June 27, 2008

As causas nos escolhem

Sempre quis me envolver mais com organizações de caridade que abraçassem uma causa importante para mim, mas por um motivo ou por outro a idéia acabava caindo no esqucimento. São tantas causas nobres que merecem atenção que na hora de escolher uma para se dedicar de corpo e alma fica difícil.

Mas é aí que o destino, ou será Deus(?), se manifesta de um modo impressionante. É mais ou menos como a história do príncipe encantado: quando a gente menos espera acontece. E do dia para noite a ficha cai e quando a gente percebe já está completamente envolvida.

Já perdi a conta de quantas vezes disse que o câncer foi a melhor coisa que me aconteceu. Agora pensando bem, não sei se usaria a palavra "melhor", talvez "a mais importante" ou "a mais marcante" sejam expressões mais apropriadas. Claro que jamais teria escolhido ficar doente. Mas não tive escolha, assim como milhares de pessoas que recebem um diagnóstico tão assustador e que em questões de segundos têm que tomar uma decisão crucial: lutar ou se entregar. No meu caso, a decisão foi imediata, mas muito difícil, pois manter o otimismo e a coragem quando tudo a nossa volta está ameaçado às vezes parece impossível.

Outro dia, uma amiga me ligou dizendo que tinha achado um caroço no seio. Ela estava morta de medo, pois tinha certeza que se estivesse doente, morreria. Câncer era seu maior medo, pois quando pequena viu a tia jovem e alegre padecer e perder a batalha contra a doença. Ela nunca mais esqueceu aquela experiência terrível e desde então a idéia de um dia poder vir a desenvolver a doença a apavora.

Ela me fez uma pergunta no mínimo interessante: Como você consegue viver uma vida normal, prestar atenção no trabalho, se dedicar a trabalhos voluntários quando tem outras coisas tão mais urgentes para se preocupar, como a sua saúde? Como você consegue fazer planos para o futuro sabendo que daqui a três meses tem que fazer exames para saber se o câncer não voltou?

A minha resposta foi, mais uma vez, quase que imediata. Disse a ela: "Eu posso escolher entre viver e morrer agora. Se eu quiser morrer, então começo a me preparar agora. Começo a pensar na possibilidade do câncer voltar, nas coisas que não vou poder fazer, nos tantos sonhos que serão frustrados. Se optar por enxergar as coisas desta forma, aceito a minha morte hoje. Morro agora. Não preciso esperar o câncer voltar se quiser desistir de viver.

Mas esta não foi a escolha que fiz quando optei por viver e viver da melhor forma possível. Não vivo em negação, mas também não vivo para alimentar meus medos ou para ter pena de mim. Vivo a minha vida e procuro jamais esquecer das lições que aprendi nos momentos mais dramáticos que vivi.

Não tive escolha quando vi minha vida virar de cabeça para baixo, mas tive escolha quando decidi lutar e olhar para o inimigo e não me deixar intimidar por ele. Decidi que ia aprender com ele. Decidi que ele iria me guiar, não através do medo, mas como fonte de inspiração. Depois de me ver face a face com a morte, me senti mais viva do que nunca. Decidi que o câncer não vai ser o fantasma que vai me acompanhar pela vida toda, mas vai me servir como uma espécie de mestre que vai me mostrar e testar os meus limites, dia após dia."

E assim as coisas foram ficando cada vez mais claras para mim. E eu não precisei buscar causa nenhuma para militar, não precisei gastar nenhuma energia tentando decidir o caminho a seguir. De repente, quando percebi, me senti abraçada por ela. E entendi também que abraçar esta causa não exclui outras. Passei a me envolver mais com a minha comunidade, com a minha antiga faculdade e comigo mesma. Me tornei mais inteira.

1 comment:

Anonymous said...

VOCÊ É DEMAIS!!!!!!
MOM