April 7, 2008

Um dia daqueles...

Hoje tive um dia inacreditável. Parecia um filme de terror sem fim. Até esmola pedi. Mal posso esperar para ir dormir e acordar amanhã.

Passei um fim de semana ótimo com a Andressa aqui. Compramos muitas coisas para a Chiara e conseguimos ir a todos os lugares que tínhamos planejado. Um fim de semana ótimo que acabou esta segunda de manhã num tumulto só.

Saímos de casa ainda à noite, às 5:10 da manhã, já que o vôo da Andressa para Toronto saía às 8:00 de Dulles, que fica na Virginia, mais ou menos uma hora e meia daqui.

Chegamos lá em cima da hora, mas por algum motivo estranho não consigo achar o estacionamento que cobra por hora e fica bem perto do terminal. Depois de dar várias voltas, só encontro o estacionamento diário, que fica bem mais longe. Como estamos com pressa, deixamos o carro lá mesmo, pegamos o shuttle bus e chegamos ao terminal quase sem fôlego. Por sorte, Andressa consegue embarcar e despachar suas duas malas cheias de presentes para a Chiara.

Depois da despedida, desço a escada rolante, pronta para voltar para casa. Triste depois da despedida, mas certa de que o pior já tinha passado, afinal Andressa tinha embarcado. Pela primeira vez, sei exatamente onde deixei o carro (sim, já perdi meu carro em estacionamento mais de uma vez), sei onde tenho que pegar o tal shuttle bus, agora só preciso pagar o estacionamento. Desta vez, tive o cuidado de colocar o ticket dentro do bolsinho, na bolsa. Encontro o papelzinho com facilidade, coloco na máquina e abro a bolsa para pegar a carteira. Carteira? Que carteira? Onde está a minha carteira? Não é possivel! De novo não! Em trinta segundos chego a conclusão que a minha carteira não está comigo. Minha visão começa a ficar turva, sinto uma tonteira absurda e meus pensamentos estão a mil por hora. A pergunta que me assombra é: "Como vou sair daqui?" E quanto mais eu penso, menos tenho idéia de como vou escapar deste labirinto.

A primeira coisa que faço é ligar pro Blake que obviamente me pede calma. E quanto mais ele me pede para ficar calma, mais vontade eu tenho de explodir. Depois de falar com ele por alguns minutos entendo que estou ali sozinha, que ninguém vem me salvar e que tenho que me virar. A verdade é que o Blake está em casa e com o trânsito demoraria no mínimo três horas para chegar. No início, acho que ele vai pedir para a irmã, que mora relativamente perto, me ajudar. Mas nem ele oferece nem eu peço. Sinto muita raiva. Desligo o telefone e sigo o conselho dele de ir até o balcão de informações, que ainda está fechado. E aí?

A esta hora já estou completamente desesperada. Era só o que me faltava: ter que pedir dinheiro para um estranho. Eu, pela primeira vez na vida, ia pedir esmola. Nem no trote da faculdade pedi... Sempre dou um jeitinho de escapar e colocar alguém no meu lugar. Só que hoje não há ninguém, 'so eu. Um homem então pára na minha frente e abre a carteira. É a minha chance. Abro a boca sem pensar e pergunto se ele pode me emprestar cinco dólares. Ele olha para minha cara e diz "sorry", mal tem o suficiente para pegar um taxi e aperta o passo. Será que sou tão mal encarada assim? Juro que nesta hora quero morrer, ou pelo menos, quero sumir, desaparecer. Tinha finalmente me despido de todo meu orgulho próprio, engolido toda a minha vergonha... para nada! Certamente não teria coragem de fazer aquilo de novo.

