Volta e meia me perguntam como dei a volta por cima ao enfrentar o fantasma do câncer duas vezes nos últimos seis anos. Esta pergunta sempre me traz à memória uma cena bem triste que não tem nada a ver com a minha experiência em si.
Há mais de dez anos, minhas duas primas perderam o pai de uma forma brutal e repentina. Elas tinham doze e treze anos. Eu estava viajando quando tudo aconteceu e como não poderia retornar antes da data prevista, minha família decidiu esperar a minha volta para me contar.
Saí do aeroporto e fui direto para casa dos meus avós, onde toda a minha família estava reunida. Tudo me parecia tão surreal e não conseguia acreditar que uma tragédia tão grande tivesse se abatido sobre a nossa família.
As minhas primas, que tinham acabado de perder o pai, também estavam lá, muito tristes obviamente, mas de certa forma resignadas. A mais nova delas, sentou-se ao meu lado no sofá. Eu perguntei a ela como aquilo tinha acontecido e ela detalhadamente me relatou tudo que tinha ocorrido aquela noite, o que ela fazia, como ela soube do que tinha acontecido, como as pessoas ao lado dela tinham reagido, como o pai tinha sido levado já sem vida ao hospital. Ela demonstrava uma calma impressionante e uma postura muito diferente do que se espera de um pré-adolescente. Ela tinha apenas uns doze anos e exibia uma sabedoria de fazer inveja a qualquer adulto.
Então perguntei a ela de onde ela tirava forças para me contar aquela história e para seguir em frente dia após dia. Ela respirou fundo, apontou para o peito e disse "Daqui." Aquela cena me tocou fundo e me lembro daquela tarde como se fosse hoje.
Então quando as pessoas me perguntam como consegui enfrentar uma doença tão covarde e brutal sem enlouquecer, quando me perguntam de onde tirei forças para seguir em frente, penso na minha prima e digo: "Daqui, do fundo do meu coração." Pois é lá que guardo todo o amor e carinho que recebo da minha família, dos meus médicos e dos meus amigos.
Li uma vez que os pacientes que reagem melhor a diagnósticos bombásticos normalmente têm duas características em comum:
A) uma fé inabalável
B) um relacionamento extraordinário com seu cônguje e/ou com seus familiares
Além disso, incluo um grande grupo de amigos, que estão presentes nos momentos bons e ruins.
Para minha sorte, além da minha juventude e estilo de vida muito saudável, tive a chance de fortalecer a minha fé e meus laços afetivos com as pessoas mais que especiais que me cercam.
June 30, 2008
June 29, 2008
Por que falo a verdade?
Uma das decisões mais difíceis que tive que tomar ao longo da doença foi ter que deixar o emprego que tinha acabado de começar. Não que eu amasse o meu trabalho (o que a longo prazo seria um problema, pois não consigo trabalhar se não estiver apaixonada pelo que faço), mas pelo fato de ter sido meu primeiro emprego aqui depois de zilhões de entrevistas e de muito procurar. O salário não era lá essas coisas, a rotina era muito monótona e o trânsito, bem o trânsito estava literalmente acabando comigo: três horas diárias no escuro engarrafada numa highway americana é a minha idéia de inferno. Mas era tudo o que eu tinha. Era meu primeiro degrau, a minha esperança de que um dia poderia alcançar algo melhor, mas que o primeiro passo estava dado.
Então quando soube da cirurgia, do tempo de recuperação e do adiamente do meu retorno a Maryland e de como seria a minha vida na volta ao lar, tive que tomar mais uma decisão difícil. Tentaria negociar com eles a minha permanência? Se optasse por fazer isso, só teria férias provavelmente em 2010 e teria que voltar imediatamente ao trabalho, num lugar pra lá de deprimente onde só há restaurantes de fast-food. A diretora e toda a equipe do instituto foram extremamente amáveis e deixaram claro que me apoiariam qualquer que fosse a minha decisão. Mas no fundo, acho que eles perferiam que eu me desligasse, devido a incerteza de tudo que tinha relação comigo. E se eu tivesse uma nova recorrência? E se eu precisasse me tratar de novo? Quantas vezes eu teria que ir ao médico?
Então depois conversar com os médicos e com a minha família, decidi que o melhor a fazer era me desligar o quanto antes para que a universidade pudesse começar a busca pelo meu substituto. Detesto a palavra "substituto" porque no fundo do meu ego inflado me vejo insubstituível. Como assim encontrar alguém como eu? Impossível! Mas orgulho foi algo que aprendi a engolir bem rápido ao longo destes meses. Liguei para lá e fui direto ao assunto. A diretora foi muito delicada, mas não pude deixar de perceber -- talvez tenha sido a minha imaginação -- um certo alívio no seu tom de voz.
Desliguei o telefone aos prantos, mas já estava feito. Outra coisa que aprendi com a doença foi não chorar sobre o leite derramado. Chorei muito até fazer a ligação, mas depois de comunicar a minha decisão só chorei duas vezes: imediatamente após desligar o telefone e quando cheguei em casa e vi minha carteirinha do seguro-saúde e meus contracheques em cima da mesa... Adeus independência, voltamos ao sistema de contenção de despesas. Foi bom enquanto durou.
Mas depois não chorei mais. Fiquei pensando no que o meu grande amigo e palhaço profissional Horácio tinha me dito assim que contei para ele do tumor em dezembro. "Não pode ser. Está tudo errado. Não é possível. Não estava no script. Não, peraí, tem que ter um motivo. Tem que ter... Já sei! É este emprego que você não está gostando. É a única peça solta. É isso! Só assim você vai ter um motivo mais que nobre para sair desta porcaria que você já não estava gostando mesmo. É isso, uma chance para você deixar este emprego sem maiores dramas."
E parecia que ele tinha achado o xis da questão. Por mais maluca que a idéia do Horácio tenha sido (aliás, ele só tem idéias malucas!) para mim fez todo o sentido naquela hora. Este tumor vai me dar a chance de sair do emprego que eu detesto de uma forma nobre e digna. Bingo! Tudo tem sempre um lado bom.
Para mim, a teoria doida do Horácio virou a verdade mais absoluta. O tumor, além de ser a chave que me libertaria da prisão de um trabalho monótono, também abriria meu mundo para coisas muito mais interessantes.
Assim que voltei para Maryland, minha ex-chefe me convidou para almoçar. Ela é mesmo um amor de pessoa. Conversamos bastante e ela disse que ficaria muito feliz se pudesse me ajudar. Me deu permissão para usá-la como referência e se colocou à disposição para o que eu precisasse. Conversamos bastante e perguntei a ela o que deveria dizer sobre a minha saída da universidade. Como eu havia pensado e como quase todo mundo havia sugerido, ela disse que eu jamais deveria mencionar o fato da doença. Concordei na hora, afinal que futuro empregador daria alguma chance a alguém que teve que se ausentar do trabalho por longos períodos por problemas de saúde graves? Todo mundo morre de pena, mas na hora H, business is business e ponto final. Eu sabia que ela estava certa, mas só tinha um problema, e um problema dos grandes: eu não sei mentir. Nunca soube, toda vez que tentei quando adolescente fui pega e vi logo que não era para mim. Não sei mentir. Odeio mentira. E omitir às vezes também não é opção para mim. Não sou boa atriz.
A cada entrevista eu ia tensa, rezando para ninguém me perguntar o motivo da minha passagem tão meteórica pelo meu último emprego. A meu favor havia meus dois últimos empregos onde fiquei por três anos em cada um, então menos terrível, mas explicar uma passagem de três meses (que na verdade, tirados os dois meses no Brasil, não somava mais que um mês) era bem complicado. Mas não tinha opção. Ou pelo menos não achava que tinha.
Quando fui a entrevista na Escola de Medicina fiquei em choque. Achei que tinha me candidatado a uma vaga para fazer relações públicas para o Hospital Universitário, mas ao chegar na sala de espera reparei que tudo a minha volta falava de câncer. Por mais estranho que possa parecer, me senti em casa. Foi como se uma voz estivesse falando comigo "Bem-vinda. Aqui é o seu lugar."
A entrevista foi ótima e tive a mesma sensação que tinha experimentado nos meus dois últimos empregos. Durante a entrevista me ficou muito claro que ninguém poderia fazer aquele trabalho melhor do que eu. O emprego era meu, soubessem os entrevistadores ou não. Saí de lá muito confiante. Dias depois me ligaram pendindo as minhas referências, mas meses e meses se passaram e não tive mais notícias.
Muito estranho, pensei, mas o que tiver que ser será. Acabei aceitando um emprego de repórter para manter a minha cabeça ocupada e receber uns trocadinhos no fim do mês até que algo melhor aparecesse. Não choro mais sobre o leite derramado.
Três meses depois da entrevista inicial, o pessoal da Escola de Medicina da Universidade de Maryland me telefona de novo perguntando se ainda estava interessada no emprego. "Claro!," respondo na mesma hora. Marcamos nova entrevista com a Dra. Baquet, chefe do departamento, no dia seguinte.
Ao entrar na sala, senti exatamente a mesma coisa, uma sensação enorme de auto-confiança. "Mereço este emprego mais do que ninguém. Ninguém vai saber fazer melhor do que eu." Não era algo pedante ou egocêntrico, mas era exatamente como me sentia. E foi exatamente assim que começamos a conversa. Ela também parecia saber que a vaga era minha e já foi perguntando sobre datas, etc.
Não me lembro bem o rumo que a conversa tomou mas quando me dei conta, as palavras já tinham saído da minha boca e meus olhos já estavam marejados. "Sou voluntária da American Cancer Society. Já tirei três tumores do fígado em duas cirurgias. Conheço o câncer bem de perto, de um jeito que jamais pensei possível. Sou a única pessoa que sobreviveu ao câncer de fígado de que tenho notícias. Minha maior vontade é encontrar outros sobreviventes para não me sentir tão só." Os olhos dela se encheram de lágrimas na mesma hora. Dra. Baquet, um dos maiores expoentes na campanha contra o câncer, alguém que milita nesta causa há muitos anos, ficou imóvel por um instante. Então hesitou um pouco e disse: "Também não conheço, mas juntas vamos encontrar. Pode ter certeza, eles estão por aí."
Naquele momento me senti leve. A verdade tinha me libertado. Eu tinha mostrado a minha parte mais vulnerável e ao mesmo tempo tinha me tornado mais forte. Naquela hora ficou claro que ninguém queria aquela vaga mais do que eu. Aquela vaga era minha por direito. O mesmo motivo que me fazia uma "candidata capenga" para tantos outros empregos era a minha maior vantagem agora.
A vida é muito estranha mesmo. Como diz o ditado "O que seria do azul se todos gostassem do amarelo?" O que seria da Dani se todos os futuros empregadores procurassem por um boletim médico perfeito?
Vive la Différence! Ainda bem que há muita gente por aí disposta a arriscar... E o mais incrível aconteceu: voltei a trabalhar na Unviersidade de Maryland. Voltei a ser funcionária pública com todos os direitos e benefícios. E tudo que eu tinha deixado para trás de um dia para o outro acabou voltando para mim sem muita explicação, totalmente por acaso. Difícil de acreditar. Chega a ser quase um milagre.
Então quando soube da cirurgia, do tempo de recuperação e do adiamente do meu retorno a Maryland e de como seria a minha vida na volta ao lar, tive que tomar mais uma decisão difícil. Tentaria negociar com eles a minha permanência? Se optasse por fazer isso, só teria férias provavelmente em 2010 e teria que voltar imediatamente ao trabalho, num lugar pra lá de deprimente onde só há restaurantes de fast-food. A diretora e toda a equipe do instituto foram extremamente amáveis e deixaram claro que me apoiariam qualquer que fosse a minha decisão. Mas no fundo, acho que eles perferiam que eu me desligasse, devido a incerteza de tudo que tinha relação comigo. E se eu tivesse uma nova recorrência? E se eu precisasse me tratar de novo? Quantas vezes eu teria que ir ao médico?
Então depois conversar com os médicos e com a minha família, decidi que o melhor a fazer era me desligar o quanto antes para que a universidade pudesse começar a busca pelo meu substituto. Detesto a palavra "substituto" porque no fundo do meu ego inflado me vejo insubstituível. Como assim encontrar alguém como eu? Impossível! Mas orgulho foi algo que aprendi a engolir bem rápido ao longo destes meses. Liguei para lá e fui direto ao assunto. A diretora foi muito delicada, mas não pude deixar de perceber -- talvez tenha sido a minha imaginação -- um certo alívio no seu tom de voz.
Desliguei o telefone aos prantos, mas já estava feito. Outra coisa que aprendi com a doença foi não chorar sobre o leite derramado. Chorei muito até fazer a ligação, mas depois de comunicar a minha decisão só chorei duas vezes: imediatamente após desligar o telefone e quando cheguei em casa e vi minha carteirinha do seguro-saúde e meus contracheques em cima da mesa... Adeus independência, voltamos ao sistema de contenção de despesas. Foi bom enquanto durou.
