem e que em breve ela possa ver os bisnetos que você dará para ela =)
Beijocas!
Graças a Deus, a avó Rutinha saiu do hospital... mande um beijo a ela das fãs do blog que viraram fãs dela tb ;o)
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