Esta é uma das coisas que a gente mais faz quando do nada é abatido por uma tempestade em pleno vôo. Sim, quando só estava preocupada em viver a minha vida, um dia de cada vez, e de repente chego à dura conclusão de que o dia de amanhã não é tão certo assim. Parece coisa de filme, mas não é. De uma hora para outra muda tudo e não há outra saída a não ser seguir em frente. Até gostaria de ter outras opções para escolher, mas a verdade é bem diferente.
Depois de ouvir um diagnóstico assustador, tudo que queria fazer era ir dormir e rezar para que tudo não tenha passado de um pesadelo terrível. Mas quando acordei no dia seguinte e tudo estava no mesmo lugar, inclusive o bandido parasita que teimava em se alojar na minha barriga, bateu um desânimo terrível, mas ao mesmo tempo uma grande vontade de mudar o meu próprio destino.
E foi justo aí que pensei em Deus. Onde ele está numa hora destas? Será que ele está vendo todo o meu sofrimento? Será que ele não vai se compadecer? Logo eu, que tenho feito tudo que ele mandou, por que este castigo? Por que outra vez? Como faço para sair daqui? Será que vou conseguir sair daqui? São tantas perguntas, tantos questionamentos.
É verdade que nos últimos cinco anos fiquei muito mais próxima de Deus e de mim mesma. Nos piores momentos da minha vida, às vezes sentia uma paz inexplicável, uma mão carinhosa que me indicava o caminho a seguir e no meio do meu desespero sentia uma energia que me trazia de volta a tranquilidade. Sempre entendi que só poderia ser a presença de Deus. Durante aqueles últimos dias de 2007 e no início deste ano, estava tão perdida que sequer sabia o que pedir a Deus, então só implorava que ele aumentasse a minha fé e me desse coragem: aumentasse a minha fé que por vezes estava claudicante, e me desse coragem para enfrentar o meu destino, que me parecia assustandor. E ele me ouviu, mais uma vez. Passei pela prova de fogo e aqui estou contando a história.
Li os comentários anteriores da Fê França e da Andréa, amigas virtuais que estão sempre me dando injeções de ânimo e me fazendo seguir em frente, e fiquei pensando no que foi dito. Tenho uma fé ENORME em Deus e acho que estamos todos aqui na Terra não para sofrer, mas para aprender. Às vezes penso que tenho mais que aprender do que muita gente...Mas c'ést la vie.
A minha fé em Deus é inabalável, mas, por incrível que pareça, às vezes a fé das pessoas me incomoda, pois as deixa inertes. Óbvio que eu acredito em milagres divinos que acontecem todo o dia. Eu sou um deles! Mas acho que Deus deve ficar muito chateado de ter que fazer todo o trabalho sozinho. Se foi ele mesmo que nos deu o livre arbítrio, temos que usá-lo. Vamos rezar sim, mas vamos encarar a doença de frente! Vamos ter muita fé, mas também procurar os melhores médicos e tratamentos que possam prolongar nossa vida. Vamos orar contritos, mas também nos tornar senhores do nosso destino, pesquisando a doença, as alternativas e questionando os médicos. Sim, Deus é o regente, mas nós somos a orquestra e temos que fazer nosso trabalho! Sempre fui inconformada, e com tudo que tenho passado tenho mudado um pouco meus conceitos, mas uma coisa permanece a mesma -- sempre fui de arregaçar as mangas e por as mãos à obra, e numa situação destas não haveria de ser diferente. Aceito, mas custo a me conformar. Aceito a gravidade da doença, mas não me conformo com a sentença de morte. Não vou me conformar nunca. E graças a Deus existem outros inconformados por aí. Inconformados que buscam a cura do câncer, da aids e de tantas outras pestes do mundo moderno. Agradeço a Deus toda noite por estes espíritos inquietos.
Quando a Carla, minha amiga e companheira de batalha e ex-colega de trabalho, foi me visitar em casa depois da cirurgia, ela me disse que entendia a doença como um ritual de purificação. (Engraçado é que outra amiga messiânica tinha me dito a mesma coisa, que a doença servia para expurgar o que há de ruim em nós). Não é muito fácil encarar uma doença destas, aliás doença nenhuma, como algo positivo, ainda mais quando se está no meio da luta. Mas sempre encarei a minha experiência como aprendizado, pois descobri muitas coisas sobre mim que provavelmente ficariam esquecidas ou enterradas nas profundezas da minha alma se eu tivesse sido contemplada com uma vida mais ordinária. Então talvez o bandido (não quero mais falar em tumor, ficou chato!) tenha sido, como se diz aqui, "a blessing in disguise." Mas agora já chega, estou confiante que posso completar o resto da lição sozinha!
3 comments:
Minha querida, você está certíssima!!! E vamos pensar assim: a verdadeira fé em Deus que é capaz de mudar, de transformar e de curar é a fé com ação. Porque acreditamos nEle, temos fé de que vamos conseguir, mas temos de ir atrás, procurar, buscar, nos informar, ter força. Ficar inerte não dá, né? Porque viver é muito bom para só "deixar passar". Temos de lutar. Você é uma lutadora e essa fé com ação que te move. Desculpe se disse algo errado no recado passado, é difícil passar em palavras o que pensamos ou sentimos, não é mesmo? Um beijo enorme. Você está nas minhas orações e pensamentos positivos! ;o) Fê. (www.fernandafranca.com)
Olá Dani, vim ler se blog e te desejar força para tudo que você está passando. Dê mais notícias sobre seus resultados. Como foi no John Hopkins?
Muito boa a iniciativa do seu blog. Temos muita falta de informação para qualquer doenca que foge o padrao no Brasil.
Vou linkar vc ao meu blog.
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