Ontem acabei vendo o documentário sem querer. Fui ver uma outra matéria online e o link me levou para o documentário da Farrah. Decidi que ia ver só a primeira parte. Quando fui perceber, tinha assitido tudo -- as onze partes.
Belo trabalho. O documentário é fascinante por vários motivos: fala da vida da atriz, do sucesso e mais do que tudo da "jornada" da doença, pois ao contrário do que muitos pensam, esta doença é um jornada --- tem altos e baixos, momentos de esperança e desespero, pouco preto e branco e muito cinza, muitas dúvidas e pouquíssimas certezas.
Vendo a luta e o sofrimento da atriz, uma coisa me veio à cabeça: tive muita sorte, pois acho os médicos no Brasil mais humanos. É difícil de julgar, pois não sou médica, mas o uso de anestesia parece muito restrito em outras partes do planeta. O câncer de Farrah começou no ânus e se espalhou para o fígado (metástese), então a luta dela é em duas frentes -- no câncer primário do ânus e no secundário, do fígado.
Muitas das imagens me pareceram familiares demais -- as salas de exame, as máquinas, as imagens nas salas escuras, o semblante sério dos médicos, os momentos de esperança e também de desespero, os hospitais e a vontade de lutar pela única vida que temos. A história da Farrah, apesar de muito diferente, em alguns momentos me pareceu próxima demais, insuportável demais até.
Não vou entrar em detalhes, mas como o tratamento da atriz em Los Angeles não dá os resultados esperados, ela decide se tratar na Alemanha, onde os médicos lhe oferecem outras opções. Além das cirurgias, para atacar os tumores no fígado, Farrah passa por quimioembolizações e outros procedimentos.
Foi justamente esta parte que me pegou. Quando me perguntam como é a quimioembolização, digo o que me lembro. Passei por duas sessões depois da primeira cirurgia (graças a Deus nao foi necessária na segunda!). Apesar de ser um precedimento invasivo -- os médicos inserem um catéter pela artéria femural onde injetam o quimioterápico que bloqueia o acesso ao fígado, consequentemente matando o tumor de fome -- não achei sofrido. No Brasil, pelo menos na Clínica São Vicente, no Rio, o exame é feito na sala de hemodinâmica com sedação. Me lembro de entrar na sala, ouvir as vozes dos médicos e acordar no final do exame ao escutar os médicos comentarem sobre a bela imagem que viam na tela. (Meu fígado cacarecado!!!!)
Saía da sala, ia para o quarto enfaixada, onde passava a noite imóvel e monitorada. Saía de lá e retomava minha vida normal. Uma vez cheguei até a ir trabalhar, na outra fui pra Feira da Providência! Não tive nenhum efeito colateral.
Não foi o que vi no filme de Farrah!!! A coitada passou por isto tudo acordada e, ao que parece, sem anestesia, gritando de dor! Muito sofrimento. Mas nem pos isto ela desiste e diz que vai lutar enquanto tiver forças. Admirável.
COnfesso que em alguns momentos foi muito difícil assistir ao documentário, mas acho que o saldo foi positivo. Às vezes me pergunto o motivo que me leva a querer ver e muitas vezes viver aquilo de novo. Acho que é para me sentir menos só. Para entender que coisas ruins acontecem com pessoas boas. Acho também que é porque sempre espero por um milagre, pois parafraseando Fernando Sabino, "no final tudo dá certo, se ainda não deu certo é porque não chegou ao final."
Ontem a Lilian fez o Pet Scan. Terça, os medalhões se econtram para o board meeting onde vão decidir o destino dela, uma jovem mãe de 31 anos que até pouco tempo exibia longos cabelos louros e passava as tardes brincando com o filho, que faz 2 anos em julho. Hoje a vida dela é diferente, entre sessões de químio e exames, ela ainda encontra tempo para levar Sebastian ao parquinho e fazer trabalho voluntário. Se a rotina mudou, o espírito continua imbatível e a fé inabalável. Agora é rezar para as notícias serem boas nos próximos dias.
1 comment:
Poderia me enviar o link do documentario.
Eu vi pela televisao mas nao tive o prazer de assistir a todo o documentario.
Obrigada !
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