Acabo ver na TV que o caso do jogador de basquete Nenê Hilário teve mais uma reviravolta. O tumor que seria benigno, de acordo com um médico brasileiro entrevistado pela revista Época, na verdade era maligno. Grande surpresa para a maioria das pessoas. Não para mim, que já vivi o mesmo drama não uma, mas duas vezes.
Não tenho os detalhes, mas acho que posso imaginar como Nenê se sente. Aliviado por ter detectado o problema em estágio inicial, pois o tumor ainda não tinha se espalhado para outros órgãos, mas ao mesmo tempo preocupado com seu futuro. Apavorado talvez. Pela primeira vez se depara com a possibilidade real da morte, aos 25 anos.
O fato é que no caso de um tumor benigno tudo é muito simples: depois da cirurgia o problema está solucionado e o paciente volta a uma vida normal. Já no caso de um tumor maligno, mesmo que encapsulado, a coisa já muda de figura, pois simplesmente não há certezas. É nesta hora que os médicos tornam-se reticentes, que os laudos ficam mais complexos e a vida mais confusa. Aliás é justo nesta hora que a gente passa a não ter mais vida e sim sobrevida.
Imagino que o Nenê esteja agora tentando elaborar tudo isto. Se há um mês sua única preocupação era uma contusão nas quadras ou uma cesta perdida, agora ele tem muito mais com que se preocupar. Não tenho dúvidas que o Nenê já é uma outra pessoa depois de passar por isto tudo em tão pouco tempo. Mas se o tumor fosse benigno, ele seguramente poderia varrer tudo para baixo do tapete e continuar vivendo a vidinha de sempre. Tudo não passaria de um pesadelo que teria ficado parar trás. Mas agora, depois de um laudo diferente e definitivo, ele já não tem mais esta escolha. Não dá para enterrar uma experiência destas quando se tem que enfrentá-la a cada três meses, quando se volta ao local do crime rezando para não encontrar novas evidências. Não dá para seguir levando a mesma vidinha de sempre quando ela não se chama mais vida, e sim sobrevida, e você tem que viver em liberdade vigiada pelos próximos cinco anos. Não dá para fazer simples planos sem pelo menos uma vez questionar se vamos durar tanto.
Mas são os golpes e os tropeços que nos tornam mais fortes e aos poucos vamos aprendendo que tendo a vida ou a sobrevida toda pela frente não temos mais o direito de esperar que as coisas sejam perfeitas para que sejamos felizes. Temos que aprender a conviver com a incerteza, com a imperfeição e com a idéia marxista de que tudo que é sólido desmancha no ar.
1 comment:
Sumi, Dani, mas foi por que descobri que além de alérgica a penicilina, sou alérgica a azitromicina, que normalmente é o caminho que os otorrinos usam. E com o meu plano, o doutor ainda me pediu uma tomografia computadorizada!!! Prefiro pensar que tem a ver com a pergunta "Onde vc trabalha?". Continue com sua coragem de escrever isso tudo. Tá ótimo, como professora de RH diria que é uma aula de motivação. Parabéns pela decisão de largar o trabalho. Saúde é mais importante e vc já provou por A mais B que é uma profissional competentíssima. E mesmo antes de 2002 again, acho que você não estava 100% convencida deste trabalho. Ainda é jornalista, o que pode facilitar as coisas numa época em que todo mundo trabalha a distância.
Post a Comment