Mas depois não chorei mais. Fiquei pensando no que o meu grande amigo e palhaço profissional Horácio tinha me dito assim que contei para ele do tumor em dezembro. "Não pode ser. Está tudo errado. Não é possível. Não estava no script. Não, peraí, tem que ter um motivo. Tem que ter... Já sei! É este emprego que você não está gostando. É a única peça solta. É isso! Só assim você vai ter um motivo mais que nobre para sair desta porcaria que você já não estava gostando mesmo. É isso, uma chance para você deixar este emprego sem maiores dramas."
E parecia que ele tinha achado o xis da questão. Por mais maluca que a idéia do Horácio tenha sido (aliás, ele só tem idéias malucas!) para mim fez todo o sentido naquela hora. Este tumor vai me dar a chance de sair do emprego que eu detesto de uma forma nobre e digna. Bingo! Tudo tem sempre um lado bom.
Para mim, a teoria doida do Horácio virou a verdade mais absoluta. O tumor, além de ser a chave que me libertaria da prisão de um trabalho monótono, também abriria meu mundo para coisas muito mais interessantes.
Assim que voltei para Maryland, minha ex-chefe me convidou para almoçar. Ela é mesmo um amor de pessoa. Conversamos bastante e ela disse que ficaria muito feliz se pudesse me ajudar. Me deu permissão para usá-la como referência e se colocou à disposição para o que eu precisasse. Conversamos bastante e perguntei a ela o que deveria dizer sobre a minha saída da universidade. Como eu havia pensado e como quase todo mundo havia sugerido, ela disse que eu jamais deveria mencionar o fato da doença. Concordei na hora, afinal que futuro empregador daria alguma chance a alguém que teve que se ausentar do trabalho por longos períodos por problemas de saúde graves? Todo mundo morre de pena, mas na hora H, business is business e ponto final. Eu sabia que ela estava certa, mas só tinha um problema, e um problema dos grandes: eu não sei mentir. Nunca soube, toda vez que tentei quando adolescente fui pega e vi logo que não era para mim. Não sei mentir. Odeio mentira. E omitir às vezes também não é opção para mim. Não sou boa atriz.
A cada entrevista eu ia tensa, rezando para ninguém me perguntar o motivo da minha passagem tão meteórica pelo meu último emprego. A meu favor havia meus dois últimos empregos onde fiquei por três anos em cada um, então menos terrível, mas explicar uma passagem de três meses (que na verdade, tirados os dois meses no Brasil, não somava mais que um mês) era bem complicado. Mas não tinha opção. Ou pelo menos não achava que tinha.
Quando fui a entrevista na Escola de Medicina fiquei em choque. Achei que tinha me candidatado a uma vaga para fazer relações públicas para o Hospital Universitário, mas ao chegar na sala de espera reparei que tudo a minha volta falava de câncer. Por mais estranho que possa parecer, me senti em casa. Foi como se uma voz estivesse falando comigo "Bem-vinda. Aqui é o seu lugar."
A entrevista foi ótima e tive a mesma sensação que tinha experimentado nos meus dois últimos empregos. Durante a entrevista me ficou muito claro que ninguém poderia fazer aquele trabalho melhor do que eu. O emprego era meu, soubessem os entrevistadores ou não. Saí de lá muito confiante. Dias depois me ligaram pendindo as minhas referências, mas meses e meses se passaram e não tive mais notícias.
Muito estranho, pensei, mas o que tiver que ser será. Acabei aceitando um emprego de repórter para manter a minha cabeça ocupada e receber uns trocadinhos no fim do mês até que algo melhor aparecesse. Não choro mais sobre o leite derramado.
Três meses depois da entrevista inicial, o pessoal da Escola de Medicina da Universidade de Maryland me telefona de novo perguntando se ainda estava interessada no emprego. "Claro!," respondo na mesma hora. Marcamos nova entrevista com a Dra. Baquet, chefe do departamento, no dia seguinte.
Ao entrar na sala, senti exatamente a mesma coisa, uma sensação enorme de auto-confiança. "Mereço este emprego mais do que ninguém. Ninguém vai saber fazer melhor do que eu." Não era algo pedante ou egocêntrico, mas era exatamente como me sentia. E foi exatamente assim que começamos a conversa. Ela também parecia saber que a vaga era minha e já foi perguntando sobre datas, etc.
Não me lembro bem o rumo que a conversa tomou mas quando me dei conta, as palavras já tinham saído da minha boca e meus olhos já estavam marejados. "Sou voluntária da American Cancer Society. Já tirei três tumores do fígado em duas cirurgias. Conheço o câncer bem de perto, de um jeito que jamais pensei possível. Sou a única pessoa que sobreviveu ao câncer de fígado de que tenho notícias. Minha maior vontade é encontrar outros sobreviventes para não me sentir tão só." Os olhos dela se encheram de lágrimas na mesma hora. Dra. Baquet, um dos maiores expoentes na campanha contra o câncer, alguém que milita nesta causa há muitos anos, ficou imóvel por um instante. Então hesitou um pouco e disse: "Também não conheço, mas juntas vamos encontrar. Pode ter certeza, eles estão por aí."
Naquele momento me senti leve. A verdade tinha me libertado. Eu tinha mostrado a minha parte mais vulnerável e ao mesmo tempo tinha me tornado mais forte. Naquela hora ficou claro que ninguém queria aquela vaga mais do que eu. Aquela vaga era minha por direito. O mesmo motivo que me fazia uma "candidata capenga" para tantos outros empregos era a minha maior vantagem agora.
A vida é muito estranha mesmo. Como diz o ditado "O que seria do azul se todos gostassem do amarelo?" O que seria da Dani se todos os futuros empregadores procurassem por um boletim médico perfeito?
Vive la Différence! Ainda bem que há muita gente por aí disposta a arriscar... E o mais incrível aconteceu: voltei a trabalhar na Unviersidade de Maryland. Voltei a ser funcionária pública com todos os direitos e benefícios. E tudo que eu tinha deixado para trás de um dia para o outro acabou voltando para mim sem muita explicação, totalmente por acaso. Difícil de acreditar. Chega a ser quase um milagre.
June 27, 2008
As causas nos escolhem
Sempre quis me envolver mais com organizações de caridade que abraçassem uma causa importante para mim, mas por um motivo ou por outro a idéia acabava caindo no esqucimento. São tantas causas nobres que merecem atenção que na hora de escolher uma para se dedicar de corpo e alma fica difícil.
Mas é aí que o destino, ou será Deus(?), se manifesta de um modo impressionante. É mais ou menos como a história do príncipe encantado: quando a gente menos espera acontece. E do dia para noite a ficha cai e quando a gente percebe já está completamente envolvida.
Já perdi a conta de quantas vezes disse que o câncer foi a melhor coisa que me aconteceu. Agora pensando bem, não sei se usaria a palavra "melhor", talvez "a mais importante" ou "a mais marcante" sejam expressões mais apropriadas. Claro que jamais teria escolhido ficar doente. Mas não tive escolha, assim como milhares de pessoas que recebem um diagnóstico tão assustador e que em questões de segundos têm que tomar uma decisão crucial: lutar ou se entregar. No meu caso, a decisão foi imediata, mas muito difícil, pois manter o otimismo e a coragem quando tudo a nossa volta está ameaçado às vezes parece impossível.
Outro dia, uma amiga me ligou dizendo que tinha achado um caroço no seio. Ela estava morta de medo, pois tinha certeza que se estivesse doente, morreria. Câncer era seu maior medo, pois quando pequena viu a tia jovem e alegre padecer e perder a batalha contra a doença. Ela nunca mais esqueceu aquela experiência terrível e desde então a idéia de um dia poder vir a desenvolver a doença a apavora.
Ela me fez uma pergunta no mínimo interessante: Como você consegue viver uma vida normal, prestar atenção no trabalho, se dedicar a trabalhos voluntários quando tem outras coisas tão mais urgentes para se preocupar, como a sua saúde? Como você consegue fazer planos para o futuro sabendo que daqui a três meses tem que fazer exames para saber se o câncer não voltou?
A minha resposta foi, mais uma vez, quase que imediata. Disse a ela: "Eu posso escolher entre viver e morrer agora. Se eu quiser morrer, então começo a me preparar agora. Começo a pensar na possibilidade do câncer voltar, nas coisas que não vou poder fazer, nos tantos sonhos que serão frustrados. Se optar por enxergar as coisas desta forma, aceito a minha morte hoje. Morro agora. Não preciso esperar o câncer voltar se quiser desistir de viver.
Mas esta não foi a escolha que fiz quando optei por viver e viver da melhor forma possível. Não vivo em negação, mas também não vivo para alimentar meus medos ou para ter pena de mim. Vivo a minha vida e procuro jamais esquecer das lições que aprendi nos momentos mais dramáticos que vivi.
Não tive escolha quando vi minha vida virar de cabeça para baixo, mas tive escolha quando decidi lutar e olhar para o inimigo e não me deixar intimidar por ele. Decidi que ia aprender com ele. Decidi que ele iria me guiar, não através do medo, mas como fonte de inspiração. Depois de me ver face a face com a morte, me senti mais viva do que nunca. Decidi que o câncer não vai ser o fantasma que vai me acompanhar pela vida toda, mas vai me servir como uma espécie de mestre que vai me mostrar e testar os meus limites, dia após dia."
E assim as coisas foram ficando cada vez mais claras para mim. E eu não precisei buscar causa nenhuma para militar, não precisei gastar nenhuma energia tentando decidir o caminho a seguir. De repente, quando percebi, me senti abraçada por ela. E entendi também que abraçar esta causa não exclui outras. Passei a me envolver mais com a minha comunidade, com a minha antiga faculdade e comigo mesma. Me tornei mais inteira.
Mas é aí que o destino, ou será Deus(?), se manifesta de um modo impressionante. É mais ou menos como a história do príncipe encantado: quando a gente menos espera acontece. E do dia para noite a ficha cai e quando a gente percebe já está completamente envolvida.
Já perdi a conta de quantas vezes disse que o câncer foi a melhor coisa que me aconteceu. Agora pensando bem, não sei se usaria a palavra "melhor", talvez "a mais importante" ou "a mais marcante" sejam expressões mais apropriadas. Claro que jamais teria escolhido ficar doente. Mas não tive escolha, assim como milhares de pessoas que recebem um diagnóstico tão assustador e que em questões de segundos têm que tomar uma decisão crucial: lutar ou se entregar. No meu caso, a decisão foi imediata, mas muito difícil, pois manter o otimismo e a coragem quando tudo a nossa volta está ameaçado às vezes parece impossível.
Outro dia, uma amiga me ligou dizendo que tinha achado um caroço no seio. Ela estava morta de medo, pois tinha certeza que se estivesse doente, morreria. Câncer era seu maior medo, pois quando pequena viu a tia jovem e alegre padecer e perder a batalha contra a doença. Ela nunca mais esqueceu aquela experiência terrível e desde então a idéia de um dia poder vir a desenvolver a doença a apavora.
Ela me fez uma pergunta no mínimo interessante: Como você consegue viver uma vida normal, prestar atenção no trabalho, se dedicar a trabalhos voluntários quando tem outras coisas tão mais urgentes para se preocupar, como a sua saúde? Como você consegue fazer planos para o futuro sabendo que daqui a três meses tem que fazer exames para saber se o câncer não voltou?
A minha resposta foi, mais uma vez, quase que imediata. Disse a ela: "Eu posso escolher entre viver e morrer agora. Se eu quiser morrer, então começo a me preparar agora. Começo a pensar na possibilidade do câncer voltar, nas coisas que não vou poder fazer, nos tantos sonhos que serão frustrados. Se optar por enxergar as coisas desta forma, aceito a minha morte hoje. Morro agora. Não preciso esperar o câncer voltar se quiser desistir de viver.
Mas esta não foi a escolha que fiz quando optei por viver e viver da melhor forma possível. Não vivo em negação, mas também não vivo para alimentar meus medos ou para ter pena de mim. Vivo a minha vida e procuro jamais esquecer das lições que aprendi nos momentos mais dramáticos que vivi.
Não tive escolha quando vi minha vida virar de cabeça para baixo, mas tive escolha quando decidi lutar e olhar para o inimigo e não me deixar intimidar por ele. Decidi que ia aprender com ele. Decidi que ele iria me guiar, não através do medo, mas como fonte de inspiração. Depois de me ver face a face com a morte, me senti mais viva do que nunca. Decidi que o câncer não vai ser o fantasma que vai me acompanhar pela vida toda, mas vai me servir como uma espécie de mestre que vai me mostrar e testar os meus limites, dia após dia."
E assim as coisas foram ficando cada vez mais claras para mim. E eu não precisei buscar causa nenhuma para militar, não precisei gastar nenhuma energia tentando decidir o caminho a seguir. De repente, quando percebi, me senti abraçada por ela. E entendi também que abraçar esta causa não exclui outras. Passei a me envolver mais com a minha comunidade, com a minha antiga faculdade e comigo mesma. Me tornei mais inteira.
June 25, 2008
Polêmica
O quadro acima, Men of the Docks, de George Bellows, pertence à coleção do Maier Museum, que fica dentro do campus da Randolph College, e está no centro de uma grande polêmica que envolve a faculdade (que até ano passado se chamava Randolph-Macon Woman's College), a comunidade local, as alunas e a associação das ex-alunas.
