June 25, 2008
Polêmica
O quadro acima, Men of the Docks, de George Bellows, pertence à coleção do Maier Museum, que fica dentro do campus da Randolph College, e está no centro de uma grande polêmica que envolve a faculdade (que até ano passado se chamava Randolph-Macon Woman's College), a comunidade local, as alunas e a associação das ex-alunas.
Por problemas financeiros, a instituição que durante 150 dedicou-se à educação feminina, viu se forçada a vender quatro de seus mais valiosos quadros e ainda foi obrigada a abrir suas portas a alunos do sexo masculina. A decisão foi dura, mas as opções eram poucas, ou implementavam-se mudanças drásticas ou a escola fecharia suas portas de uma vez por todas.
Fiquei triste quando soube da notícia. Não sei se acredito muito em educação segregada, mas gostava das tradições. Mas a verdade é que fiquei mais preocupada com a perda da marca, afinal uma escola que aceita homens jamais poderia se chamar Randloph-Macon Woman's College. E como já existe uma faculdade chamada Randolph-Macon College, viramos simplesmente Randolph College.
Devo muito a minha universidade pois foram meus anos lá que abriram meus horizontes. Pela primeira vez vivi fora de casa, num país estranho, cercada por gente de todos os cantos do mundo, do alto dos meus 18 anos. Uma experiência e tanto.
Mas no fundo nunca me senti em casa lá. Não tinha muitas amigas e fazia parte do grupinho das "outsiders". A maioria das alunas eram o que chamamos de "Southern Belles", que aos meus olhos mais pareciam imitações baratas e anacrônicas de Scarlet O'Hara. A outra minoria atuante era o oposto e militante demais. Eu ficava bem no meio, transitando pelos dois grupos, mas sem pertencer a nenhum.
Nunca tive muita saudade de lá. Jamais voltei a colocar os pés no campus depois da minha cerimônia de formatuta, há 14 anos! Tenho contato com algumas poucas amigas, mas até que fiquei bem contente em encontrar várias agora no FaceBook.
Quando recebi o convite para uma recepção aqui em Baltimore me deu uma vontade grande de ir e de fazer as pazes com a faculdade que tinha me acolhido tão bem apesar de tudo e de conhecer o novo presidente da instituição. Mas ao mesmo tempo que a vontade de me reconectar com a escola apareceu, notei que aquela adolescente outsider ainda estava viva dentro de mim. Fiquei dividida, mas depois de muito tormento decidi pegar o meu carro e ir até lá. Nestas horas penso, "isso não pode ser pior que uma cirurgia hepática, então vamos lá!
E foi muito legal. A casa da ex-aluna anfitriã era perfeita, tipo de filme mesmo. Linda, bem no meio de um bosque, superbem decorada e os filhos -- brasileiros, pasmem!! -- dois adolescentes muito bonitos estavam trabalhando na festa. A menina ia da cozinha para a sala abastecer a mesa. O menino ficou responsável pelo bar no jardim. Não é o máximo?! Eles estavam ajudando os pais e ainda ganharam uma graninha... Lindos, sorridentes e educados.
O novo presidente e sua esposa também são muito simpáticos. Ele é ex-executivo da Bungee e morou no Brasil com a família nos anos oitenta. Eloquüente e carismático tem a sua frente a árdua tarefa de unir uma faculdade que está tão dividida e amargurada. Mas eu acho que vai ficar tudo bem.
A reunião foi agradável, mas teve momentos de tensão quando ex-alunas exoressaram seu descontentamento com as decisões drásticas que haviam sido tomadas a portas fechadas. Americano é diferente mesmo. Eles falam o que têm que falar de uma forma educada e civilizada, sem deixar o sangue ferver. Não é a toa que na língua inglesa existe a expressão "We agreed to disagree," que quer dizer concordamos em discordar. Já pensou uma coisa destas na língua portuguesa?! Brasileiro concordando em discorda?! Piada!
Foi tudo ótimo e venci mais um fantasma que eu mesma tinha criado na minha cabeça. Foi ótimo ir à recepção. Foi ótimo conhecer mulheres que estudaram onde estudei e se formaram antes da minha mãe nascer! Bacana ver que isto é preservado por aqui. E ontem, para a minha surpresa, não me senti o peixe fora d'água de sempre. Para minha surpresa me senti muito bem, quase em casa.
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1 comment:
Que bom, não custa nada ir e ver, né? E que triste o post anterior sobre o tratamento que você recebeu, mas o importante MESMO é que você está bem e saudável. isso que importa. Beijos.
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