May 16, 2008

Egoísmo

Outro dia, li uma matéria sobre o Lance Armstrong em que ele diz que resolveu tornar a sua batalha contra o câncer testicular em algo público na esperança de ajudar outros pacientes na mesma situação.

Às vezes me faço a mesma pergunta: Por que tornei a minha vida tão aberta nos últimos tempos? Cheguei ao cúmulo de postar imagens do meu tumor aqui no blog. O que me levou a isso? Logo eu, que sempre fui uma pessoa reservarda. Não sei se foi mais por desejo de ajudar ao próximo ou na esperança de ajudar a mim mesma, puro instinto de sobrevivência. Provavelmente uma mistura, mas a última opção deve ter falado mais forte em algum momento.

Da primeira vez que tive que lidar com um diagnóstico ruim, não soube bem o que fazer, até porque não tive resultado imediatamente. Começou como um tumor benigno e acabou como uma forma de câncer hepatocelular. Começou assustador e terminou aterrorizante. Mas eu vivi -- com um fígado mutante, sem vesícula, com alguns danos ao pulmão direito e muitas cicatrizes espalhadas pelo meu corpo (a da Mercedes e outras pequeninas) -- mas vivi, com mais vontade de viver do que nunca, com meu espírito e intacto e com minha fé renovada. Sempre achei qeue se tivesse uma segunda chance, faria algumas coisas de forma diferente.

Depois do vendaval, resolvi tentar fazer sentido sobre tudo que tinha acontecido e encarar a minha jornada de frente. Decidi aprender com ela e falar sobre a minha experiência me ajudou bastante, pois falando eu conseguia organizar meus pensamentos e encontrar alguma paz dentro de mim. Além disso, o sentimento de solidão terrível que me acompanhara no início aos poucos desaparecia. Comecei a escutar histórias belíssimas em lugares inesperados. Pessoas que há anos viveram a experiência, mas tinham preferido guardar para si mesmas por um motivo qualquer, de uma hora para outra resolveram me dar seu testemunho. Aquilo me tocou muito. De uma hora para outra já não estava mais só. Já não era mais uma anomalia e assim me senti muito melhor.

Quem não passou por isto não entende a importância que uma história de vida, um testemunho tem para quem teve a vida afetada pelo câncer. Não faz muito tempo, a doença era sinônimo de morte certa, então nada me deixa mais feliz do que ver alguém que derrotou as estatísticas. Alguém que provou que é possível. E se este alguém pode, eu posso também. Ainda não encontrei nenhum sobrevivente de câncer hepático, mas continuo procurando. Enquanto isso, me esforço ao máximo para estar viva por muito tempo por mais longa que possa ser a minha busca.

Durante a cerimônia dos sobreviventes, eles fizeram um joguinho. Se você já teve câncer fique de pé...se você foi diagnosticado há um ano, sente. Há cinco anos, sente. Até que a última pessoa a ficar de pé é declarada vencedora. Na quarta-feira foi uma senhora, diagnosticada há 34 anos. Parecia bem velhinha mas cheia de saúde. Fiz as contas rapidamente e vi que se viver mais 34 depois do minha primeira cirurgia, meu prazo se expira quando eu chegar aos 62. Sessenta e dois?! Nem pensar...quero ganhar aquele concurso e ser a última pessoa de pé, pelo menos 62 anos depois do meu diagnóstico, do alto dos meus 90.

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