Por problemas financeiros, a instituição que durante 150 dedicou-se à educação feminina, viu se forçada a vender quatro de seus mais valiosos quadros e ainda foi obrigada a abrir suas portas a alunos do sexo masculina. A decisão foi dura, mas as opções eram poucas, ou implementavam-se mudanças drásticas ou a escola fecharia suas portas de uma vez por todas.
Fiquei triste quando soube da notícia. Não sei se acredito muito em educação segregada, mas gostava das tradições. Mas a verdade é que fiquei mais preocupada com a perda da marca, afinal uma escola que aceita homens jamais poderia se chamar Randloph-Macon Woman's College. E como já existe uma faculdade chamada Randolph-Macon College, viramos simplesmente Randolph College.
Devo muito a minha universidade pois foram meus anos lá que abriram meus horizontes. Pela primeira vez vivi fora de casa, num país estranho, cercada por gente de todos os cantos do mundo, do alto dos meus 18 anos. Uma experiência e tanto.
Mas no fundo nunca me senti em casa lá. Não tinha muitas amigas e fazia parte do grupinho das "outsiders". A maioria das alunas eram o que chamamos de "Southern Belles", que aos meus olhos mais pareciam imitações baratas e anacrônicas de Scarlet O'Hara. A outra minoria atuante era o oposto e militante demais. Eu ficava bem no meio, transitando pelos dois grupos, mas sem pertencer a nenhum.
Nunca tive muita saudade de lá. Jamais voltei a colocar os pés no campus depois da minha cerimônia de formatuta, há 14 anos! Tenho contato com algumas poucas amigas, mas até que fiquei bem contente em encontrar várias agora no FaceBook.
Quando recebi o convite para uma recepção aqui em Baltimore me deu uma vontade grande de ir e de fazer as pazes com a faculdade que tinha me acolhido tão bem apesar de tudo e de conhecer o novo presidente da instituição. Mas ao mesmo tempo que a vontade de me reconectar com a escola apareceu, notei que aquela adolescente outsider ainda estava viva dentro de mim. Fiquei dividida, mas depois de muito tormento decidi pegar o meu carro e ir até lá. Nestas horas penso, "isso não pode ser pior que uma cirurgia hepática, então vamos lá!
E foi muito legal. A casa da ex-aluna anfitriã era perfeita, tipo de filme mesmo. Linda, bem no meio de um bosque, superbem decorada e os filhos -- brasileiros, pasmem!! -- dois adolescentes muito bonitos estavam trabalhando na festa. A menina ia da cozinha para a sala abastecer a mesa. O menino ficou responsável pelo bar no jardim. Não é o máximo?! Eles estavam ajudando os pais e ainda ganharam uma graninha... Lindos, sorridentes e educados.
O novo presidente e sua esposa também são muito simpáticos. Ele é ex-executivo da Bungee e morou no Brasil com a família nos anos oitenta. Eloquüente e carismático tem a sua frente a árdua tarefa de unir uma faculdade que está tão dividida e amargurada. Mas eu acho que vai ficar tudo bem.
A reunião foi agradável, mas teve momentos de tensão quando ex-alunas exoressaram seu descontentamento com as decisões drásticas que haviam sido tomadas a portas fechadas. Americano é diferente mesmo. Eles falam o que têm que falar de uma forma educada e civilizada, sem deixar o sangue ferver. Não é a toa que na língua inglesa existe a expressão "We agreed to disagree," que quer dizer concordamos em discordar. Já pensou uma coisa destas na língua portuguesa?! Brasileiro concordando em discorda?! Piada!
Foi tudo ótimo e venci mais um fantasma que eu mesma tinha criado na minha cabeça. Foi ótimo ir à recepção. Foi ótimo conhecer mulheres que estudaram onde estudei e se formaram antes da minha mãe nascer! Bacana ver que isto é preservado por aqui. E ontem, para a minha surpresa, não me senti o peixe fora d'água de sempre. Para minha surpresa me senti muito bem, quase em casa.
June 24, 2008
Hopkins - que decepção!!!!
Como tinha prometido, vou detalhar com mais calma o fiasco que foi a minha consulta em Johns Hopkins. Nestas horas escuto a minha mãe que sempre diz que "os ídolos são de barro" e são mesmo, frágeis e muitas vezes ocos. Johns Hopkins para mim é isso. O maior centro de pesquisa nos Estados Unidos e um dos maiores do mundo; os melhores especialistas em doenças hepáticas; os grandes doutores sábios. Tantos adjetivos que para mim hoje não significam nada, pois e um paciente precisa do melhor tratamento possível, este não pode vir à custa de respeito e humanidade. E foi isso que vi em Hopkins: frieza, pouco caso, desrespeito, falta total de amor ao próximo, isto tudo num estabelecimento de saúde, onde a maior preocupação deveria ser com o bem estar do ser humano.
O que vi e vivi ontem só serviu para que meus sentimentos ficassem mais intensos e a minha opinião mais certa. Posso até estar bem enganada, mas hoje digo que Johns Hopkins, ou pelo menos a unidade de câncer hepático, não é lugar para mim. Se câncer está intimamente ligado a stress, então preciso deixar de lidar com aquele povo o quanto antes, mas em vez de ficar reclamando, vou explicar direitinho o motivo que me levou a pensar assim. Como este blog é terapêutico e vocês são meus analistas, vou tentar organizar minhas idéias de uma forma clara para que possa levá-las ao Dr. Tim Pawlik, já que acredito que ontem não fui muito eficiente tentando me fazer entender.
Mas vamos ao início. Quem lê este blog desde sempre vai lembrar a barra que foi "ser aceita" no hospital. Depois de deixar zilhões de recados, a secretária finalmente retorna a minha ligação com semanas de atraso. O tal Dr Michael Choti está com a agenda lotada, mas o menino-prodígio dele, Dr Tim Pawlik, pode me atender em três semanas. Por mais ridículo que possa parecer, quando consegui a minha consulta me senti como se tivesse acertado na mega-sena. Como tem gente que se contenta com migalha, não é mesmo? E naquela hora eu fui uma destas pessoas. Por se tratar de Hopkins e dos MAIORES ESPECIALISTAS DO MUNDO EM HEPATOCARCINOMA FIBROLAMELAR, esqueci de uma das dicas que aprendi com meu casamento e prometi levar para toda a vida: fornecedor que começa dando problema, vai dar problema até o final. O melhor a fazer é livrar-se dele. Mas como se tratava do bambambam em câncer de fígado, resolvi deixar a minha máxima de lado. Grande erro!!!
Então conforme tinha sido instruída, fui até o hospital munida de todos os meus exames dos últimos cinco anos e meio e do espécimen que tinha trazido comigo do Brasil. Pois é, o tumor em pedacinhos ali pronto para ser analisado. Isso tudo duas ou três semanas antes da consulta. Quem quiser ler o post da consulta, é só clicar aqui.
No dia D, cheguei lá fiz os exames de sangue e a tomografia e depois de esperar horas pela consulta qual a minha surpresa ao perceber que o médico sequer tinha visto meus exames antigos! Enquanto falava comigo, ele lia o relatório e sorrindo dizia que estava tudo bem comigo. Naquela hora me esqueci da espera na sala, da grosseria das assistentes, no pouco caso com que tinha sido tratada até ali. O exames estavam ótimos e o câncer não havia voltado, então tudo bem. Eles poderiam ter pisado em mim, me chutado e me chamado de tudo que jamais ia reclamar, afinal estava saudável.
Ele me pediu que trouxesse o espécimem para que a patologia de Hopkins -- surpresa: A MELHOR PATOLOGIA DO MUNDO! -- examinasse o tumor de novo. Eu e o Blake olhamos para ele atônitos: "Como assim, trazer o tumor?! O tumor foi entregue há semanas! Você não sabia? E os exames, você também não os viu?" Ele disse que não que ia ver com a equipe dele. Não gostei da resposta. Imagina se os loucos resolvem perder meu material. Os exames...e o pior, o tumor! A última coisa que quero no mundo é ter que "fabricar" um outro tumor no fígado para estes malucos olharem!
Saímos de lá preocupados e dias depois quando fui marcar uma nova consulta, perguntei sobre meu material. "Você deixou aonde?" perguntou a sempre simpática e agradável enfermeira. "Como assim, cara-pálida?! Deixei tudo com VOCÊ no dia tal, na hora tal par aque o Dr. Pawlik visse tudo antes da minha consulta! (O que obviamente não tinha acontecido.) Tudo bem que o "cara-pálida" foi inserido aqui, mas que perguntei a ela onde tinha ido parar o tumor, perguntei. A resposta dela foi vaga. "Vamos procurar e lhe daremos um retorno." Ela ligou para vocês? Nem pra mim!
A estas alturas comecei a me preocupar muito. Como deixei vários recados para as duas assitentes do médico, resolvi fazer as coisas do meu jeito. Como boa repórter que sou, descobri uma meia-dúzia de números de patologia em Hopkins e comecei a ligar. E um me transferia para o outro que me transferia para um até que alguém fez a seguinte pergunta: "Mas a senhora é a paciente?! Então por que está ligando para cá? A equipe do seu médico deveria estar fazendo isso." Minha resposta: "Mas elas não estão. Sendo assim faço eu, a maior (ou serei a única?) interessada." A moça do outro lado da linha ficou quieta e logo depois disse que não havia nada meu lá.
Os meses foram passando e recebo pelo correio a confirmação da minha consulta para 7 de julho. Algumas semanas depois, outra carta: consulta transferida para 30 de junho. Dias depois mais uma carta, nova data: 14 de julho. Peraí, paciência tem limite, dia 14 de julho vou estar no Brasil.
Ligo para lá e para minha supresa alguém atende o telefone. Explico a situação, a voz seca me diz que no dia 30 de junho que vai estar fora do país e o Dr. Pawlik e me dá duas opções, 23 de junho ou 30 de julho. Garanto logo a primeira data disponível antes que a bruxa mude de idéia. Confirmo tudo: minha consulta, minha tomo, meu exame de sangue -- tudo marcado para o dia 23 de junho, mesmo horário? Ela diz que sim.
Dias depois recebo um envelope enorme que tem Dr Pawlik como remetente. Abro e vejo que são todos os meus exames feitos no Brasil. Que bom, pelo menos eles ficariam seguros comigo. Procuro por alguma carta, bilhete que me explique alguma coisa. Como sou tola, não há nada lá.
Os dias vão passando e na sexta-feira anterior à consulta de ontem ainda me espanto de não ter recebido um telefonema de confirmação. (Sou mesmo uma idiota!) Fico com a pulga atrás da orelha esperando a bomba estourar. Não, não tenho poderes paranormais, só um pouco de inteligência.
Ontem acordei nervosa. Tive uma noite péssima, cheia de pesadelos, sabia que o dia não seroa fácil, mas não achei que elas chegariam a tanto.
Encontro com o Blake perto do trabalho dele. Deixo meu carro lá e vamos juntos para Hopkins. Estamos lá pontualmente às 14.20 para o exame de sangue marcado para as 14.30. Apresento a minha "identidade Hopkins" e vou ao check-in de pacientes. A recepcionista vê minha consulta às 15.00, o exame de sangue às 13.30, mas não há sinal da tomografia. Ótimo, o médico vai olhar o que? Ela me olha com cara de ponto de interrogação, minha irritação começa... Ela é solícita e diz que vai bipar o Pawlik. Claro que antes ela tentou falar com as simpáticas assistentes dele sem sucesso.
Minutos depois ela me chama. Houve um engano, marcaram minha consulta para 23 de julho!!!! Mas ela ia tentar me encaixar. Menos mal... Faço o exame de sangue, corro para a sala de tomo. Até aí tudo bem, as minhas "moving veins" se comportam bem e em vez de cinco furos como de costume, desta vez só tenho dois!!! (Não falei que me alegro com pouco?)
São 14.45 e ainda não comi nada, começo a ficar tonta e um pouco mal humorada, mas vou logo para a sala de espera do Pawlik. Chegando lá faço amizade com duas senhoras. Uma delas tem câncer no útero e no último laudo da tomo foi constatado um tumor no fígado. Ela se trata num hospital na Virginia e recebeu a sentença de morte na quinta. Mas como não é só no Brasil que o ditado "quem tem padrinho não morre pagão" funciona, um sobrinho oncologista dela conseguiu uma consulta com o Pawlik em 48 horas. Até aí tudo bem. Ela foi encaixada às 16.00. A minha consulta é as 15.00. Às 16.15 ela é chamada. Eu não! Assisto a cena incrédula. Quando pergunto a recepcionista o motivo, ela sem graça me diz: "A enfermeira dele pediu para passá-la na frente." Engulo em seco, morta de ódio, que diga-se de passagem, faz mal ao fígado.
Às 16.50, somos levados da sala de espera para outra sala onde o aguardamos. Ele sai da consulta com as senhoras, entra na sala da equipe e...entra em outra sala onde estão outros pacientes que chegaram muito depois de mim!!! Provavelmente a consulta das 17.00!!! E eu ali mofando!!!
