Hoje li a entrevista da Letícia Sabatella no Globo. Lá pelo meio da matéria, ela falava do nascimento da filha Clara, há quinze anos. Para quem não lembra, a menina nasceu prematura e muito frágil e passou uns três meses na UTI neo-natal. Na época o nascimento foi amplamente noticiado porque a Letícia tinha acabado de fazer a novela O Dono do Mundo e todos tinham se apaixonado por aquela atriz novata e linda.
Ela disse que passou os primeiros dias junto à filha e escondida na UTI. Saía disfarçada parar não ser vista pela imprensa, mas depois que o fato veio à tona, resolveu abrir o jogo de vez e fez até coletiva. Para a surpresa dela, que no início não queria que ninguém soubesse do fato, a reação das pessoas foi incrível: demonstrações de carinho e afeto por todos os cantos.
Esta mesma decisão também pairou sobre mim, duas vezes. Em 2002, era tudo muito assustador e as notícias mudavam com uma velocidade absurda e geralmente iam de mal a pior. Ao mesmo tempo que tínhamos que processar tudo, nos víamos às voltas com perguntas de amigos e familiares que queriam saber exatamente o que acontecia comigo. Como responder a tantas perguntas se nem eu mesma sabia o que se passava? Obviamente a maioria das pessoas se importava comigo de verdade, mas uns poucos eram só mensageiros do Apocalipse que a cada chance decretavam minha morte. Como me proteger daquilo? Como separar o joio do trigo?
Meus pais mal podiam pronunciar o nome da doença, quanto mais falar sobre ela com outras pessoas. No fundo deviam achar que se fingissem que a doença não existia, mais cedo ou mais tarde ela me deixaria em paz. Eu, ao contrário, achava que se não conhecesse a fundo o inimigo não poderia vencê-lo, então fazia muita questão de chamá-lo pelo nome, como se fôssemos velhos conhecidos. Achava que só conhecendo a fundo meu inimigo teria chance contra ele e me fortaleceria para enfrentar comentários maldosos.
Depois de encontrar coragem para enfrentar meu inimigo, consegui falar sobre ele e decidi contar a minha história a todos que tivessem interesse. Não queria me transformar na chata panfletária, mas não julgava certo varrer toda aquela experiência para baixo do tapete.
Foi um alívio imenso quando enfim pude entender o que me acontecia e falar abertamente sobre um assunto tão angustiante. Mas o melhor de tudo foi poder receber. Logo eu, que não consigo receber nada naturalmente, que tenho uma imensa dificuldade em ficar num lugar "passivo"... Mas a experiência foi maravilhosa. Perceber que você é importante para outras pessoas é uma descoberta e tanto. Saber que muita gente que você ama retribui este afeto na mesma intensidade e descobrir que há pessoas que você nem conhece e que se importam com você... é uma sensação indescritível!
Foi por isso que desta vez, logo que soube do tumor, não tive dúvidas: disparei um email (em inglês e português! ) para todos os meus amigos explicando tintim por tintim tudo que tinha acontecido e pedindo muito para que todos torcessem por mim. E mais uma vez fui inundada por demonstrações e mensagens de carinho e apoio vindas de todos os lugares. Uma corrente ainda maior e mais forte! Eu, que acredito mais que tudo no poder da fé, da oração e do pensamento positivo, não tenho dúvidas que acertei em cheio quando em vez de me fechar com os meus problemas, me abri para o mundo e para as pessoas que sempre torceram por mim. A temporada relâmpago no hospital e a recuperação fantástica não me deixam mentir.
3 comments:
Oi Dani,
meu nome e Rebeca e descobri seu blog dois dias antes da sua segunda operacao. Nao te conheco, talvez nao nos conheceremos porem queria dizer que te admiro, que torci por voce, que continuo torcendo. Voce e uma vencedora em dose dupla, uma inspiracao e forca!
Um beijo
Oi Dani, tb acredito que o melhor que fazemos é sermos honestas conosco. Guardar problemas parece que os faz maiores...
bjs,
Rebeca e Isabella,
Vocês nem sabem como fico contente ao ler os posts de vocês. É tão bom saber que tem gente legal torcendo por mim. Desejo tudo de bom pra vcs também e continuem comentando aqui, por favor... :)
Bjs
Post a Comment