Depois da negativa, devo parecer tão desesperada, que duas pessoas (ou seriam anjos?) aparecem na minha frente e me perguntam se preciso de ajuda. Entre soluços, explico o que tinha acontecido e o senhor então me dá cinco dólares e a senhora mais cinco. Ela diz que vinte oito anos depois de ter perdido o marido, tinha se casado novamente este ano. Tinha criado quatro filhos sozinha e passado muita necessidade, mas que hoje dinheiro não era problema, então ela estava mais do que feliz em poder me ajudar. Choramos abraçadas... Contando agora a cena parece um tanto quanto patética, mas na hora foi bem tocante. Se não estivesse tão surtada, certamente teria pedido o endereço da senhora/anjo da guarda para devolver o dinheiro e mandar um cartão de agradecimento, mas agora nem isso posso fazer. Vou rezar por ela e por sua família todas as noites por muitos e muitos anos. Pois se não fossem ela e o outro senhor, estaria no aeroporto até agora.

Ligo para o Blake de novo para saber se ele achou minha carteira. Nada. Imagino a dor de cabeça, mais uma vez. Infelizmente não seria a primeira vez que iria passar por isso. A viagem de volta para casa é um tormento absoluto, entre pais-nossos e lágrimas, sigo meu caminho. Tenho medo de voltar para casa e não encontrar a carteira, então resolvo parar na igreja aqui perto. Deus já deve estar farto de mim. Não tenho escolha, ajoelho na capela e peço uma orientação. Faço uma oração, rezo meu terço e peço coragem para revirar a casa toda e procurar a tal carteira que o Blake já não tinha achado.

Procuro na sala, examino detalhadamento o primeiro andar da casa e nada. Resolvo procurar no meu quanto. Talvez esteja em alguma sacola de compras de ontem. Nada! Olho a minha cômoda e nada. Não está aqui, penso. Decido olhar de novo e lá está: no chão ao lado da minha cômoda. Do nada, ela está lá. Mas ninguém tinha visto antes... Estou exausta, mas aliviada. Dou vários pulinhos para São Longuinho e me ajoelho para agradecer a Papai do Céu, que mais uma vez ouviu minhas preces. Respiro aliviada finalmente.

Ledo engano, pois a maratona não pára aí. O telefone toca. Andressa está em Toronto, sem bagagem. Antes disso, já tinha perdido e achado os passaportes no aeroporto. Tudo isso antes das 9:30 da manhã. Ela ri e diz que está tudo bem, que já tinham encontrado os passaportes e pelo menos não vai ter que levar as duas malas pesadas até o hotel. Ainda bem que ela consegue enxergar o copo meio cheio. Não há muito a fazer, o chefe dela já ligou querendo saber onde ela estava...

Quanto a mim, só quero que este dia acabe o quanto antes. Estou exausta.

4 comments:

Fernanda França said...

Caramba, que dia!!! Pelo menos vc encontrou esses anjos no aeroporto... sempre há anjos nos rodeando, né? beijos!!!! Fê.

Anonymous said...

O impressionante é como uma carteira tira a razão, o controle emocional e como não pensamos em mais nada até achar...(e como ficamos mais nervosas quando um homem diz calma rsrs). Ainda mais depois de um final de semana tão maravilhoso!!! Isso me aconteceu 2 vezes recentemente. Ano passado, minha carteira confundiu-se com uma echarpe preta na cama e eu só dei falta dela no almoço - ainda bem que cheio de colegas para pagar, não ia ter essa coragem sua, parabéns!!! Minha mãe achou mas nem para fazer a unha eu tive aquele dia. Este ano de novo - qdo volto da Tijuca tarde, coloco o celular no peito e a carteira na cintura - na hora de tirar ela ficou dormindo no meu carro. Desta vez eu fiquei muito mais serena, procurei em casa e me dei por vencida qdo dormi e só fui ver no dia seguinte. Já tinha achado que tinha perdido no trabalho...Comigo normalmente quando eu desisto, as coisas acontecem rsrs

Anonymous said...

Bom dia linda!
Percebeu que não adianta estressar antes da hora?
No final, achou a carteira, nem precisaria ficar tão tensa...
Beijos

Selma

Ana Claudia Lintner said...

Daniiii,
eu ia me descabelar - que situacao!!!
Imagino que voce esteja exausta hoje depois de tudo (o day after...) mas desejo que seja um dia lindo. Voce e abencoada.
Beijos