Não agüentei!!! Entrei na tal sala onde a enfermeira simpática estava e perguntei o que estava acontecendo, afinal a minha consulta era às 15.00 e eram mais de 17.00 e eu continuava ali e vários pacientes que chegaram depois de mim já tinham sido atendidos. A víbora olha na minha cara e diz que o que importava não era a hora de chgada, mas a hora da consulta. Então tenho a resposta na ponta da língua: "Mas o primeiro paciente que ele viu era o das 16.00 e a minha consulta estava marcada para as 15.00!!!" Ela disse que não. EU ODEIO QUANDO MENTEM NA MINHA CARA! Fui me enfurecendo, mas por algum motivo, quanto mais meu sangue fervia, mais baixo eu falava e ela mais alto. "Ninguém me disse que aquela senhora estava marcada para as 16.00, ela me mostrou o papel com o horário da consulta dela!" Então a simpática diz que não era isso que estava na agenda do médico!! Mentira, pois a recepcionista tinha me dito que a enfermeira-megera tinha solicitado a mudança! Eu disse que não sabia mais o que dizer, que só queria ser tratada com respeito e dignidade e que isso não era pedir muito. Ela impacientemente limitou-se a dizer. "Errei, sinto muito. Não posso fazer nada. Você vai ser a próxima. Posso voltar a fazer meu trabalho?" E me virou as costas. Eu queria matá-la!! Mas mais uma vez engoli meu choro e meu orgulho e voltei para a tal salinha.
Cinco minutos depois entra o doutor-sorriso. "Olá, desculpe a demora. Tudo bem?" Eu desabo! "Tudo bem?! Tudo péssimo, doutor, estou cansada de ser espezinhada pela sua equipe. Ele me olha atônito: "Foi a demora de hoje?" Eu respondo: "Quem me dera, doutor. Foi tudo, desde o início. Sempre grosseiras, de má vontade, descompromissadas, até o tumor perderam e sequer me deram satisfação. Só sei que você s o acharam porque recebi a conta da patologia lá em casa." Digo a ele que acho que vou ter que me consultar em outro lugar, onde receba o tratamento que mereço. Ele diz que de jeito nenhum, que isso não vai acontecer, que eu ligue quando for mais conveniente para mim para marcar a consulta, etc. Eu respondo que sinceramente tenho medo das assitentes dele e pergunto se há uma forma de contatá-lo direto. Ele me dá o cartão e o email. Ele diz que está sempre conectado e que vai entrar em contato comigo se eu precisar. Não sei bem se acredito nele, mas ele me parece genuíno.
Então depois de um dia exaustivo e de seis horas no hospital recebo as notícias que tanto estava aguardando. Ele lê rapidamente o relatório, olha uns números na tela do computador e diz. "Você está ótima, perfeita. É uma pena você ter que receber as melhores notícias possíveis da pior forma possível."
É isso aí, doutor, falou e disse.
E foi assim, bem anticlimático o meu dia em Hopkins. Um dia tão aguardado -- boas notícias dadas de forma muito ruim. Nas palavras do sábio doutor, estou bem, saúde perfeita. Melhor esperar até o fim do ano para engravidar, só por precaução.
E para terminar, devolvi a pesquisa de satisfação que me entregaram na entrada. No papel tinha a minha hora de chegada, o horário da consulta e a hora da saída. E ainda dizia algo assim: "O tempo é preciso. Você não pode gurdá-lo, mas pode gastá-lo. Não pode medir, mas pode perder.." E outras baboseiras do tipo.
Claro que fiz questão de colocar a hora de saída e ainda acrescentei: "Aparentemente o meu tempo não é tão precioso assim, pois acabo de ver a paciente as 16.00 entrar antes de mim, cuja consulta era as 15.00. Estou muito decepcionada. Só esperava ser tratada com um mínimo de respeito e dignidade que um paciente de câncer (ou qualquer um) merece."
Passar bem, Hopkins. Não sei se vocês vão me ver de novo não...
O que vi e vivi ontem só serviu para que meus sentimentos ficassem mais intensos e a minha opinião mais certa. Posso até estar bem enganada, mas hoje digo que Johns Hopkins, ou pelo menos a unidade de câncer hepático, não é lugar para mim. Se câncer está intimamente ligado a stress, então preciso deixar de lidar com aquele povo o quanto antes, mas em vez de ficar reclamando, vou explicar direitinho o motivo que me levou a pensar assim. Como este blog é terapêutico e vocês são meus analistas, vou tentar organizar minhas idéias de uma forma clara para que possa levá-las ao Dr. Tim Pawlik, já que acredito que ontem não fui muito eficiente tentando me fazer entender.
Mas vamos ao início. Quem lê este blog desde sempre vai lembrar a barra que foi "ser aceita" no hospital. Depois de deixar zilhões de recados, a secretária finalmente retorna a minha ligação com semanas de atraso. O tal Dr Michael Choti está com a agenda lotada, mas o menino-prodígio dele, Dr Tim Pawlik, pode me atender em três semanas. Por mais ridículo que possa parecer, quando consegui a minha consulta me senti como se tivesse acertado na mega-sena. Como tem gente que se contenta com migalha, não é mesmo? E naquela hora eu fui uma destas pessoas. Por se tratar de Hopkins e dos MAIORES ESPECIALISTAS DO MUNDO EM HEPATOCARCINOMA FIBROLAMELAR, esqueci de uma das dicas que aprendi com meu casamento e prometi levar para toda a vida: fornecedor que começa dando problema, vai dar problema até o final. O melhor a fazer é livrar-se dele. Mas como se tratava do bambambam em câncer de fígado, resolvi deixar a minha máxima de lado. Grande erro!!!
Então conforme tinha sido instruída, fui até o hospital munida de todos os meus exames dos últimos cinco anos e meio e do espécimen que tinha trazido comigo do Brasil. Pois é, o tumor em pedacinhos ali pronto para ser analisado. Isso tudo duas ou três semanas antes da consulta. Quem quiser ler o post da consulta, é só clicar aqui.
No dia D, cheguei lá fiz os exames de sangue e a tomografia e depois de esperar horas pela consulta qual a minha surpresa ao perceber que o médico sequer tinha visto meus exames antigos! Enquanto falava comigo, ele lia o relatório e sorrindo dizia que estava tudo bem comigo. Naquela hora me esqueci da espera na sala, da grosseria das assistentes, no pouco caso com que tinha sido tratada até ali. O exames estavam ótimos e o câncer não havia voltado, então tudo bem. Eles poderiam ter pisado em mim, me chutado e me chamado de tudo que jamais ia reclamar, afinal estava saudável.
Ele me pediu que trouxesse o espécimem para que a patologia de Hopkins -- surpresa: A MELHOR PATOLOGIA DO MUNDO! -- examinasse o tumor de novo. Eu e o Blake olhamos para ele atônitos: "Como assim, trazer o tumor?! O tumor foi entregue há semanas! Você não sabia? E os exames, você também não os viu?" Ele disse que não que ia ver com a equipe dele. Não gostei da resposta. Imagina se os loucos resolvem perder meu material. Os exames...e o pior, o tumor! A última coisa que quero no mundo é ter que "fabricar" um outro tumor no fígado para estes malucos olharem!
Saímos de lá preocupados e dias depois quando fui marcar uma nova consulta, perguntei sobre meu material. "Você deixou aonde?" perguntou a sempre simpática e agradável enfermeira. "Como assim, cara-pálida?! Deixei tudo com VOCÊ no dia tal, na hora tal par aque o Dr. Pawlik visse tudo antes da minha consulta! (O que obviamente não tinha acontecido.) Tudo bem que o "cara-pálida" foi inserido aqui, mas que perguntei a ela onde tinha ido parar o tumor, perguntei. A resposta dela foi vaga. "Vamos procurar e lhe daremos um retorno." Ela ligou para vocês? Nem pra mim!
A estas alturas comecei a me preocupar muito. Como deixei vários recados para as duas assitentes do médico, resolvi fazer as coisas do meu jeito. Como boa repórter que sou, descobri uma meia-dúzia de números de patologia em Hopkins e comecei a ligar. E um me transferia para o outro que me transferia para um até que alguém fez a seguinte pergunta: "Mas a senhora é a paciente?! Então por que está ligando para cá? A equipe do seu médico deveria estar fazendo isso." Minha resposta: "Mas elas não estão. Sendo assim faço eu, a maior (ou serei a única?) interessada." A moça do outro lado da linha ficou quieta e logo depois disse que não havia nada meu lá.
Os meses foram passando e recebo pelo correio a confirmação da minha consulta para 7 de julho. Algumas semanas depois, outra carta: consulta transferida para 30 de junho. Dias depois mais uma carta, nova data: 14 de julho. Peraí, paciência tem limite, dia 14 de julho vou estar no Brasil.
Ligo para lá e para minha supresa alguém atende o telefone. Explico a situação, a voz seca me diz que no dia 30 de junho que vai estar fora do país e o Dr. Pawlik e me dá duas opções, 23 de junho ou 30 de julho. Garanto logo a primeira data disponível antes que a bruxa mude de idéia. Confirmo tudo: minha consulta, minha tomo, meu exame de sangue -- tudo marcado para o dia 23 de junho, mesmo horário? Ela diz que sim.
Dias depois recebo um envelope enorme que tem Dr Pawlik como remetente. Abro e vejo que são todos os meus exames feitos no Brasil. Que bom, pelo menos eles ficariam seguros comigo. Procuro por alguma carta, bilhete que me explique alguma coisa. Como sou tola, não há nada lá.
Os dias vão passando e na sexta-feira anterior à consulta de ontem ainda me espanto de não ter recebido um telefonema de confirmação. (Sou mesmo uma idiota!) Fico com a pulga atrás da orelha esperando a bomba estourar. Não, não tenho poderes paranormais, só um pouco de inteligência.
Ontem acordei nervosa. Tive uma noite péssima, cheia de pesadelos, sabia que o dia não seroa fácil, mas não achei que elas chegariam a tanto.
Encontro com o Blake perto do trabalho dele. Deixo meu carro lá e vamos juntos para Hopkins. Estamos lá pontualmente às 14.20 para o exame de sangue marcado para as 14.30. Apresento a minha "identidade Hopkins" e vou ao check-in de pacientes. A recepcionista vê minha consulta às 15.00, o exame de sangue às 13.30, mas não há sinal da tomografia. Ótimo, o médico vai olhar o que? Ela me olha com cara de ponto de interrogação, minha irritação começa... Ela é solícita e diz que vai bipar o Pawlik. Claro que antes ela tentou falar com as simpáticas assistentes dele sem sucesso.
Minutos depois ela me chama. Houve um engano, marcaram minha consulta para 23 de julho!!!! Mas ela ia tentar me encaixar. Menos mal... Faço o exame de sangue, corro para a sala de tomo. Até aí tudo bem, as minhas "moving veins" se comportam bem e em vez de cinco furos como de costume, desta vez só tenho dois!!! (Não falei que me alegro com pouco?)
São 14.45 e ainda não comi nada, começo a ficar tonta e um pouco mal humorada, mas vou logo para a sala de espera do Pawlik. Chegando lá faço amizade com duas senhoras. Uma delas tem câncer no útero e no último laudo da tomo foi constatado um tumor no fígado. Ela se trata num hospital na Virginia e recebeu a sentença de morte na quinta. Mas como não é só no Brasil que o ditado "quem tem padrinho não morre pagão" funciona, um sobrinho oncologista dela conseguiu uma consulta com o Pawlik em 48 horas. Até aí tudo bem. Ela foi encaixada às 16.00. A minha consulta é as 15.00. Às 16.15 ela é chamada. Eu não! Assisto a cena incrédula. Quando pergunto a recepcionista o motivo, ela sem graça me diz: "A enfermeira dele pediu para passá-la na frente." Engulo em seco, morta de ódio, que diga-se de passagem, faz mal ao fígado.
Às 16.50, somos levados da sala de espera para outra sala onde o aguardamos. Ele sai da consulta com as senhoras, entra na sala da equipe e...entra em outra sala onde estão outros pacientes que chegaram muito depois de mim!!! Provavelmente a consulta das 17.00!!! E eu ali mofando!!!
Não agüentei!!! Entrei na tal sala onde a enfermeira simpática estava e perguntei o que estava acontecendo, afinal a minha consulta era às 15.00 e eram mais de 17.00 e eu continuava ali e vários pacientes que chegaram depois de mim já tinham sido atendidos. A víbora olha na minha cara e diz que o que importava não era a hora de chgada, mas a hora da consulta. Então tenho a resposta na ponta da língua: "Mas o primeiro paciente que ele viu era o das 16.00 e a minha consulta estava marcada para as 15.00!!!" Ela disse que não. EU ODEIO QUANDO MENTEM NA MINHA CARA! Fui me enfurecendo, mas por algum motivo, quanto mais meu sangue fervia, mais baixo eu falava e ela mais alto. "Ninguém me disse que aquela senhora estava marcada para as 16.00, ela me mostrou o papel com o horário da consulta dela!" Então a simpática diz que não era isso que estava na agenda do médico!! Mentira, pois a recepcionista tinha me dito que a enfermeira-megera tinha solicitado a mudança! Eu disse que não sabia mais o que dizer, que só queria ser tratada com respeito e dignidade e que isso não era pedir muito. Ela impacientemente limitou-se a dizer. "Errei, sinto muito. Não posso fazer nada. Você vai ser a próxima. Posso voltar a fazer meu trabalho?" E me virou as costas. Eu queria matá-la!! Mas mais uma vez engoli meu choro e meu orgulho e voltei para a tal salinha.
