May 14, 2009

La Garantía Soy Yo!


Quem é carioca vai lembrar de um comercial muito engraçado de um curso de inglês, se não me engano, onde um comerciante supostamente paraguaio vendia muamba... Preconceitos à parte, o tal curso queria dizer que garantia o ensino legítimo de inglês, ao contrário de outros cursos concorrentes. Não me lembro dos detalhes, mas o comercial terminava com a frase que é título de post de hoje.

O fato é que entre meu grupo de amigas, quando alguém fala um portuñol e insiste em dizer que está falando espanhol, a gente diz que o fulano fala espanhol "la grantia so yo"! Já virou motivo de piada.

Para quem ainda não desconfiou lendo meu sobrenome, sou descendente de espanhóis, mais precisamente de galegos, que por si só já falam um espanhol meio falsificado, meio portuñol por natureza. Sendo assim, cresci ouvindo meus avós -- mais a minha avó, já que meu avô partiu quando eu ainda era pequena -- e seus amigos falando um português estranho, com sotaque para lá de carregado. Só depois descobri que eles continuavam falando o galego mesmo e incorporando o vocabulário em português aprendido depois da chegada ao Brasil. Claro que se comunicavam superbem, mas o "g" sempre teve som de "x" e "pergunta" nunca deixou de ser "pregunta".

Meu pai, apesar de ter pai e mãe espanhóis, nunca se interessou muito em aprender a língua formalmente, mistura um espanhol, um galego e um português e pronto. Lê bem. Eu também nunca tinha tido curiosidade até vir estudar aqui nos EUA. Fiz muitas amigas Latinas (Chicanas) e da América Central e ficava chateada de não poder particupar mais das conversas quando elas usavam a língua materna. Prometi a elas que quando voltasse ao Brasil, a primeira coisa que iria fazer era entrar para um curso de espanhol e aprender a língua direito.

Cumpri a promessa e dentro de dois anos, saí com o diploma do Cervantes embaixo do braço, mas quem disse que eu tunha confiança de falar? Só usava a língua em caso de absoluta necessidade quando ninguém que me acompanhava queria arriscar. Mas aos poucos vi que tinha que mudar.

Ao voltar para os EUA, a vontade apareceu de novo. A população latina aumenta a olhos vistos e a comunidade hispânica de Washington aos poucos começa a se infiltrar em Maryland. De acordo com as estatísticas, os latinos serão maioria em 2040.

Ano passado, conheci uma organização muito bacana chamada Taproot, que aloca profissionais de comunicação e marketing em projetos gratuitos para organizações sem fins lucrativos. Fiz o treinamento em Nova York, mas por conta do trabalho novo, decidi esperar um pouco para ter certeza que poderia me dedicar ao projeto.

Há alguns meses, fui contatada pelo diretor de um projeto que iria começar numa organização que atende crianças e famílias latinas (na maioria) em Washington, DC e agora em Maryland. Ele me perguntou sobre a minha fluência em espanhol. Expliquei que falava e escrevia alguma coisa, mas sempre tenho que dizer que meu espanhol não é tão bom quanto meu inglês. O problema dele tinha sido justo este, encontrar no banco de voluntários profissionais que tivessem o perfil adequado e fossem bilíngues. Como tenho amigos cuja língua materna é espanhol, topei. Qualquer coisa, eles fariam a revisão.

A preocupação maior de Peter, o diretor do projeto, era construir um time que agradasse à CEO e presidente da Fundação, uma boliviana que estava à frente do projeto há 35 anos. BB (Beatriz) Otero chegou aqui há mais de 40 anos com seus pais que vieram trabalhar no Banco Mundial. Viu de perto as transformações das comunidades imigrantes em Washington e o influxo de diferentes populações vindas da América Latina. A maior preocupação da BB por sua vez era ter uma equipe que realmente entendesse o valor da educação bilíngue, mais que isso, da experiência multicultural.

A visita ao CentroNía, organização de BB, foi uma grata surpresa: uma escola/creche/centro comunitário de Primeiro Mundo servindo a cidadãos de Terceiro. O objetivo é que todas as crianças ao deixarem a escola na quarta-série seja bilíngues. Apesar do foco latino, a fundação aceita alunos de qualquer país.

Todas as mensagens nos murais, comunicados aos pais, circulares, etc são escritas em inglês e espanhol. Tudo idêntico. "Não basta dizer que valorizamos a cultura latina se pouco se vê o espanhol por aqui. Não adianta dizer que somos uma organização bilíngue se a mensagem em espanhol é mal escrita ou impressa num material de pior qualidade. Precisamos fazer jus às nossas palavras. Se valorizamos a língua e a cultura, temos que dar provas disto," explica BB. Eu nunca tinha pensado no assunto, mas acho que ela não deixa de ter razão.

