May 11, 2012

Time Magazine e as Mães da Libéria

Por aqui não se fala em outra coisa que não seja a capa da revista Time. Na foto uma mãe oferece o peito a seu filho, de três anos, que está de pé numa cadeirinha. Os dois olham para a câmera. Como aqui nos EUA, tudo é levado ao extremo, tem gente achando o máximo e outros achando o cúmulo do absurdo, uma indecência. Pouca gente, como eu, ficou indiferente.

Aliás, eu que sou sempre tão inflamada, me surpreendo com a minha reação a muitas coisas que envolvem a maternidade de um modo geral -- sou indiferente. Contanto que não haja maus tratos, cada um faça o que achar melhor ao criar seus filhos. Mas pelo amor de Deus, pense mil vezes antes de criticar os outros ou, pior, se tornar militante fanática. Acho este tipo de mãe um porre! Só elas sabem de tudo, só elas fazem tudo, têm complexo de mártir. Ficam desleixadas porque não tem tempo para si mesmas já que sua vida se resume aos filhos. Na cabeça delas, mãe que usa baton é fútil e egoísta.

Quando engravidei e logo depois que tive o Joaquim, passei muito tempo pesquisando coisas na internet. Também passei a frequentar grupos de mães locais, só que aos poucos fui me sentindo uma verdadeira estranha no ninho. Ao contrário da maioria das mães que queriam largar tudo e choravam só de pensar em deixar seu bebê na creche, eu contava os dias para voltar ao trabalho. Não que quisesse abandonar meu filho aos cuidados de terceiros, mas queria respirar, trocar ideias com outros adultos. Ao contrário das outras mães, que queriam ficar quietinhas no ninho, eu continuava querendo dar o melhor de mim no trabalho e galgar a próxima promoção. Sempre fui assim, preciso de estímulo externo. Dizem que sou extrovertida, acho que deve ser verdade. Também sou ambiciosa, mas no bom sentido. E ao contrário do que muita gente me disse, a maternidade não tirou isto de mim.

Longe de mim condenar as mesmas mães que preferiram ficar em casa com seus filhos. Acho um trabalho nobre, mas em nenhum momento acho que elas sejam melhores do que eu ou do que mulheres que optaram por não exercer a maternidade. Não ser mãe não desqualifica mulher nenhuma, muito pelo contrário, se for uma opção consciente, merece muito respeito, afinal o mundo está cheio de filhos de chocadeira! Sempre pensei assim e não mudei de opinião depois do nascimento do meu filho.

Durante a minha recente viagem a Libéria não pude deixar de reparar a atitude completamente diferente das mulheres africanas quanto à maternidade. Embora com muito menos condições do que as mães dos afluentes subúrbios americanos, as mulheres da Libéria equilibram muito bem seus negócios e a maternidade. Muitas têm os filhos consigo e outras contam com familiares ou empregados para cuidar deles. Ao contrário de muitas mães aqui, não reivindicam medalhas de honra ao mérito e não se auto-intitulam mártires ou seres superiores. Fazem o que suas ancestrais faziam séculos e séculos atrás.

Na Libéria, um país arrasado por uma guerra civil de 14 anos e onde a maioria das mulheres trabalha loucamente para manter a família, ninguém precisa bater no peito para dizer que é mãe. Para as mulheres da Libéria, a maternidade é linda (todas têm MUITOS filhos e ainda adotam MAIS!), mas não deixa de ser uma coisa absolutamente normal.

 Acho que tem muita gente precisando aprender com elas.



.
Fotos de Sumaya Agha

1 comment:

Cristina said...

OI Dani, sua amiga Cristina sumida após meses sem voltar ao seu blog. Como sempre ótimos posts. Estava com saudade. Hoje tenho um queijos e vinhos no prédio ao lado onde foi o batizado do Joaquim, por isso pensei - uau, quanto tempo não visito o blog?! Beijos