Cinco minutos depois entra o doutor-sorriso. "Olá, desculpe a demora. Tudo bem?" Eu desabo! "Tudo bem?! Tudo péssimo, doutor, estou cansada de ser espezinhada pela sua equipe. Ele me olha atônito: "Foi a demora de hoje?" Eu respondo: "Quem me dera, doutor. Foi tudo, desde o início. Sempre grosseiras, de má vontade, descompromissadas, até o tumor perderam e sequer me deram satisfação. Só sei que você s o acharam porque recebi a conta da patologia lá em casa." Digo a ele que acho que vou ter que me consultar em outro lugar, onde receba o tratamento que mereço. Ele diz que de jeito nenhum, que isso não vai acontecer, que eu ligue quando for mais conveniente para mim para marcar a consulta, etc. Eu respondo que sinceramente tenho medo das assitentes dele e pergunto se há uma forma de contatá-lo direto. Ele me dá o cartão e o email. Ele diz que está sempre conectado e que vai entrar em contato comigo se eu precisar. Não sei bem se acredito nele, mas ele me parece genuíno.
Então depois de um dia exaustivo e de seis horas no hospital recebo as notícias que tanto estava aguardando. Ele lê rapidamente o relatório, olha uns números na tela do computador e diz. "Você está ótima, perfeita. É uma pena você ter que receber as melhores notícias possíveis da pior forma possível."
É isso aí, doutor, falou e disse.
E foi assim, bem anticlimático o meu dia em Hopkins. Um dia tão aguardado -- boas notícias dadas de forma muito ruim. Nas palavras do sábio doutor, estou bem, saúde perfeita. Melhor esperar até o fim do ano para engravidar, só por precaução.
E para terminar, devolvi a pesquisa de satisfação que me entregaram na entrada. No papel tinha a minha hora de chegada, o horário da consulta e a hora da saída. E ainda dizia algo assim: "O tempo é preciso. Você não pode gurdá-lo, mas pode gastá-lo. Não pode medir, mas pode perder.." E outras baboseiras do tipo.
Claro que fiz questão de colocar a hora de saída e ainda acrescentei: "Aparentemente o meu tempo não é tão precioso assim, pois acabo de ver a paciente as 16.00 entrar antes de mim, cuja consulta era as 15.00. Estou muito decepcionada. Só esperava ser tratada com um mínimo de respeito e dignidade que um paciente de câncer (ou qualquer um) merece."
Passar bem, Hopkins. Não sei se vocês vão me ver de novo não...
June 23, 2008
Notícias breves
Acabei de chegar em casa. Passei um dia inteiro em Hopkins e quase surtei. Estou cansada demais para entrar em detalhes, mas prometo que amanhã conto tudo.
Fiquei EMOCIONADA com a quantidade de comentários e emails que recebi hoje. Fecharam com chave de ouro um dia bem difícil, mas positivo.
As boas notícias: estou saudável, exames perfeitos e nenhum sinal do tumor. Tudo que pedi a Deus.
As más notícias: as enfermeiras do Pawlik se superaram no desrespeito e na falta de sensibilidade. A consulta foi um fiasco. Só para resumir, a minha consulta estava marcada para as 15:00, quando o Pawlik entrou na sala para me ver eu estava aos prantos depois de ter batido boca com a assistente dele. Já eram mais de 17:30. Tenho muito mais para contar. Preciso desabafar, mas agora só tenho forças para chegar até a cama e desabar.
Boa noite! Amanhã é um outro dia -- graças a Deus.
Ansiedade
De uns dias para cá tenho estado assustada. A cada vez que telefone toca do meu lado, dou um pulo. Quando o Blake entra sem fazer muito barulho, levo um susto e tanto.
Não tinha percebido o motivo até este o fim da semana passada, quando olhei minha agenda e vi a consulta marcada em Hopkins.
Como se não bastasse o motivo da consulta, o acesso ao pessoal de Hopkins é muito problemático o que só faz com que uma experiência por si só complexa torne-se quase um fantasma.
Se o Dr. Pawlik parece ser muito simpático o mesmo não pode ser dito sobre a equipe dele. As enfermeiras e assistentes são secas distantes, sem falar que não sabem o significado da expressão "retornar a ligação". Então tudo relativo a consulta fica envolto numa aura de mistério e suspense que, convenhamos, não é o que eu preciso numa hora destas.
Tenho tentado focar o pensamento em coisas boas, afinal tenho tido ótimas notícias ultimamente, ams volta e meia a cena dentro daquela sala escura de ultrassom me vem à cebeça.
Hoje sei que me encontro num daqueles momentos decisivos ao longo da minha caminhada. Em poucas horas vou saber se tenho sinal verde para colocar muitos planos em prática ou se vou continuar em espera por mais algum tempo. Difícil não ficar tensa, mas a minha fé é maior.
Preciso ser forte e pensar que a fase ruim ficou para trás. Ainda tenho muito para fazer e mal comecei a trilhar meu caminho.
Mais tarde volto para dar notícias.
Tipagem da Medula
Num post antigo, tinha pedido a quem pudesse que ajudasse o Felippe e fazendo a tipagem da medula óssea, pois o nosso amigo procura urgentemente por doadores compatíveis.
Como todo mundo sabe, numa hora destas o tempo é nosso inimigo, então é difícil manter a calma, mas o Felippe tem se superado. Quem quiser mais informações sobre ele pode clicar aqui
Então fica aqui um novo apelo aos meus amigos saudáveis e generosos.
Daqui a pouco vou para Hopkins em busca de mais informações e boas notícias. Fiquem na torcida.
Como todo mundo sabe, numa hora destas o tempo é nosso inimigo, então é difícil manter a calma, mas o Felippe tem se superado. Quem quiser mais informações sobre ele pode clicar aqui
Então fica aqui um novo apelo aos meus amigos saudáveis e generosos.
Daqui a pouco vou para Hopkins em busca de mais informações e boas notícias. Fiquem na torcida.
June 21, 2008
Hopkins de novo...
Segunda, dia 23 de junho, terei minha segunda consulta em Johns Hopkins. Estou bastante ansiosa, pois recebi a fatura deles sobre a análise/biósia do especimem que trouxe comigo. Estou rezando muito por boas notícias e curiosa para saber se eles acharam algo de diferente. Só quero notícias boas.
Vamos ficar em compasso de espera até lá. Haja coração. Segunda vou seguir a rotina de paciente profissional no Admirável Mundo Novo de Johns Hopkins mais uma vez. Vou passar fome mais uma vez, pois a ressonância só acontece às 15:00 e até lá nem água! Vou mostrar minha carteirinha laranja de "paciente Hopkins" e da recepção mesmo começo a minha jornada. Mais uma luta para encontrar uma veia, mais um sacrifício para puncioná-la, mas torcida para que ela sirva tanto para o sangue quanto para o contraste, coisa que quase nunca acontece. Mas vai valer a pena e eu não vou ter nada. Se é para saber que estou saudável, podem me arrancar o couro que estou sorrindo.
Mas que estou segurando a respiração estou... Não vejo a hora de soltar aquele grito de alívio.
Mais do que nunca, vou me conectar com "Ele" lá em cima. Vou pedir para que Ele me dê bastante saúde para que eu continue e minha missão.
Mas agora só orações, pensamentos e vibrações mais que positivas...
Vamos ficar em compasso de espera até lá. Haja coração. Segunda vou seguir a rotina de paciente profissional no Admirável Mundo Novo de Johns Hopkins mais uma vez. Vou passar fome mais uma vez, pois a ressonância só acontece às 15:00 e até lá nem água! Vou mostrar minha carteirinha laranja de "paciente Hopkins" e da recepção mesmo começo a minha jornada. Mais uma luta para encontrar uma veia, mais um sacrifício para puncioná-la, mas torcida para que ela sirva tanto para o sangue quanto para o contraste, coisa que quase nunca acontece. Mas vai valer a pena e eu não vou ter nada. Se é para saber que estou saudável, podem me arrancar o couro que estou sorrindo.
Mas que estou segurando a respiração estou... Não vejo a hora de soltar aquele grito de alívio.
Mais do que nunca, vou me conectar com "Ele" lá em cima. Vou pedir para que Ele me dê bastante saúde para que eu continue e minha missão.
Mas agora só orações, pensamentos e vibrações mais que positivas...
June 20, 2008
Hope is the thing with feathers
Hope is the thing with feathers
That perches in the soul,
And sings the tune without the words,
And never stops at all,
And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.
I've heard it in the chilliest land
And on the strangest sea;
Yet, never, in extremity,
It asked a crumb of me.
-- Emily Dickinson
Update
Esta semana tem sido uma correria só, vários projetos paralelos além das reportagens e diárias do mergermaket.com
Nunca achei que trabalhar em casa fosse tão intenso, mas pensando bem, não podia ser diferente para alguém tão intensa e workaholic como eu. Como não tenho horário de trabalho fixo e tenho acesso ilimitado à internet, qualquer hora é hora e me pego debruçada neste computador muito mais que doze horas por dia. É por essas e outras que o Blake está feliz com meu novo trabalho. Pelo menos em tese, meu dia vai acabar quando eu sair da universidade. Vamos ver.
Trabalhar em casa é muito cômodo mas pode rapidamente virar escravidão, pois nunca acho que estou fazendo o bastante. Volta e meia pergunto ao Blake se ele acha que eu trabalho muito. Ele me olha com cara de espanto e diz: "Demais! Você está sempre trabalhando. Fim de semana, tarde da noite, você está sempre pensando na próxima matéria. Você parece 'a dona do negócio' e isso é estressante.Tenho que concordar com ele.
No momento estou revisando o conteúdo do site de uma vinícola, o que é a coisa mais irônica do mundo, pois eu NÃO bebo nada praticamente! Até gosto de drinks doces ou de um bom vinho, mas depois das minhas cirurgias hepáticas podem me dizer o que for, álcool nunca vai ter um gosto bom pra mim...
Mas de tanto escrever sobre vinho até me deu vontade de experimentar uma safra bem especial que eles produzem lá. Quem sabe quando for ao Brasil vou topar fazer a degustação. Que é engraçado é...euzinha aqui, totalmente ignorante quando o assunto é birita, escrevendo sobre a explosão de sabores que invocam cerejas negras e sei lá mais o que.
Minha vida está interessante mesmo... Uma semana com o Frank Sinatra Jr em Atlantic City, na outra semana entrevistando o CEO de uma grande multinacional na Carolina do Norte, e na outra escrevendo o texto para o site de uma vinícola no Vale do São Francisco. Fora meu outros artigos para publicações no Brasil que devem começar a aparecer no fim do mês.
Vamos rezar para esta maré boa continua... Segunda tem consulta em Johns Hopkins, então vamos tratar de começar a reza. Sei que eles analisaram o tumor...então terei bastante respostas em pouco tempo.
Ai que frio na barriga!!!
Nunca achei que trabalhar em casa fosse tão intenso, mas pensando bem, não podia ser diferente para alguém tão intensa e workaholic como eu. Como não tenho horário de trabalho fixo e tenho acesso ilimitado à internet, qualquer hora é hora e me pego debruçada neste computador muito mais que doze horas por dia. É por essas e outras que o Blake está feliz com meu novo trabalho. Pelo menos em tese, meu dia vai acabar quando eu sair da universidade. Vamos ver.
Trabalhar em casa é muito cômodo mas pode rapidamente virar escravidão, pois nunca acho que estou fazendo o bastante. Volta e meia pergunto ao Blake se ele acha que eu trabalho muito. Ele me olha com cara de espanto e diz: "Demais! Você está sempre trabalhando. Fim de semana, tarde da noite, você está sempre pensando na próxima matéria. Você parece 'a dona do negócio' e isso é estressante.Tenho que concordar com ele.
No momento estou revisando o conteúdo do site de uma vinícola, o que é a coisa mais irônica do mundo, pois eu NÃO bebo nada praticamente! Até gosto de drinks doces ou de um bom vinho, mas depois das minhas cirurgias hepáticas podem me dizer o que for, álcool nunca vai ter um gosto bom pra mim...
Mas de tanto escrever sobre vinho até me deu vontade de experimentar uma safra bem especial que eles produzem lá. Quem sabe quando for ao Brasil vou topar fazer a degustação. Que é engraçado é...euzinha aqui, totalmente ignorante quando o assunto é birita, escrevendo sobre a explosão de sabores que invocam cerejas negras e sei lá mais o que.
Minha vida está interessante mesmo... Uma semana com o Frank Sinatra Jr em Atlantic City, na outra semana entrevistando o CEO de uma grande multinacional na Carolina do Norte, e na outra escrevendo o texto para o site de uma vinícola no Vale do São Francisco. Fora meu outros artigos para publicações no Brasil que devem começar a aparecer no fim do mês.