Além de serviço de creche e escola, a organização procura empregar adultos e pais da comunidade e encontrar oportunidades para as famílias, disponibilizando uma sala com computadores e impressoras e aconselhamento profissional. Um trabalho muito bacana que precisa ser mais divulgado. Eles querem fugir da imagem de "creche e centro comunitário de Capitol Heights, bairro latimo de Washington; querem projetar uma imagem nacional, mais corporativa. O objetivo é ser conhecido como centro multicultural e educacional e é por isto que estamos engajados no projeto.

No começo, tive receio da minha fluência em espanhol, mas com exceção do Peter, o resto da equipe é formado só por mulheres, todas com bom nível de espanhol, mas americanas. A única nativa é Patrícia, uma argentina profissional de marketing que está em Georgetown fazendo inglês intensivo. A experiência profissional dela é vasta e a visão ótima, mas ela se sente limitada pela língua, no caso dela o inglês, então falamos muito espanhol nas reuniões de grupo.

No início, disse a ela que falasse em espanhol e eu responderia em inglês, mas depois achei mais fácil gastar meu espanhol-la-garantía-soy-yo mesmo, afinal seria uma ótima oportunidade de praticar. Estou adorando! Outro dia refizemos os questionários em espanhol e em breve vamos organizar os grupos de discussão, também em espanhol. Quem sabe assim não solto a língua de vez?

O legal do trabalho voluntário é justamente isto: a gente faz o bem e ainda aprende! Como meu trabalho full-time não me dá muitas oportunidades de treinamento -- aqui é só na base do erro e acerto, tudo na pressão -- trocar experiências com profissionais da minha área e ainda praticar uma terceira língua para mim tem sido ótimo. Trabalho voluntário cansa, mas faz bem pro coração e para cabeça!

5 comments:

Débora said...

Oi Dani, parabéns pelo blog e pelo trabalho voluntário.

Sou da Comunidade RC- Casar e facil-, e hoje escrevo para pedir a divulgação deste evento, gratuito, e que pode ser uma boa oportunidade de contato e aprendizado mútuo.

A AIDS é uma realidade dos nossos tempos, e está cada vez mais presente na vida de muitas mulheres. Pensar sobre isso é muito importante, se cuidar também.

Esse evento acontece anualmento em todo o mundo, como forma de lembrar as vítimas da AIDS, mas tem uma tônica de encontro, celebração, bem bonita.

Ele é organizado no RJ há seis anos por pacientes do grupo Convida do Hospital Universitário Pedro Ernesto.

O convite segue abaixo

Bj

Débora

SEM PRECONCEITO, SOMOS MAIS.

A 26ª Edição do Memorial das Velas Acesas, tradicional evento de luta contra a AIDS, já tem dia marcado. Próximo domingo, 17 de maio, a partir das 14h, com ponto de encontro no Largo do Machado. O objetivo do evento é relembrar as vítimas da AIDS em todo o mundo mas, principalmente, manter o compromisso contínuo de promover informação e lutar contra o preconceito aos portadores do vírus HIV.

Por isso, profissionais de Saúde, estudantes, voluntários e multiplicadores do Grupo Com Vida, do Hospital Universitário Pedro Ernesto, apresentarão atividades lúdicas, roda de capoeira e oficinas que debaterão temas relacionados à sexualidade, DSTs e AIDS.

Numa sociedade, onde a informação circula aceleradamente, o grupo Com Vida não quer parar no tempo e, organizando pelo sexto ano consecutivo a atividade, quer motivar a unidade com o tema: “Juntos Nós Somos a Solução”. Venha participar. Para isso, basta trazer a solidariedade.


--
Coordenadoria de Comunicação Social, Eventos e Humanização do Hospital Universitário Pedro Ernesto – Comhupe
Tel.: (21) 2587- 6258 / 6548
Av. 28 de Setembro, n° 77 - Rio de Janeiro - RJ - CEP:20551-030

Dani said...

Apoiadíssima, Débora!
Vou fazer um post sobre o assunto!
Obrigada!
Bjs

Isabella said...

Chica, no te preocupes! Para hablar basta empesar!

Mas não acredite muito no meu espanho escrito...

besos!

Andanhos said...

Que bacana, Dani!
Quando vi seu sobrenome, bem que desconfiei que você tivesse antepassados espanhóis...
Não preciso dizer que amo a língua, a literatura e a cultura espanholas, né?
Quando converso com alguns amigos da Galícia, eu falo em português e eles me respondem em galego. Às vezes, eles não entendem alguma palavra ou expressão, então digo como é em espanhol. É uma experiência interessante e o galego é uma bela língua!
Beijos.

Cristina said...

Que bueno, amiga! Mi espanol por escribido es aun peor que mi espanol hablado, pero se hace bien para el corazón, la cabeça, hace bien también para la lengua!!! :-)
Besos da amiga que habla espanol fluente cuando bebe la champanha ha ha