May 21, 2008

Por que contar a minha história?

Quarta-feira passada, fui a recepção em honra aos sobreviventes de câncer. Foi um momento muito emocionante e "acridoce" para mim. Me sinto muito feliz de ter vivido para contar a história, me sinto realizada por estar envolvida e dando o máximo de mim para que uma cura seja encontrada, mas ao mesmo tempo, sou obrigada a reviver momentos marcantes na minha vida -- bons e ruins -- e isso é difícil.

O pessoal aqui de Carroll County, onde eu moro, está reunindo depoimentos de pacientes de câncer para lançar um livro de histórias de inspiração e coragem. Não pensei duas vezes antes de abraçar a idéia, assim como nem me passou pela cabeça não fazer parte do livro da Planet Cancer. Se não consigo entender muito bem por que ainda estou aqui -- não sou melhor nem pior que ninguém e tantas pessoas maravilhosas não têm a mesma chance -- às vezes acho que fiquei aqui para contar a minha história, para dar meu depoimento, ou como a minha mãe gosta de dizer, "dar meu testemunho." Não consigo entender por que minha vida foi poupada, mas estou decidida a fazer o máximo com o tempo que me resta.

Acho estas iniciativas maravilhosas e me dedico a elas para que ninguém tenha que passar pelo que eu passei. Espero que ninguém tenha que sentir a solidão absurda que eu senti. Quero que os novos pacientes saibam que há vida depois do câncer e que esta vida pode ser muito mais completa do que a vida que conhecíamos antes.

Como ouvi outro dia, o diagnóstico de câncer se parece muito com a morte propriamente em si. Você pode estar cercado de familiares e amigos que te amam, que rezam muito por você e que vão estar ao seu lado sempre. Mas a jornada é só sua e você tem que percorrê-la sozinho. Então bate um medo, um pavor enorme, pois só você pode passar por sua via crucis e você está só. Nestas horas só quem tem espiritualidade sobrevive, pois sentimos a presença de Deus junto a nós; sentimos que Ele nos conduz para um lugar melhor. Ainda não estou tão firme na minha fé a ponto de encarar tudo isto com serenidade, mas espero um dia chegar lá.

É ilusão pensar que depois de um diagnóstico terrível como estes, nossa vida será a mesma. Nada nunca mais será igual. Nossa inocência foi perdida, mas ganhamos tantas outras coisas. Ganhamos além de feridas e cicatrizes uma apreciação enorme pelo dom da vida e isto não tem preço.

5 comments:

Isabel said...

Oi Dani,
Ando meia sumida ou melhor leitora silenciosa.....já passei adiante o post do Filippe e estamos na torcida para que encontre alguém compátivel o mais rápido possível!!!
Ricardo, meu sobrinho, nos deu um bom susto. Apareceu com uma febre. Imediatamente foi hospitalzado, mil exames foram feitos e nada foi encontrado, entraram com antibioticos, mas a febre não cedia....inapetencia, fraqueza, desanimo ...ele que sempre teve a postura de ser mais forte que a doença em 48 hrs. estava entregando os pontos, sem nenhuma força, mental e/ou física, para reagir. Felizmente no domingo descobriram que o foco era uma mega infecção no figado.Imediatamente foi realizado um procedimento para retirar o pus localizado e 24 hrs depois já estava sem febre, andando e pedindo comida...
Cada susto que se leva. E como vc. bem diz " a jornada é só sua e vc. tem que percorre-la sozinho" . E, cabe aos familiares , amigos etc. , entender e aceitar a nossa total impotencia!!!!!
Não deve ser fácil encontrar forças para se manter forte e arrogante perante a doença !
Beijos e a luta continua,
Isabel

Dani said...

Isabel,
Imagino o susto de vocês. Fico intrigada quando escuto histórias como a do Ricardo. Por que os médicos não olham o fígado logo no início?
Como ele está agora? Já mais forte e animado? Já de volta ao Brasil? Por facor, mande notícias. Estamos aqui todos torcendo muito por ele.
Beijos e fiquem com Deus.

Ana Claudia Lintner said...

Admiro sua coragem, sua fe, sua vivacidade e sua bondade em dividir", como diria sua mae, "seu testemunho" conosco. Que Deus continue de maozinhas dadas com voce.
Um abraco,
Ana

Isabel said...

Boas Noticias, meu sobrinho já foi para casa. Animado, fortalecido e alegre! Ontem foram passear no Central Park.
Ainda estão em NY. Está sendo tratado pela equipe do Mt. Sinai junto com o MD Andersen.
Os primeiros 2 anos foi a equipe do Memorial. Qdo. numa recorrencia da doença a equipe disse que nada mais podia ser feito....
Meu cunhado (estudou tanto a doença que hj. é PHD...) não se deu por vencido e conseguiu outra equipe e está conectado com todos os centros de pesquisa à procura de novas drogas, tratamentos etc..
O tratamento , agora, vai ser quimio e radiação e será em NY. Dpois voltam para o Brasil. E, nessa fase devo ir dar um apoio.
Quem sabe não nos encontramos por lá?
Beijos e bom fim de semana,
Isabel

Dani said...

Isabel,
Fico muito feliz com as notícias. Sua família é um exemplo para todos nós. A equipe do MD Andersen é uma das melhores no mundo e sem dúvida uma das mais inovadoras. Meu médico treinou lá e esta era a primeira opção dos meus médicos brasileiros, mas como só estou no monitoramento, me encaminharam para Johns Hopkins.
Então quer dizer que o Ricardo ainda fica aqui nos EUA por um tempo? Até quando?
Meu plano éestar no Brasil em meados de julho...
Fico na torcida para que tudo dê certo e quem sabe a gente possa se encontrar.
Beijos