Vamos rezar para esta maré boa continua... Segunda tem consulta em Johns Hopkins, então vamos tratar de começar a reza. Sei que eles analisaram o tumor...então terei bastante respostas em pouco tempo.
Ai que frio na barriga!!!
June 18, 2008
A Boa nova
Uma coisa inacreditável aconteceu: recebi outra oferta de emprego da Universidade de Maryland. Desta vez no campus de Baltimore, bem mais perto daqui, mais precisamente na Escola de Medicina, e o melhor de tudo: para fazer parte da equipe dos programas de educação e prevenção ao...CÂNCER!
Pois como diz a minha amiga Dani Espejo, agora vou receber salário para fazer o que tenho feito de graça. Estou superfeliz! A gente vai amadurecendo e percebe que as pessoas verdadeiramente felizes são aquelas que fazem o que amam, que usam seu talento em prol de uma causa nobre e justa, o que convenhamos não é nada fácil nos dias de hoje. Então estou me sentindo a mais sortuda dos mortais! E quem diria que todo o meu sofrimento iria se transformar numa coisa boa? Que a minha saúde complicada ia me ajudar a chegar mais perto de um emprego fascinante.
Sou meio cética quanto a tudo, então não quero me encher de muito entusiasmo para não me decepcionar depois, mas estou me sentindo privilegiada de trabalhar com uma das maiores médicas americanas no combate ao câncer. A minha nova chefe tem nada menos do que US$8 milhões em verbas para programas de pesquisa e prevenção ao câncer e é obviamente superengajada na causa. Dra Baquet virou oncologista depois de ter visto a mãe lutar contra um câncer de mama, quando ainda era pequena. O sofrimento da mãe inspirou a vocação da filha.
Eu nunca tive vocação para medicina, por mais que admire os bons médicos e as maravilhosas contribuições da profissão. Durante muito tempo me senti culpada por não poder servir ao meu próximo, mas ultimamente consegui entender que meu talento pode ser usado em prol da mesma causa, mas de outra forma.
Sou comunicativa por natureza, sempre gostei de ler e de escrever. Também gosto muito de falar, de dividir minhas experiências e de aprender com os outros, então acho que este trabalho vai ser ótimo para mim, pois vou atravessar o estado de Maryland justamente divulgando as campanhas educacionais e os recursos acessíveis aos pacientes de câncer. Vou poder ajudar muita gente. Vou acompanhar de perto a mudança das leis no Estado de Maryland (sim, Dra. Baquet é muito atuante em Annapolis e Washington). De certa forma, a minha vida vai ser um eterno Relay for Life, então haja coração.
Confesso que hoje me lembrei das palavras que minha avó Ruth me disse quando me viu desesperada ao saber da segunda cirurgia de fígado, menos de seis meses atrás. "Minha filha, lembre-se de Jó, o homem bom e fiel de quem tudo foi tirado. Ele não se revoltou, mas teve fé e perseverou e Deus lhe deu tudo de volta."
Amém.
June 16, 2008
Meu filho vai ter nome de santo...
Hoje passei o dia todo trabalhando e assistindo TV. Vários programas sobre o Tim Russert em várias emissoras de TV o tempo todo. Americano sabe como ninguém fazer homenagem àqueles que se vão e eu que nos últimos meses me transformei na pior manteiga derretida fiquei aqui me debulhando em lágrimas.
Sempre achei o Tim Russert o máximo, tanto como profissional tanto como ser humano. Nunca sequer o vi e não assisti o Meet the Press tanto quanto gostaria, mas por algum motivo, o Tim morava no meu coração.
O cara era muito família, acho que por isto gostava tanto dele. Hoje, seu filho único, Luke apareceu no Today Show para falar do pai. Fiquei impressionada com a desenvoltura dele no programa. Um jovem de 22 anos extremamente centrado e articulado, filho de dois grandes jornalistas.
Matt Lauer, apresentador do Today Show, despediu-se de Luke com a seguinte frase. "Luke você recebeu este nome em homenagem a São Lucas, o mesmo homem que escreveu A quem muito foi dado, muito. será exigido;."
Fiquei emocionada e me lembrei da letra de Pais e Filhos do Legião Urbana:
Meu filho vai ter
Nome de santo
Quero o nome
Mais bonito...
Penso exatamente como Tim Russert e Renato Russo.
Sempre achei o Tim Russert o máximo, tanto como profissional tanto como ser humano. Nunca sequer o vi e não assisti o Meet the Press tanto quanto gostaria, mas por algum motivo, o Tim morava no meu coração.
O cara era muito família, acho que por isto gostava tanto dele. Hoje, seu filho único, Luke apareceu no Today Show para falar do pai. Fiquei impressionada com a desenvoltura dele no programa. Um jovem de 22 anos extremamente centrado e articulado, filho de dois grandes jornalistas.
Matt Lauer, apresentador do Today Show, despediu-se de Luke com a seguinte frase. "Luke você recebeu este nome em homenagem a São Lucas, o mesmo homem que escreveu A quem muito foi dado, muito. será exigido;."
Fiquei emocionada e me lembrei da letra de Pais e Filhos do Legião Urbana:
Meu filho vai ter
Nome de santo
Quero o nome
Mais bonito...
Penso exatamente como Tim Russert e Renato Russo.
June 15, 2008
Tim Russert
Como jornalista não poderia deixar de falar da morte do ícone do jornalismo americano Tim Russert. Tim era apresentador do Meet the Press, melhor programa de entrevistas nos EUA e possivelmente no mundo. Era direto sem perder a elegância; educado, sem ter medo de fazer perguntas difíceis; firme sem ser arrogante, coisa rara nos dias de hoje.
Apesar de não o conhecer pessoalmente, o Tim era daquelas pessoas que a gente gosta de longe. Num mundo onde valores como família e religião andam tão esquecidos, Tim sempre fazia questão de falar de seu pai, Big Russ, ainda vivo, e de seu filho, Luke, que acabou de se formar na faculdade. Era autor do bestseller Big Russ & Me, pai e filho: lições de vida., que nada mais era que uma homenagem ao pai. Tim era casado com com Maureen Orth, jornalista da Vanity Fair, há vinte cinco anos.
Numa sociedade secular, Tim era católico praticante e sempre levava um terço consigo. Era muito grato à educação católica que tinha recebido em escolas jesuítas. Dizem que ele fez uma promessa de que se tivesse um filho saudável jamais deixaria de ir à missa. Ele tinha acabado de voltar da Itália de férias com a família, onde teve uma audiência com o Papa Bento XVI.
Tim morreu sexta-feira, vítima de um enfarte fulminante nos estúdios de NBC em Washington, quando gravava as chamadas do programa que iria ao ar este domingo. Tinha voltado de férias mais cedo para gravar; o filho e a esposa tinham ficado na Itália. Tim morreu trabalhando, fazendo o que mais gostava. Sempre digo que esta morte é um prêmio para quem vai, já que não envolve longas temporadas de sofrimento em hospital, mas é uma tremenda covardia para quem fica, que de uma hora para a outra e sem a menor explicação perde alguém que tanto ama de uma forma brutal.
Enfim, além do profissional excepcional, na minha opinião, o melhor em atividade nos EUA, Tim Russert era gente como a gente, ser humano bacana mesmo e vai fazer muita falta. Os domingos aqui nos EUA jamais serão iguais sem a inteligência e a generosidade de Tim Russert.
Perde o jornalismo mundial, perde o público americano, perdem a família e os amigos de Tim...
June 13, 2008
Santo Antônio...este é bom!
Estou cheia de novidades para contar, mas por isto mesmo ando sem tempo nenhum. As novidades têm a ver com trabalho e projetos paralelos, coisas que têm me deixado muito ocupada mas ao mesmo tempo bem contente. Depois volto aqui para postar com calma.
Só não poderia deixar de prestar uma homenagem a um dos meus santinhos favoritos, o Santo Antônio, que foi merecidamente homenageado no meu casamento... Três meses depois de fazer uma simpatia mais que louca, conheci o Blake. Um ano e meio depois estávamos casados -- na Igreja de São Francisco da Penitência, que fica dentro do Convento de Santo Antônio, no Rio!!!!
June 11, 2008
Mais Fotos do Relay
As fotos abaixo foram tiradas neste sábado durante o Relay For Life, aqui de Freedom, MD.
Foram momentos muito tocantes para mim e para a minha família. Por coincidência, meu irmão Rodrigo e a namorada dele e minha amiga, Renata, estão aqui me visitando, então foram comigo em com o Blake ao evento.
O Relay For Life, ou revezamento pela vida, dura em média doze horas e lembra um dia na jornada de um paciente de câncer. A idéia é que evento comece à tarde e termine na manhã do dia seguinte, pois o câncer não tem hora certa para atacar.
A cerimônia de abertura é linda. Como vocês podem ver um uma das fotos, uma pista inteira é tomada por tochas e velas embaladas em sacos de papel que representam pacientes que lutam ou lutaram contra a doença. Algumas tochas/velas dizem "em honra" dos sobreviventes ou "em memória" daqueles que já se foram. Impossível não se emocionar ao pensar que cada uma daquelas pessoas sofreu e lutou e que algumas tiveram sorte e sucesso e outras nem tanto.
Nestas horas a gente se pergunta o porquê, mas não encontra nenhuma resposta que faça sentido. "Estava escrito" ou "Assim foi a vontade de Deus", são frases que nos são ditas por quem também busca fazer sentido do inexplicável.
Passei aquelas 12 horas com o choro engasgado na garganta. Aliás, nos últimos meses, o choro que estava guardado lá no fundo da minha alma por tanto tempo, volta e meia chega aos meus olhos, que lutam para ficar secos. Muitas vezes a batalha é inglória e inútil.
Meu pai me pergunta por que eu insisto em lembrar de tanta coisa ruim. Não sei bem qual é a reposta, mas acho que no meio de tanta coisa ruim acabei descobrindo muita coisa boa. Encontrei seres humanos maravilhosos, descobri que já conhecia outros, fiquei mais próxima de mim mesma, daqueles que me amam e de Deus. Continuo a minha jornada mas sou uma outra pessoa.
Às vezes me pergunto por que fui poupada de um câncer que na maioria dos casos pode ser letal. Deve haver algum motivo. Alguém tinha que ficar para contar a história e para encontrar outros que vão vencer a batalha.
Se no início me sentia sozinha na caminhada, aos poucos vou achando outros soldados solitários. Já recrutei a Thalita e estou em busca do resto meu exército. Sobreviventes do câncer de fígado, uni-vos!
Foram momentos muito tocantes para mim e para a minha família. Por coincidência, meu irmão Rodrigo e a namorada dele e minha amiga, Renata, estão aqui me visitando, então foram comigo em com o Blake ao evento.
O Relay For Life, ou revezamento pela vida, dura em média doze horas e lembra um dia na jornada de um paciente de câncer. A idéia é que evento comece à tarde e termine na manhã do dia seguinte, pois o câncer não tem hora certa para atacar.
A cerimônia de abertura é linda. Como vocês podem ver um uma das fotos, uma pista inteira é tomada por tochas e velas embaladas em sacos de papel que representam pacientes que lutam ou lutaram contra a doença. Algumas tochas/velas dizem "em honra" dos sobreviventes ou "em memória" daqueles que já se foram. Impossível não se emocionar ao pensar que cada uma daquelas pessoas sofreu e lutou e que algumas tiveram sorte e sucesso e outras nem tanto.
Nestas horas a gente se pergunta o porquê, mas não encontra nenhuma resposta que faça sentido. "Estava escrito" ou "Assim foi a vontade de Deus", são frases que nos são ditas por quem também busca fazer sentido do inexplicável.
Passei aquelas 12 horas com o choro engasgado na garganta. Aliás, nos últimos meses, o choro que estava guardado lá no fundo da minha alma por tanto tempo, volta e meia chega aos meus olhos, que lutam para ficar secos. Muitas vezes a batalha é inglória e inútil.
Meu pai me pergunta por que eu insisto em lembrar de tanta coisa ruim. Não sei bem qual é a reposta, mas acho que no meio de tanta coisa ruim acabei descobrindo muita coisa boa. Encontrei seres humanos maravilhosos, descobri que já conhecia outros, fiquei mais próxima de mim mesma, daqueles que me amam e de Deus. Continuo a minha jornada mas sou uma outra pessoa.
Às vezes me pergunto por que fui poupada de um câncer que na maioria dos casos pode ser letal. Deve haver algum motivo. Alguém tinha que ficar para contar a história e para encontrar outros que vão vencer a batalha.
Se no início me sentia sozinha na caminhada, aos poucos vou achando outros soldados solitários. Já recrutei a Thalita e estou em busca do resto meu exército. Sobreviventes do câncer de fígado, uni-vos!
June 10, 2008
Entrevista VIP ou Uma vez repórter...
Uma vez repórter, sempre repórter. É exatamente assim que me sinto. Embora tenha passado anos longe da minha profissão, ao chegar aqui nos EUA, entendi, depois de muito bater a cabeça, que o caminho mais fácil para a volta ao mercado seria partir do início, ou seja, voltar para onde tudo começou aqui.
