February 15, 2008

Raiva

Não sei o motivo mas hoje não acordei bem. Meu humor deve estar lá no pé e voltei a sentir um sentimento que me faz muito mal. Hoje senti raiva. Não de alguém específico, mas do mundo. Me revoltei pela minha situação. Cansada de ter que me conformar com as migalhas que me são dadas. Exausta de ter que sorrir mesmo querendo chorar. Não agüento mais me fazer de forte. Não tenho mais forças para continuar dando uma de Polyanna. Cansei mesmo!

Tenho muita raiva dos médicos que me roubaram cinco anos da minha vida. Cinco anos em que achava estar completamente curada, cinco anos em que fiz exatamente o que me mandaram, que cumpri todas as ordens, desempenhei o papel de doente exemplar com perfeição. Tudo isso para que passados os cinco anos de acompanhamento pudesse ter enfim a minha vida de volta, pudesse ser uma mulher livre. Que nada!

Durante todo este tempo vivi uma grande ilusão! Passados dois meses do marco dos cinco anos, em vez de cruzar a linha de chagada, da cura definitiva, caí na casinha errada e tive que voltar para o começo do jogo! Quanta injustiça! Tinha planejado minha estratégia com tanto cuidado, tanta responsabilidade, nunca deixando de ir ao médico, evitando tudo o que foi recomendado, cumprindo cada uma das exigências, só para ter a certeza de um final feliz. Mas não foi bem assim. Desta vez a dedicação e a disciplina não me leveram aonde eu queria. A vida é realmente um jogo imprevisível e a minha surpresa não foi boa.

Agora casada queria muito começar a constituir minha família. Tudo indicava que isto iria acontecer em breve, até aquele fatídico dia, quando meu mundo, pelo menos o mundo com o qual eu havia sonhado nos últimos cinco anos, literalmente caiu. E todos os planos que eram feitos com todo o cuidado foram adiados indefinidamente. Aquele dia, aquela sala fria e aquela tela maldita não me saem da cabeça desde então.

Isso dói. Dói muito. A espera é dura e angustiante... Uns dias me sinto ótima e acho que vou superar tudo com facilidade. Outros dias, como hoje, tudo me parece tão nebuloso que pouco enxergo à minha frente e o que consigo ver não me traz alegria alguma.

Queria ter escrito um post cheio de otimismo, afinal mal cheguei aqui e já estou querendo fugir, mas antes de tudo preciso arrumar um lugar para depositar toda a dor e toda a raiva que estou sentindo hoje e agora. Raiva, dizem, faz mal para o fígado...e o meu ainda está em recuperação.

Vou tomar um banho para esfriar a cabeça. Amanhã é outro dia.

4 comments:

Andréa said...

Tem que ter coragem pra dizer tudo isso tambem, Dani. Coragem eh o que nao te falta e soh por isso vc ja devia se sentir melhor. Deve dar uma raiva enorme, mesmo.

Tenta concentrar o pensamento no fato de que podia ter sido pior. E que tudo nessa vida tem um motivo pra acontecer. A gente vai aprendendo devagar com essas coisas. Nao da pra entender tudo na hora. As vezes nao da pra entender as coisas nem nessa mesma vida, soh do outro lado. Acredite. E continue tendo fe. Continue acreditando que o que te aconteceu foi por pura protecao - isso mesmo, protecao - pra que nao acontecesse algo pior. Vai saber, neh? Estamos contigo. Beijao.

Andréa said...

Dani, qualquer coisa que eu puder fazer pra ajudar, estamos aih! Por favor, nao desanime!! A dieta vegana soh parece restritiva, mas nao eh. A sensacao se da porque fomos criadas numa cultura completamente distinta e super carnivora. Com o tempo vc vai ver que nao eh nada disso. Quanto a querer cozinhar, eu nunca gostei. Sempre fugi. Em casa quem cozinha eh mais o marido, mas eu tenho me empolgado cada vez mais, desde que me tornei vegana e acaba sendo mesmo divertido testar coisas novas, gostosas, exoticas... Me passa o teu email (brazilnutblog@live.com) e eu te mando coisinhas hoje mesmo. Beijao!

Ana Claudia Lintner said...

Dani,
"nao haveria luz se nao fosse a escuridao... a vida e mesmo assim dia e noite, nao e sim"
lembra daquela passagem biblica (Eclesiastes cap 3)?
Ali explica que para tudo existe um tempo certo, tempo de plantar e tempo de colher o que se plantou, tempo para rir e tempo tambem para chorar.
Queremos rir o tempo todo, aquilo que nos faz chorar julgamos ruim, trágico, uma injustiça pela qual não deveríamos estar passando.
Mas o tempo de chorar é bom, depura os nossos sentimentos, dissolve nosso orgulho e nos traz mais perto de Deus, pois lembramos de pedir auxílio e direcionamento para nossa vida, lembramos dos anjos, dos santos, dos guias e dos mestres. É como querer que haja só o dia e a noite nunca aconteça, precisamos desse tempo de repouso para aquietar nossas agitações e renovar nossa energia. Ri melhor quem sabe chorar!
Eu espero que voce chore o que tem pra chorar, que, apesar de "nao me conhecer pessoalmente", saiba que pode contar comigo e que logo logo seja para voce tempo de sorrir!

Um beijo,
Ana Claudia - Cuando Nadie Me Ve

Anonymous said...

Dani,
curiosamente, estou tomando meio comprimido de um remédio para o nervo que é contra a depressão e me senti realmente down dia desses que eu fui numa festinha de 1 ano e mais uma vez eu era a única sem o marido ou sem filhos, só que desta vez do meu grupo do carnaval de 1998. Quando vi que precisava trocar a fralda da aniversariante e outro bebê chorando, pensei em tudo que hoje eu tinha de bom na minha vida hoje. E que vou ser feliz independente do lobo mau ou do príncipe encantado, se for para ter filhos, que Deus mande. É normal acordar assim de vez em quando, só que xô pensamentos ruins!!! Pior seria se não tivessem detectado a tempo. Que bom que vc está aqui e temos esse blog, que é como conversar com vc.