Vim para os EUA em 1992 estudar comunicação. Como meu sonho era ser correspondente internacional, acabei me formando em Comunicação e Relações Internacionais, com um minor (uma concentração menor) em alemão, afinal, ao contrário do que a gente vê por aí, um correspondente internacional deve ser fluente em vários idiomas. Enfim, saí de lá com meu diploma pronta para voltar para o Brasil e fazer uma carreira brilhante no jornalismo televisivo.
Dá para perceber que as coisas não aconteceram bem assim. Apesar de toda a minha bagagem, estudos no exterior, bolsas de estudo, recomendações, etc, o pessoal no Brasil reagia com "curiosidade" ao me conhecer. Volto a lembrar que isto aconteceu no início dos anos 90, quando viajar para o exterior ainda era "coisa rara" e estudar no exterior era só para milionário, ou bolsista (meu caso), mas o fato é que em cada entrevista que eu fazia, me sentia um ET. As perguntas do entrevistador eram no mínimo estranhas, coisas tipo "Se você estudou nos EUA por que quer trabalhar no Brasil?"
Depois de dar entrada no pedido de revalidação no meu diploma e esperar por dois anos, resolvi voltar para os EUA. Meus professores universitários insistiam e eu acabei conseguindo outra bolsa. Vim para Nova York em 1996 e foi a melhor coisa que fiz na vida. Em 1998 terminei o mestrado na NYU.
Sempre quis fazer TV, mas pelo menos por aqui, em início de carreira, TV paga muito pouco ou nada, então não era uma opção viável. Depois de dois estágios na CNN e na NBC, acabei caindo de pára-quedas no jornalismo financeiro, que paga melhor, e fui ficando até conseguir escapar de volta para o Brasil, onde comecei a trabalhar em comunicação corporativa, marketing, etc.
Enfim, não me tornei nenhuma Barbara Walters, mas não posso me queixar. Até ano passado, o jornalismo estava tão distante de mim que achei que jamais fosse voltar ao batente. É bem verdade que durante os tempos de "exílio corporativo", coordenava sessão de fotos, gravação de vídeo, escrevia releases, etc, mais como hobby do que outra coisa.
Mas o tempo passou e acabei voltando ao jornalismo financeiro, ainda que temporariamente, então não poderia recusar a missão impossível que me foi dada por ninguém menos do que o meu melhor amigo de sempre, Horácio Brandão, o mago do entretenimento no Brasil.
A verdade é que apesar de ter trabalhado com todo o jet-set do entretenimento mundial, de Rolling Stones a Police, passando por todos os ballets e tenores do mundo, o Horácio não consegue esquecer que a gente apresentava o festival de música do colégio do alto dos nossos 14 anos e foi exatamente isso que aconteceu esta sexta-feira passada. De uma forma insólita, conseguimos reviver aqueles momentos, ali no palco com Frank Sinatra Jr e orquestra.
O próximo evento internacional do Horácio será a tournê brasileira de Frank Sinatra, Jr. Vocês não sabiam que o Blue Eyes tinha um filho cantor? Nem eu! Mas o cara é músico dos bons e trabalha muito desde os anos 60.
O dia foi meio surreal, depois de uma senama punk, pois além de ser a repórter on-camera, fui também a produtora, e o Blake foi o researcher e assistente de câmera, mas valeu muito a pena.
O Sinatra Jr. é uma pessoa bem reservada e introvertida, talvez por ter crescido à sombra do pai. O fato é que numa época do culto à celebridade, o cara só quer ser anônimo.
A entrevista em si foi um desafio, pois ao contrário do pai, o Sinatra Jr é completamente avesso à badalação. No fundo ele é músico e só. Fazer com que ele se abra não é para qualquer um, mas confesso que em alguns momentos senti a casca dele quebrar um pouquinho. Um sorriso tímido aqui, uma historinha interessante ali, até que a entrevista ficou legal. Digo isso com um certo orgulho, pois a última entrevista dele no Today Show aqui foi triste.
Um dos momentos mais interessantes foi quando perguntei se ele imaginava que a sua carreira poderia ter sido diferente se ele tivesse um outro sobrenome. Depois de um começo meio padrão, ele acabou confessando que tudo que ele sonhava desde criança era
ser pianista, mas que por ter a voz parecida com a do pai, além da semelhança física notável e do sobrenome, ninguém deixava que ele pisasse no palco sem cantar. E como toda pessoa comum, o que ele não cansa de frisar, ele precisava trabalhar e se cantar era parte do pacote, não havia como negar.
Fiquei pensando... Normalmente, a gente culpa a falta de recursos ou de contatos quando não realiza nossos sonhos. Se eu não precisasse de dinheiro, se eu tivesse amigos no meio, se eu tivesse uma mãozinha...tanta coisa poderia ter acontecido. Bom, o caso do Sinatra era justo o oposto. Ele tinha dinheiro demais, conhecimento demais e o peso incrível de um sobrenome legendário. Tanto peso que acabou sufocado e ficando preso na figura do crooner.
Por isso foi muito legal ver o ensaio do show, pois além de cantar ele regeu uma orquestra de 50 músicos. Para quem é leigo como eu, é impressionante ver que enquanto canta o cara percebe que a harpa não entrou no tempo certo, ou que há um violino atrasado... Detalhes tão importantes para um músico mas muitas vezes imperceptíveis para o resto dos mortais, mas que fazem toda a diferença no resultado final.
Outra coisa legal do Sinatra Jr. é a generosidade com que ele trata os músicos da orquestra. Não só os que tocaram com o Sinatra pai, mas todos que dividem o palco com ele. De novo, a figura da celebridade temperamental passa longe. Graças a Deus. Apesar de não ser muito carismático, por outro lado é um alívio perceber que o cara é na dele e não tem nada de fanfarrão.
Quem tiver interesse, vai poder ver o show dele no Brasil, pois a tournê Sinatra by Sinatra vai percorrer o país de norte a sul. O show é uma viagem ao passado e se você fechar os olhos vai jurar que está escutando o inesquicível Frank Sinatra pai. Vale a pena!
Os fãs da Família Soprano, vão recenhecer o Paulie numa das fotos aqui. Ele é muito amigo do Frankie e estava lá durante todo o ensaio e obviamente durante o show. Foi um dos momentos engraçados da noite, quando o cantor fez referência à amizade da família com a "Cosa Nostra". Ele nega, põe a culpa nos terríveis tablóides enquanto o Paulie, com a cabeleira inconfundível, caminha em direção a ele no palco.
Fora o dia de repórter com o Sinatra, foi ótimo rever o Horácio e bater perna pela cidade que luta para se livrar da fama de cafona. Tem umas lojas bacanas nos cassinos, mas a cidade em si...well, como diria o Horácio, é uma Guarapari americana. Eu vou mais além e acho que é uma mistura de Araruama com Itacuruçá, mais os cassinos.
Mas valeu muito! Eu saí de lá muito feliz de ter conseguido o que a Meredith Vieira (âncora do Today Show) não conseguiu: conhecer um pouquinho da personalidade do Frank Sinatra Jr. O Horácio ficou feliz por ganhar uma balança digital do Caesar's Cassino (isso é assunto pra outro post!), o Blake adorou ter visto o ensaio do show e sua primeira experiência atrás das câmeras. Só não gostou da minha resposta quando o Frankie perguntou o que uma carioca estava fazendo em New Jersey e eu disse: "O motivo está ali", e apontei para ele, que estava segurando a luz para o câmera. O Blake disse: "Agora o Sinatra vai pensar que você veio morar aqui porque casou com o 'cara da luz'!!!"
Só faltava essa!!!
June 9, 2008
Engajamento, aqui e aí
Sei que ainda não fiz um post especial sobre o Relay For Life. Vou escrever com mais calma e colocar as fotos ainda hoje.
Mas enquanto isso, coloco outras fotos de um outro evento que também me deixou muito feliz. Este fim de semana aconteceu a caminhada contra o câncer de mama no Rio e três amigas minhas resolveram partipar. NAda mais justo que postar as fotos da Dani, da Gê e da Gi, que acordaram cedo ontem de manhã e rumaram para o Aterro do Flamengo e se jutnaram a milhares de pessoas na luta contra este bandido covarde. Fiquei muito orgulhosa de cada uma delas, saudáveis e engajadas.
Embora não tenha tido câncer de mama, conheço muitas pessoas que lutaram bravamente contra a doença. Tenho sorte, pois minhas amigas todas sobreviveram e estão mais saudáveis e mais felizes do que nunca para contar a história.
Mas é importante celebrar e continuar arrecadando fundos para a pesquisa para que um dia ninguém mais tenha que ouvir a frase assustadora: "Você tem câncer." E quanto mais pessoas se engajarem nesta luta, mais rápido este dia vai chegar. O câncer não discrimina -- atinge jovens e idosos, negros, brancos, pobres e ricos, homens e mulheres sem dó nem piedade. Então nada mais apropriado do que uma força-tarefa para derrubar um inimigo tão covarde e assutador. Eventos como a caminhada no Aterro ou o Relay For Life, aqui em Maryland, me mostram que estamos caminhando a passos largos nesta direção. E isto me dá uma certa paz. Me traz algum tipo de tranqüilidade, pois estamos no caminho certo.
Tenho tido a oportunidade de conversar com médicos e cientistas que trabalham noite e dia em busca de medicações e terapias para erradicar o câncer. O compromisso deles é infinito, mas infelizmente a verba não. Então tenho muito orgulho de pessoas que abraçam esta causa. Tenho orgulho de vocês, meninas, que toparam acordar cedo num domingo e mostrar que o câncer não tem a menor chance contra as "Meninas Superpoderosas"!
June 8, 2008
Relay for Life
Acabo de chegar em casa. Nosso Relay teve inicio ontem a tarde e so acabou agora de manha. Estou exausta, mas muito contente e muito orgulhosa.
Nao e segredo para ninguem que eu nao sou muito fa aqui de Maryland, principalmente da cidadezinha onde moro. Nao ha nada de errado na verdade, mas simplesmente nao tem nada a ver comigo.
Mas hoje enxergo a cidade com olhos diferentes. Uma cidadezinha de uns vinte e poucos mil habitantes levantou US$160 mil dolares ate o dia do evento. E simplesmente inacreditavel!
Foram momentos muito emocionantes que tive a sorte de compartilhar nao so com o Blake, meu companheiro de todas as horas, mas com o meu irmao, Rodrigo, e a namorada dele e amiga minha, Renata. Tudo bem que americano pode ser over de vez em quando, mas que os caras sabem muito de engajamento, e fato.
Mais tarde volto aqui com fotos e mais detalhes sobre o evento. Alguns amigos que ainda estao na batalha vao ver seus nomes la e as luminarias em homenagem a eles. Foi realmente muito tocante e bonito. Queria que houvesse eventos como este no Brasil.
Nao e segredo para ninguem que eu nao sou muito fa aqui de Maryland, principalmente da cidadezinha onde moro. Nao ha nada de errado na verdade, mas simplesmente nao tem nada a ver comigo.
Mas hoje enxergo a cidade com olhos diferentes. Uma cidadezinha de uns vinte e poucos mil habitantes levantou US$160 mil dolares ate o dia do evento. E simplesmente inacreditavel!
Foram momentos muito emocionantes que tive a sorte de compartilhar nao so com o Blake, meu companheiro de todas as horas, mas com o meu irmao, Rodrigo, e a namorada dele e amiga minha, Renata. Tudo bem que americano pode ser over de vez em quando, mas que os caras sabem muito de engajamento, e fato.
Mais tarde volto aqui com fotos e mais detalhes sobre o evento. Alguns amigos que ainda estao na batalha vao ver seus nomes la e as luminarias em homenagem a eles. Foi realmente muito tocante e bonito. Queria que houvesse eventos como este no Brasil.
June 5, 2008
Rumo a Atlantic City
Dando uma fugida no assunto principal do blog, amanha cedo vamos para Atlantic City para um dia de trabalho meio sui-generis. Por incrivel que possa parecer depois de morar cinco anos em NY nunca pisei em AC. Ja ouvi de tudo e amanha vou conferir com meus proprios olhos.
Depois volto para contar as novidades... Alias tenho varias!
June 3, 2008
Thalita
Se tem uma coisa que o câncer nos ensina é a humildade. A doença derruba qualquer vestígio de arrogância que pode ter existido dentro de nós.
E nesta jornada solitária conhecemos das formas mais absurdas possíveis pessoas simplesmente impressionantes.
Depois de me ver no jornal e tentar digerir um pouco a minha história que às vezes me parece surreal, "conheci" a Thalita. O "conheci" está entre aspas porque ela está no Rio e eu em Maryland, mas ficamos horas no MSN batendo papo e contando as coincidências que nos unem. A começar pela natureza e pelo tamanho do problema -- tumor no fígado, de tamanho grande. Acabamos descobrindo também que temos amigas em comum e até o Padre Sergio entra na equação louca.
Para resumir a história, a Thalita disse que a prima de um amigo dela tinha passado "meu blog para ela depois da descoberta do tumor no fígado. Acontece que a prima do Leandro, amigo da Thalita, não é ninguém menos do que a Clarice, irmã da Cristina, que é minha amiga e estava aqui na minha casa em Maryland até semana passada. Este mundo não é mesmo um ovo?
Mas além das coincidências (ou como a Thalita e a minha mãe dizem, providências), o que mais me impressionou na Thalita foi a atitude dela. Ela tem um astral maravilhoso e está tranqüila e feliz por ter descoberto a doença a tempo e ter tido tanto apoio da família e dos amigos.
Dizer isso é fácil. Sentir isso são outros quinhentos. Mas o sentimento dela é genuino. Fica muito claro que ela não fala da boca pra fora, é fácil perceber que ela sente isso. Que apesar de todos os problemas e pedras no caminho dela, seu foco é o horizonte e é lá que ela vai chegar. Isso me impressiona demais.
Como disse à Thalita, fiquei muito triste quando soube do problema dela, pois sei da gravidade dele e rezo sempre para que ninguém tenha que enfrentá-lo, pois a batalha é dura. Mas depois de falar com ela, me senti mais tranqüila. A atitude e o otimismo dela são contagiantes. Ela é inteligente e sabe do que se trata, mas ao mesmo tempo é sábia e percebe que nestas horas a serenidade é nossa maior aliada.
Desejo tudo de bom para a Thalita e já incluí o nome dela às minhas orações daqui para frente. Sempre pedi a Deus que me mostrasse um outro sobrevivente de câncer hepático, acho que já deve ter chegado a hora.
O engraçado é que quando recebi o email da Thalita, queria logo entrar em contato com ela para "encorajá-la", mas depois de falar com ela, percebi que quem tinha saído daquela conversa encorajada tinha sido eu.
E nesta jornada solitária conhecemos das formas mais absurdas possíveis pessoas simplesmente impressionantes.
Depois de me ver no jornal e tentar digerir um pouco a minha história que às vezes me parece surreal, "conheci" a Thalita. O "conheci" está entre aspas porque ela está no Rio e eu em Maryland, mas ficamos horas no MSN batendo papo e contando as coincidências que nos unem. A começar pela natureza e pelo tamanho do problema -- tumor no fígado, de tamanho grande. Acabamos descobrindo também que temos amigas em comum e até o Padre Sergio entra na equação louca.
Para resumir a história, a Thalita disse que a prima de um amigo dela tinha passado "meu blog para ela depois da descoberta do tumor no fígado. Acontece que a prima do Leandro, amigo da Thalita, não é ninguém menos do que a Clarice, irmã da Cristina, que é minha amiga e estava aqui na minha casa em Maryland até semana passada. Este mundo não é mesmo um ovo?
Mas além das coincidências (ou como a Thalita e a minha mãe dizem, providências), o que mais me impressionou na Thalita foi a atitude dela. Ela tem um astral maravilhoso e está tranqüila e feliz por ter descoberto a doença a tempo e ter tido tanto apoio da família e dos amigos.
Dizer isso é fácil. Sentir isso são outros quinhentos. Mas o sentimento dela é genuino. Fica muito claro que ela não fala da boca pra fora, é fácil perceber que ela sente isso. Que apesar de todos os problemas e pedras no caminho dela, seu foco é o horizonte e é lá que ela vai chegar. Isso me impressiona demais.
Como disse à Thalita, fiquei muito triste quando soube do problema dela, pois sei da gravidade dele e rezo sempre para que ninguém tenha que enfrentá-lo, pois a batalha é dura. Mas depois de falar com ela, me senti mais tranqüila. A atitude e o otimismo dela são contagiantes. Ela é inteligente e sabe do que se trata, mas ao mesmo tempo é sábia e percebe que nestas horas a serenidade é nossa maior aliada.
Desejo tudo de bom para a Thalita e já incluí o nome dela às minhas orações daqui para frente. Sempre pedi a Deus que me mostrasse um outro sobrevivente de câncer hepático, acho que já deve ter chegado a hora.
O engraçado é que quando recebi o email da Thalita, queria logo entrar em contato com ela para "encorajá-la", mas depois de falar com ela, percebi que quem tinha saído daquela conversa encorajada tinha sido eu.
June 2, 2008
Virei notícia!!!
Ontem foi um dia superespecial para mim e hoje para minha surpresa vi a matéria no jornal local. Claro que quero comemorar com vocês, que já devem estar de saco cheio de tanto ouvir esta mesma história.
Na verdade quem viu a matéria foi o Blake, pois ando tão ocupada que não tive tempo de nada. Como repórter que sou, sou bem crítica, mas fora o grafia errada do meu nome (Duron ao invés de Duran -- também quem manda ter dois nomes tão parecidos) achei a matéria muito legal, pois a minha mensagem estava bem clara. O repórter entendeu exatamente o motivo pelo qual eu estava ali. E isso é raro.
Fiquei feliz com o resultado, mas vou deixar vocês julgarem por si mesmos. Cliquem aqui para ver a matéria que saiu no Carroll County Times.
June 1, 2008
Eu, o fantasma
Sexta-feira, o pessoal da ACS aqui de Maryland perguntou se eu toparia ser entrevistada pelo jornal local. Eles ia cobrir nosso evento, Relay For Life, e queriam conversar com um "sobrevivente". Como também faço parte do comitê organizador, meu nome foi sugerido.
Acho até engraçado esta troca de papéis, pois não é a primeira vez que a repórter acaba sendo objeto da notícia. Pensando bem, já estive de todos os lados dela: como repórter, "buscando" a notícia, como assessora de imprensa, "gerando a notícia", e em outros papéis, sendo a própria notícia. Enfim, como adoro notícia de qualquer jeito, topei na hora, pois acho que parte da minha missão agora é contar a minha história.
O repórter e o fotógrafo chegaram. Os dois eram supernovinhos e muito simpáticos. Mal podiam esconder a surpresa ao me encontrar. O episódio me lembrou a matéria que a GNT fez no meu casamento, quando o Happy Hour usou a gente como gancho para um programa sobre amor online. Obviamente, o Blake e eu éramos o caso de sucesso. A surpresa do repórter foi tanta, que quando o programa foi ao ar, ele teve que fazer um "mea culpa" e admitiu ter pensado que estava indo a um "casamento nerd" e ao chegar lá deu de cara com gente mais do que normal.
Hoje não foi muito diferente. Eles chegaram lá achando que ia ser fácil achar alguém com cara de paciente de câncer. Levaram um tempinho pra me encontrar, lá na mesa de informações da ACS. Eles já tinham um briefing meu e queriam mais detalhes da minha história. Quando mais eu falava, mais a expressão deles se tornava assustada. "Duas cirurgias? Duas vezes câncer no fígado? Setenta por cento do fígado retirado? Depois mais quarenta?"
Conforme eu ia contando a minha história, mais sobrenatural ela parecia. De repente parecia que eles estavam falando com um ET, ou melhor, com um fantasma. Com alguém que já deveria ter ido desta para uma melhor, mas por algum motivo louco estava ali na frente deles.
Já me aconteceu várias vezes de notar que as pessoas simplesmente ficam sem palavras. É como se eu tivesse morrido, pois ninguém sabe o que me dizer, justamente como acontece nos velórios. No máximo, a gente escuta um "sinto muito". Graças a Deus, ninguém ousou ainda me dar os pêsames, mas tem gente que chega perto.
No início esta história me divertia um pouco. Acho que lá no fundinho tenho uma parte bem sádica dentro de mim. Agora confesso que às vezes me sinto incomodada, pois é como se, mesmo sem querer, as pessoas tivessem duvidando da minha saúde, da minha habilidade de estar ali. Elas sabem que sou merecedora, mas lá dentro devem achar que meus dias estão contados. A velha história do câncer como sentença de morte.
Até entendo, mas prefiro me referir a este sentimento como a "perda da inocência", pois foi exatamente ali que entendi o significado real da palavra "mortalidade". E de certo modo, foi ali, naquele outubro de 2002 e depois em dezembro de 2007, que tudo ficou mais óbvio para mim. Aquela minha vida de antes acabou, morreu. Nunca mais vai ser igual. Mas em compensação, tive uma segunda e até uma terceira chances, o que é simnplesmente inacreditável. Se a minha vida de antes, morreu, ficou para trás, a minha vida de agora mal começou e é mil vezes melhor.
Então é só aguardar a matéria que sai esta semana no jornal local Carroll County Times. Ainda não é o New York Times, mas já é um começo.
Acho até engraçado esta troca de papéis, pois não é a primeira vez que a repórter acaba sendo objeto da notícia. Pensando bem, já estive de todos os lados dela: como repórter, "buscando" a notícia, como assessora de imprensa, "gerando a notícia", e em outros papéis, sendo a própria notícia. Enfim, como adoro notícia de qualquer jeito, topei na hora, pois acho que parte da minha missão agora é contar a minha história.
O repórter e o fotógrafo chegaram. Os dois eram supernovinhos e muito simpáticos. Mal podiam esconder a surpresa ao me encontrar. O episódio me lembrou a matéria que a GNT fez no meu casamento, quando o Happy Hour usou a gente como gancho para um programa sobre amor online. Obviamente, o Blake e eu éramos o caso de sucesso. A surpresa do repórter foi tanta, que quando o programa foi ao ar, ele teve que fazer um "mea culpa" e admitiu ter pensado que estava indo a um "casamento nerd" e ao chegar lá deu de cara com gente mais do que normal.
Hoje não foi muito diferente. Eles chegaram lá achando que ia ser fácil achar alguém com cara de paciente de câncer. Levaram um tempinho pra me encontrar, lá na mesa de informações da ACS. Eles já tinham um briefing meu e queriam mais detalhes da minha história. Quando mais eu falava, mais a expressão deles se tornava assustada. "Duas cirurgias? Duas vezes câncer no fígado? Setenta por cento do fígado retirado? Depois mais quarenta?"
Conforme eu ia contando a minha história, mais sobrenatural ela parecia. De repente parecia que eles estavam falando com um ET, ou melhor, com um fantasma. Com alguém que já deveria ter ido desta para uma melhor, mas por algum motivo louco estava ali na frente deles.
Já me aconteceu várias vezes de notar que as pessoas simplesmente ficam sem palavras. É como se eu tivesse morrido, pois ninguém sabe o que me dizer, justamente como acontece nos velórios. No máximo, a gente escuta um "sinto muito". Graças a Deus, ninguém ousou ainda me dar os pêsames, mas tem gente que chega perto.
No início esta história me divertia um pouco. Acho que lá no fundinho tenho uma parte bem sádica dentro de mim. Agora confesso que às vezes me sinto incomodada, pois é como se, mesmo sem querer, as pessoas tivessem duvidando da minha saúde, da minha habilidade de estar ali. Elas sabem que sou merecedora, mas lá dentro devem achar que meus dias estão contados. A velha história do câncer como sentença de morte.
Até entendo, mas prefiro me referir a este sentimento como a "perda da inocência", pois foi exatamente ali que entendi o significado real da palavra "mortalidade". E de certo modo, foi ali, naquele outubro de 2002 e depois em dezembro de 2007, que tudo ficou mais óbvio para mim. Aquela minha vida de antes acabou, morreu. Nunca mais vai ser igual. Mas em compensação, tive uma segunda e até uma terceira chances, o que é simnplesmente inacreditável. Se a minha vida de antes, morreu, ficou para trás, a minha vida de agora mal começou e é mil vezes melhor.
Então é só aguardar a matéria que sai esta semana no jornal local Carroll County Times. Ainda não é o New York Times, mas já é um começo.
Feliz Dia do Sobrevivente de Câncer
Hoje é meu dia. É também o dia da minha avó Ruth, das minhas amigas e ex-colegas de trabalho Carla e Lu, dos meus tantos amigos virtuais, como o Ivan, o Felippe, o Ricardo, a Claudia, a Fê e muitas outras pessoas especiais e corajosas que mostraram para esta doença desgraçada que ela não pode nos tirar o melhor de nós.
Hoje é um dia feliz. Um dia para ser comemorado. Uma dia para cada um de nós lembrar que segundas chances existem e devem ser agarradas com unhas e dentes e que a vida é uma só e precisa ser vivida intensamente.
Hoje é um dia para repensarmos tudo que aprendemos ao longo desta, tantas vezes, árdua caminhada. Um dia para reflexão, mas uma dia de muita celebração. Vamos celebrar a vida, a saúde, a fé, a coragem, a família, os amigos e acima de tudo a vitória.
Nos Estados Unidos hoje é o Dia Nacional do Sobrevivente de Câncer. Hoje é o meu dia, é o seu dia e o dia de tanta gente teimosa que continua firme apesar dos pesares.
Então mesmo que hoje não seja o Dia Nacional do Sobrevivente de Câncer no Brasil ou em outros países, todos nós temos o direito de comemorar, pois vencemos e continuamos mais vivos do que nunca celebrando a vida, que sabemos como poucos, é preciosa demais.
FELIZ DIA DO SOBREVIVENTE!!!!
Para vocês, para mim e para todos nós!
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